Reveille escrita por MayaAbud


Capítulo 22
Conseqüência


Notas iniciais do capítulo

Soundtrack: Could It Be Any Hardela(The calling)

"Eu me deito e me encubro com riso, bem
Um pouco de esperança é o que eu estou precisando
E agora eu desejo que eu pudesse voltar as horas
Mas eu sei que eu não tenho esse poder"



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Ponto de vista de Renesmee

Acordei estranhamente alerta. Come se meu sono tivesse sido conturbado, superficial, mas não lembrava. Logo saí da cama, era como se algo me sufocasse, me empurrasse para fora do quarto, para fora de casa. Fiz um nó desarrumado no cabelo, escovei os dentes e saí. Hesitei em frente ao quarto de Jacob... Eu teria de pedir desculpas. Sabia que meus pais me dariam bronca pelo que disse, e com razão. Mas eu não me desculparia agora, estava envergonhada, e ainda irritada demais para isso. De qualquer forma era sábado e cedo demais, Jake ainda estava dormindo.

 Desci devagar, havia algo diferente no ar e eu não estava gostando. Eu queria sair dali, tomaria café na varanda. De preferência sozinha.

-Bom dia, princesa! -Tia Rose me beijou no rosto e subiu.

-Quer alguma coisa específica para o café, filha? -Percebi que minha mãe parecia nervosa, coisa incomum para um vampiro. Meu estômago se agitou.

 Vovó estava no colo de vovô, numa poltrona. Ela parecia triste. Tio Emm estava com o controle remoto na mão, para variar. Alice não estava à vista e Jazz estava lendo.

-Não, mãe. Deixe que eu me vire. -Tinha certeza que todos tinham percebido minha hesitação, mas ninguém disse nada. Estranho.

 Senti um impulso de correr dali. Como se minha mente tentasse me lembrar de que tinha algo para procurar. Ou talvez fosse algo de que fugir. Não sei. Algo estava muito, muito errado. Sentia uma espécie de compulsão crescendo: eu tinha de sair dali.

 Sentei-me numa das cadeiras de jardim, no pequeno pátio dos fundos, olhava as árvores. Era um dia de sol. Sentia-me inquieta. Minhas mãos tremiam e meu estômago parecia fazer piruetas com o que parecia medo. Bem, eu levaria muita bronca hoje. Era só meu inconsciente preambulando. Estava nervosa, tinha que falar com Jacob.

 Nunca havíamos brigado. Bem, só quando eu era menor e ele implicava comigo até eu xingar e bater nele.

-Renesmee! -Meu pai chamou de dentro da casa. Não sei por que, mas congelei. Sabia que não era medo de sermão, mas o chamado de meu pai ativou algo dentro de mim, algo sem foco, começo nem fim. Mais que antes eu senti uma força me puxando para fora, para a floresta. Obriguei minhas pernas a se moverem na direção oposta - para dentro de casa.

-Precisamos falar com você. -Minha mãe me pegou pela mão e me fez sentar numa poltrona.

-Gente, eu sei que agi mal. Podem me colocar de castigo se quiserem, mas eu acho que devo resolver isso com o Jacob. Vou pedir perdão de joelhos se ele quiser... -atropelava as palavras, falando rápido demais.

-Jacob não está. -mamãe me interrompeu séria. Sábado, tão cedo? Que estranho. Onde ele poderia ter ido?

-Espero ele voltar. -rebati rapidamente.

-Nessie, ele foi embora. -Meu pai disse. Fiquei encarando-o, esperando sei lá o quê. Ele não disse mais nada.

-C-como assim? Embora? -Sussurrei. Ri sem humor, com histeria. -Ele não pode! E a escola? -Corri até o telefone. Meu pai estendeu o celular de Jacob para mim, no mesmo instante em que coloquei o fone no ouvido.

-Mas... Quando? -Ia perguntar por que. Que bobagem eu havia feito?!

-Ontem. -minha mãe respondeu

-Porque vocês deixaram? –Gritei. -Ele não pode. Eu falei por falar. Não, não! Eu estava com raiva!

-Eu não achei que ele realmente fosse. Nós o seguimos, mas só o que encontramos foi o celular e parte das suas roupas. -Edward falou como quem se desculpa.

-Vou ligar para o Billy. -peguei novamente o telefone. -Também podemos ir a La Push... -Eu começava a me acalmar conforme os planos surgiam.

-Ele não foi para casa. -minha mãe avisou. O telefone chamou duas vezes e desliguei.

-Já falamos com Billy e com Seth. Jake corria para o lado oposto.

-Ele não pensava em ir para casa. -disse Edward.

-E pensava em quê? -gritei novamente. -Ele não tem lugar nenhum para ir! O que ele vai fazer? Correr por aí até cansar? -Era uma pergunta retórica.

-Era no que pensava: correr o mais longe possível, nunca voltar. Assuntos da matilha, resolver a distância... -meu pai parecia irritado. -Ele só estava magoado. Talvez ele volte logo. -Edward apertou a ponta do nariz, os olhos fechados, tentando acalmar-se. Que bobagem! Porque ele levou tão a sério?!

 Cedi ao impulso: saí correndo. E se ele estivesse perto? Não importava que já tivessem ido atrás. O cheiro estava ali. Jacob estava ali, em toda a parte.

-É só o cheiro Renesmee, só o rastro. -meu pai estava bem atrás de mim. Eu sabia que qualquer um podia me alcançar, embora eu estivesse a toda velocidade. Ouvia minha família  murmurando, eu não queria ouvir.

-Nessie, meu bem?! -minha avó chamou. Não respondi. Continuei me embrenhando pelo bosque iluminado pela luz do sol.

 Tropecei em algo e, com a velocidade com que corria, voei para frente. Antes que atingisse uma árvore, meu pai me pegou, virando e batendo suas costas num abeto largo, arrancando lascas dele. Eu não me importaria se tivesse sido minha cara ali. Eu merecia. O havia mandado embora. A culpa era minha. Gritos mudos dessas palavras enchiam minha mente, trazendo consigo a dor mórbida da perda. Senti como se sua ausência fosse para sempre...

 Eu tremia convulsivamente, me curvando em espasmos enquanto meu estômago vazio tentava expulsar o que não continha. Não conseguia respirar.

-Calma meu amor. -entoava minha mãe, em algum lugar perto.

 Jacob não podia ir embora assim. Não poderia fazer isso comigo. Viver como lobo? Ele era meu amigo. Meu irmão! Parte importante da minha vida. Não entendia a lógica dele. Não entendia porque doía tanto.

 Sentia-me sem forças e doía tanto que esperei estar desmaiando; minha cabeça girava. Mas esperei em vão, minha consciência de repente estava ridiculamente alerta, absorvendo e não reagindo a dor.

 O zumbido dos murmúrios começou a me incomodar. Eu acordei. Não... Não estive dormindo. Foi como se eu estivesse em uma espécie de transe e alguém estalara os dedos. Não perdi realmente a consciência - embora quisesse-, estava tentando entender... Como ele pôde ir?! O que aconteceu? Mas não havia resposta além do fato, absurdamente ridículo, de que eu o havia expulsado. Perdi-me num enorme vazio dentro de mim. Até que comecei a perceber os sussurros ansiosos a minha volta. Quanto tempo passara?

-Ela está em choque. -A voz parecia distorcida, mas parecia meu avô. Eu estava em choque? Doía tanto!

-Imagino como ela se sente. -a voz de minha mãe era a mais clara, minha cabeça estava em seu peito. - Meu bebê...

-Eu poderia matá-lo por isso. -Só poderia imaginar tia Rose falando isso. Alguém tocou minhas mãos, que jaziam em meu colo.

-Querida está me ouvindo? -Não acho que era a primeira vez que meu pai perguntava. Sabia que devia responder, mas só sentia a dor. Doía demais para que eu fizesse qualquer movimento.

 A dor era física. O golpe agudo de uma navalha devia ser semelhante a isto. Mil navalhas me cortavam o peito. Eu mal respirava. E ainda havia um nó em minha garganta obstruindo-a. Percebi um tubo preso do meu braço a um líquido amarelo - soro glicosado-, porque eu não havia ingerido nada. E então, me dei conta também de que estava na sala que Carlisle usava como laboratório. Estava numa maca, escorada em Bella. Ainda tremia. A dor saía em ondas de meu peito, irradiando para todo o corpo, me deixando tonta, atordoada.

-Eu sei meu amor. -Edward beijou-me a testa. Ele via a dor, a agonia. -Ela está voltando a si.

 Eu me sentia horrível. Sem chão, perdida. Por um instante me perguntei se era assim que eu devia me sentir, parecia exagerado, desproporcional; mas de que importava? Era assim que eu me sentia, ainda que não fizesse sentido.

-Vamos tentar localizá-lo, o traremos de volta. -disse minha avó. -Você vai ver, não vai demorar.

-Vou caçá-lo como o animal que é. - Rose sibilou.

-Rose! -meu pai quase rosnou. -Não creio que ele esteja muito melhor que Renesmee.

 Podia ser coisa da minha imaginação, mas Edward parecia ter mais a dizer. No entanto eu mal absorvia o que diziam. Não conseguia pensar, era tudo surreal.

 Meu avô trocava a bolsa de soro quando sem minha autorização minha mente verteu sobre mim uma lembrança...

“Eu tinha 03 anos reais, porém 10 anos físicos. Contraí uma virose gástrica, foi a única vez em que fiquei doente. Não segurava nada no estômago e Carlisle teve de usar umas agulhas especiais -resultado de uma das muitas pesquisas científicas que vovô financia-, com liga de titânio, que com rapidez e forças vampíricas penetravam em minha pele quase facilmente. Aço comum no máximo me deixava com hematomas. As agulhas normais quebravam. Carlisle ficara animado em finalmente ter uma amostra de meu sangue para estudar. Jake ficou comigo todo o tempo...”

 Sentei-me e comecei a puxar a agulha, mamãe segurou minha mão de leve, a ignorei. Se ela quisesse me impedir o teria feito. Tirei a agulha e pulei para fora da cama. Ninguém se moveu enquanto eu saía da sala. Tio Jasper hesitou na minha frente, na cozinha; desviei. Emmett fez o mesmo na sala. Desviei dele e subi a escada, o cheiro dele estava ali também.

 Parei em frente ao seu quarto e abri a porta. Era como se eu fosse ouvi-lo a qualquer instante. Meus joelhos tremeram. Parecia tudo normal, como se ele estivesse no andar de baixo. Se eu fechasse os olhos era como se Jake estivesse ao meu lado.

 Meus pais e avós hesitaram à porta. Normalmente me incomodaria com a vigilância deles, mas quando algo tão íntimo é violado nada mais importa, percebi.

-Renesmee... -meu pai disse ao mesmo instante em que Bella dizia “filha”. Os ignorei, deslizando para a cama imensa e abraçando um travesseiro. O cheiro no quarto era quente, pulsante.

 Usei toda minha força para manter minha mente só para mim. Ninguém mais precisava saber de minhas angústias desmedidas, eles já estavam bem nervosos. E eu preferia estar só dentro da tormenta que eram meus pensamentos desconexos.

 Jacob sempre esteve comigo. Parte natural de mim. A pessoa que nunca me contrariava, sempre digno, fiel, confiável. De repente isto já não existe. Acabou. Eu estava sozinha. Perdida. Ele partira sem deixar pistas, aparentemente.

 Talvez fosse o choque de nunca ter imaginado sua ausência que me fazia sentir assim. Cada parte ínfima de mim doía a ponto de eu não poder me mexer. Sequer querer respirar. Eu quase sentia meu sangue fluindo nas veias e isso doía. Em toda parte.

 O rosto de meu amigo fugitivo girava em minha mente. Lembranças. Até as quais eu não me prendera e que não recordava. Elas faziam meu peito doer a cada batida de coração. E mesmo assim continuei buscando por elas. E me perdi no vazio de novo. Eu não existia. Eu estava correndo por lugares indistintos. Havia esquecido meu corpo atrás, distante... Eu não era nada.

 Perguntei-me se havia dormido. Imediatamente vi que não. Aos poucos fui percebendo as paredes a minha volta, o quarto estava escuro. Lembrei-me de que, não sei quanto tempo atrás, vagamente ouvi alguém dizendo que me deixassem sozinha. Meus olhos não pareciam terem se aberto ou fechado todo esse tempo. Estive acordada, apenas incapaz de qualquer percepção. Fechei os olhos e eles arderam.

 Tive a impressão de que alguém estava no quarto. Com seu cheiro ali tão forte e nítido... Abri meus olhos e...

 Ninguém!

 Senti meu rosto congelado franzir com a dor.


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Notas finais do capítulo

Esse ficou pequeno, né?!
O próximo fica maior um pouco!!

E antes que perguntem, deixo claro que o Jake só volta no cap. 36. Peraê!! Antes disso teremos pontos de vista dele, ainda assim... E quero de antemão avisar que teremos novos personagens e, como a Jade, um deles vai despertar amor de umas e ódio de outras... A minha beta, escritora de Diário de Uma Imortal, lá do Foforks, amava esse personagem...
Bom, é isso e, começando o drama: se quiserem deixar de ler a história porque tirei o Jake de perto da Renesmee, a hora de avisar é agora... que eu ainda estou na metade da história.

Bjos e nos vemos nos comentários.