Fora Da Realidade escrita por Dreamer


Capítulo 4
Buffy, the vampire slayer: Angel e anjos


Notas iniciais do capítulo

Contextualização Buffy: primeira parte da segunda temporada (antes de Angelus).

Alerta de spoilers:

Buffy: série completa.

Doctor Who: episódios "Flesh and Stone", "The name of the Doctor" e "The Pandorica Opens/The Big Bang".

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O capítulo anterior não forneceu novidades para a história central.



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O meu nome é Rose Tyler e eu escrevo porque... Bem, porque não tem nada, além disso, que eu possa fazer por aqui.


Eu viajava com um homem incrível: o Doutor. Nós ficamos presos numa espécie de ciclo irreal. Viajávamos no tempo e espaço e, um dia, por algum motivo que nunca descobrimos, ficamos presos dentro de distorções irreais... Espaços ficcionais.

Devo admitir que nunca me incomodei com isso. Afinal, não parecia que vivíamos de maneira muito diferente da nossa realidade. Mas, então, aconteceu: a TARDIS nos levou para outro lugar impossível. E lá, eu morri.

Sei que eu morri e vim para o céu. Aqui é tudo calmo e tranquilo. Não existe dor. Não existe saudade. Existem sim as lembranças, mas não existe o tempo, então meus sentimentos não podem evoluir. Eu lembro do Doutor. Sei que sofreria de saudades por ele se estivesse em qualquer lugar que não fosse o paraíso...

Mesmo assim, a curiosidade existe: do que aconteceu com ele depois que eu vim para cá. Sei que ele está vivo, porque eu posso sentir. Mas, não posso ver de fato o que aconteceu. Fico me perguntando se ele regenerou, se o Doutor que eu conheço mudou para sempre...

Mas, logo me aquieto novamente. Em paz.


.o.



A loira estremeceu: não havia cinzas, havia sangue.


—Buffy!—gritou Xander, correndo até ela: alguma coisa parecia errada, ela nunca parava diante de um vampiro daquela forma.

—Meu Deus! —gemeu Willow, assim que a alcançou.

O homem gritava e gemia: o peito transpassado pela estaca de madeira proporcionava imensa dor. Sua mão direita apertou o punhado de cinzas que descansava ao seu lado. Suas lágrimas, ele sabia, vinham daquela imagem do corpo findo e desfeito em pó, e não do seu peito ferido que carregava seus dois corações intactos.

—Ele não está morto! —percebeu Willow, e apanhou o seu celular, já discando o número de emergências: — Vou chamar uma ambulância!

Buffy não conseguia se mover, em choque. Xander pegou a loira pelos ombros e a puxou para o lado. O Doutor apanhou o braço dele, tentava dizer algo. O rapaz se aproximou e ouviu o murmúrio: “Arranque isso”.

—Você vai sangrar até morrer! —argumentou ele.

Vendo que não teria ajuda, ele mesmo tentou pegar a estaca. Buffy segurou suas mãos, com lágrimas nos olhos, apavorada:

—Não morra! —pediu ela.

Nunca tivera cometido um engano tão terrível como aquele. Nunca ferira ninguém que não fosse um vampiro. Ele pediu para ela, com a pouca voz que conseguia emitir: “Tire isso de mim”.

Ela fechou os olhos e, confiando nele e não em seu bom senso, arrancou de uma só vez a estaca do peito daquele estranho homem. Ele berrou.

As mãos dele brilharam. Ele ainda não havia morrido! A estaca comprometera a estrutura óssea do peito e parte do seu pulmão esquerdo. Sentiu o calor daquele brilho: era energia de regeneração o suficiente para se recuperar daquele ferimento. Juntou suas mãos no seu corpo e o calor pareceu ter tomado conta do seu entorno e se expandido por todo o cemitério de Sunnydale.

O celular escapou das mãos de Willow e caiu no chão, antes de ter pedido qualquer ajuda. Os três olhavam para o ferimento que se fechara, boquiabertos.

O Doutor conhecia toda a mitologia em torno dos vampiros. Sabia o que Rose tinha se tornado. Mas, não pôde evitar olhar ao seu lado, para aquelas cinzas: aproximou sua mão como se fosse apanhar a dela... Parou no meu do caminho. Rose se fora... Ele não era mais capaz de alcançar a sua mão...

As ondas de calor cessaram e o brilho que o envolvera concentrara-se abaixo da pele reconstituída do peito. Adormeceu como criança.

—Mas, que toda coisa foi que aconteceu aqui essa coisa que aconteceu?—perguntou Xander, atropeladamente e meio sem sentido.

—Acho que foi magia Wicca, Xander. —cochichou Willow. —Mas, eu não o vi fazer nenhum encantamento!

—Ele deve ser de alguma dimensão demoníaca—encarou Buffy, mais recuperada do susto. Pousou sua mão sobre ele e conferiu: parecia totalmente curado. —Vamos levar ele para o Giles!

Buffy levantou o Time Lord com sua super força de Slayer.


.o.



O estranho sobre o tempo aqui, é que ele é todo um, como um único momento. Mas, eu consigo manter uma linha de pensamento. Então, não pode ser o mesmo instante, o tempo todo, não é?


E então eu volto a pensar no Doutor.

Não tem mais ninguém aqui. Nem é exatamente uma sala. Não tem forma de nada em volta da mim. Eu sei que eu existo porque sinto a mim mesma. E escrevo.

Acho que posso descrever esse lugar como algo sem forma ou cor que se distorce. Como se o nada coexistisse com alguma coisa que é ao mesmo tempo coisa alguma! Se é que isso faz algum sentido.

Eu tenho esta folha, isso faz sentido. E esta caneta. Então escrevo. E penso no Doutor...


.o.



—Você atingiu ele no peito? Tem certeza? —perguntou Giles pela enésima vez, ao lado do corpo deitado sobre o sofá de sua sala de estar.


—É claro que sim! Ele está todo sujo de sangue, e a camisa está rasgada para confirmar!

—Eu estou vendo—confirmou o Sentinela, trajando seus chinelos de quarto, e um roupão sobre os pijamas.

—O que ele é Giles? Ele não pode ser humano! —gemeu Willow.

—Eu nunca ouvi falar de uma recuperação como essa! Vamos ter que pesquisar—disse ele, tirando a camisa rasgada do Doutor.

Willow deu uma boa espiada interessada, enquanto Xander pareceu indignado.

O peito ainda possuía certo brilho abaixo da pele, Giles pousou a mão sobre e percebeu com surpresa no olhar: — Dois corações! Por isso ele não morreu na hora. Você não atingiu o coração dele!

A chaleira apitou e ele se levantou indo para a cozinha, começou a colocar água quente nas xícaras. Vendo a expressão tensa da Slayer, complementou:

—Não se preocupe, Buffy. Ele está fora de perigo agora. Me conte tudo o que aconteceu.

—Não vamos largar esse cara sem camisa, não? —reclamou Xander, puxando o lençol que estava no braço de sofá em cima do Doutor.

—Que prestativo—observou o Sentinela, enquanto Willow tornou-se levemente rubra. —Agora, Buffy...

—Nós tínhamos saído juntos—começou a Slayer, ainda um pouco imersa na besteira que fizera, encarando aquele corpo deitado no sofá.

—Foi ideia minha. Fazia tempo que não andávamos à noite por Sunnydale, e tivemos essa chance de passar um tempo juntos—completou Xander.

—E eu queria treinar algumas coisas de Wicca em uns vampiros... —confessou Willow, desviando do possível olhar repreensivo de Giles.

—Vimos uns vampiros no caminho. O usual: Buffy estaqueou todos e continuamos a caminhar e conversar sobre as novidades.

—É, só as coisas usuais—confirmou Willow. —Quando mais à frente vimos uma confusão. Parecia uma briga entre vampiros. Eu consegui confundir eles com Wicca e logo a Buffy pegou todos eles. Mas, a minha magia não atingiu esse cara e ele puxou uma das vampiras junto com ele.

—Então, eles correram e nós os perseguimos—continuou Xander. —Eles eram rápidos, mas a Buffy é muito mais. Ela lançou a estaca que atingiu em cheio as costas da vampira. Esse cara parou na hora, de guarda baixa... —e desviou o seu olhar para a amiga calada e cheia de remorsos, adicionou: — Mas, é óbvio que tudo apontava para que ele fosse um vampiro também!

—Sim, sim! Eu também achei que ele fosse um vampiro! Tudo indicava! —reafirmou Willow.

—Tudo menos o fato da sua magia ser direcionada para confundir apenas vampiros. Buffy você não é mais uma novata. Precisa pensar com clareza—disse ele, tentando ser brando ao ver as lágrimas se formando nas pontas dos olhos da loira. —Mas, tudo deu certo no final. Você não matou ninguém. Seja mais atenta daqui para frente!

Ela afirmou com a cabeça, silenciosa. Mas, logo seu olhar se voltou para a janela. Ela foi firme até ela e abriu a cortina.

—O que foi Buffy? —alarmou-se Giles, largando o sachê do chá na última xícara, crente de que deviam estar rodeados de vampiros.

Ela observou: tudo estava quieto e imóvel.

—Tem alguma coisa lá fora! Alguma coisa maligna!

Xander e Willow se precipitaram ao lado da amiga para observar: não parecia haver nada.

Giles, depois de um bom tempo, falou:

—Buffy, você está exausta. Não tem nada lá fora. Vá para casa e descanse agora. Eu te ligo se eu perceber alguma alteração nele.

—A gente te acompanha até lá—disse Willow.

Ela negou com a cabeça:

—Não precisa. Eu ainda sei o caminho de casa.

Willow deu um abraço na amiga e todos se despediram de Giles. Dali da porta, separaram-se indo cada um para a sua própria casa. Enquanto isso, no sofá, o Time Lord se recuperava.


.o.



—“Algo maligno”. Eu espero que você não estivesse se referindo a mim—ouviu ela a voz emblemática e um tanto sedutora vinda das sombras.


—Você estava me espionando? —perguntou Buffy.

—Não quis interferir na sua noite com a ‘Gangue’—respondeu Angel, forçadamente.

A ideia nem fora de Buffy. Xander que se intrometera dizendo para Buffy que ela não dava mais tanta atenção para os amigos para ficar com o vampiro. Depois de perceber certa confirmação no comportamento de Willow, acabou propondo para Angel que não se vissem naquela noite.

—Você está com ciúmes! Não credito nisso! Vocês homens são tão infantis! —retrucou, um pouco fora de si.

Ele pegou a pequena mão dela e a envolveu na sua:

—Já passou... —disse ele baixo, tomando-a num abraço. —Já passou...

—Eu matei uma pessoa... —falou ela, trêmula, com lágrimas percorrendo dos seus olhos arregalados de espanto para o rosto delicado.

—Ele não morreu... Já passou, Buffy, foi só um susto...

—Ele podia ser um humano. É a mesma coisa, o meu erro é o mesmo.

—É claro que não é...

Buffy o largou de imediato:

—Você viu aquilo?!

—O que?

—Eu... Eu juro que eu vi aquela estátua em outro lugar.

Aliviada por, dessa vez, não ter de ouvir que estava vendo coisas por estar cansada demais. Angel se aproximou da estátua:

—Eu não me lembro de ter visto ela aqui antes.

E Angel conhecia bem todas as ruas de Sunnydale. Nunca antes vira aquela estátua de anjo que cobria o rosto com as mãos.

—Mas, é só uma estátua—confirmou ele. —Vamos, vou te levar para casa.

Buffy afirmou e deu as costas para a estátua. Comentou iniciando a sua caminhada:

—Sabe, não fiquei brava por você ter me “estalqueado”... Angel? —chamou, estranhando a ausência de resposta. Virou-se para onde não havia mais Angel. A estátua, com uma face demoníaca, tinha sua mão há poucos centímetros de Buffy.


.o.



Giles piscou sobre os livros. Entardecia e não encontrara em sua biblioteca pessoal nenhuma informação sobre qualquer ser que possuísse dois corações. A não ser pelo ‘búfalo desdenhoso’, criatura infernal que aterroriza vespas. Mas, não conseguiu imaginar qualquer aplicação útil para aquela informação.


A ida até a escola parecia ser a decisão mais acertada. Uma biblioteca maior parecia a melhor solução.

Naquele momento, por mais que tentasse controlar o seu sono, era difícil não piscar uma ou duas vezes após passar a noite e o dia inteiro pesquisando.

—Chá?

—Obrigado—disse grato, apanhando aquele autêntico chá inglês. Deu dois goles e engasgou: olhou para o lado e percebeu o homem que também desfrutava daquela infusão.

—É 1999?

—Perdão?

—1999, o ano.

—Sim—respondeu Giles, um pouco desconcertado, ajeitando os óculos. —Como você veio até aqui? Como sabia que eu estaria aqui?

O Doutor pegou sua screwdriver e a ligou no centro da biblioteca. Pareceu um pouco decepcionado.

—E que roupas são essas? Elas não estavam na minha casa—continuou o interrogatório.

—Quantos universos você estima que existam?

—O que? —foi pego desprevenido. —Uma infinidade. É possível que não haja limites.

—Brilhante!

—Desculpe, mas quem é você? —perguntou o Sentinela.

—Andando, vi seu nome nas correspondências, são minhas, e eu sou o Doutor.

—O que?

—São as respostas para as suas perguntas—e acrescentou colocando os óculos. —Estou com um pouco de pressa. Universos infinitos, em um dos seus livros diz que o inferno é um universo alcançável.

—Sim, é, mas o que você pretende? Desculpe, como se chama?

—Sou o Doutor.

—Doutor quem?

A porta da biblioteca foi aberta por mãos apressadas. Willow e Xander pareciam ansiosos:

—A Buffy não está aqui? —perguntou a garota, varrendo o lugar com o olhar, deu um sorriso para o Doutor. —Você já está de pé! Isso foi Wicca?

—Não, ainda não a vi hoje—respondeu Giles, nada feliz pela insistência de Willow quanto a Wicca.

—Nós não a vimos na aula—explicou Xander, com uma boa dose de preocupação. —Ligamos para casa dela, mas a Joyce disse que Buffy nem chegou a voltar para casa ontem à noite.

—Isso é preocupante. Vou tentar encontrar Angel e...

—NÃO SE MEXAM! —berrou o Doutor. —Não se mexam, olhem para todos os lados e o mais importante. NÃO PISQUEM!

Todos o olharam espantados.

—O que aconteceu? —perguntou Willow, baixinho.

Ele apontou o corredor entre duas estantes. Parada nela, uma estátua de anjo observava à frente com seus olhos de pedra e com as mãos estendidas.

—O que é aquilo? —perguntou Giles, espantado.

—Tem uma estátua no corredor? Quem a trouxe para cá? —gemeu Willow.

—O time de basquete? —tentou Xander, porque as Cheerleaders que não podiam ter sido.

—Não é uma estátua. Ele assume forma quando ninguém o olha. É um Anjo Lamentador. Ele captura pessoas e as transporta para diferentes tempos.

—Eu nunca ouvi falar de algo assim—disse o Sentinela, em voz baixa, como se a estátua o pudesse ouvir.

—Saiam daqui! CORRAM!

Os três correram para fora da biblioteca e o Doutor saiu devagar, sem tirar os olhos da estátua até fechar a porta e trancá-la com a screwdriver. Quando se virou, percebeu que os três ainda estavam ali: no corredor, oito anjos se aproximavam, estáticos.

—Não podemos deixar que eles saiam do nosso campo de visão—alertou o Doutor mais uma vez.

O sinal tocou e os alunos saíram das salas para os corredores. Simplesmente, era muita gente para alertar. Mas agora tinham uma vantagem: muitos olhos. Os jovens curiosos observavam as estátuas, discutindo se elas estariam ali para o Halloween. O Doutor aproveitou a chance e correu. Os três o seguiram. Saíram da escola.

—Para onde estamos indo? —perguntou Willow já sem fôlego.

Ele não respondeu. Era como se, se parasse de correr, a morte seria certa. Há mais alguns quarteirões ele parou de súbito, em frente a uma cabine telefônica azul. Tirou a chave do bolso e começou a destrancá-la, mas a porta parecia não querer ajudá-lo: emperrara.

Os três, distraídos com as excêntricas atitudes do Doutor, esqueceram-se de olhar ao redor e, quando perceberam, de ambos os lados da rua surgiram estátuas com faces aterrorizantes e poses de ataque.

—Vamos lá! —gemeu ele, forçando mais a chave e a porta, como se a TARDIS tivesse tido autonomia suficiente para ajudá-lo naquele momento, se abriu.

Os quatro entraram. A sala de controle da TARDIS estava iluminada com uma tênue luz avermelhada. Como se quisesse alertar ao Doutor que ainda não tinha total controle sobre si mesma, mas que lutaria para ajudá-lo.

Antes que qualquer um dos três pudesse gaguejar, ou mesmo assimilar que a Caixa Azul era maior por dentro que por fora, o Doutor falou muito rápido:

—Aqui estamos seguros. Entendam uma coisa: eu venho de uma realidade diferente. Não de uma dimensão diferente, mas de uma realidade diferente. Imaginem como se o seu universo fosse um hexágono que se distorce há uma distância infinita de espaço e tempo da minha realidade. O espaço e o tempo entre eles são tão distantes que jamais podem se encontrar ou se tocar. Agora, uma distorção de todas as realidades pode ocorrer, criando espaços viáveis para saltar entre elas. Um salto sem caminho. Imaginem que o tempo é uma grande bolha mais como um wibbly wobbly timey wimey... coisa. E que eu posso viajar nela através de um Vórtex. Acredito que exista uma anomalia dentro dos Vórtex que causou a distorção em todas as realidades, o que me trouxe até aqui. O que trouxe os Anjos até aqui. Eles são da minha realidade. Não da de vocês. Eu posso consertar a anomalia no Vórtex, mas o Vórtex de uma realidade não deve ser igual ao de outra realidade, já que são linhas temporais completamente distintas. Eu não conheço nada do mundo de vocês, então preciso da sua ajuda para entendê-lo.

Willow e Xander o olharam estáticos, sem entender uma palavra. Giles entreabriu os lábios e os fechou novamente, confuso, coçou a nuca e disse:

—Eu não tenho certeza se sou capaz de te ajudar.

—Eu só preciso do seu conhecimento. Posso lê-lo na sua mente, se você me permitir.

Aquele estranho homem acabara de propor a Giles uma leitura de mente. Em todo o seu treinamento como Sentinela, jamais se deparara com algo assim. Concordou um tanto assustado.

—Não dói. Você não vai sentir nada. Eu só vou obter o seu conhecimento, não vou olhar nenhuma informação pessoal. Se tiver algo que não quer que eu olhe, é só fechar a porta, eu não vou olhar—explicou, aproximando suas mãos das têmporas do Sentinela.

O Doutor viu o treinamento de Sentinela, todo o conhecimento obtido através dos livros, a convivência com a Slayer... E permitiu que Giles soubesse algo sobre os Time Lords, sobre regeneração e a TARDIS.

—Ok! —exclamou o Doutor libertando Giles rapidamente. —Vamos encontrar a Slayer primeiro. Willow! Willow, a melhor amiga da Buffy, pode me dar alguma coisa dela que esteja com você?

—E-eu acho que não tem nada dela comigo...

—Aqui—disse Xander abrindo a mochila. —Ela me emprestou essa lapiseira ontem.

—Vamos esperar que você não goste de estudar.

—Ahn?

Mas, o Doutor já se precipitara, exclamando “Allons-y”, para os controles da TARDIS, abriu uma pequena gaveta e colocou a lapiseira dentro. Ainda havia traços de DNA da garota e a nave forneceu na tela sua localização.

—ISSO! Nenhum anjo a pegou. Continua por aqui. Se segurem! —disse começando a dirigir a nave como um alucinado.

Quando a nave estacionou, o Doutor saiu rápido para fora.

Xander, ainda abraçando o corrimão da entrada, balbuciou:

—Vampiros, demônios... Antes já era demais...

—Nada disso é real, você está ficando esquizofrênico—murmurou Willow, tentando apavorá-lo ainda mais.

Enquanto isso, “Contando que eu não esteja delirando e convulsionando no meio da biblioteca, tudo bem... Mas, se eu estiver, espero que Jenny não me veja...”, pensou Giles. Também parecia demais para ele, mesmo entendendo afinal quem era aquele estranho homem. Ajeitou o paletó e olhou para fora da nave. Saiu da Caixa Azul e constatou: era mesmo menor do lado de fora.

O Doutor, mais há frente apontava a screwdriver para um punhado de pedras no chão. Depois apontou para frente e seguiu um caminho que só ele entendia. Os outros o seguiram. Willow perguntou em voz baixa para o Sentinela:

—Mas, se não foi Wicca, o que foi? Quem é ele?

Os quatro, de costas, não perceberam o Anjo que se aproximava deles. Quando estava prestes a apanhá-los, ouviram um grande estrondo.

—Buffy! —exclamaram Xander e Willow.

Com os dedos um pouco raspados por socar tantas estátuas desde a noite anterior, a loira apareceu com uma expressão ansiosa:

—Eles pegaram Angel! Eu procurei ele por toda a parte, mas não sei onde o levaram!

O Doutor ainda observava os cacos de anjo espalhados pelo chão. As pedras que encontrara no caminho eram de fato restos de anjos que Buffy pulverizara. Giles preocupado com a pupila, se precipitou:

—Buffy, não é tão simples. Ele não está mais aqui.

—Os anjos levam as pessoas para o passado—explicou Willow. —Angel agora está há muitos anos atrás!

—O que...? —espantou-se ela, tendo seus sentidos anestesiados pelo choque. Não podia perder Angel... Não daquela forma.

O Doutor saiu correndo novamente.

—Para onde você vai? —berrou Giles.

—Usar a minha maior arma: o tempo—e entrou na TARDIS, que desapareceu em seguida.

—Quem era ele? —perguntou Buffy.

—Ele é um viajante do tempo—respondeu Giles, agora a maior autoridade em Time Lord de Sunnydale.

—Você acha que ele foi buscar Angel?

—Angel, Angel, Angel! —bufou uma voz que se aproximou deles: — Sinceramente, seja lá onde ele foi parar, só espero que retorne como Angelus! —exclamou Spike, com seu andar jogado.

—Angelus vai voltar? O anjo disse que ele está loooonge, muuuuito looonge—comentou Drusila, com um olhar vago, como se fosse capaz de enxergar todas as realidades e tempos existentes através da sua insanidade.

—Vocês não podem conversar com estátuas! —vociferou Buffy para Spike, tentando amenizar a vantagem que eles estavam tentando deixar a entender que possuíam.

—Não são estátuas, são anjinhos lindos da morte... Não é? —perguntou Drusila.

—Sim, amor. Esses estúpidos não entendem que os anjos não falam com os vivos. Mas, conosco... Acabamos de tomar umas cervejas, se vocês entendem o que eu quero dizer. E nós descobrimos coisas muito interessantes sobre eles. Como por exemplo, que eles se alimentam de vocês! Somos praticamente parceiros de fast food!

—Fast food, fast food, fast food—começou a dançar Drusila.

—Então, o que pretende fazer, Slayer? —perguntou Spike, e no piscar de olhos da gangue Scooby, os anjos voltaram a se aproximar. —Parece que a carga para cima de você está muito pouco grande dessa vez, não é? —e ele investiu um chute em Buffy, que desviou e retrucou com um soco. Ambos começaram a lutar e outros vampiros começaram a se aproximar, como se todos os seres da noite de Sunnydale tivessem pressentido a vantagem.

Xander, Willow e Giles se precipitaram sobre uma cerca de madeira e a quebraram o mais rápido que puderam para conseguir estacas improvisadas. Começaram a se defender.

Conforme lutavam contra os vampiros, mais anjos saíam dos seus campos de visão e se aproximavam.

Lutando contra Spike, Buffy percebeu a sua derrota iminente quando ambos ficaram rodeados por anjos. Mesmo assim, daria tudo de si. Pegou aquela estaca e num impulso derradeiro, findaria a existência de Spike de uma vez por todas. Ela avançou e caiu na piscina.

“Piscina?”, pensou ela, mergulhada na água, largando a estaca e indo para a superfície.

—Oh! Desculpe! —pediu o Doutor assim que entrou na sala da piscina da TARDIS. —A TARDIS está muito confusa ainda e te trouxe para a coordenada errada dentro da nave. Você está bem?

—O QUE?

—Vou pegar uma toalha para você.

—VOCÊ ME TROUXE AQUI? ME LEVE DE VOLTA! Meus amigos precisam de ajuda e...

—Estamos dentro da uma máquina do tempo. Vou te levar de volta no momento exato em que te tirei de lá. Mas, não precisa ser agora.

Ela saiu da piscina e apanhou a toalha que ele estendia para ela.

—Um anjo ia te apanhar assim que você atingisse aquele vampiro. Você estaria perdida no tempo para sempre...

—Para sempre? Então Angel...

—Eu sinto muito... Eu sinto muito mesmo.

Buffy abaixou o olhar, sentindo uma imensa dor no peito. Mas, não era momento de se entregar. O Doutor continuou:

—Eu consegui que a TARDIS reconhecesse todos os pontos instáveis de tempo e espaço: portais para outras dimensões. O seu mundo é praticamente uma peneira. Existem mais portais do que o espaço do seu próprio planeta—ele foi saindo para o corredor e ela o acompanhou até a sala de controles: — E eu achei um recente que se abriu no dia em que eu cheguei aqui. Eu tentei entrar nele, mas eu preciso de alguém desse mundo, ele não me reconhece. Eu sou um ponto inexistente neste universo. E, então, o que me diz?

—O que? O que eu te digo do que?

—Pronta para salvar o mundo mais uma vez, Slayer?



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