Garota De Papel escrita por Robs Moraes


Capítulo 3
Capítulo 3




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Quando fui acordado por Luiza que percebi que tinha dormido na mesa em frente à janela. Ela estava parada, me encarando.

- Você quer explicar o que aconteceu ou...?

Pisquei várias vezes até ter certeza de estar mesmo acordado.

- Eu acho que eu dormi? – soou mais como uma pergunta do que deveria. Luiza revirou os olhos – Que horas são?

O sol não tinha aparecido ainda.

- Três ou quatro – ela se mostrou indiferente – Por que estava dormindo na janela

Não precisei responder. Ela mesma após uma rápida pausa soltou um “ah, claro”.

- Não é o que você está pensando – me defendi – As cortinas estão fechadas há muito tempo.

 - Você saber isso já mostra que é exatamente o que eu estou pensando – senti desgosto em sua voz.

- E você? Onde estava? – quis saber. Ela não estava doente afinal?

- Ah, você sabe. O Hugo me ligou, disse que tinha uns filmes e “já que você está doente, vamos ficar em casa” – ela fez aspas com os dedos. Quem era Hugo mesmo? Nem fiz questão de saber. Apenas assenti e fui sentar na cama. Luiza chegou mais perto e sentou ao meu lado – Como foi o dia? Eu sei que você foi fazer seu trabalho em dupla.

Confirmei.

- Como foi com a menina lá? – vi algum desdém nesse “a menina lá”, mas nem comentei.

- Foi ótimo – suspirei – Ela é demais. Nós fizemos um pouco do trabalho e passamos o resto do tempo só conversando. Foi tão simples e tão fácil, eu nem vi o tempo passar. Ela fala de um jeito e faz piadas, sabe? E a risada dela...

- Calma, Gui, você está quase me fazendo voltar a ficar enjoada – ela comentou rindo – Que bom que você está apaixonado então.

- Eu não estou apaixonado – respondi automaticamente – Estou... Sei lá, encantado. Ela é uma pessoa incrível.

Luiza revirou os olhos. Mais uma vez.

- Que bom então. Já pediu para casar com ela?

Fiquei sério.

- Ela disse que queria me beijar – confidenciei. Senti-me como aquelas meninas adolescentes com seus diários e seus gritos com as melhores amigas de “ele tocou em mim!”.

Luiza, por sua vez, pareceu genuinamente surpresa.

- Disse mesmo?

- Disse. Quer dizer, não com todas as letras – corrigi – Ela parecia estar brincando comigo, sabe? Mandando sinais confusos.

- Eu não quero dizer que avisei que isso ia acontecer – ela começou a dizer. Não estava com paciência para seus resmungos e insultos agora.

- Entao não diga – fui ríspido. Ela arqueou as sobrancelhas.

- Tanto faz então – levantou-se da minha cama e foi caminhando até a porta – Só não cai no feitiço da sereia, que você se afoga.

Ignorei o comentário. Ela parecia chateada. Não me importava. Eu amava Luiza, de verdade, mas desde que Júlia aparecera ela ficava dando esses ataques de ciúme tão infantis. Como se ser amigo dela me fizesse sua propriedade. Não a persegui. Tinha sido grosseiro, sabia disso, mas dessa vez não pediria desculpas. Em vez disso, fiquei ouvindo a televisão deitado em minha cama. O sono já tinha ido embora e agora só conseguia pensar sobre estar caindo no “feitiço da sereia”, como Luiza dissera. Era idiota, pessoas não podem realmente enfeitiçar umas às outras. Ouvi o que parecia ser a abertura de “De volta para o futuro” e fui até a sala. Luiza sentava-se na poltrona como de costume, então ocupei o sofá.

- Esse filme de novo? – questionei.

- Não tinha mais nada passando – ela respondeu com indiferença.

- Não sei se acredito – sorri. Ela permaneceu quieta – Por que está assim?

- Por algum motivo, eu acho que você veio aqui para me dar alguma lição de moral – ela explicou. Tinha passado pela minha cabeça, não vou mentir. Mas eram quatro horas da manhã e essa discussão não levaria a nada. Então apenas balancei a cabeça em negativa – Que bom. Eu acho que eu deveria pedir desculpas, mas eu...

- Lu – interrompi – Vamos ver o filme?

Ela sorriu com o canto da boca, fazendo a bochecha inflar e foi sentar ao meu lado no sofá. Encostou a cabeça em meu ombro e deixou seus longos cabelos ocuparem meus braços e meu peito.

- Gui? – chamou baixo.

- Hm ?

- Você é meu melhor amigo, sabia? – era estranho vê-la sentimental desse jeito. Era minha culpa, com certeza.

- Você também é minha melhor amiga – beijei-a na testa – Mesmo isso sendo frase de gente bêbada.

Assim ficamos o resto do filme em silêncio. Foi na cena do baile que percebi que ela tinha adormecido. Pensei em ir para o quarto, mas sabia que se mexesse a acordaria, então apenas encostei na almofada do sofá e dormi também.

Acordei várias horas depois – mais do que queria – com um susto. Parecia que a cama estava se movendo, mas era só Luiza tentando se livrar do meu braço.

- Eu acho que alguém perdeu a aula hoje – comentou bocejando e espreguiçando o corpo todo, já de pé. Eu ainda não estava pensando bem o suficiente para responder – Não que fosse tão importante, acho. O que você tinha hoje?

- Não tenho ideia – fui sincero e recebi um olhar de reprovação como resposta – Não me olha assim, você também está matando aula.

Ela balançou os ombros indo em direção à cozinha e riu alto.

- O semestre mal começou, rapaz. Eu não vou me crucificar por dormir até mais tarde um dia.

Concordei e voltei a deitar, dessa vez me espalhando no sofá inteiro.

- Que horas são, afinal? – perguntei.

- Onze – Luiza respondeu, voltando à sala com um pote cheio de cereal – Acho que deveríamos comprar comida de verdade. Isso tem gosto de plástico.

- Você fala isso todo dia – e eu fazia esse comentário com a mesma frequência – Acho que vou aproveitar que já não fui à aula para comprar comidas decentes. Vem comigo? – Me pus de pé num pulo e verifiquei os bolsos. Como dormira com a calça do dia anterior, seria plausível que minha carteira estivesse lá. Não estava.

- Eu adoraria, mas... – ela fez biquinho – Tudo bem, eu não consegui pensar em nenhuma desculpa, mas a preguiça me domina.

- Entendo – peguei minha carteira na mochila e saí do apartamento correndo os três andares até o térreo, rumo ao mercado. Pães, frutas... Precisávamos de um café da manhã decente, além de comida congelada. Não fiquei surpresa com o tamanho da fila que encontrei no caixa – era normal. O susto veio quando entrei em casa. Abri a porta anunciando minha chegada e dei de cara com Luiza me encarando de trás de uma caneca de café.

- Que foi? – perguntei intimidado.

- Você tem visita – ela levantou uma sobrancelha só e apontou com a cabeça para o quarto.

Dei alguns passos, hesitante. Por mais bobo que seja – e eu sei que é – fiquei martelando sobre como estaria meu quarto, o que estaria à vista, o que estava arrumado ou não. Os pensamentos voavam em seis passos. A porta estava apenas encostada. Abri-a e me empurrei para dentro do quarto.

- Bom dia – uma voz doce conhecida me cumprimentou. Júlia estava sentada na cadeira abraçada ao joelho.

- O que você está fazendo aí? – me esforcei para não gaguejar.

- Eu achei que você pudesse se incomodar se eu sentasse na sua cama – ela respondeu, simplesmente.

- Eu não estava falando da mobília – retruquei.

- Eu pensei que nós poderíamos terminar o trabalho hoje. Faltam quatro dias para o prazo, então...

- Como você sabe onde eu moro? – perguntei, desconfiado.

- Como assim? Você mora do meu lado – ela parecia incrédula.

- Não, o andar.

- Eu perguntei para o porteiro – ela fez soar óbvio. Respirou fundo – Se você quiser, eu posso voltar mais tarde ou, sei lá, a gente se encontra depois.

- Não ué. Você está aqui, vamos fazer o trabalho – apertei o botão do computador com o punho fechado – Você poderia ter avisado, não precisava ter aparecido aqui do nada, não precisava ser na minha casa. Só isso.

Júlia deixou o beiço cair um pouco e ficou com a boca aberta, como se não soubesse o que responder. Uma melodia anunciou que o computador estava ligado e fiquei em pé encarando-o. Júlia se levantou.

- Senta na cadeira. Eu fico em pé sem problemas.

- Pode ficar na cama – falei com calma.

Tínhamos combinado que usaríamos as ideias dela, mas eu quem transformaria aquilo em roteiro. Eu já devia ter feito minha parte, sabia disso, mas dormira antes de ter a chance.

- Eu posso fazer isso sozinho, você não precisa ficar aqui – tentei fazer soar de modo a ela não pensar que a estava expulsando, sem sucesso.

- Eu já falei que posso ir embora, e você quiser – ela falava estranhamente baixo, exalando humildade. Era diferente da impressão que passara no dia anterior.

- Não, eu só... – estava parado com as mãos posicionadas sobre o teclado, mas sem digitar nada – Eu achei que você fosse preferir sair com seu namorado.

E então ela riu. Assim, do nada. Fiquei perdido. Larguei o teclado e joguei os braços sobre as pernas, olhando para ela.

- É sobre isso então? Sobre meu namorado? – ela não estava contente – Você resolveu ficar bravinho comigo porque eu fiz uma brincadeira ontem e depois fui ficar com meu namorado? Talvez eu deva mesmo ir embora agora.

- Não, pode ficar – pedi. De algum jeito, o quarto ficava mais alegre com a presença de Júlia. Na verdade, desde que me mudara, a única garota a entrar ali tinha sido Luiza, cuja voz baixa e rouca não abrilhantava muita coisa.

- Você não tem esse direito, sabia? – ela voltou a falar  - De ficar com ciúme de qualquer coisa. Você me conhece há dois dias.

- Duas semanas – corrigi.

- Tudo bem, mas de verdade há dois dias. De que importa? Que fossem dois meses! Você ainda não teria.

- E quem disse que eu estou?  - talvez eu estivesse. Nem eu sabia direito. Não estava nem com raiva, só não me sentia bem perto dela. Ao mesmo tempo, não queria que fosse embora – Você acha que é sempre tudo sobre você, não? Adivinha só: Não é. Eu dormi mal, só isso. Agora vai falar que eu faltei aula por sua culpa também?

Júlia bufou.

- Vamos fazer o trabalho – soava como um pedido. Não havia motivo para discutir. Eu tinha total consciência de quão infantil estava sendo, mas não queria admitir o erro.

Comecei a digitar. Escrever para mim era fácil, fluido e, principalmente, me passava tranquilidade. Ficamos algum tempo em silêncio até preencher duas páginas escritas.

- Eu adicionei algumas coisas novas, são ideias, espero que você não se importe – tirei os olhos do computador e levei-os à garota, que olhava para minhas fotos na prateleira. Ela não estava nem me ouvindo.

- Onde eles estão agora? – perguntou, apontando para uma foto em que eu aparecia com meus pais e minha irmã.

- Em casa – aproximei a cadeira da cama – Eles têm um pouco de medo da capital, acho. Eu vim sozinho. E os seus?

- Eu não tenho – um sorriso triste preencheu seu rosto – Há muito tempo eu não tenho.

- Sinto muito – confesso que fiquei curioso, mas me segurei para não perguntar o que acontecera. Não era meu objetivo deixa-la desconfortável.

- Não precisa – Júlia segurou minha mão – Eu era muito pequena. Honestamente, nem me lembro direito.

Esse foi o momento em que percebi o que gostava nessa menina. O silêncio não era desconfortável. Não soltei sua mão, apesar de ter demorado a pegá-la de volta. Ficamos algum tempo sem dizer nada e, de minha parte, sem nem pensar em nada. Júlia olhava para as mãos e eu olhava para ela, quando a porta se abriu.

- Guilherme, eu... – Luiza entrou falando alto, mas se calou quando sentiu que interrompia alguma coisa. Voltou a falar num tom mais baixo – Eu vou dar uma volta.

Puxei a minha mão de volta e, antes que eu pudesse sorrir de modo sem graça, Luiza já tinha sumido pelo corredor. Ouvi a porta da frente bater e quando voltei a olhar Júlia ela estava segurando um sorriso.

- Ela me odeia – foi uma afirmação. Gostaria de contestar, mas não conseguiria.

- Um pouco.

- Eu sei. Há bastante tempo já, isso.  Acostumei já – ela deu de ombros.

- Sinto muito – falei.

- De novo? Não precisa – ela acariciou minha bochecha de um jeito amável – De novo.

- Eu discuti com ela ontem, por sua causa – confessei, com certa cautela.

- Por minha causa? – Júlia estava intrigada.

- Ela sempre fala sobre como você vai me enganar e fazer joguinhos comigo.

- Imagino – ela mordeu o lábio.

- Eu não acreditava, sabe. Não acreditava mesmo. Mas aí você falou sobre querer me beijar e eu...

- Guilherme – sua mão desceu para minha boca e ela fez um bico, como se pedisse para eu parar de falar – Eu estava brincando.

- Tem certeza? – questionei. Aquilo era bom, mas ao mesmo tempo decepcionante.

Ela concordou com a cabeça.

- Você não quer me beijar então? – perguntei mais uma vez.  Júlia respirou fundo e escondeu a cabeça sobre os joelhos. Em segundos, levantou de volta e me encarou.

- Eu não sei mais o que eu estou fazendo aqui. De verdade.

- Me desculpa por fazê-la ficar desconfortável assim? – ela fez que sim – Você pode ir embora, se quiser, sabe.

- Eu não quero – ela nem se movia.

- Por que não quer? – percebi que ela não fazia muita questão de ficar ali, ela só não queria ir para casa.

- O Victor... – Júlia levou a mão aos cabelos – Ele vai querer ir lá para casa e eu não quero falar com ele agora. Nós discutimos ontem porque eu fui fazer o trabalho.

- Então eu acho que você não deveria estar aqui, não?

Ela não respondeu. Apenas esticou as pernas até o chão na beirada da cama e jogou o resto do corpo para trás.

- Eu gosto de ficar aqui – ela falava comigo, mas não pude deixar de perceber como parecia falar sozinha – Pelo mesmo motivo que eu gosto de ficar com você, acho. É diferente. Eu ando com as mesmas pessoas há algum tempo e eu estou enjoada. Às vezes, eu só queria ir embora.

- Todos se sentem assim, é o maior clichê da juventude – comentei. Ela riu.

- Talvez.

- Quando terminarmos esse trabalho, você acha que vai continuar falando comigo? – quis saber, embora tenha tido alguma vergonha por perguntar – Quer dizer, não vai ter mais nenhuma desculpa.

- Eu não sei, Guilherme, eu realmente não sei. Espero que sim – ela abriu os olhos – Se não, eu espero que os próximos quatro dias sejam realmente legais.

A verdade era que já tínhamos mais da metade do trabalho feito. Não precisávamos de quatro dias. Mas eu queria esses quatro dias, eu queria tanto... E parecia que ela queria também.

Se o silêncio antes era agradável, agora era difícil de suportar. A ideia de que ela estivesse triste em não manter contato comigo me deixava satisfeito, por motivos egoístas. Sabia que seria difícil por conta do namorado dela, entendia os motivos dele. Não imaginaria, com aquele jeito, que ele pudesse ser esse tipo de namorado. Mas aparentemente... Era engraçado até. Eu, Guilherme, sem graça, fazendo parte disso. O clássico livro de adolescente. Era patético. Ou seria. Se ela não gostasse disso. E aí entendi o feitiço de que Luiza falara.

- Júlia? – chamei. Ela encarava os próprios pés, tirando-os da sapatilha e depois calçando novamente. Ela respondeu com um ruído interrogativo. Continuei – Você disse que estava brincando  sobre o beijo.

- De novo?- ela estava cansada.

- De novo. Eu não discuto sobre ser brincadeira ou não. Mas eu preciso saber. A Luiza me disse umas coisas e...

- Eu já falei que ela me odeia – Júlia atestou o óbvio – Eu não acreditaria em qualquer coisa que ela dissesse sobre mim.

- Ela disse que você poderia querer brincar comigo. Para eu acabar gostando de você.

- Típico – Júlia revirou os olhos.

- Isso me parece o tipo de brincadeira que ela falou, Júlia – expliquei. Não acreditava que realmente estava fazendo isso, falando isso assim tão de cara. Mas era uma coisa que ela despertava em mim. A vontade de ser completamente sincero e questionar – Fingir que está interessada para eu pensar sobre isso. Se você for quem ela diz, faz sentido. Querer que eu goste de você.

Ela se aproximou de mim, ainda sentada na cama e eu na cadeira.

- Você acha que eu sou quem ela diz?

- Não – respondi sinceramente. Do jeito que Luiza falava, ela parecia ser manipuladora e uma pessoa ruim. A que eu conheci era meiga e encantadora. De um jeito não agressivo – Eu não acho.

- Você acha que eu queira que você goste de mim?

- Eu não sei. De verdade.

- Você gosta? – ela pousou a mão sobre meu joelho e me olhou nos olhos. Tinha tanta dúvida quanto eu, era nítido.

- Eu não sei – engoli a seco. Ela umedeceu o lábio. Cheguei mais perto.

- Não sabe? – ela agora sussurrava – Como pode não saber?

- Você tem namorado.

- Eu sei – dizendo isso, Júlia se inclinou e me beijou. Não sei como chegou a meus lábios tão rápido, mas já beijando-os parecia que nunca mais largaria. Qualquer pensamento de dúvida sumiu de minha mente quando ela se levantou da cama para ficar inclinada sobre meu colo, em pé. Ela afastou a boca da minha e sorriu. Eu ainda estava em transe. Ela chegou perto de novo e me mordeu e eu me levantei da cadeira para abraça-la de pé. No mesmo movimento, envolvi sua cintura com meus braços e pressionei seu corpo contra o meu. Não queria largar.  Mas ela, por algum motivo, quis.

- Gui – chamou baixo. Fui voltar a beijá-la, mas senti-a afastar meu peito com as mãos.

- Fala – olhei-a nos olhos.

- Eu vou embora – anunciou. Não entendi – Eu... Eu preciso ir para casa. Tudo bem?

Nem respondi. Dei espaço e ela foi. A porta estava aberta, de qualquer jeito. E, se ela queria ir embora, eu não tentaria impedir. Era estúpido. E previsível, extremamente previsível. A garota com o namorado idiota, conhecia um João Ninguém e se envolve com ele... Agora era a parte do drama. Ela ficaria confusa, choraria, diria “eu gosto muito de você, mas é complicado, você não entende”. Eu já conhecia isso. Era irônico um aluno de literatura deixar-se cair no maior dos clichês românticos: o triângulo. Agora era oficialmente um triângulo. Quer dizer, ela me queria também. Certo? Errado. Nos dias que se seguiram, ela me ignorou quase completamente. Algumas vezes passou por mim e, não conseguindo evitar encontrar seus olhos com os meus, sorriu e disse oi. Como se mal me conhecesse. Peguei-me encarando sua janela à noite durante os dois dias. Quis abordá-la na faculdade, mas preferi evitar o drama. As pessoas falam. Na faculdade, nem tanto quanto no ensino médio – ninguém parava para observar demais ou ficar falando sobre os outros – mas, mesmo assim, falavam. E cheguei a ouvir uma história sobre o namorado de Júlia não estar nada feliz com nossa proximidade. Por medo de complicar as coisas para ela, preferi deixar como estava. Se ela não queria vir falar comigo, não falaria com ela também. Não contei nada a Luiza, por saber sua reação. Assim, pode-se dizer que fizemos um bom trabalho fingindo que nada tinha acontecido.  Até o quarto dia.

No quarto dia acordei cedo para ir apresentar o trabalho. Conferi tudo no computador e imprimi as quatro folhas.  Tomei banho enquanto a impressora fazia sua sinfonia e voltei com os cabelos molhados para desligar o computador. Luiza já estava acordada, comendo sanduíches – “finalmente, café da manhã de gente saudável”, ela exclamara no dia seguinte às minhas compras – e lia seu roteiro, procurando falhas.

- Eu já li, ele está perfeito – comentei, enquanto vestia a camisa andando pela sala. O seu se passava num velório de um homem rico. Era mais elaborado que o meu, sem dúvidas.

- Obrigada, mas mesmo assim... Você acredita que eu fiz quase todo sozinho? Minha dupla é uma coisa inútil – ela resmungou. Luiza era uma daquelas meninas que reclamava sempre, falava palavrões, mas era de um jeito tão sem emoção que parecia cômico.

- Eu também fiz, ué – foi minha resposta. Ouvi risadas.

- Não, Lu, ela não quer que eu faça o trabalho dela para ela – ela fez uma voz esganiçada para debochar de mim – Ela está sendo legal.

Soltei um risinho. Ela estava implicando, mas estava de bom humor. Eu gostava disso.

- Eu trabalho melhor sozinho – afirmei.

- Aliás, o que aconteceu? Desde aquele dia que ela vem aqui eu não ouço sobre como ela é linda e perfeita... O que você fez? – ela estava implicando, estava claro. Mas algo em seu rosto mudou e ela ficou séria – Guilherme, o que você fez?

- Eu não fiz nada, calma.

- Vocês discutiram?

- Não.

- Vocês ficaram? – ela perguntou, sem me dar tempo de responder – Vocês ficaram juntos...

- Não, não ficamos – neguei. Ela não precisava saber disso ,não precisava mesmo – Ela é meio doida, Lu. Ela ficou aqui um tempo, fizemos um pedaço do trabalho e depois sumiu. Disse que o namorado estava com ciúmes então não queria mais sair comigo nem para fazer o trabalho.

- Eu avisei – ela falou baixo, como que cantando.

- Eu sei – beijei sua bochecha – E eu deveria ter ouvido.

Nessa manhã, nem olhei pela janela. Terminei de me arrumar e fui com Luiza até a faculdade. Chegando na sala, não vi Júlia, como de costume, se despedir de forma carinhosa de seu namorado à porta. Eles pararam do lado de fora e ela entrou, cabisbaixa. Dirigiu-se à cadeira ao meu lado e sentou, sem olhar para mim. O professor entrou em sala e começou a explicar como seria. Cada grupo teria que ler um pedaço de seu roteiro em voz alta – “já que não somos tantos assim”.

- Isso vai ter um peso na nota de vocês, então é bom que tenham feito tudo direitinho – ele anunciou. Senti meu estômago revirar de nervosismo. Nunca tinha sido bom em apresentar trabalhos em público.

- Você vai apresentar – sussurrei para Júlia, ao meu lado. Ela concordou. Ótimo, não tinha sido tão difícil falar com ela. Talvez ela não estivesse com raiva de mim.

O primeiro grupo foi apresentar. Devíamos ser quarenta pessoas ou mais naquela turma, mas as apresentações corriam surpreendentemente rápidas. Eram quatro páginas apenas e uma pessoa só apresentava. Os três primeiros foram em sequência, todos nervosos, todos razoáveis. O professor trouxera um microfone pelo espetáculo e as pessoas pareciam estar todas conversando baixinho entre si, criando um murmurinho generalizado. Senti segurança de que não seria ouvido e virei para Júlia.

- Você está com raiva de mim? – disse o mais baixo possível.

- Não. – ela nem virou para mim para responder.

- Por que está me evitando?

- Eu não estou evitando você.

- Júlia...

- Você sabe o motivo.

- Se é por causa do... – percebi que estávamos na sala de aula e todo cuidado era pouco ali – Não tem problema. Eu já esqueci.

- Eu não – ela balançou a cabeça em negativa – Desculpa, eu não consigo.

- Vamos fazer uma coisa então – sugeri – Vamos sair depois da aula e... Não sei... Conversar um pouco. Sabe. Deixar tudo certo.

O professor chamou meu nome. Ela levantou a mão.

- Eu que vou apresentar, pode ser? – anunciou com um sorriso enorme e virou de novo para mim e baixou o tom de voz – Acho melhor não.

Ela desfilou até a frente da sala e sorriu para o professor, tomando o microfone de suas mãos.

- Nós fizemos uma cena de primeiro encontro, porque pareceu uma boa ideia, já que são pessoas se conhecendo e costuma ter bastante linguagem corporal.

Essa era uma garota que sabia falar em público. Eu, nesse momento, estaria tremendo, gaguejando e fazendo piadas sem graça e fora de contexto. Ela recitou nosso roteiro e parecia tão melhor do que realmente era saindo de sua boca. Descrevemos o rapaz, descrevi a menina, pusemos diálogos desajeitados. Júlia sorria ao passar por partes que ela não conhecia ainda. Até chegar ao fim da terceira página. Eu tinha feito uma coisa idiota. Introduzira na história um ex-namorado da garota. Ele chegava no fim do encontro, perguntando o que acontecera, o que ela fazia ali com o rapaz principal. Descrevi o ex-namorado de modo estranhamente parecido com Victor. Sabia que isso a incomodaria. Ela já não sorria mais. Arrastava-se pelas descrições.

Antes do parágrafo final, Júlia hesitou. Olhou para o papel e olhou para mim, em dúvida. Olhou para o papel de novo.

- Hm... – soltou uma risada nervosa – Hm.. O jovem a observa ir embora, com seu namorado. Os olhos tristes, traduzindo a ideia de sua dor de vê-la partir. A menina continua olhando para trás esporadicamente, mas continua andando. O jovem deita na grama e admira as nuvens, pensando naquela que acabara de ir embora. Sorri, pensando na garota encantadora que conhecera há tão pouco tempo, mas de qual já tinha certeza de ter se apaixonado. Dói imaginar como seria se ela não tivesse ido embora, mas dói mais ainda saber que ela escolheu deixa-lo.

Júlia engoliu e sorriu.

- Fim – disse, rouca, e ajeitou os cabelos atrás das orelhas.

O professor sorriu de volta para ela de forma quase paternal.

- Ficou bom, ficou bom. Só achei algumas partes descritas subjetivamente demais. Parecia um livro às vezes. Isso é legal, pode nos dar o psicológico dos personagens, mas não é exatamente necessário. Pode ir sentar.

Ela voltou à cadeira ao meu lado, os olhos fixos em mim. Esperava a reação, que não demorou a chegar.

- Você não quer sair? – falou de forma quase agressiva, chegando perto de mim – Vamos sair então.

Saímos de fininho da sala – a parte boa da faculdade é que os professores realmente não se importam – e a segui, sem saber para onde. Demorei a perceber que estávamos andando em círculos pela universidade.

- Eu só queria respirar um pouco – Júlia explicou – Aquilo foi um pouco... Esquisito para mim.

 - Eu sei – senti as bochechas esquentarem e olhei para baixo – Desculpa.

- Não, tudo bem. Aquilo não era completamente sobre... Qualquer coisa.

- Eu acho que eu me empolguei, acho. Eu estava chateado. Você... Você está me ignorando, Júlia. E eu não sei por que.

- Você sabe – ela reafirmou.

- Não, eu não sei – levantei o tom de voz, me irritando – Eu não sei. Você não tem direito de ficar com raiva de mim, cara. Eu não fiz nada. Você me apareceu na minha casa. Você que me beijou. Que droga!

- Eu sei – ela continuava tão calma que estava me dando aflição – Eu não estou com raiva de você.

- Você está com que então?

- Eu não sei. Eu já disse que eu não sei, Guilherme. Eu não sei direito o que eu faço agora.

- Me esquece então – falei simplesmente. Era mais fácil fazer isso agora que prolongar o drama.

- Você está com raiva... – ela observou.

- Eu não estou com raiva. Eu só estou confuso. Eu não sei se você me quer ou não, e você não me responde – percebi que continuávamos andando no meio da faculdade. Por sorte, quase não tinha pessoas lá – Parece que você gosta disso. Você gosta disso?

- Não, eu não gosto. Está bem? – ela respirou mais fundo – Vamos para casa.

Começamos a fazer o caminho de casa, o que me deixou mais confortável pela existência de um local final. Eu chutava pedrinhas pelo caminho, enquanto Júlia parecia ter destruído seus lábios de tanto morder.

- Eu e o Victor brigamos. De novo – ela contou. Isso já era mais do que previsível para mim, pelo jeito que estavam na porta da sala de aula – Ele acha que eu não gosto mais dele tanto assim. E ele pode ser bem grosseiro sobre isso.

- Sinto muito – foi bom ela ter dado a ideia de ir para casa. A conversa estava mais calma e equilibrada agora.

- Ele perguntou se eu o amava, e eu não soube responder – confessou – Duas semanas atrás eu não teria dúvidas em responder.

- Sinto muito por isso também – não, eu não tinha mais nada para dizer.

- E eu não estou dizendo que eu amo você, eu mal conheço você – sua voz era chorosa, apesar de o rosto permanecer gelado – Mas aconteceu alguma coisa. Você mexeu comigo de algum jeito.

Fiquei quieto.

- Não diga que sente muito por isso – ela sorriu.

- Eu sinto.

- Não sinta. Eu que sou estúpida. Eu me pus nessa situação.

- Eu não tenho talento para príncipe encantado, Júlia – fui direto – Se você não está contente com seu namoro, cabe a você terminar ou não terminar. Eu não posso ficar me humilhando pedindo para você fazer qualquer coisa.

- Eu sei.

- Não parece saber. A única coisa que eu entendo do que você diz é “olha, eu vou continuar com meu namorado, mas eu quero que você continue gostando de mim”.

- Isso não é justo – isso a tinha deixado triste de verdade. Não quis pedir desculpas, preferi esperar – Eu só não sei.

- Então trate de resolver – pedi.  Ficamos em silêncio até a porta de meu prédio.

- Você quer subir? – perguntei.

- Eu tenho uma ideia melhor – ela sorriu e me puxou pelo braço até o prédio ao lado – Você quer subir? – Eu queria. Eu queria tanto...

 Subimos em silêncio o elevador e chegamos a um corredor estreito num andar pequeno, onde havia apenas três portas. Júlia foi destrancar a porta.

- Tenta não reparar na bagunça, é um apartamento pequeno e eu sou um pouquinho bagunceira – ela disse, como toda boa anfitriã envergonhada.

A porta se abriu e entrei, um pé na frente do outro. Era mágico, eu parecia estar entrando em seu mundo. Folhas para todos os lados, desenhos, projetos inacabados... Num espaço realmente muito pequeno. Aquele apartamento era tudo que um apartamento de Júlia deveria ser. Tive certeza de que ela pegara uma casa sem graça e a transformara em seu refúgio. E me senti honrado por poder participar disso.

Júlia foi andando até a cozinha e fui andando atrás.

- Tem bolo aqui, se você quiser. Eu estou doida de vontade de comer um bolo de chocolate.

Ela me serviu e pôs um pedaço para si. Continuei observando. A cozinha era colorida, com um visual acolhedor. Mesmo com isso, o clima ainda estava esquisito, pesado. Júlia percebeu isso e, quando terminou seu pedaço de bolo, veio falar comigo.

- O que você está pensando?

- Nada – menti. Era exatamente o contrário. Estava pensando sobre tudo.

- Ótimo – ela sentou-se ao meu lado na mesa da cozinha e sorriu.

- Ótimo? – olhei-a, levemente intimidado pela proximidade. Ela concordou com a cabeça.

- Eu vou precisar que você não pense em nada agora – ela sussurrou em meu ouvido e mordeu o lóbulo de minha orelha. Fechei os olhos sentindo os braços arrepiarem.

Seus lábios desceram até meu pescoço, com beijos demorados e ela me mordeu. Sorri, sem abrir os olhos.

- Não vale – murmurei. Ela se afastou um pouco e voltou a me encarar de frente.

- Vale sim – e me beijou, levantando seu corpo e levando o meu junto.

Segurei-a, uma mão puxando sua nuca e a outra em seu quadril, enquanto ela passeava suas pequenas mãos por meu pescoço. Ela mordeu meu lábio com tanta força que chegou a doer, mas não posso dizer que foi uma dor ruim. O primeiro beijo havia sido quase melancólico, esse era diferente. Esse era vontade, era presença. Era exatamente sobre não pensar.

Joguei-a contra a pia e ela riu ao sentir o mármore gelado em suas costas. Suas mãos desceram ao cós de minha calça e ela entrelaçou os dedos, ocupando o lugar do cinto. Puxou. Fiquei com medo de machuca-la pressionando-a com força demais contra a pia, mas ela não estava reclamando, então não me afastei. Passeei minhas mãos pela lateral de sua cintura, sua cintura tão desenhada, e até as coxas. Apertei suas coxas, trazendo-as para mais perto. Ali, parecia que mais perto seria impossível. Subi as mãos de volta à altura das costelas e comecei a puxá-la para fora da cozinha. Foi só quando estava na sala que percebi o problema.

- Hm... Eu... – quebrei o beijo – Eu percebi agora que essa não é a minha casa. Eu não sei onde fica o quarto.

Ela gargalhou e me tomou pela mão até a primeira porta à direita. A única porta à direita, na verdade. Seu quarto era estranhamente comum, não tinha o clima especial do resto da casa. Achei irônico, considerando que o quarto costuma ser o cômodo mais customizado em qualquer casa. Mas não havia tempo de comentar isso. Antes que pudesse raciocinar, vi Júlia jogar seu corpo contra o meu e não pude não responder ao estímulo. No entanto, não consegui não me distrair pela janela. Joguei-a na cama, beijei-a mais uma vez, ainda de pé, e me dirigi à janela. Ela ficou me olhando com uma interrogação em seu rosto.

- A janela – expliquei – Imagina que tipo de pessoa esquisita pode estar olhando para cá.

Ela riu com a piada sem graça e eu me reaproximei. Deitei meu corpo sobre o dela, cuidando para não largar meu peso e beijei seu pescoço, enquanto ela segurava o cabelo em minha nuca, puxando-o de leve. Desci os beijos até um pouco abaixo do pescoço e cheguei a seu seio. Nessa hora, ela jogou seu corpo para trás, se encolhendo. Olhei para seu rosto.

- Algum problema? – perguntei. Ela negou, mas continuou com uma expressão de desconforto – O que foi, Júlia?

Joguei os joelhos para frente o suficiente para me apoiar sobre eles e sentar sobre a cama. Ela levantou também, mas sem se afastar.

- Eu... – ela passou os dedos pelos cabelos, olhando para baixo – Isso é idiota. Eu nunca...

- Ah... – entendi. Para mim não mudava muita coisa. Eu não era exatamente a pessoa com mais experiência do mundo. Cheguei perto novamente sorrindo – Está tudo bem, Júlia.

Ela puxou o corpo para trás.

- Não, Gui – ela falou baixo. O quarto estava tomado pelo mais absoluto silêncio, podíamos ouvir a própria respiração – Eu não quero. Tudo bem?

Segurei sua mão e concordei. Continuei a sussurrar.

- Você quer que eu vá embora? – perguntei. Ela fez que não – Ótimo.

Joguei a cabeça para trás levando o corpo todo e acabei deitado sobre a cama. Ela deitou-se ao meu lado sem soltar minha mão.

- Eu sei que eu já disse isso, Júlia – achei apropriado reafirmar – Mas eu não tenho talento para drama. Eu não vou me meter em...

- Eu sei.

- Resolveu o que você quer então? – quis saber. Ela virou de lado, de modo a conseguir olhar para mim. Eu virei também para ela. Seus cabelos pretos caíram sobre os olhos e era apaixonante. Ela soltou minha mão e pousou a sua sobre minha bochecha.

- Acho que sim.

- O que é então?

Seu sorriso sumiu. Uma expressão quase triste tomou conta de seu rosto, mas foi disfarçada rapidamente. Fiquei sem saber se era só impressão ou não.

- Eu vou terminar com o Victor. O mais rápido possível – ela não estava olhando para mim, apesar de olhar fundo em meus olhos – Eu vou acabar com tudo amanhã, prometo.

Sorri. A satisfação me invadiu e voei em cima dela para beijá-la. Ela riu alto e me beijou de volta.

Uma música preencheu o silêncio do cômodo repentinamente: era meu telefone tocando. O nome de Luiza brilhava no visor.

- Eu não preciso atender – falei sorrindo.

- Eu acho melhor você atender, Gui.

Luiza disse estar preocupada comigo, queria saber onde eu estava. No susto, eu disse já estar indo para casa. Esperei um bico de Júlia, mas ela estava tranquila.

- Eu acho melhor você ir mesmo. Hoje foi um dia cansativo e amanhã vai ser mais ainda – ela sugeriu. Concordei. Ela agora era minha, mal podia acreditar.

Júlia me conduziu até a porta e a deixou aberta enquanto se despedia. Abracei-a como se fosse a última vez que a veria e ela estranhou.

- Que vontade toda é essa?

- Você é perfeita. Sabia? – eu estava abobalhado. Só isso.

Ela afastou um pouco o abraço rindo.

- Isso não é um adeus, Guilherme, calma. Nós vamos nos ver ainda. Até logo – beijou-me de leve e fechou a porta. Fui andando para casa com um sorriso bobo no rosto, que sabia que teria que disfarçar antes de chegar ao apartamento. Era louco como tinha sido tudo tão rápido. Ela aparecera, me encantara e agora estava comigo. Ela ia largar Victor. Não queria dizer que ficaria comigo, claro que não. Isso era outra história. Mas era um começo. Esse era o começo da história apenas. Eu não podia muito bem ver o futuro de nosso relacionamento. Mas a vontade de descobrir me deixava maluco.


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