Contos De Gaveta escrita por Mamy Fortes


Capítulo 22
Ponto Final.


Notas iniciais do capítulo

Oi galere. Capítulo novo. Só leiam. E comentem. Se merecer.



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Pendurou-se no parapeito, os pés tocando a noite enquanto balançavam. Um cigarro jamais acesso pendia entre os caninos, lembrando-a de que era uma metáfora. O vento frio fustigava-lhe o emaranhado de fios negros, que ameaçavam pratear precocemente.

Ela tremeu sob o fino casaco, no instante em que o telefone tocou. Atendeu, irritada. Quem quer que fosse recebeu apenas meias palavras quebradas, que encerraram tão cedo a ligação. Olhava para o chão, com as solas desgastadas apoiando-se no escuro, ainda antes de tirar o aparelho do ouvido. Parecia tentador, aquele vazio. Mas ela só desistiu de sentir frio, saindo da janela.

Buscou pelo caderno na escrivaninha, e em seguida por uma folha em branco em meio aos rabiscos. Tratou de jogar todas as ideias, num turbilhão de pensamento ininterrupto que marcava a folha. Percebeu que era noite, que tinha dito muito sem dizer nada. Que nada se aproveitava. Furiosa, arremessou os escritos na parede oposta, em um só gesto.

Levantou-se, e vestiu o casaco jogado por sobre a cama. Saiu, deixando as chaves, o celular e o destino sobre a penteadeira. Vagou por ruas que antes a apavoravam. Tropeçou, mas seguiu trôpega. Ignorou todos os chamados.

O olhar desfocado, cego, não a impediu de continuar, embora os olhos parecessem pouco dispostos a se acostumar com a condição. O semblante parecia incrédulo, mas a postura estava ereta. Só tinha equilíbrio suficiente para manter o corpo. A mente que se adaptasse.

Quando a polícia a encontrou, disseram que fazia três dias. Ela não pôde se lembrar, mas não se importou em ser achada. Era, afinal, achar-se tão somente o que queria.

Se deixou conduzir até a cama. Se deixou pentear. Se deixou trocar. Mas não se deixou viver.

O parapeito foi novamente visitado. Umas cinzas caiam da ponta do último cigarro, que pela primeira vez fora acesso. Os pés não se apoiaram no escuro, senão para um impulso. O olhar parecia cego. O semblante incrédulo. A boca continuava muda. E os fios jamais chegariam a pratear.

Na penteadeira, em batom, o resultado do consenso em sua mente: Todos decidimos que isso seria melhor. O conselho se encerra. A vida também. Ponto final.


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Notas finais do capítulo

É isso ai. Amo vocês. E tô com uma puta saudade. Da minha gaveta, de vocês, de escrever algo decente, e por ai vai. Té mais.



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