Contos De Gaveta escrita por Mamy Fortes


Capítulo 11
Mel no azul.


Notas iniciais do capítulo

Esse conto acaba de sair do forno. E preciso que me digam o que acharam. Ele não estava com postagem prevista, mas vou viajar, e não sei quando poderei postar novamente. Então, cá está.



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– É, meu querido. Eu sei que não é bem o que você queria, mas é o que temos pra hoje. – Dizia, acariciado com as unhas negras o felino sobre suas pernas bem definidas, antes de pô-lo cuidadosamente no chão e sair porta afora.

Adentrou no carro, onde se pôs a tirar de cima de si qualquer resquício de pêlo que pudesse macular o próprio vestido. Acelerou em direção à festa, na intenção de livrar-se da chatice o quanto antes.

O salão estava lotado quando finalmente chegou, embora quem olhasse de longe pudesse apostar que nenhuma alma viva sequer estava lá dentro. No ambiente interno, uma música clássica exalava do que podia facilmente ser tomada por púlpito, onde localizavam-se os violinistas.

Entrou sem fazer alarde, mas mesmo assim atraiu para si olhares masculinos. Conversou com Madame Carter, sorriu para Mrs. Smith (que lhe sorriu de volta), e perpassou a passos rápidos pelo salão, para que notassem sua presença, sem que a incomodassem.

Quando resolveu dirigir-se para o portal que a livraria da tortura, seus olhos foram magnetizados para o canto oposto do salão, onde um jovem bebericava o próprio champagne. Aquele desconhecido a fez paralisar por alguns instantes, antes de finalmente a obstinar a ficar.

Voltou para a conversa com um e outro, sem que os olhos focalizassem coisa alguma que não o jovem da champagne que parecia infinita. Sabia que ele também não conseguia concentrar-se em nada além dela. Ficaram pelo que pareceram horas (e talvez fossem) travando a disputa muda em que se envolveram.

As íris mel chocavam-se com as azuis de uma forma nunca antes vista, passando, porém, despercebidas aos outros convidados. As ideias de um e outro valsavam por sobre as cabeças incrustadas de ricas tiaras. E valsaram também eles, no recuo do salão, longe de olhares.

Finalmente ela percebeu, ressabiada, que eram horas. Que dançara deveras, e que precisava ir. Saiu, sendo acompanhada pelo azul até sair-lhe do campo de visão. Dirigiu novamente para casa, e encontrou o gato esperando-a na soleira. Sorriu no escuro, e confidenciou à própria felicidade todas as palavras que o sereno lhe roubara.

Sentia-se tão antiquada. Não trocara sequer uma palavra com aquele que fazia rodopiar-lhe os pensamentos. Mas era tão conhecido, aquele desconhecido, que não se importou em saber nem mesmo o nome.

Gargalhou até que toda a energia se esvaísse do corpo, e caiu, exausta, no sofá. Não entendia os porquês da noite, e nem se questionava a respeito, também. Sabia que pela primeira vez em anos esperaria ansiosa que o próximo convite caísse em sua caixa do correio.

Esperaria que seus olhos fossem novamente magnetizados por íris azuis cujo dono conseguisse bebericar o champagne com tanta elegância quanto aquele que tinha o olhar mel ao bel prazer. Ah, ela certamente trancaria, num mesmo espaço, os sapatos que a noite desgastara as solas e o coração.


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Notas finais do capítulo

Me digam o que acharam. E me deem um título. Certamente serão melhores nisso que eu. =)