Harry estava numa sinuca. Pela primeira vez percebia a encrenca em que tinha se metido. Procurou na memória o momento em que falhara e a todo momento um par de orbes muito negros aparecia, divertindo-se com ele.

- Não acredito ainda que aquela garota pirada conseguiu me dobrar. - Suspirou enquanto sentava-se no salão comunal da Grifinória.

- Quer dizer então que ela vai dormir conosco? - Rony estava colocando uma compressa gelada no olho, amuado com a idéia.

- É o que parece. - Ele já tinha ido ao seu quarto e percebeu que ao lado do mesmo surgira mais uma porta, provavelmente do quarto de Sofia. E, para piorar a situação, este estava ligado ao quarto de seus colegas e ao banheiro, ou seja, ela poderia pegá-los desprevenidos a qualquer momento.

- Mas até que isso pode ser bom... - Rony deu um riso que pareceu meio safado para o amigo e logo o confirmou. - A gente pode vê-la tomando banho.

O rapaz revirou os olhos. - Rony, cresça. Acha mesmo que ela vai nos deixar espiar? - Estranhou quando o sorriso se alargou.

- Somos bruxos, lembra? Podemos usar sua capa da invisibilidade e...

- Para quê? Vê-la sair gritando com todos os pulmões que somos dois pervertidos? Dumbledore pode até não nos expulsar mas garanto que teremos uma detenção pior do que passar o ano todo obedecendo Snape. - Novamente viu o ruivo amuar e afundar na poltrona.

Enquanto isso Hermione ajudava Sofia a arrumar seus aposentos.

- Mattos, por que não disse ao nosso diretor que era uma garota? - Ela parecia preocupada.

- Pode me chamar de Sofia. E olhe essa mala. - Abriu uma mala média, que trouxera consigo ao perseguir Harry, e revelou como conteúdo uma infinidade de calças, coletes, blusas sociais e pólos, além de gravatas e sapatos masculinos.

- Você realmente ia para um colégio de rapazes? Que maluquice é essa?

- Briguei com meus tios. O colégio interno era pra me deixar bem longe de suas vistas. E, infelizmente, o St. Joseph era o único que eles tinham condições de pagar. O lugar é um inferno, parece um campo militar. - Ela se jogou na cama suspirando. - Eu ia ter que passar o ano todo ali. A idiota da esposa do meu tio bem que ia gostar de falar comigo no telefone só para provocar...

- Que coisa. E o que você aprontou para eles fazerem isso? - Mione estava curiosa.

- Descobri que meu tio era enganado pela bruaca da mulher dele. Adivinha em quem ele acreditou quando eu abri o jogo? Isso é o que se ganha por ser sincera.

- Mas aqui você pode andar como uma menina de novo... - Ela tentava ajudar.

- Com essas roupas? Não, obrigada. Já estava me acostumando com a idéia. Tenho três irmãos no Brasil ainda, mais velhos, só não ficaram comigo por falta de grana. Mas relaxe, não vou fazer eles sofrerem com minha presença. - Disse sorrindo. “Não muito”, pensou. - E agora, o que se faz por aqui?

- Bom, como trouxa, eu acho... - Ela foi bruscamente interrompida.

- Mione... Posso te chamar assim? - Ela não aguardou resposta. - Por que todos teimam em me chamar dessa forma? Eu já disse que não sou tola.

A morena riu. - Calma, trouxa é apenas a maneira que os bruxos se referem aos não-bruxos.

- Sério? Que pejorativo. Bom, mas vá lá. Ainda estou com fome, onde tem comida por aqui? - Perguntou sorrindo.

- Venha, vamos dar um jeito nesse mal. - Mione ria sem parar.Uma bela amizade estava crescendo ali.