Nossa Eterna Usurpadora escrita por moonteirs


Capítulo 80
Obrigado por me fazer sorrir.


Notas iniciais do capítulo

Oi meus amores, perdão pela demora, juro que não faço por mal.
Bom, meu computador já voltou ao normal, então espero atualizar o mais rápido possível ( mandem energias positivas e inspiradoras ai, vai que ajuda)
Espero que gostem do capitulo ♥



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— Você ta bem? — ele desviou o olhar da chuva e voltou-se para trás, em direção à dona daquela voz, para aqueles lindos olhos verdes que o hipnotizava a cada vez que sua mirada encontrava a dela.

Pensou na resposta que daria e tentou sorrir o máximo que pode para não preocupa-la com os seus problemas, foi inútil, ela soube que havia algo errado assim que sua mirada o tocou, o brilho no olhar que ela tanto amava não estava mais lá. O sorriso debochado também havia sumido, em seu lugar estava somente um vil esforço para engana-la.

— Vamos comer alguma coisa? A viagem até aqui me deu fome. — a tentativa de mudar de assunto aconteceu quando ele viu a preocupação ganhar espaço nas feições da garota loira a sua frente. Ela sabia.

— O que aconteceu, Fernando?

— N-não, nada, só estou com fome mesmo, vamos. — ele pegou na mão dela e tentou guia-la em direção a cozinha do lugar, mas foi impedido quando ela permaneceu no mesmo lugar que estava e o forçou a olha-la.

— Eu sei que há algo errado. Converse comigo.

Fernando não queria conversar, não queria ao menos dizer o que havia descoberto em voz alta para que não virasse real. Com um papel e uma série de informações contidas nele, seu mundo desmoronou. Não sabia o que fazer, o que pensar ou que falar. Em um primeiro instante pensou que tudo aquilo era mentira, que tudo aquilo só poderia ser alguma brincadeira de mal gosto, definitivamente não poderia ser verdade. Depois de um tempo, ele entrou no estágio da revolta, queria quebrar qualquer coisa que estivesse a sua frente, queria enfrentar seus pais e questionar porque o tinha enganado. Estava decidido a fazer isso, mas foi quando algo aconteceu entre os dois. Como podia exigir a verdade com seu pai fora de casa e sua mãe trancada no quarto chorando? Não poderia, a amava demais para fazê-la sofrer mais ainda. Sendo assim decidiu fingir que nada tinha acontecido e isto o estava matando.

— Amor?

Fernando abaixou a cabeça perante o chamado dela, ele tinha que desabafar com alguém, mas não sabia que se teria coragem para fazer.

Ao ver os olhos dele desviarem-se dos seus, ela suspirou. Não sabia o que ele tinha, mas não estava disposta a desistir de ajudá-lo.

— Olha, você deveria ter chegado aqui há dois dias, iríamos vir junto com toda a escola, mas você não apareceu no ponto de encontro do ônibus e me deixou sozinha sem entender o que tinha acontecido. Eu te liguei inúmeras vezes até chegar nesse fim de mundo e ficar sem sinal. Eu morri de preocupação, Fernando. Fiquei sem saber de você por dias e hoje você resolve aparecer. Chega sem dar explicações, não me procura, não fala nada, fica parado olhando a chuva cair por horas, eu não sou burra, sei que alguma coisa aconteceu, mas que aparentemente você não quer me falar. Eu respeito isso, mas você sabe que eu vou estar ao seu lado quando precisar conversar não é?

O garoto de olhos castanhos sabia que não aguentaria lidar com tudo aquilo em silêncio ou sozinho, tinha que desabafar com alguém e Gabriela era a única pessoa que confiava, a única que ele tinha certeza que ficaria ao seu lado independente de qualquer coisa.

— Eu sou adotado.

Gabriela ficou um tempo parada, em silêncio, sem conseguir expressar nenhuma reação. Não sabia se havia escutado certo ou o que dizer caso aquilo fosse verdade.

— Desculpa, o que?

— Foi isso mesmo que você ouviu.

— Mas...mas você tem certeza disso?

—Caramba, Gabriela!! Sim, eu tenho certeza. Sou adotado! Adotado! Minha vida é uma porcaria de uma mentira e eu acabei descobrindo essa maldição sem querer, porque os meus pais nunca tiveram a coragem de me falar a verdade.

— Ei, calma. Vem cá senta e me conta como isso tudo aconteceu. Como você descobriu?

— Essa semana o treinador veio falar comigo e disse que havia um problema com a minha inscrição pro torneio estadual de futebol. Aparentemente, eles só permitem a participação de jogadores nascidos aqui no país, ou seja, eu precisaria ser um mexicano nato para poder jogar.

— Mas espera, você não tem dupla nacionalidade??

— Tenho e tentei explicar isso pro treinador. Caramba, eu nasci aqui, mas fui ainda bebê pros Estados Unidos por causa do trabalho dos meus pais, pelo menos era isso o que eu pensava.

— E o que foi que ele disse?

— Disse que eu teria que provar, acredita? Precisaria apresentar a minha certidão de nascimento pra poder jogar futebol, onde já se viu uma coisa dessa?!

— Sério?

— Sim e esse foi o começo de tudo. Não quis perguntar a nenhum dos meus pais onde estaria esse documento, sabia que com o novo negócio sendo fechado, eles não teriam tempo para procurar esse bendito papel. Então, eu fui procurar sozinho, esse foi meu erro. Por causa da mudança, muitos documentos ainda estão guardados em caixas lá na biblioteca, e enquanto revirava uma delas eu achei uma pasta cheia de papeis velhos. Dei uma olhada rápida e vi minha certidão lá. Quando fui pegar, vi que havia um outro documento atrás, ele continha meu nome e não pude deter minha curiosidade. Maldita curiosidade! Li o tal documento umas duas, três ou quatro vezes, não sei te dizer. Quanto mais eu lia, mais me arrependia.

— Que documento era esse, Fernando?

— Era o documento que comprovava minha adoção.

— Meu amor, sinto muito.

— Eles não tinham o direito! Como eles puderam esconder a verdade de mim por tanto tempo? Será que eu não merecia saber sobre a minha própria vida??! CARAMBA!

— Amor, não faz assim, eles podiam estar esperando o momento certo.

— Momento certo?? Em quase 16 anos eles não poderiam ter achado nenhum momento pra me dizer? Eu não sou uma criança, Gabriela!

— Amor.

— Não, não tenta achar explicações. Te juro que já tentei pensar em todas as possíveis, mas não tem. Eles mentiram pra mim.

— Fernando, você precisa se acalmar.

— Como se fosse fácil.

— Não é, mas você precisa ser sensato e encarar isso de frente. Tens que conversar com eles e estar disposto a ouvir o que teus pais tem pra falar.

— Pais?? Que pais? Aqueles lá não são meus pais.

— Ei, para de falar bobagem! São teus pais sim! Só porque eles não te conceberam não significa que deixas de ser filho deles.

— Gabriela...

— Não! Agora é hora de ouvir. Você mesmo disse que não é mais criança, então comece a agir com maturidade. Dizer que eles não são teus pais só porque vocês não compartem o mesmo sangue é ridículo. Você, meu amor, está sendo mal agradecido. Eles te deram tudo, carinho, amor, cuidaram de ti durante anos, te deram educação, família e oportunidades que poucos tem. Abrir a boca pra renegar eles por algo escrito em um papel é o cúmulo. Justamente por eles não terem te colocado no mundo é que eles não tinham a obrigação de fazer o que fizeram por ti. Tratar como filho vai muito além de laço sanguíneo, sou um exemplo disso. Minha mãe me trata como um nada, nunca esteve comigo quando eu precisei, nem me trata bem se o papai não estiver por perto. Quisera eu ser adotada, uau, isso talvez explicaria porque sou tratada com tanta indiferença pela minha própria mãe. Mas infelizmente não dá, minha semelhança física com ela é um cruel castigo. Pintei meu cabelo por causa disso, odiava ser tão parecida com aquela mulher quando ela era jovem. Não sabes como é horrível detestar a própria mãe.

Sentindo a voz ficando embargada com um choro, Gabriela abaixa a cabeça e respira fundo antes de continuar o que dizia.

— Fernando, não joga no lixo a tua família só porque teus pais não te contaram a verdade. Eles tem as razões deles, talvez temessem essa reação tua ou talvez por outra coisa, não sei. Não os renega, nem os culpa, você não tem esse direito. Descobrir ou não sobre a tua adoção não muda nada no fim das contas, eles continuam sendo teus pais. Você os amava antes de descobrir, por que isso mudaria?

— Eu...eu...

— Ser adotado não é algo vergonhoso, pelo contrário. Amor, eles escolheram te amar. Não existe nada mais nobre que isso.

A verdade dói mais quando não é encarada de frente. Fernando não podia mudar o que era fato, não era capaz de transformar o passado ou impedir que sua história fosse segredo, mas estava em suas mãos saber o que fazer com essa nova realidade. Continuar com o orgulho ferido e sentindo raiva de tudo e de todos ou encarar a adoção como um ato de amor.

Deixando que um leve sorriso aparecesse em seu rosto, Fernando fechou os olhos e respirou fundo.  Gabriela estava certa, seus pais continuavam seus pais independente de qualquer coisa, eles o amaram por escolha, a nobreza desse ato não poderia ser menor que qualquer sentimento ruim.

— Como você faz isso, olhos verdes? Eu passei dias revoltado, sofrendo e com ódio desse papel, agora você chega e tudo isso parece a melhor coisa que já me aconteceu.

— De um jeito ou de outro foi a melhor coisa que te aconteceu. Não fazemos ideia do porquê que você foi parar no sistema de adoção, isso nem vem ao caso, o importante é saber que as pessoas que te adotaram são a melhor família que você poderia ter, meu amor. Eu não sou muito religiosa, deixei de acreditar em muita coisa por causa de certas coisas na minha vida, mas a minha irmã Lizete é, e se ela estivesse aqui eu tenho certeza que ela diria que foi Deus quem colocou teus pais no teu caminho.

A doçura na voz de Gabriela e o modo com que ela tratava daquele assunto fez Fernando sentir o quão sortudo ele era por tê-la ao seu lado. Se conheciam há poucas semanas, mas bastava. Não precisava de anos para ter certeza do que sentia pela menina a sua frente, ele estava se apaixonando e esse sentimento ganhava força há cada instante.

— Obrigado, meu amor. Muito obrigado por estar comigo, por abrir meus olhos, por me fazer ver o lado bom disso tudo. Obrigado por me fazer sorrir.

— Não sou a pessoa mais sensível do mundo, mas por você eu posso ser. E não precisa agradecer, estou aqui por você e pra você.

— Eu sei que sim, sinto isso nas tuas palavras e no teu olhar. Minha nova realidade é essa, mas tudo bem, eu enfrento tudo com você segurando minha mão.

— Pode acreditar que eu não pretendo soltar tua mão tão cedo. Estou contigo, meu amor.

Fernando sorri com a resposta e acaba com o curto espaço que os separava. Com uma mão segurando sua nuca, ele a traz pra perto de si e sela seus lábios nos da garota loira à sua frente. Foi um beijo puro e carinhoso, mas sobretudo, agradecido.

— Fer, agora me promete que você vai ter calma quando for conversar com os teus pais.

— Sim, meu amor, eu prometo. Apesar de que vou adiar um pouco essa conversa, não quero trazer outro assunto pesado à tona, não do jeito que meus pais estão.

— Teus pais? O que aconteceu?

— Pra dizer a verdade nem eu sei, mas foi algo grave. Meu pai saiu de casa e minha mãe se trancou no quarto, se recusou a sair ou a comer.

— Amor, eles devem ter brigado, isso é normal em um casamento, eu acho. Pelo menos os meus vivem em pé de guerra.

— Mas isso não acontece lá em casa. Durante todos esses anos eu nunca vi os dois brigarem desse jeito, nunca foi algo tão drástico pro meu pai sair de casa ou pra minha mãe se isolar. Nas poucas vezes que eles brigaram, foi por coisas tão pequenas, tão bobas que poucas horas depois eles já estavam agarrados se beijando e rindo, eles simplesmente não conseguiam sequer ficar separados por um instante. Uma vez, eu fui o motivo da briga, foi até engraçado.

— Essa eu quero ouvir.

— Quando eu tinha 10 anos, eu convenci o papai a me ensinar a dirigir.

— E pelo visto isso não deu muito certo.

— Não, eu era muito novo e ele sequer me deixou sentar na cadeira do motorista. Ele me ensinou sobre a marcha, o acelerador, freio, o que era algumas coisas no painel, freio de mão, essas coisas.

— O básico.

— Isso, mas eu não fiquei satisfeito. Eu prestava atenção nos movimentos que ele fazia quando dirigia e na minha cabeça aquilo não parecia ser tão complicado. Então, uma semana depois eu peguei o carro escondido e sai dando voltas no condomínio.

— Seu louco, não te descobriram?

— Descobriram no exato momento que eu atropelei uma lixeira que ficava na esquina da rua da minha casa. Meus pais ouviram o barulho, foram ver o que tinha acontecido e me pegaram no flagra.

— Eu daria tudo pra ver essa cena. - Gabriela não resistiu, começou a rir da cara de nervoso que Fernando fazia relembrando a história.

— Não ri, amor. Mamãe mudou de cor umas três vezes de raiva. Fiquei de castigo e o papai em problemas. Ainda me lembro de estar sentado nas escadas, ouvindo os dois discutindo na sala, ou melhor, ouvindo a minha mãe brigando com o marido e ele tentando se defender.

Flashback on

 — Onde você estava com a cabeça quando decidiu ensinar ele a dirigir??!!

— Amor...

— Nada de amor, ele tem 10 anos, Ale! Ele podia ter se matado ou matado alguém.

— Calma, amor, nada disso aconteceu. Foi só uma lixeira.

— Só uma lixeira, Alejandro???? Ele foi irresponsável e você muito mais.

— Ele me disse que estava curioso pra saber sobre a direção, eu só falei algumas coisas nada demais.

— Foi o suficiente pra ele sair por ai com o carro e justo o meu carro, por que não pegou o seu?

— É que o meu está na oficina.

— Agora você ta achando desculpas para ajudar ele??

— Não, amor, calma.

— Me pede calma mais uma vez pra você ver se não vais dormir no sofá. Não posso me acalmar sabendo do perigo que meu filho tava correndo.

— Me deixa ao menos explicar.

Paulina fica em silêncio e olha com raiva para o marido.

— 5 minutos.

— Querida, eu não fiz por mal. Eu ensinei a ele o básico, nem deixei que ele sentasse no banco do motorista. Como eu poderia imaginar que ele pegaria o carro escondido? Assim como você, eu também estou assustado com o que aconteceu e com o que poderia ter acontecido, ainda me sinto culpado por ter ensinado a ele. É o nosso filho e eu morreria se alguma coisa tivesse acontecido com ele. Meu amor, sei que você ta com raiva de mim, mas eu não fiz com más intenções. Fernando esta crescendo, é normal ele começar a ficar curioso sobre certas coisas. Além do mais, em poucos anos, ele já vai estar na idade de tirar a carteira.

— Eu sei, mas ainda falta tempo. Ele é uma criança, Ale. Ele precisa ter responsabilidade para aprender a dirigir. Como ele vai ser responsável se nem idade nem maturidade ele tem? Você precisava ter pensado que ele poderia tentar algo assim, ele é só um menino, o meu menino.

— Eu sei, eu te entendo, mamãe ursa. Me desculpa? Perdoa esse seu maridinho que fez besteira, mas que odeia ver você com essa carinha brava? – Alejandro foi se aproximando lentamente sem desviar seu olhar do de Paulina

— Você merece essa cara brava – A voz não era mais tão agressiva. A aproximação do marido e a forma doce com ele fava com ela foi desfazendo a raiva que ela sentia.

— Eu sei – Começa a beija-la no rosto—  Mas me perdoa – Os beijos vão descendo em direção ao pescoço— Por favor, minha vida.

— Eu não vou ceder só com beijos, Alejandro. Eu sou difícil.

— Eu sei que é, demorei anos pra te conquistar. Mas no fim você se rendendo a esses olhos azuis que refletem o tamanho do amor que eu sinto por você.

— Você foi insistente, só isso.

— Você sabe que isso não é verdade. Nós dois estavamos sofrendo com os nossos passados quando nos conhecemos, a dor nos uniu e nos fez amigos, e depois o tempo foi ficou encarregado de plantar e fazer crescer esse amor que sentimos. Não estava nos nossos planos tudo isso, mas aconteceu. Nos apaixonamos, formamos nossa familia e juntos fomos criando um futuro só nosso. Você é minha segunda chance e eu sou a sua. Eu amo você, meu amor.

Paulina não conseguia conter as lágrimas que escorriam por seu rosto. Nenhuma raiva conseguia ser maior do que a história de amor deles e do que representava a segunda chance em suas vidas.

— Eu também amo você.

Beijaram-se mais uma vez deixando um menino na escada com um doce sorriso e um brilho admirado no olhar.

Flashback off

 — Meus pais sempre foram o meu exemplo de casal apaixonado, eu cresci querendo achar alguém, a pessoa ideal, pra passar o resto dos meus dias, como eles acharam um no outro. Por isso que eu não entendo o que aconteceu. Meu pai decidiu sair de casa e foi dormir em um dos nossos hotéis, e a minha mãe, a pessoa mais forte do mundo se trancou no quarto chorando.

— Eles vão se revolver, meu amor.

— Quando eu descobrir a verdade, eu fiquei com raiva como eu te disse, mas foi justo no momento que tudo isso aconteceu. Como eu ia brigar com eles, questionar uma vida de mentiras com eles daquele jeito. Não podia. Eu nunca vi minha mãe tão frágil, Gabriela. Eu precisava cuidar dela.

— Mostrando que a adoção não mudou em nada. O amor que você sente por tua mãe e teu pai continua o mesmo.

— Sim, você tem razão. Eu os amo demais e não quero ver eles brigados. Eu sei que pareço uma criança falando isso, mas é que se você conhecesse meus pais veria o quanto é incoerente eles estarem separados.

— Não se preocupa, de um jeito ou de outro tudo vei se acertar.

— Eu espero que sim.

— Então é por causa deles que você é assim, um doce de ser humano.

— Eles são a razão por eu acreditar no amor. Seu namorado é romântico, ta?!

— Meu namorado?

— Isso mesmo.

— Engraçado, eu não me lembro de ter escutado nenhum pedido de namoro.

— Achei que não precisasse.

— Que absurdo, senhor Hernandez, sou uma moça de família.

— Sei disso, inclusive eu estava discutindo sobre o teu dote com o teu pai hoje.

— Que? Como assim? Você viu meu pai hoje? Onde?? Como?? Você me disse que passou os últimos dias em casa cuidando tua mãe.

— E fiquei, foi la justamente que eu encontrei teu pai.

— Como é que é? Ele foi na tua casa???

— É, sim, bem...

— Eu não acredito que ele fez isso!! Sério, onde estão os limites pra aquele homem?? Ele pensa que pode me trancar naquela casa maluca para sempre e me impedir de crescer?! Que absurdo, eu vou fazer 16 anos em duas semanas, ele tinha que entender que eu já poderia começar a me relacionar com alguém amorosamente. Mas não, ele quer que eu seja a princesa dele pra sempre, que ridículo, eu não vou...

— Amor, espera.

— Não, Fernando! Quem ele pensa que é pra ir na tua casa te botar contra a parede?? E como ele descobriu o endereço?? Ah, já sei, foi bem aquela secretaria nova dele, aquela mulherzinha vulgar faz de tudo pra chamar atenção dele. Na última que eu fui lá, ela estava usando uma saia tão curta que eu quase vi o útero dela quando ela se sentou, vaca, desgraçada...

— Gabriela.

—  Ele esperou eu sair da cidade para ir falar com você, sério, qual o problema dele?? A Lizete bem que me contou que ele era ciumento com os relacionamentos das filhas, mas com as minhas irmãs mais velhas não foi assim, ta certo, eu não me lembro muito bem, mas se ele tivesse surtado dessa maneira, eu lembraria, não lembraria??

— Gabriela, eu...

— Ele te ofendeu?? Porque se ele foi na tua casa só pra falar barbaridades pra ti eu juro que ele vai me ouvir, eu...

— Gabriela Bracho para de falar por um instante!!

— O que foi??

— Amor, você nem me deixou terminar de falar e já foi julgando teu pai, calma, nada disso aconteceu.

— Mas você disse que ele foi na tua casa, que vocês conversaram...

— Sim, mas nós nos falamos por uns trinta segundos, e outra coisa, teu pai nem tava lá pra falar comigo, pra começo de conversa ele nem sabia que eu morava naquela casa.

— Não to entendendo nada.

— Eu encontrei teu pai lá em casa momentos antes de sair para vim para cá, ele estava conversando com minha mãe.

— O que??

— Sim, eu também fiquei surpreso, nem sabia que eles se conheciam. 

— Mas como?? Ele disse o que tava fazendo lá?

— Parecia que eles estavam conversando sobre negócios ou algo do tipo. Sei que meus pais estavam tratando de uma grande negociação com uma empresa local, foi por isso que nós nos mudamos pra cá. Talvez seja isso.

— Mas é claro. Papai andava estressado ultimamente falando sobre a proposta que uma empresa estava fazendo à fábrica Bracho, deve ser isso. Uau, então parece que nossos pais são sócios agora.

— Mundo pequeno.

— Demais.

Os dois ficam em silêncio até Gabriela começar a rir, deixando Fernando sem entender o motivo.

— O que foi agora?

— É engraçado. Pensa, agora nem que ele queira vai conseguir se livrar de você. Se nossas famílias são sócias significa que teremos muitos eventos juntos para ir, e bom, quem sabe a discussão sobre o meu dote pode ficar interessante.

— Você é péssima sabia, Gabriela Bracho?

— Sei, e é por isso que você gosta de mim.

— Gosto é?

— Demais, não viveria sem.

— Modesta também, mais uma qualidade para a lista.

— Não podemos lutar contra fatos, querido.

— O que você fez comigo, olhos verdes? Você me enfeitiça.

— Ah, então além de péssima e modesta, agora também sou feiticeira?

— Com certeza.

— Bobo.

— Por você.

Fernando a puxa para mais um beijo. Desta vez, o encontro dos lábios não tinha a castidade do primeiro, ele era apaixonado, doce e demorado. O carinho que tinham um com o outro se fez presente desde o momento que suas bocas se roçaram até o fim quando alguns selinhos foram trocados antes que se separarem por completo.

— O ruim de tudo isso é que meu pai conheceu sua mãe primeiro que eu.

— Ta ansiosa pra conhecer a sogrinha é?

— Para, você sabe que minha relação com a minha mãe é quase igual a zero, eu não sei como me comportar frente a uma figura materna, bom, não sem ser venenosa, mas em minha defesa, eu só me defendo dos ataques daquela mulher.

— Não vai precisar das suas respostas afiadas com a Sra. Hernandez, minha mãe é inofensiva quando quer.

— Ótimo, agora eu estou mais nervosa.

— Calma, dona Paula é um anjo, tenho certeza que ela vai te amar.

— Paula? O nome da tua mãe é Paula?

— Sim, por que esse espanto? Achava que já tinha te falado o nome dela.

— Não, não tinha falado, mas não foi nada eu só achei estranho.

— Estranho? O nome da minha mãe?

— Não, esquece, é bobagem minha, deve ser só coincidência.

— Meu amor, eu não estou entendendo nada.

— É que o nome da sua mãe é Paula, certo? – Fernando acenou com a cabeça— Então, o nome da minha mãe é Paulina.

— Sério?

— Sim, e ainda tem mais. O nome da minha irmã é Paula, a gente chama ela de Paulinha, mas o nome é Paula homenageando a minha avó materna que também tinha esse nome. Isso não é bizarro?

— É só uma coincidência, meu amor.

— Será? E ainda tem isso do meu pai conhecer sua mãe, não sei não, tem algo estranho aí.

— Deixa de ficar preocupando essa cabecinha linda com isso, vai que é o destino dizendo que temos mais coisas em comum do que imaginavamos. E pensa comigo, imagina quando nossos pais se encontrarem. Vai ser engraçado ver Paula e Paulina se conhecendo.


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Notas finais do capítulo

O que acharam?
@deafmonteiro