Tinta E Grafite escrita por themuggleriddle


Capítulo 1
tinta e grafite


Notas iniciais do capítulo

Para a Vicky, que deu o prompt.



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O negócio de desenhar de madrugada era que aquilo era a única coisa que o fazia dormir. Não que ele caísse desacordado em cima do papel, mas passar horas desenhando sem nem perceber o que colocava no papel era o único jeito de distraí-lo. Quando terminava, estava tão cansado que era só cair na cama que dormiria sem ter um sonho sequer. E era exatamente isso que ele queria.

Mas desenhar de noite também significava que ele não tinha controle sobre o que aparecia no papel. O objetivo não era fazer algo bonito ou que fizesse sentido, mas sim se cansar, usar toda a sua energia para criar alguma coisa, nem que fosse ruim. Desse jeito, ele deveria saber que uma hora ela iria aparecer da mesma forma que aparecia enquanto dormia ou quando ficava tempo demais sem ter o que ocupar a sua mente.

E ela apareceu. O contorno do rosto, a boca, o nariz, os olhos, os cabelos escuros, o olhar tristonho… E, quando ele percebeu quem era, ela já ocupava duas páginas inteiras de um caderno. Duas páginas de Meropes. Merope olhando para baixo, Merope de perfil, Merope o encarando, Merope sentada, Merope em pé, rosto da Merope, mãos da Merope, cabelos da Merope, olhos da Merope, Merope, Merope, Merope…

Mas Merope não vinha sozinha. Junto dela vinham o desespero, o medo, a culpa e a raiva e para alguém que não está acostumado com tais sentimentos, eles se tornam quase destrutivos.

Tom sabia muito bem que um episódio daqueles era o suficiente para fazer com que qualquer pessoa em sã consciência o mandasse para um hospício ou coisa parecida. Por sorte, como sua mãe costumava brincar, ninguém naquela casa era completamente são da consciência, já que ao invés de chamar enfermeiros do hospital mais próximo, Thomas e Mary Riddle tentaram acalmá-lo da melhor maneira possível. Sua mesa já estava praticamente destruída: o caderno tivera todas as suas folhas arrancadas – as duas com Merope, em especial, picada em pedacinhos -, os lápis já tinham rolado para todos os cantos do quarto e todos os outros objetos que deviam estar em cima da mesa jaziam pelo chão.

Enquanto Thomas se apressava para tirar do alcance do filho qualquer coisa potencialmente perigosa – lápis, até mesmo pincéis e como assim alguém ainda tinha deixado um maldito estilete naquela gaveta? -, Mary se ocupava em tentar acalmar o rapaz, apesar de ela mesma estar à beira de um ataque de pânico. Ela o abraçara, sussurrara-lhe que estava tudo bem, tentara limpar seu rosto molhado de lágrimas, segurara as suas mãos sujas de tinta.

Ele ficara um bom tempo sem tocar em um lápis depois disso. Merope poderia ter ficado em Londres – e que Deus o perdoasse por tê-la deixado lá -, mas ela ainda poderia aparecer no papel. E Tom não precisava de mais Meropes por aí. Já bastava aquela que o acompanhava dia e noite, sempre sussurrando-lhe ao ouvido. Não havia a necessidade de Meropes de tinta e grafite aparecerem em seus cadernos.


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Notas finais do capítulo

Reviews são lindos e vocês sabem disso :33



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