Jessica Chloe - Vitoriosa escrita por MidnightDreamer


Capítulo 16
Eu não posso mais...


Notas iniciais do capítulo

Só para avisar que vocês ficarão um tempo sem mim, pois vou viajar e só vou poder postar o próximo capítulo lá para quinta, talvez até quarta, se eu der sorte. Por favor, não sofram!



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Já se passaram duas semanas desde que tudo aconteceu. Fui à missa de sétimo dia dela, mas não consegui permanecer a cerimônia toda. Enquanto todos choravam dentro da capela, eu chorava do lado de fora, acompanhada por Lilian, que não desistiu de se separar de mim durante aquele dia todo. Eu estou com tanta saudade dela... Mas com certeza estou ficando um pouco melhor.

Hector parecia bem mais triste lá do que no enterro. Acho que é porque ficamos tão entorpecidos pelo que aconteceu que a ficha ainda não tinha caído totalmente para ele. Quis muito dar meu apoio à ele, mas ele não quis falar com ninguém. Eu não consigo nem imaginar a dor dele...

Vejo Beatrice uma vez por semana, e ela está me ajudando muito a lembrar mais das coisas boas que das ruins. Não sei se Hector aceitou algum acompanhamento, mas algo me diz que ele recusou.

Hoje vou voltar à escola. Sei que vai ser muito difícil, mas preciso enfrentar isso. Ainda bem que Sarah e Jasmine trouxeram várias de suas anotações das aulas, pois sei que sem elas, eu ficaria perdida pelas próximas semanas. Visto-me, mas estou sem vontade nenhuma de sair de casa. Tudo que quero fazer é enfiar meu rosto no travesseiro e ficar lá até a dor passar. É uma pena que eu não possa fazer isso. Mamãe entra no meu quarto.

— Sica, está pronta?

— Sim. - Olho para ela, que sabe que não estou bem. - Vamos logo.

Pego minhas muletas, que quase não preciso mais, e desço as escadas com cuidado. Lilian estava parada bem no final dos degraus esperando a gente. Mamãe nos oferece a uma carona, e nós aceitamos. Mamãe entra no carro seguida por nós após alguns minutos ela deixa Lilian no seu prédio. Antes de continuar, ela pergunta para mim.

— Nós ainda podemos voltar. – Ela põe sua mão no meu ombro. – Eu sei que você ainda está abalada.

— Mãe, será uma sorte se eu não for reprovada. - Olho seriamente para ela. - Eu vou.

— A diretora Angelina jamais iria lhe reprovar. Eu falei pra ela que estou lhe ajudando com os estudos, e que você não está atrasada. – Ela me dá um sorriso – Ela sabe do que está acontecendo com você e com Hector.

Fico calada, absorvendo as palavras dela, e realmente espero que mamãe esteja correta. Ela anda alguns metros e desço em meu prédio. Ela fica olhando para mim.

— Se quiser voltar para casa, é só ligar. – Mamãe suspira. – Tudo bem?

— Tudo. - Falo, dando tchau para ela, que vai direto para o colégio onde vai dar aula.

Sigo para meu prédio. As pessoas ficam olhando para mim, com uma cara de preocupadas. Algumas vem falar comigo e começam a fazer perguntas, sobre como eu estou, sobre o que aconteceu, sobre Gwen, e simplesmente dou respostas curtas para evitar mais perguntas. Continuo até a sala da minha primeira aula, história. Eu lembro... Foi nessa aula que eu conheci minha amiga. Sento-me em uma cadeira e fico olhando o assento vazio ao meu lado. Eu não vou chorar, não vou...

— Sica. - Hector entra repentinamente na sala. - Você voltou. - Ele já havia voltado às aulas semana passada. Talvez para manter a mente ocupada.

Só o fato dele ter voltado a falar comigo, desde a missa, já faz que meu coração se sinta mais leve.

— Bom dia. - Falo. Ele sorri um pouco.

— Como você está? - Ele passa a mão na minha bochecha.

— Triste. - Falo, cabisbaixa. – Mas não mais que você.

Ele puxa a cadeira da professora e se senta na minha frente. Ele parece ter perdido peso. Agora que ele está mais perto de mim, vejo o quão destruído ele está. Olheiras escuras, pele pálida, expressão de cansaço profundo. Ele se apoia com os cotovelos no apoio da minha carteira, esfrega seus cabelos desgrenhados e volta a olhar para mim.

— Às vezes eu acho que essa dor não vai passar nunca. - Ele me olha, sincero. Beijo sua bochecha em consideração.

— Vai passar. Vai demorar também, mas tudo vai ficar melhor. Eu estou aqui pra o que você precisar, e você sabe disso. - Sorrio de leve. Ele sorri de volta e dá um leve beijinho na ponta do meu nariz. Mas, repentinamente ele para e se levanta rápido, me deixando confusa.

— O que foi? - Pergunto, segurando sua mão antes que ele vá embora.

— Nada. - Ele me parece um pouco nervoso. - Posso ir na sua casa hoje, não posso?

— Claro, por que não? - Sorrio, mas fico intrigada. Por que ele estava tão nervoso?

Ele beija a minha mão. Minha mão? Ele não era de fazer isso, e sim de beijar minha boca, minha testa, minha bochecha... Mas minha mão? Ele estava, definitivamente, muito estranho. Ele coloca a cadeira da professora no lugar e vai se sentar em sua carteira, bem no fundo da sala. Ele nunca foi de se sentar na frente mesmo, mas acho que ele está lá pra se distanciar do mundo. A professora entra e olha diretamente para mim.

— Bom dia, classe. - Ela fala, mas não está contente. Ela se aproxima de mim e segura minha mão. - Eu sinto muito.

— Obrigada. - Falo. Lembro da primeira vez que a vi. Ela parecia ser muito metida, aquele tipo de adulto que com certeza foi popular na adolescência. Mas, vendo-a agora, percebo que a julguei rápido demais. Sorrio para ela, que enxuga a pequena lágrima que rolava no meu rosto. Ela volta-se para a turma e começa sua aula. Infelizmente não consigo prestar atenção no que ela fala. Nem nas outras aulas do dia.

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Mamãe já está me esperando na porta da escola. Ela sorri pela janela e entro no carro. Olho para ela e vejo que ela já buscou Lil.

— Como foi seu dia? - Minha irmã pergunta, preocupada.

— Regular. – Respondi. – Tinha alguns conteúdos que eu não entendi, mas meu maior problema foi me concentrar nas aulas.

— Sinto muito, mana. - Ela fala e ficamos em silêncio durante os minutos que demoramos para chegar em casa. Quando entramos, papai estava lá, nos esperando.

— Boa tarde, mulheres mais queridas da minha vida! - Ele fala bem alegre, mas logo depois se controla. Ele sabe que ainda estou triste. Ele me dá um beijo na testa.

— Oi, papai! - Lilian corre para seus braços. - Estava com saudade!

O abraço deles é tão bonitinho que eu não consigo esconder meu sorriso. Ver Lilian feliz me deixa tão alegre...

— Minha pequenina... - Ele a beija no alto da sua cabeça.

Olho para mamãe e vejo a alegria dela. Ela tinha perdido a esperança de se ver e de nos ver felizes como uma família, como nós éramos antes de tudo. Apesar de todas as provações pelas quais tivemos que passar, nossa família se tornou mais forte.

— Oi, Will. - Mamãe se aproxima dele. - Que bom que está aqui.

— Oi, amor. - Amor! Que fofo... Os dois se abraçam e se beijam. Antigamente eu faria uma cara de nojo, mas eles estão tão bonitinhos juntos de novo...

— Não é fofo, Sica? - Lil me cutuca com o cotovelo.

— Com certeza! - Falo e os dois olham para mim, sorrindo.

Ficamos conversando um pouco sobre besteiras até a campainha tocar, e sei exatamente quem é. Eu vou até a porta e atendo-a.

— Hector... - Abraço-o assim que o vejo.

— Oi, Jessica. - Ele me parece um pouco frio. Não, era bem frio. - Precisamo conversar. Agora.

Fico um pouco perplexa. Ele parecia nervoso e ansioso, mas deixo para lá. Ele entra e se senta na sala, logo depois de cumprimentar a todos. Eu me sento ao lado dele e ele põe sua mão na minha perna machucada, como se perguntasse se eu estava me recuperando bem. Sorriso, assentindo à pergunta implícita, mas ele permanece olhando para mim sem falar nada, nem um sorriso sequer.

— Podemos conversar no seu quarto? - Ele pergunta para mim.

— Por que não? - Eu falo e seguimos para meu quarto. Ele senta na cama e faço o mesmo. Ele fica olhando para o teto e suspira profundamente depois de arranjar coragem para falar.

— Quando eu te vi pela primeira vez, jamais imaginaria que ficaria tão envolvido com você. – Ele olha pra mim. – Jamais pensaria que eu ficaria perdidamente apaixonado por uma garota linda, inteligente, alegre, esperta e, principalmente, forte. Você é um exemplo para mim.

— Obrigada. - Falo, beijando sua bochecha. - Eu também jamais pensaria que me apaixonaria por você. E, ainda mais, não pensaria que você ficaria apaixonado por mim. Ora, justo por mim!

Ele segura minha mão. Hector parece nervoso.

— Eu fiquei encantado com sua personalidade, Jessica. Você é realmente incrível. - Ele beija o meu pescoço, me causando arrepios. - E é por isso que eu preciso falar com você.

— O que foi, Hector? Você está estranho desde hoje de manhã... - Falo, acariciando seus cabelos. Ele dá mais um suspiro e olha para mim.

— Eu vou embora.

Fico olhando para ele intrigada, e nem preciso dizer que não entendi pois ele já vai explicando.

— Eu não aguento mais viver nessa cidade, Jessica. - Ele olha para o lado. - Tudo aqui me lembra a Gwen. Eu não posso viver em um local onde ela não pode descansar em paz, pelo menos para mim.

Levanto-me da cama tão rapidamente que nem me lembro de me apoiar nas muletas. Hector também se levanta, e seu olhar demonstra uma dor esquisita.

— Hector... - Franzo o cenho. - Isso não é precipitado?

— Não para mim. - Ele olha nos meus olhos, mas logo desvia o olhar. Fico com um pouco de raiva. Seguro seu queixo e faço-o olhar para mim.

— Andrew Hector, você não está me falando toda a verdade.

— Eu... não consigo mais ficar ao seu lado, sem me lembrar dela. Eu detesto olhar para você e ver a minha irmã. Você me lembra ela demais. - Ele olha para o chão. - Eu quero terminar.

Eu não acredito no que ele fala. Ele quer fugir de mim? Olho para ele, perplexa. Ele... estava falando sério mesmo? Instintivamente eu fico com raiva.

— COMO ASSIM, VOCÊ ACHA DIFÍCIL? NÃO É VOCÊ QUE ESTÁ NAMORANDO O GÊMEO DA AMIGA MORTA! - Falo, me exasperando. Ele olha para mim espantado.

— Não grita, Jessica! - Ele segura a minha cabeça. - Me desculpa, mas é isso que eu estou sentindo! Eu não consigo parar de pensar que, enquanto eu estava com você, minha irmã estava morrendo a poucos metros de mim. Eu não pude salvá-la...

Lágrimas de frustração descem por meu rosto. Então... Então...

— Você está colocando a culpa em mim... – Minha respiração fica irregular. – Você acha que, se eu soubesse o que estava acontecendo com ela, teria prendido você perto de mim? Eu não sou assim, Hector. Pensei que você soubesse.

O rosto dele fica mais contorcido ainda.

— Não é isso, é que... – Hector engole em seco. – A culpa não é sua. Sou eu que não posso mais ficar aqui...

— Nada do que você está falando justifica, Hector! - Olho para ele, chorando. - Sei que é difícil, você está sofrendo... Mas você não pode fugir assim! Você tem que enfrentar tudo isso!

— Eu não posso, Jessica. - Ele olha para o chão. - Eu vou ficar para sempre triste se continuar aqui, com você.

Comigo. Ele não quer me ver, pois eu o faço lembrar do que ele não pôde fazer pela irmã. É isso? Eu não... Eu não queria que ele se sentisse desse jeito, mas mesmo assim eu não consigo entendê-lo. Hector não pode olhar pra mim sem ver a própria irmã. Isso é tão...

— Isso não faz o menor sentido, Hector! Do jeito que você fala parece até que fui eu que dei um tiro nela! - Falo, sem pensar na força das palavras.

— Você... você foi longe demais agora. - Ele começa a chorar baixinho. - Você não entende meu lado.

— Você é fraco. - Olho para ele, ira nos meus olhos. - Eu nunca vou entender isso...

— Não me chame de fraco! Você não faz a mínima ideia do que eu estou passando. É dor demais... Você não entende, e nunca vai entender.

Olho irritadíssima para ele. Então agora ele acha que eu não sei o quanto isso dói? Ele realmente acha que eu não sei o que é passar por momentos difíceis?

— Você acha mesmo que eu não sofro tanto quanto você?

Ele fica em silêncio.

— Acha mesmo que eu não sei o que é sofrimento? Eu perdi minha amiga também, Hector! GWEN ERA MINHA AMIGA! E você vem aqui em casa praticamente dizendo que por minha causa você não pôde salvar ela. O que você ia fazer? Ia se jogar na frente dela? Você não vê que isso seria tão ruim quanto o que é agora?

Ele está chorando descontroladamente, e com certeza isso me quebraria se não estivesse tão irritada.

— Não me diga que eu não sei o que é sofrer. – Limpo minhas lágrimas. –Sabe o que é ter a certeza de que pode morrer a qualquer momento? Você sabe o que é saber que essa porra de tumor pode voltar, e que pode ser fatal para mim? Você sabe o que é a dor da quimioterapia? NÃO, VOCÊ NÃO SABE!

— CALA A BOCA, JESSICA! - Ele grita, olhos vermelhos. - Não me deixa mais confuso...

— Eu não estou te deixando confuso. Você que está se confundindo todo. Eu podia dar um jeito de te ajudar, mas você prefere fugir de mim. Me culpar. - Rio com desgosto. - E você falava que me amava. Se me amasse, não me abandonaria. Não me crucificaria.

Ele funga o nariz e olha para o chão.

— Eu estou procurando o que é melhor pra mim. Tudo o que me fará sentir melhor. – Ele volta a olhar nos meus olhos. – Eu estou acima de tudo para mim. O que eu sinto é mais importante do que qualquer outra coisa.

— Você não se escuta? Você está sendo egoísta!

Ele passa as mãos pelo cabelo, frustrado. Como ele pode fazer isso comigo?

— Não importa o que você pensa, Jessica. Eu vou para a casa dos meus avós, na Califórnia. Depois eu vou para uma faculdade aí, em algum lugar. Mais para aqui eu não volto.

— Bom saber. - Olho para meu pulso. Aquela pulseira... para sempre. Para sempre uma ova! Arranco a pulseira do meu braço, e sinto a queimação por ter puxado-a com muita força. - Toma, fica com isso aí.

— É seu. – Ele diz. – Fique com isso, por favor.

— Não quero ficar com esse presente. Ele não significa mais nada para mim. - Abro sua mão com força e coloco-o dentro.

Ele já parou de chorar, mas eu não.

— Não queria que fosse assim. - Ele fala. Ridículo.

— Você acha que eu quero? - Olho para ele, chorando muito. - Eu jamais queria isso. Mas você está forçando isso.

— Me desculpa. Mas isso vai ser o melhor para nós. - Ele fala. Eu não acredito que ele fez tudo isso.

Ele desce as escadas, ele também está chorando. Eu não entendo... Ele se lembrava da Gwen quando me via? Por que, Deus? Saio correndo, descendo as escadas. Ele está quase saindo pela porta quando eu falo.

— Um dia, você vai se encontrar comigo. - Fungo o nariz. - E se você estiver bem e alegre, eu darei o braço a torcer. Você estará certo, a culpa da sua tristeza será eu. – Sinto um sabor amargo na minha boca assim que essas palavras saem. – Mas se você não estiver bem... Eu jamais voltarei com você. Não vai ter volta.

Ele se vira, para olhar para mim.

— Eu não vou querer voltar com você. - Ele fala e sai, batendo a porta muito forte.

Ele... é um idiota. Nunca mais quero saber dele! Olho para mim e vejo que não desci com as muletas, e, é claro, caio no chão. Mamãe e papai, que estavam assistindo tudo juntamente com Lilian, vem correndo me acudir.

— Mamãe... Ele é um canalha. Eu não entendo... O que eu fiz de errado? - Falo entre soluços. – A culpa é minha?

— Você vai ter que me explicar isso melhor, Sica.

— Se eu tivesse entendido... Mas não faz sentido a justificativa dele. Pelo menos não para mim.

Ela me abraça e me leva para o quarto. Conversamos sobre o que aconteceu, eu estou chorando muito. Apesar de ele ter sido um mané, idiota, babaca, imbecil... Eu ainda gosto dele. Eu ainda o amo. E eu detesto isso. Do jeito que ele falou comigo, parecia que ele nunca me amou... Que ele estava mentindo para mim esse tempo todo... Meu coração dói tanto... Mamãe beija minha bochecha.

— Você ainda é muito nova, Jessica. - Olho para ela. - Essa foi só a primeira decepção...

— Mãe, eu tenho certeza de que ele era o amor da minha vida! Como eu posso deixar o amor da minha vida?

Ela ri, e beija minha testa.

— Você não sabe o que é amor pra vida toda, Sica. Você vai aprender muito ainda...

Ela me deita na cama e sai do meu quarto. Assim que ela atravessa a porta, me levanto ao me lembrar daquele soneto que ele procurou para mim. Pego-o na minha escrivaninha e rasgo-o em picadinhos. Pego todos os pedaços e jogo pela janela. Eu não quero mais saber dele. Nunca mais.


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