O Tempo Dirá escrita por Bibelo


Capítulo 27
EXTRA: Corvo Maldito


Notas iniciais do capítulo

Gente, olha eu aqui!
Nem demorei muito dessa vez.

Bom, antes de tudo, essa NÃO É a verdadeira história dela. Eu sei tudo sobre a história verdadeira de todos, mas para a minha fanfic, a verdadeira história dela não se adequaria.

Entretanto, tem partes que realmente aconteceram. Se quiserem saber quais me perguntem que eu respondo ;)

Como eu prometi a Finholdt hoje o capitulo esta menos cru e bom :3

sem mais.

boa leitura!



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Capítulo 27 - Extra: Corvo Maldito

Ele era um galanteador. Vivia rodeado de donzelas perdidas em sua própria alma.

Acalmava toda a dor das jovens freiras - virgens e desvirtuadas - e humanas desiludidas que se acolhiam nos braços grossos e convidativos. Um sorriso lindo e sedutor chamava de forma melodiosa e rouca o nome de cada uma das mulheres - garotinhas nesse caso - que caiam no negro de suas almas.

Sempre em sua floresta, em sua dimensão mais bela e romântica dotada com o simples nome de Zatharan, uma segunda porta para a dimensão de onde elas vinham, a qual abriga todos os desejos das pessoas, todos os seus sonhos mais perigosos e incestuosos; todos os seus pecados.

Dentre essas mulheres - sim, esta chamada como tal -, uma se destacou. Linda e esbelta, sempre em busca de perigos para sua simples vida cercada por homens sombrios e mentirosos. Nunca tivera um amor na vida. Entretanto, ela não entrou naquela dimensão por ter a alma corrompida, e sim por buscar seu sonho: seu príncipe encantado.

Ele sorria-lhe convidativo. Realizou seu sonho mais querido. Disse-lhe palavras lindas de amor, e cantou-lhe a mais bela melodia e a única coisa que ela tinha de lhe dar em troca era amor. Uma simples palavra. Quatro letras e duas sílabas preferidas por uma boca linda e radiante.

Ela aceitou. Ela o amou e ele também o fez. Ambos reinaram como Rei e rainha naquele mundo. Nota-se a utilização do "r" minúsculo no nome rainha, dado por ser irrelevante dotá-la como tal. O por que?

De amor se tornou ódio. De flores se tornaram espinhos, de risadas se tornaram gritos; a beleza se tornou hediondez e de um simples ato de amor se tornou luxúria.

E desse proibido amor nasceu um pecado: um híbrido; o fim da humanidade.

Essa simples mulher - agora uma garota-menina -, mergulhada na traição, foi escolhida por ele para ter um filho teu e levar a dimensão humana ao fim.

Ele, um ser interdimensional, um monstro de pele carcomida com chifres salientes, presas e quatro horríveis olhos vermelhos...

Os malditos olhos vermelhos.

Assim nasceu, de uma humana da Terra, uma híbrida herdeira da dimensão de seu "grandioso" pai, dotada de poderes inumanos, pecadora de tudo.

Seu nome é tão inútil quanto sua existência. Ao menos assim era à seu pai: Trigon e a sua mãe: Arella.

Uma patética e inútil vida.

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O grito alto e fino ecoava por todo o grande quarto. As cortinas vermelhas vinho estavam fechadas vedando qualquer passagem de luz. Candelabros e luminárias se espalhavam ao redor da enorme cama de casal iluminando em seu tom pastel as cinco pessoas, ou melhor dizendo mulheres, que se mantinham concentradas.

Arella se mantinha semi deitada na cama segurando seus joelhos quase encostando-os em seus seios. Resfolegava de tempos em tempos antes de fazer força novamente e gritar alto. Fora ela, três outras mulheres vestidas com capaz pretas se mantinham de pé observando o acontecimento com repulsa, enquanto outra se encontrava agachada na cama com as mãos dentro de seu longo vestido branco.

Mais uma vez Arella gritou alto seguindo-se de um silêncio interrompido por um choro fino. Suspirando aliviada, seu corpo desmorona na cama ensopado com seu suor. Pegando a criança no colo e enrolando-a em tecido vermelho, a mulher fitou a pequena com os olhos levemente arregalados.

–Normal. - sussurrou ela afagando os cabelos da pequena tingidos de preto pela luz amarela. Arella levantou o olhar esticando os braços.

–Deixe-me vê-la. - Pediu entre suspiros pelo cansaço. Um das mulheres em pé pegou a criança no colo e a dispôs ao lado da azulada que sorriu encantada.

Era linda. Seus olhos ainda se mantinham fechados, mas podia contar muito bem a presença de somente dois deles; em sua cabeça haviam somente seus curtos e sebosos cabelos negros sem sequer uma saliência; sua boca banguela e arreganhada pelo choro alto não continha presas e seu corpo era normal e sem sequer uma mancha ou pelos. Linda e normal.

–Como você é maravilhosa. - afirmou a mãe deslumbrada. A freira, naquele rastro de instante, retirou a menina do colo da mãe a deixando desesperada.

–Esperem, ela é normal. - gritava se remexendo na cama sendo segurada pelas outras duas freiras: - Ela pode viver normalmente nos templos, por favor! - suplicava enquanto seus olhos se enchiam de água salgada.

–Ainda que sua aparência seja normal - começou um homem que acabara de entrar no quarto: - Seu corpo não é. Ela continua sendo uma híbrida com um demônio. Continua sendo uma mestiça. Não é confiável. - afirmou por fim se virando e aprontando para sair.

–Ao menos me deixe dar um nome. - gritou a mulher debulhada em lágrimas. Mesmo que houvesse prometido odiar a criança, nenhuma mãe consegue olhar o pequeno e ainda sim continuar com tal pensamento.

–Diga. - permitiu o homem sabendo do estado emocional da mulher imunda.

–Rachel. - falou: - Rachel Roth em homenagem a minha mãe. - afirmou ela encarando a criança envolta no pano preto.

–Não acho justo homenagear uma mulher santa como ela com uma criança pecaminosa. - cuspiu o homem com a voz serena. Aparentemente era um homem cujo poder exalava por todo o local.

–Quando poderei vê-la? - perguntou ainda Arella com um rastro de esperança.

–Quisera eu saber. - assim ele saiu seguido de três freiras - uma delas com a criança-, rumo a qualquer lugar longe daquele quarto guardado por símbolos religiosos que impediam a entrada de seres malignos.

Como se isso realmente ajudasse contra ele.

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–Eu não fiz nada de errado. - choramingava a criança sentada no centro de um quarto escuro e sem janelas.

A porta de frente estava aberta sendo o único local onde se entrava luz. O breu era imenso sendo destacado somente pela pequena figura sentada no chão; joelhos juntos e colados ao chão, as mãozinhas segurando o rosto que se molhava por lágrimas e fora o filete de sangue que estava em seu rosto imundo.

–Claro que fez. - disse um homem em tom grave: - Você agrediu pessoas inocentes, quase as matou. - advertiu este mantendo o tom baixo, mas ao mesmo tempo severo.

–Eles foram malvados. -choramingou a criança ameaçando chorar.

–Isso não é motivo para agredi-los. Eles tem todo o direito de bater em você. - disse com repulsa: - Já lhe avisamos para não ter emoções. - relembrou ele.

–Mas, machucou muito. - resmungou a pequena. Ainda que dissesse algo, ela só tinha cinco ou seis anos, no máximo.

–Não interessa.

–EU QUERO A MINHA MÃE. - gritou ela deixando grossas lágrimas escorrerem por seus olhos enquanto alguns raios negros emergiam de sua pele.

Um som agudo ecoou pelo local seguido de um silêncio. O rosto da pequena formigava em seu tom de vermelho, virado para o lado esquerdo, o tapa ardia forte. Enchendo os olhos novamente de lágrimas, a menina esgoelou.

–CALE-SE! - gritou o homem a pegando pelos cabelos e sacudindo perto de seu rosto: - Escute bem, sua mãe não te quer. Ela não te ama. Só pode ver ela uma vez a cada quinze dias, não reclame. - rosnou soltando-a com brusquidão ao chão.

Ela respirava falho com a falta de ar devido ao choro excessivo. Ele revira os olhos suspirando e agachando-se a sua frente.

–Olhe criança. - chamou o homem afagando-lhe os cabelos: - Você é uma criança que não pode ter sentimentos. Isso machuca os outros. Mesmo que queria brincar, você não pode. - advertia: - Você é diferente. Eu e os outros monges só queremos ajudá-la. - terminou ele levantando-se. Não era tão mau quanto aparentava: -Agora durma.

Assim, ele saiu do quarto fechando a porta a trancando naquele breu constante.

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O quarto era totalmente sinistro. Desde esculturas à livros grossos e empoeirados, o quarto o qual a pequenina dormia era deveras assombroso - O quarto anterior era para correções e castigos. Com uma pequena cama de solteira centralizada, as cortinas abertas deixando a luz da lua passar, Rachel se aconchegava em suas cobertas esperando por sua mais renomada visita: sua mãe.

A porta do quarto se abriu naquela hora, passando por ela uma mulher alta de vestimentas brancas com sua roupa por debaixo bem escura.

Sentando-se na beirada da cama, a mulher afagou a cabeça da pequena mirando-a bem. Estava cheio de hematomas, além de uma marca de mão roxa em seu rosto; não deveria ter mais de dois dias. Seus lábios meio inchados e seus cabelos molhados. A vontade que Arella sentiu de chorar foi imensa, mas sabia muito bem que não o podia fazer.

Ela foi ordenada a não ter sentimentos para com a criança. Não incentivá-la a amar, sorrir e nem chorar; todos esses sentimentos desencadeavam seu poder incontrolável.

–Rachel? - chamou a mãe afastando-se da cama: - Que história quer que eu leia hoje? - perguntou ríspida.

–Nenhuma. - respondeu deixando Arella curiosa: - Quero só dormir com você mamãe. - pediu a pequenina com um sorrisinho bobo que derreteu a mulher. Estava difícil ficar ali.

–Sabe muito bem que não posso dormir contigo, Rachel. - relembrou-a na intenção de fazer aquele momento o menos intimo possível.

–por favor. - insistiu a menina desolada. As lágrimas teimavam em cair.

–Não! - disse autoritária Arella se dirigindo a saída: - Se você não sabe se portar adequadamente então não deveria mais sair de seu quarto. - ao dizer isso ela sai do lugar deixando-a sozinha.

Ela chorou e muito naquela noite destruindo não só seus sonhos, mas suas janelas e estantes.

Tudo foi para os ares, junto de pedaços de um coração partido.

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–Por que não tem crianças aqui, Monge Darion? - perguntou Rachel caminhando pelas ruas desertas de Azarath ao lado de um Monge; ela já deveria ter uns nove ou dez anos.

–As crianças são criadas do outro lado de Azarath, minha pequena. - afirmou o homem de modo doce, um dos únicos que não a maltratava.

–Então por que eu estou aqui? - insistiu a menina ainda curiosa.

–Você é diferente. - afirmou ele.

–Quer dizer que eu sou um monstro né? - comentou a pequenina parando de andar e fungando um pouco.

Suspirando pesado, o Monge se virou a ela agachando-se o suficiente para olhá-la nos olhos.

–Escute. - começou: - Não tem nada a ver com você ser ou não filha de Trigon. - mentiu ele: - Somente é um tipo de preferência que temos por você! – encerrou ele afagando-lhe os cabelos arroxeados.

–Ok, então, Monge Darion. – afirmou ela pegando na mão do Monge e caminhando até o local de encontro.

Entrando num enorme salão, vários monges estavam dispostos em um circulo preciso com desenhos no chão e vários livros e velas. Vestidos com capas negras, mantinham seus rostos obstruídos pelo capuz grande e pontudo.

Aquele ritual era mensal, onde eles testavam os limites de seus poderes que eram controlados por seus sentimentos – sendo eles ruins ou não.

Agarrando forte na mão do monge que a trazia, caminhou cada vez mais devagar para perto do circulo; era um processo doloroso para a criança, muito forte e sem um resquício de que desse certo; devido a isso, sempre que ela entrava naquele círculos, tinha de passar por mais uma sessão de auto-cura e controle psicológico para se recuperar.

Soltando de vez a mão do monge, Rachel entrou no circulo desenhado com giz no chão se sentando com as pernas cruzadas. Fechou os olhos e meditou as três palavrinhas ensinadas por eles:

–Azarath Metrion Zinthos – disse a menina.

Essas três palavrinhas seriam as três dimensões conectadas: Azarath é a dimensão onde eles vivem, um mundo sagrado e divino; Metrion é a Terra, onde a raça humana reside com seus pecados e milagres, oscilando entre o bem e o mau; e por ultimo Zinthos, que seria o Inferno. O mal se aloja nessa dimensão, de onde - acreditem ou não - veio Trigon.

Por ele ser um demônio interdimensional, atravessar as três dimensões não é difícil, como criar uma quarta dentro de Zinthos; praticamente o controle dos mundos era subjulgado por ele antes de ser selado pelos monges de Azarath após o evento que deu origem a Rachel e várias mortes que vieram antes.

–Concentre-se Rachel. - ordenou um dos Monges encapuzados: - Precisamos que você se concentre em não ter emoções e nem sentimentos, desta vez não nos decepcione. - cuspiu o homem falando, em seguida, algumas palavras em um idioma desconhecido.

Várias luzes saíram das linhas desenhadas, oscilando entre o branco e o negro, o bem e o mal, dançando em sincronia como se fossem um. Lembrava muito o famoso Yin Yang.

A luz branca começou a se transformar em imagens que adentraram fundo do subconsciente de Rachel, retirando dele seu maior sonho:

"-Rachel, minha pequenina - chamava Arella entrando no salão eufórica.

–Mamãe? - chamou a pequena sorrindo largo: - MAMÃE! - gritou novamente fazendo parte de sua imensa felicidade transbordar.

–Desculpe não ter sido a mãe que deveria ser contigo, mas te garanto que isso não acontecerá mais. - disse a mulher atravessando o círculos em ser parada pelos monges: - Eu te amo Rachel. "

A menina sorria deslumbrada com a cena, um pequeno rastro de lágrima manchava seu rosto pálido. As velas começaram a oscilar, enquanto algumas se apagavam pelo forte vento que envolvia a menina.

Estava perdendo o controle.

–Rachel, não se deixe levar. - gritou Darion preocupado.

–Garota inútil. - resmungou um Monge ao lado dele.

–Ela é só uma criança. - replicou Darion irritado com aquilo tudo.

–Um demônio. É isso que ela é. - cuspiu novamente o homem se concentrando na magia branca.

–Vocês são loucos em fazer isso a ela! - irritado, o monge gritou para a pequena: - É TUDO MENTIRA, NÃO SE ESQUEÇA! - ao dizer isso Rachel abre os olhos assustada.

As lágrimas desciam feito cascata enquanto levava uma de suas mãos a seu peito segurando como se assim inibisse a dor que sentia.

–Bom, vamos à segunda. - disse outro encapuzado.

Ela somente aquiesceu. Não poderia retrucar. Darion se irritou com aquilo saindo do enorme salão.

A luz negra começou a se mover, dando espaço a uma nova imagem, dessa vez um de seus maiores pesadelos:

"Toda Azarath ruía em chamas e destruição. As enormes e majestosas construções caíam com força ao chão desequilibrando a própria dimensão que se sustentava no ar sobre um breu sem fim.

O céu tingiu-se de vermelho, e quatro grandes olhos de mesma cor puderam ser vistos em sua extensão.

Ela corria pelas ruas olhando para todos os lados desesperada em busca de alguém vivo; em busca de Arella. O lugar estava um caos, e por onde andava via mortes e mais mortes.

As lágrimas começaram a descer por seu rosto, era horrível de se ver. A sua frente, vários seres de aparência monstruosa açoitavam os monges e freiras que jorravam sangue de sua feridas abertas e carcomidas pelo fogo.

Os chicotes e espadas estalavam na pele deles arrancando pedaços e mais sangue. Estava virando uma carnificina.

Não se via mais o chão de tão vermelho e viscoso de sangue que estava, nem mesmo as paredes saíram impunes da barbaridade.

Seu desespero aumentava a medida em que seus passos se apertavam e o templo de Azarath, onde sua mãe residia, esta cada vez mais próximo.

Entrando com tudo, e chamando, clamando e esgoelando o nome de sua mãe aos quatro ventos, pode entrar em um dos quartos dando de cara com ela; mas não estava sozinha.

Sentado a seu lado, agarrando a mãe pelos cabelos, um homem de cabelos brancos, olhos avermelhados, chifres e presas salientes sorria de forma macabra ao encarar a pequena dentro do sala.

–Quem? - perguntou a menina temendo a resposta.

–Não vai dar um abraço em seu pai? - zombou o "homem" rindo assustadoramente.

–Vo-Você não... Nã-Não pode ser. - gaguejava atônica Rachel.

–Posso e sou, gema. - replicou ele: - A profecia irá se cumprir, e de nada adiantará você tentar controlar os poderes que lhe dei. - afirmou o mais velho.

–Nã-Não...

–Deveria ser grata. Você não é mais uma humana inútil como sua mãe, mas também não é forte o bastante para deixar de ser um estorvo. - replicou ele.

–Mentira. - dizia inconsolada.

–Pra começar, mate essa daqui, e sinta o gostinho do sangue da inútil raça humana. - ordenou Trigon lançando Arella com tamanha brutalidade ao chão.

–Mamãããe! - gritou Rachel correndo até ela.

–MATE-A! - ordenou novamente fazendo todo o corpo de Rachel parar de se mover e ceder aos comandos do monstro.

–Não. - ela gemeu ao perceber o que faria a seguir: - NÃO! NÃO! NÃO! MAMÃE! IAAAAA! - gritava desesperadamente tentando de tudo para não chegar perto de sua mãe.

Seus olhos ardiam em desespero, sua vista enxergava somente o rubro de seus olhos, com uma melhor visão ao acrescentar seus dois olhos.

Suas garras saíram e agarraram o pescoço de Arella.

–MÃMÃE! - gritou em desespero ao ver o sangue de sua mãe escorrer por suas mãos carcomidas pela impureza de sua alma.

–Tudo bem, meu amor. Você não pode fazer nada. - gemeu a mulher.

–Ma...mãe... - falou entre lágrimas.

–Agora. - dando a ultima sentença, as garras adentraram fundo na traqueia de Arella que se afogou com o próprio sangue cuspindo aos montes.

Reviando os olhos, seu corpo se contorcia pela falta de ar com sua língua saindo para fora da boca.

–MAMÃÃÃE! - gritou a menina em vão.

–Estraçalhe. - novamente deu a ordem, e as garras arrancavam partes do rosto de Arella desfigurando-o e jorrando mais sangue do que antes.

Seus olhos se penduraram em sua face, pendulando de um lado para o outro, enquanto sua mandíbula se mantinha quebrada pela brutalidade de suas mãos absurdamente aberta, com seus dentes e sua língua pendurados.

A cena era da mais nojenta possível, o que fez Rachel vomitar. Seus olhos se encheram de lágrimas, mas não eram de dor.

Eram de ódio.

–EU VOU MATAR VOCÊ, SEU MONSTRO ASQUEROSO! - gritou ela deixando todo os eu poder sair.

Perdendo o controle."

–Ela perdeu o controle. - resmungou um Monge.

–Cutucamos em seu maior medo. Talvez tenha sido um erro. - disse outro:

–Ela tem de aprender a conviver com a verdade, nada mais. - respondeu outro desfazendo a ilusão e visualizando a destruição em massa feita por seus poderes sem controle.

As colunas estavam criando rachadoras, o chão riscado com marcas semelhantes a unhas de animais, o vento assoviava pelas vielas do salão de modo horrendo enquanto as orbes violetas de Rachel assumiam a cor avermelhada dando espaço a outros dois olhos da mesma cor.

A maldita cor vermelha.

Levantando-se do chão, Rachel grunhiu alto avançando contra os Monges de forma raivosa. Por ser uma criança imatura, ao entrar nesse estado não conseguia se controlar.

Um dos monges retirou de dentro de sua capa uma espécie de chicote atingindo-a de longe abrindo um corte em seu ombro esquerdo. Ele gritou de dor avançando mais irritada.

Novamente é acertada, mas dessa vez no rosto criando uma enorme mancha de sangue se estendendo de seu chakra até seu queixo. Passando a língua pelo machucado, seu lado endemoniado sorriu vislumbrado com o líquido que descia por sua face.

–Ela está perdendo o juízo. - afirmou um monge de forma tranquila. Tranquila demais.

–Eu sei. Mas isso faz parte do teste de controle. - disse o monge que continha o chicote.

Ao contrário das outras duas vezes, Rachel não atacou de frente, pelo contrário...usou tentáculos.

Saindo de dentro de sua pequena capa, negros e monstruosos tentáculos dançavam de seu pequenino corpo enlaçando os monges e lançando-os longe, alguns colidindo nos pilares chegando a rachar ainda mais com a força exercida.

–Ela possuía esse poder antes? - perguntou um dos monges.

–Não. - afirmou o do chicote: - Está ficando mais poderosa a cada sessão. - concluiu intranquilo.

–O que vamos fazer?

–O que fazemos de melhor, expulsar o que quer que esteja dentro dela. - disse ao monge.

–Ok. - assim todos se alinharam ao redor dela proferindo as seguintes palavras:

"Mutare, et redo elit. (mude, refaça e liberte)"

Ao dizer isso Rachel parou, e o grito ameaçador passou a ser de dor, e os tentáculos já não mais se mexiam.

"Mutare, et redo elit. (mude, refaça e liberte)"

Os gritos aumentavam a medida em que as palavras se repetiam uma seguida da outra. Aos poucos seus olhos retornaram ao normal e a avassaladora dor veio como um baque.

Voltando ao chão, Rachel caiu imóvel vencida pela dor e cansaço.

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A sala de auto-cura auxiliava membros que utilizam magia a ter capacidade de se curarem sozinhos, além de serem facilmente tratados.

Rachel estava deitada em uma das macas encarando o teto com o olhar morto. As freiras tentavam de tudo para entretê-la, mas nada adiantava. Desde que aceitara as sessões para controlar sozinha sua transformação tem sido assim, mês após mês deitada naquela maca.

Estava se cansando. Seu pequenino corpo podia não ficar com marcas pelo seu alto poder de cura, mas seu psicológico se abalava fortemente.

Entrando na sala, Darion sentou-se a seu lado com um olhar dolorido:

–Desculpe pequenina. Não pude fazer nada para te ajudar. - martirizou-se o monge.

–Não tem problema. Acho que já me acostumei. - resmungou sem emoção.

–Mas não tem que se acostumar. - falou por fim: - Conversei com Azar, e ele permitiu que você parasse com esses "testes" e continuasse somente com as meditações que ele te passou. - afirmou Darion vendo brotar no rosto de Rachel um lindo sorriso.

–Azar é o melhor. - disse Rachel com a voz mais feliz.

–Que tal começarmos as meditações? - perguntou o Monge incentivando-a.

–Claro!

*~*~*~*

Caminhando pelos corredores vazios dos templos, Rachel se dispunha de um livro grosso sem título, de capa marrom e aparência velha colada em seu rosto dançando os olhos pelas letras.

Vez ou outra alguém passava a seu lado lhe cumprimentando ou acenando. Mais alta, e mais encorpada, a Roth já se mantinha de uns treze anos sustentando um olhar sério, poucas vezes sorrindo à alguém.

Naquele dia veria Azar, seu mentor, para mais uma sessão de meditação. Desde que tinha abandonado os testes de controle de seus poderes e se concentrado cem por cento em suas meditações, controlar suas emoções tem se tornado mais fácil - ainda mais quando nenhum monge a maltratava ou xingava.

Entrou em uma sala ampla cheia de imagens, desenhos, e livros enfileirados nas estantes altas e majestosas. A vontade que ela tinha de se perder dentro dos livros era imensa.

Ao centro, Azar a esperava. Um senhor de idade e de muito conhecimento.

–Rachel, seja bem vinda novamente. - disse o senhor se sentando em posição de lotus no chão: - Fique na minha frente, por favor. - pediu ele fechando os olhos.

Rachel o fez. Sentaram-se um de frente para o outro e começaram suas meditações:

–Azarath, Metrion, Zinthos - disseram em uníssono: - Azarath, Metrion, Zinthos. - repetiram mais uma vez num intervalo de dez segundos.

Respirando fundo, Rachel conseguia se ligar à suas emoções, coordenando cada uma sem perder o controle; uma leveza que só conseguia na presença de Azar.

Parando um pouco, o ancião pegou de dentro de uma caixa a seu lado um lindo espelho com as bordas brancas e largas.

–Rachel. - chamou ele a fazendo abrir os olhos: - Esse espelho conectará você à Nunca mais, local onde todas as suas emoções estão juntas. - explicou ele: - Podendo entrar com seu corpo e alma, seus poderes vão além do imaginado, também conseguindo conselhos delas que são bem sabias. - disse ele pausadamente.

–Entretanto. - continuou: - Dentro desse seu mundo, existe a emoção a qual você deve manter distância e trancafiada a sete chaves: Raiva. A raiva é sua emoção mais poderosa. Ela desencadeia em você os poderes herdados de Trigon, por isso evite se irritar ou fazer contato com ela. - pediu ele: - dentro de Nunca mais ela pode te manipular de modos sujos. Tome cuidado com ela. - aconselhou Azar entregando nas mãos de Rachel o espelho.

–Farei o que o senhor mandou. - respondeu: - Mas quando eu devo usar? - perguntou curiosa.

–Quando se sentir sozinha, ou achar que deve usá-lo. Conhecimento é uma de suas emoções, pode perguntar a ela sobre o que for, que ela a aconselhará. - admitiu o senhor.

–Muito obrigada, Azar. - agradeceu alegremente. Poder entrar em Nunca mais quando estivesse sozinha seria um álibi para suas noites tenebrosas.

–Retornemos à meditação. - falou o ancião fechando novamente os olhos.

Continuaram com isso durante alguns minutos antes de tosses grossas invadirem o ambiente. Rachel abriu os olhos assustada olhando Azar que tossia forte.

–O senhor está bem? - perguntou preocupada.

A tosse não deu trégua, e no momento em que Azar pôs uma de suas mãos sobre seu peitoral ela entendeu. Levantou-se correndo.

–AJUDA. AZAR ESTÁ TENDO UM ATAQUE. - gritou ela no corredor por onde correram vários monges em direção a sala.

Azar havia caído no chão se tremendo todo devido a convulsão que estava tendo. Era uma cena horrível de ser ver. Darion chegou em Rachel a tirando do local.

Naquele dia, Azar deixou Azarath.

*~*~*~*~*

O falecimento de Azar foi um baque para toda a dimensão. O luto durou alguns dias, possibilitando aos civis visitarem sua sepultura.

Rachel se mantinha inconsolável. Ela estava a seu lado, poderia ter salvo ele com seu poder de cura, poderia ter evitado isso se tivesse usado sua empatia. Ele não teria morrido se ela tivesse reparado.

Mas não tem como voltar atrás. A morte já o agregara.

Impossibilitada de ter emoções, Rachel recorreu ao único lugar onde poderia chorar sem machucar ninguém, e muito menos ser repreendida:

Nunca Mais.

Dentro de seu quarto, a empata pegou seu espelho branco encarando-o por alguns segundos antes de entrar e vez nele.

Ao cair em uma estrada de pedras se assustou com o que viu: todo o lugar era sombrio. Os monstros ali dentro se assemelhavam a Trigon; quatro olhos avermelhados e pelagem negra.

o céu se pintava de rubro, enquanto as arvores se mantinham em formatos ameaçadores. A trilha flutuava no ar, onde a queda não parecia ter fim naquele breu assustador.

Caminhando pela estrada Rachel abraçava seu próprio corpo pelo arrepio que sentia a cada passo que dava. O lugar era arrepiante.

Sentada em uma das pedras segurando um livro em mãos, uma garota semelhante a ela, ou melhor, idêntica - exceto pela capa marrom - se perdia na leitura do livro.

Aproximando-se mais vagarosamente, Rachel olhava entretida a garota como se fosse um fantasma.

–Não deveria olhar tanto assim as pessoas, Rachel. - respondeu a menina assustando a azulada.

–Como sabe meu nome? - perguntou Rachel.

–Eu sei de muitas coisas. - advertiu esta virando a página de seu livro.

–Qual seu nome? - indagou curiosa.

–Conhecimento. - ao dizer isso um baque a atingiu.

Azar havia lhe dito sobre seus sentimentos estarem dentro do espelho, mas nunca pensou que fossem materializados.

–Azar me disse sobre você. - comentou ela tentando conversar com a garota.

–Eu sei, eu ouvi. - afirmou de forma séria. Seu ar intelectual pairava mo lugar.

–Como pode ter ouvido? - disse Rachel.

–Eu sou um de suas emoções, Rachel. - afirmou ela fechando seu livro que desapareceu no ar.

–Mas conhecimento não é uma emoção, é um-

–É um conceito adquirido pelos seres humanos, possibilitando desvendar, descobrir e conhecer sobre várias coisas, desde coisas materiais à emocionais. - encerrou a garota aproximando-se bastante da azulada.

–Nossa. - admirou-se a Roth.

–Bom, eu sei o porque de você estar aqui e - começando ela, sua cara se tornou mais amena: - meus pêsames. - disse ela se referindo à Azar.

O olhar de Rachel morreu.

–É. Foi tudo minha culpa. - afirmou ela se martirizando.

–Não foi. - bradou Conhecimento: - Você não pode fazer nada se chegou a hora dele. Nem mesmo a cura poderia prolongar aquilo que já tinha sido encerrado. - disse ela tentando amenizar a dor da perda.

–Não, foi sim minha culpa, tudo minha culpa. - respondeu de modo frio.

–Sabe. - começou: - Você pode chorar aqui. - falou ela estendendo os braços para ela.

Rachel não se aguentou e correu abraçar a sua eu conhecedora do mundo. Desabou em lágrimas que ela segurava a tempos, desde muito tempo.

Aquilo lhe dava um enorme alívio no coração. Como se retirasse todo o peso que estivera a carregar desde seu nascimento. Aquilo era bom, mesmo que fosse estranho chorar nos braços dela própria.

Não soube dizer ao certo quanto tempo ficou ali, mas as lágrimas deram trégua, e em momento algum Conhecimento reclamou.

–Desculpe por isso. - pediu Rachel afastando-se dela.

–Não se preocupe. - disse: - Melhor você voltar, Darion deve estar preocupado. - afirmou ela se afastando.

–Mas eu não conheci as outras. - falou ela.

–Não chegou a hora de você conhecê-las. - dito isso um vortex se formou ao redor de Rachel, e a mesma retornou para o mundo real.

Para seu pesadelo real.

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Cerca de três meses se passaram quando Rachel foi designada pelos monges de Azarath à viver na Terra. Conviver com pessoas normais a ajudaria a controlar suas emoções tão bem quanto fazia ali.

Ela não retrucou em momento algum, sabia muito bem que ela precisava ir; Azarath não era mais eu lar, e não achava justo prender Darion e outros monges à si. O melhor a se fazer era ela desaparecer.

Faltavam um ano e meio para a profecia, e se ela fosse acontecer, queria não estar com suas pessoas mais preciosas e amadas, como sua mãe.

Ela pode não ter sido presente em sua vida, mas estava presente em seu coração.

"Mesmo que a vida não jogue a nosso favor, mude-a como puder, porque mesmo que os empecilhos apareçam, os caminhos se abrirão, e seu futuro te chamará para passar".

–Rachel Roth.


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Notas finais do capítulo

Gostaram??

Espero que sim.

Bom, a hsitória da Rachel é bem tenebrosa, mas na minha fanfic eu deixei mais forte. Espero que gostem ;)

É só isso, Agradeço os comentários!

Até amores mios