Lembro-me de quando ia caminhando para a escola com Tomiko, minha melhor amiga. Naquela época a gente ainda estava na pré-escola, mas eu sabia que jamais iria perdê-la.
Nos duas adorávamos passar as tardes juntas, no jardim da casa da avó dela; seu cabelo azul escuro como a noite sempre me fascinou, perdia-me em seus olhos negros como a madrugada, ela me lembrava do céu escuro, acho que por isso eu sempre gostei do escuro, e sua pele sempre branquinha como a - lua.
— Rinari-chan, — adorava quando ela falava meu nome, meu coração batia acelerado – vamos ficar pra sempre juntas, não é?
— Claro, Tomiko-chan, nada poderá nos separar — disse essas palavras a ela, com um sorriso em meu angelical rosto de criança.
A infância que passamos juntas foi normal como de quaisquer meninas muito amigas, mas algo nela me chamava muita atenção, algo que eu não sabia o que era.
Lembro de quando estávamos na oitava serie, e ela começou a namorar pela primeira vez. Eu fiquei com ciúme, não sei se era porque éramos muito próximas.
— Rinari! Rinari! Comecei a namorar um garoto da outra sala! — as palavras dela entraram como um punhal em meu coração, fui forçada a fingir alegria.
— Tomiko-chan, estou muito alegre por você, amiga. – e naquele instante dei-lhe um abraço apertado, querendo tê-la cada vez mais perto de mim, mas não compreendia porque eu tinha aquele desejo por ela.
Naquele dia, chorei muito pelo namoro dela, mas não sabia o motivo de meu choro.
Três meses se passaram e Tomiko tinha se afastado de mim. Até que, numa tarde, a encontrei chorando no jardim de sua avó, onde brincávamos quando pequenas.
— Miko-chan? — chamei-a pelo apelido de criança. — Você está bem? — sentei-me ao lado dela.
— Nari-chan, — e ela também me chamou pelo apelido de infância — o Gosh-san terminou comigo, estou muito mal. – Então ela me abraçou, tão forte, que eu correspondi.
— Calma, Miko-chan, ele não era o garoto certo pra você, ainda. — eu a estava apertando contra meu corpo.
— Obrigada Nari-chan, obrigada por aparecer aqui, neste exato momento.
 

Depois dessas palavras, ela ia me dar um beijo no rosto, mas eu virei minha face e acabei beijando-a. Coloquei minhas mãos em seu rosto macio, e ela não recusou o beijo, na verdade correspondeu. Depois daquele nosso primeiro beijo, ela ainda ficou abraçada a mim, e juntas vimos o sol se pôr e a noite nascer.