Catherine Bittencourt

Acordo com uma Alyssa desesperada me chamando. Abro os olhos e vejo o par de olhos esmeralda me observando. Me levanto e ela desce a escada. Desço junto, e encontro lá embaixo minha mãe furiosamente furiosa. Quando eu digo que ela está brava, é por que ela está MESMO.

- A senhora sabe que horas são? - ela pergunta e eu balanço a cabeça negativamente. - MEIO DIA, CATHERINE!

Me assusto. Estou em cima da hora. Corro direto pro meu quarto, tomo um banho rápido, pego qualquer roupa e coloco. Não sei pra que tanta formalidade na Colheita. Só vão pegar duas crianças pra jogar numa arena pra morrer. E olha que esse evento só dura meia-hora, no máximo.

Desço as escadas rapidamente e encontro minha mãe e minhas irmãs. Ela já está bem mais calma. Loyse pega a mão de minha mãe e Alyssa agarra a minha.

- Cat, eu tô com medo... - ela começa. Era o primeiro ano dela na Colheita, então era normal ela estar com medo. - E se eu for sorteada?

- Aly, fica sossegada. Se você for sorteada, eu me ofereço em seu lugar! - digo e ela dá um pequeno sorriso. Acho que isso a acalmou um pouco.

Caminhamos em direção a praça e uma mulher pica o dedo de Aly para coletar sangue. Juro que vi uma pequena lágrima ali. Depois é minha vez. Nem dói. Acho que é por que já estou acostumada.

Sento junto com as garotas de dezesseis anos e logo aparece o cara da Capital. Espera, ele tá vestido de girafa?

- Queridas crianças do Distrito 5. Eu trouxe pra vocês hoje um filme exclusivo da Capital! - Ele diz, com um enorme sorriso. Filme exclusivo? Dizem isso todo ano e é sempre o mesmo vídeo chato de sempre. E eu acerto na mosca, é o mesmo.

Consigo ver Alyssa no meio das garotinhas de doze anos, e vejo que ela está segurando as lágrimas. Algumas das garotas já estão chorando, então...

- Agora vamos selecionar os sortudos que vão representar o Distrito 5 na sexagésima nona edição dos Jogos Vorazes! - ele diz e anda em direção a bola de vidro com o nome das garotas.

Ele anda de volta e nesse momento sinto uma pontada no coração. Não por mim, por Alyssa.

- Catherine Bittencourt! - ele diz e eu paraliso. Quase desmaio, mas consigo me conter. Ando devagar e no meio do caminho olho para as garotas de doze anos e vejo Alyssa desabando em lágrimas.

Subo no palco e o homem vai até a bola de vidro contendo os nomes dos garotos. Ele pega um papelzinho meio amassado que estava mais pro fundo e anda devagar até aqui.

- Johan Plesm! - ele diz com um sorriso enorme. Vejo uma movimentação entre os garotos de quatorze anos e vejo um deles sair. Ele sobe ao palco, tentando se fazer de forte. Mas vejo em sua expressão que ele vai chorar a qualquer momento. 

Pacificadores empurram a gente dentro do Edifício da Justiça e fecham a porta. 

Johan Plesm

Acordo da minha cama de madeira muito simples. Sou de origem humilde e moro numa parte muito pobre do meu distrito. As tésseras são necessárias para minha sobrevivência, então é algo que não posso recusar. Me arrasto até a cozinha e como alguma coisa. Eu moro apenas com meu pai, que é doente. Ele não pode se levantar da cama, então ele não comparece a Colheita. Eu tenho que ir sozinho.

Me sento na cadeira quase quebrando e pego algo pra comer. A única coisa que tem aqui é alguns pães e queijo feito com o leite da vaca que crio no quintal de casa. É o que tenho pra comer. Subo de volta para meu quarto e pego alguma roupa qualquer.

Tomo um banho rápido e me troco. A Colheita é daqui a pouco. Fico aguardando deitado no sofá simples de madeira e logo toca o sinal. Vou até a praça e uma mulher de branco pica o meu dedo pra tirar sangue.

Vou até os garotos de quatorze anos e entro lá no meio. Não demora muito pra chegar Rowdey, o homem da Capital. E ele estava vestido de girafa. Cada ano é um animal diferente.

Ele fala as mesmas porcarias de sempre e passa o mesmo vídeo, então vai até a bola com o nome das garotas. Vejo as garotas todas paralisadas, e então ele chega no microfone. Faz suspense e logo diz:

- Catherine Bittencourt! - com um sorriso enorme. Vejo uma garota de dezesseis anos saindo e indo até o palco. Uma garota de doze anos começa a chorar. Deve ser a irmã dela, pois são muito parecidas. Então, ele vai até a bola com o nome dos garotos.

Sinto um aperto no coração. Quando ele pega finalmente um papel, tranco a respiração e...

- Johan Plesm! - sou eu. Não é nenhuma surpresa. Eu assino as tésseras. Maldita Capital! Vou até o palco me segurando pra não chorar, por que senão vão me achar fraco. Subo no palco e a girafa faz eu apertar a mão de Catherine. Então, sou empurrado pra dentro do Edifício da Justiça.