Não tenho idéia de que horas são quando eu finalmente decido acordar, apenas posso garantir que não foi cedo. 

   Finalmente me sinto de férias, sem escola e sem um baile pra ir... O baile! Droga tinha prometido pra mim mesma fazer o máximo possível para não pensar nele.Mas aquele beijo, a musica que até a agora não sai da minha cabeça... Para Clove! Esquece o baile!

   Ok, ok... preciso falar com alguém, e com alguém quero dizer Fox.

   Saio da cama e vou procurar meu celular, mas Fox não atende. Tento mais uma vez, mais uma e mais uma. Nada!

   -Valeu mesmo Fox. –resmungo.

  Só tenho uma coisa a fazer, ir até lá. Pego literalmente a primeira roupa que vi na frente, não arrumo nem meu cabelo apenas desço as escadas e saio. Vi meus pais conversando na cozinha, mas não tive tempo de ouvir se eles falaram alguma coisa. A casa de Fox não fica lá muito perto da minha, mas agora não importa eu preciso dela. Depois de um tempo começo a correr.

   Quando finalmente avisto a casa dela estou quase morrendo e tenho quase certeza que perdi meu pulmão no caminho. Aperto a campainha e mãe dela atende. Ela sorri ao me ver e ao mesmo tempo tenta esconder a surpresa de me ver daquele jeito.

   -Elas estão lá em cima. –ela me avisa com o mesmo sorriso.

   Elas?

   -Ah...muito obrigada. –agradeço e vou em direção do quarto de Fox.

   Esse “elas” me preocupa um pouco, mas logo descubro o que significa quando abro a porta de seu quarto.

   -Clove?! –Katniss esta realmente surpresa assim como eu. –O que você está fazendo aqui?!

   Fico sem reação.

   -Clove o que aconteceu? –pergunta Fox com um tom bem diferente do de Katniss. Era carinhoso, realmente preocupada.

   -Você ainda fala com ela?- pergunta Kat com desprezo.

   -Katniss por favor me perdoe. –peço. –Eu não queria ter feito aquilo com você e Peeta.

   -Dane-se! Você já fez! E além disso nunca tentou ao menos explicar o que aconteceu.

   -Eu não posso... –olho para Fox em busca de ajuda.

   -Ele não vai descobrir, Clo... você poderia...

   -Eu não posso arriscar você sabe disso.

   -Mas Clo...

   -Se ele descobrir...

   -Ele não vai, e ela não vai contar.

   -Oi? Eu perdi alguma coisa.

   Fox olha novamente pra mim e eu assinto. Não quero mais brigar com Katniss, eu preciso dela tanto quando de Fox, as duas são minhas melhores amigas não quero que... ele interfira nisso.

   -Quer que eu explique o por quê? –digo. Kat se senta na cama de Fox e assente. Sento-me no chão e conto a ela tudo.

   Quando termino todos ficamos em silencio.

   -Clove... –ela vem até mim e me abraça. –Por que não tinha me contado antes?

   Tento conter as lagrimas. As lembranças não erram alguma coisa que eu queira contar.

   -Por favor me perdoe. –pede ela. –Não tinha sido culpa sua e eu te culpei ao invés daquele canalha.

   Ela me solta.

   -Mesmo assim eu tinha o feito. –digo. –Tenho tanta culpa quanto ele.

   -Não tem mesmo, ele é o vilão aqui... ele fez do seu ano um inferno... por que nunca contou...?

   -Ele sabe todos os segredos. –coloco ênfase no “todos” –O s que incluíam você, a Fox, meu irmão... até meu pais! Se ele descobrir que contei a vocês, todas estamos ferradas.

   -É isso é um problema.

   -Mas Clove, por que veio aqui tão... desesperada? –pergunta Fox.

   Olho para o chão. Não sei como explicar dessa vez.

   -O baile...

   -Sim? –Kat diz quando não termino a frase.

   -Eu fui com... com o Cato... e...

   -Clo?

   -Nós... tipo nos beijamos.

   -O que?! Como?!Por que?! Você?! Cato?! Hãm?! –dispara Kat.

   -De novo? –pergunta Fox.

  -Como assim “de novo”? Você e aquela... coisa já tinha se beijado?

  -Sim... mas dessa vez foi diferente.

  -Diferente? –questiona Fox.

  -Diferente? Como assim diferente? Diferente como? –Kat está elétrica.

  -Eu sei lá! Mas... ah eu não sei aquilo foi tão estranho!

  -E o que ele fez depois? –pergunta Kat tentando controlar seu ataque de loucura.

  -Agente se despediu e ele foi embora.

  -E você?- pergunta Fox.

  Tento lembrar-me o que eu fiz depois que Catio foi embora, tudo depois daquilo parece borrado em minha memória.

  -Eu voltei pra casa... e fui dormir, acho.

  -Ficou pensando muito no... beijo? –pergunta Kat curiosa.

  Faço que sim com a cabeça. Não vou conseguir admitir isso em voz alta.

  -Clo... acha que pode estar gos...

  -Nunca! –corto Fox antes que ela termine. –Isso nunca vai acontecer, ele é idiota e depois desse ano...

  Deixo a frase no ar. As duas ficam pensativas, e eu também.Kat e Fox se entre olham.

  -O que? –pergunto.

  Elas fazem de novo.

  -O que foi? –repito.

  -Clove... você passou muito tempo com ele esse ano, não seria surpresa se vocês dois estivessem...

  -Não. - corto Kat dessa vez, e balanço a cabeça negando. –Nunca, vocês sabem  muito bem  disso. Eu e ele nos odiamos desde que me conheço, nós nunca poderíamos... eu nunca... ele nunca, sabem que como ele me odeia, isso nunca...nunca, nunca.

  Sinto lagrimas se formando e faço de tudo para elas não caírem.

  -Ok, ok Clove, ele e você se odeiam e é só. –Fox tenta me tranqüilizar.-Nada mais.

  -Isso.-mexo freneticamente minha cabeça, não sei por que, tento parar mas não consigo.

  Sinto-me acaba e não só por que tive que correr uns quatro quilômetros até aqui. Não consigo sentir o chão sob meus pés, sinto como se estivesse caindo... sinto que ninguém pode me salvar agora.

   -Clove? –chama Kat. –Esta tudo bem?

   -Ah... claro... eu só... nada, esquece.

   Ninguém fala nada por um tempo. Eu olho para o chão ainda tentando acreditar que ele esta ai. Kat e Fox olham para o nada pensativas, algumas vezes as vejo se entre olhando, mas não pergunto o por que. Tenho medo de saber.

  -Eu... vou indo. –digo quebrando o silencio. –Não falei pros meus pais onde estava indo...eles devem estar preocupados.

  Me viro e corro antes que elas falassem alguma coisa.Abro a porta e saio, não paro de correr até estar longe de lá. Não vou pra casa, não quero ir pra lá... não sei pra onde vou, não tenho pra onde ir. Continuo andando sem direção, com o tempo percebo que cheguei a um parque. Vejo as pessoas se divertindo com suas famílias e amigos, isso parecia tão distante de mim agora, acho que nada pode me divertir agora.

   Ando perto das arvores olhando para o chão.

   -Clove? –escuto alguém chamando. Reconheço a voz só não sei de onde.

   Ignoro e começo a andar um pouco mais rápido. Não quero encontrar com nenhum conhecido agora.

   -Clove. –chama novamente. –Clove espera.

   Vejo que a voz esta bem mais próxima. Viro-me e vejo Marvel vindo de bicicleta em minha direção.

   -O que?-pergunta mal-humorada.

  -Ah... eu queria falar de Cato, ele...

  Dou as costas para ele e volta a andar assim que eu escuto o nome de Cato.

  -Não. Espere. –sinto sua mão em meu ombro.

  -O que é? Não quero saber nada de Cato agora! –aviso.

  -Ok, eu só quero dizer que ele...

  -Não quero saber dele! –repito.

  -Clove vamos lá! O que ele te fez de tão ruim na noite passada!

  -Ele te contou?! –exclamo.

  -Não... que dizer sim... quer dize mais ou menos...

  -Eu não acredito!-começo a andar novamente.

  -Clove pro favor.

  -Ele te pediu pra vir aqui? –viro-me bruscamente.

  -Não. Ele não pediu, ele nem sabe que eu estou falando com você. Agora que sabe me deixa falar? É só por um minuto.

  Penso um pouco.

  -Um minuto. –digo secamente.

  -Ok olha só... Cato é idiota e você sabe disso... no começo ele fazia isso com você por realmente fazer, ele queria te ver sofrer... mas aquilo da noite passada ele não fez pra te machucar, mas ele não sabe lidar com o que esta acontecendo com ele ok? Então o perdoe por isso, Cato pode até ser mal quando quer, mas ele também consegue ser bom... só que ele não sabe muitas vezes como, entende?

  -Acho sim.

  -Então apenas o perdoe pelo modo como ele age às vezes, mas ele também tem medo de se machucar, Clove. É por isso que muitas vezes ele machuca as pessoas. Cato é uma boa pessoa, ok? Apenas o perdoe. –fico em silencio. –Eu já acabei, desculpe por talvez ter tomado seu tempo.

  Viro-me novamente, sem dizer nada, e simplesmente me afasto.

  “ele também tem medo de se machucar, Clove.”

  Quem poderia machucar Cato? Garotas? Não, todas elas caem aos seus pés. Amigos? Duvido, ele pode ferrar qualquer pessoa que ele não goste. Pais? Nunca, eles sempre dão tudo o que ele quer. Então realmente não sei do que Marvel estava falando. Após que foi Cato que pediu para ele fazer isso, só pode.

   Não acredito que Cato contou a ele sobre o beijo. Ta e daí eu contei pra Fox e pra Kat, mas isso é uma coisa diferente...não é? Ah dane-se! É sim e pronto! Cato esta me chantageando ha um ano, ele poderia pelo menos poder guardar segredo sobre ontem, isso é o mínimo!

   Uma coisa que ocorre e paro de andar. O que mais Cato contou a Marvel? Algum de meus segredos? Sobre a outra vez que nos beijamos? Provavelmente nunca vou saber.

   Volto a andar. Não sei mais o que fazer, já estou quase desmaiando de canseira e ainda tenho que voltar pra casa onde provavelmente meu irmão ainda me odeia e meus pais preparam as férias felizes em família, onde na cabeça deles eu e meu irmão somos muito felizes juntos.

   Com passos lentos volto pra casa, não é tão tarde quando chego em casa, mas já havia bastante tempo desde que sai, então meus pais devem estar simplesmente pirando.Mas quando chego em casa apenas meu irmão esta lá.

   -Se arrume. –diz ele sem tirar os olhos da TV.

   -Por que?

   -Temos que ir na empresa estúpida do seu amiguinho.

   Amiguinho?

  Não falo mais nada subo e me arrumo. Apenas penteio meu cabelo e troco de roupa, coloco apenas outra camiseta e pronto. Dane-se hoje não preciso parecer arrumadinha e fofinha, bom pelo menos minha mãe não esta aqui pra me obrigar a pensar assim. Desço e sem falarmos nada eu e Jack vamos para o carro.

   Nunca tinha ido à empresa dos pais de Cato, nunca tive motivo pra isso. Ela pode ser definida em uma palavra: enorme! Uau! Não sei no que eles trabalham, mas nossa isso sim é um lugar grande e olha que nem passei direito para dentro, estou apenas na recepção

   -No que posso ajudar? –pergunta uma das recepcionistas.

   -Ah nós estamos...

   -E ai Samanta! –a voz que já estou cansada de ouvir interrompeu meu irmão. Olho para ele sem acreditar. O loiro mais irritante do planeta se aproxima e fica bem ao meu lado.-Meus pais falaram pra eu vir pra cá onde eles estão?

   -Seus pais e os amigos deles estão no escritório de seu pai, pode subir .-diz ela. –E vocês?

   -Eles são os filhos dos amigos dos meus pais, Samanta.

   -Ah então podem subir.

  E o que fazemos. Cato e Jack começam a conversar simplesmente se esquecendo de mim. Isso me deixa um pouco irritada. Cato poderia pelo menos me dar um “oi”, ou me xingar como de costume, ele poderia falar alguma coisa sobre... não! Não com meu irmão aqui, mas mesmo assim... sei lá, não me ignorar completamente.

   Quando chegamos ao escritório, Cato entra sem nem mesmo bater antes. Quando entramos, os pais de Cato e os meus estão sentados a mesa conversando.

   -Oi crianças que bom que chegaram. –diz o pai dele. –Sentem-se.

   Nos sentamos.

   Eles começam a conversar novamente, não consigo prestar atenção no que, apenas fico encarando discretamente Cato do outro lado da mesa. Ele também me encara. Depois de um tempo tento desviar o olhar, mas não consigo. E eles continuam a conversar sobre alguma coisa, acho que eu devia estar prestando atenção, não consigo fazer isso, só consigo prestar atenção nos brilhantes olhos azuis que me encaram do outro lado da mesa. Apenas consigo escutar as ultimas palavras que meu pai disse:

   -Iremos passar as férias juntos em nossa casa de campo.