Bom eu tinha optado pela primeira opção. Então lá estava eu em frente à porta do apartamento do Shaka, pensando pela vigésima vez se eu deveria bater ou correr.

Bom se eu batesse na porta teria que enfrentar Shaka, o grande modelo, o deus grego em forma de homem e o homem que gosta de homens. Já se eu corresse o porteiro poderia achar que eu era uma maluca que tinha entrado lá para fazer-sei-lá-o-que e chamaria a policia. Chamando a policia eu estaria muito enrascada, mais do que já estou nesta atual desfavorável situação. Onde eu fui amarrar meu jegue, Deus?

Ok, primeira opção me parece bem racional, afinal eu tinha saído mais cedo do trabalho justamente para isso. E olha que não tinha sido nada fácil. Eu tive que inventar uma mentira leve para supervisora e ainda tive que mentir para o porteiro deste chiquérrimo prédio para poder subir ao andar da divindade modelistica (mais conhecido por mim como pai do meu filho).

Eu bati na porta, mas não foi um loiro, alto e indiano com cara de europeu que me atendeu. E sim um cara com cabelos lilases, sombra celhas incomuns com uma expressão confusa, para não dizer assustada. E graças aos céus ele estava devidamente vestido, seria muito traumatizante flagrar Shaka com seus casinhos em alguma situação constrangedora.

- Oi, meu nome é Begônia e eu preciso falar um assunto super sério com o senhor Shaka. – Bom quando o meu cérebro funcionou eu consegui cuspir as palavras. E não sei porque diabos eu chamei aquele loiro de senhor. Pareci uma adolescente.

- Begônia entra aí, eu vou chamar o Shaka. – A face dele pareceu tomar um tom de compreensão quando pronunciou meu nome. Ah, se aquele loiro oxigenado tinha dito alguma coisa. – A propósito eu sou Mu, sou amigo de infância do Shaka. – Amigo, sei hum. Com esse loiro tudo pode ser suspeito. – Seu rosto não me é estranho. – Antes que eu pudesse retrucar, ele foi mais rápido. - E não é da festa, deixe me lembrar de onde é que eu á digo. Enquanto não lembro vou chamar o Shaka. – A festa! Droga! Ele devia saber de alguma coisa. Bom se ele fosse o melhor amigo do Shaka, ele deveria saber de tudo. Nããããããããão! Isso é uma tragédia.

Durante meu piti interior ele sumiu por uma porta e apareceu por outra me tirando do meu devaneio pessoal.

- Parece que vocês têm muito a dizer um ao outro. Vou para casa da Cecília, Shaka. Então só me ligue daqui a uns dois dias. Você sabe o quanto ela odeia que você me monopolize ou a interrompa. – Mu saiu pela porta me dando um simpático sorriso, apesar do comentário malicioso sobre à casa da Cecília.

- Cecília isso, Cecília aquilo. Buda, que mulherzinha mais psicótica. – Shaka ainda não tinha me visto, ou melhor, fingia que não me via. Então eu logo fiz minha presença ser reconhecida. A hora era agora.

- Então eu disse que não ia te procurar que era para você ficar tranquilo, mas ocorreu um probleminha. – Mentalmente eu queria me socar. Uma gravidez não era um problema, ou nesse caso era. Tanto faz. A questão era como eu poderia dar uma noticia daquelas. Eu não estava preparada para falar e aposto que ele não estava preparado para ouvir.

- Probleminha? – Ele agora estava sentando no sofá de couro branco da casa dele. Nunca tinha visto um objeto mais fetichista do que aquele sofá.

- Então, por onde eu começo? – Eu me auto convidei a me sentar naquela coisa que ele chamava de sofá.

- Do começo, por favor. – Ele me olhava no fundo dos olhos. E com aqueles límpidos olhos azuis, eu pude ver minha alma refletida ali.

- Há muito engraçadinho você. Voltemos à fatídica noite. Nenhum de nós dois estava sóbrio. E por isso nós não nos lembramos de nos protegermos. – Fiz uma pausa dramática. - Parabéns papai. – Nesse ultimo instante eu entreguei o exame de sangue positivo.

Bom o que aconteceu a seguir foi... Eu nunca achei que uma pessoa pudesse ter varias cores. Vermelho, verde, amarelo e por fim azul. Bom pelo menos ele não tinha desmaiado como da ultima vez. Se bem que da ultima vez a noticia tinha sido menos drástica.

- Eu não acredito. – Ele segurava o exame e me olhava com sua costumeira serenidade. Aquela calma toda tinha me abalado. Aquela frase sugeria que ele estava me chamando de golpista.

- Ótimo. Daqui a seis meses eu entro com exame de DNA, ou antes, disso eu sento em algum programa televisivo e faço tua cova. – Eu não era vingativa, na verdade eu era tranquila. Tá bom, eu era rancorosa e vingativa. Tudo que eu pensava nestes últimos três meses era exterminar da face da terra Shaka Virgens. 

Olha, eu tinha me embebedado, bem isso era problema meu. Depois flertado com ele, que também estava bêbado. E depois eu tinha perdido meu selo com ele. Para ficar mais dramático ele ainda por cima é gay. Mas como minha ‘sorte’ é grande, eu engravidei. Veja só, como se minha vida já não fosse bastante dramática. Ah, esqueci ele ainda duvidava de mim.

- Eu não sei o que você acha que eu sou, ou com quem você acha que eu ando, mas se não leu aí no papel. São três meses de gravidez e são três meses desde aquele episodio vergonhoso. – Eu tinha me levantado do sofá e agora andava em direção à porta. – Eu descobri um mês depois e rezei para que fosse psicológico erro, mas depois fez dois meses e ainda não era um erro e é duro para mim. – Eu tinha perdido toda pose. Estava a ponto de chorar. Maldito humor de grávida. – Sabe não é você que não vai entrar nas suas melhores calças jeans, ou ver as outras pessoas perguntando sobre o pai, ou enfrentar a minha família, meu Deus minha mãe vai enlouquecer mais do que á é, ou parir essa criança. – Eu respirava fundo e tentava não atropelar as palavras.

- Realmente eu não vou saber. – Como ele conseguia manter aquela distancia e aquela fria pose superior?

- Não acredito que esperei três meses para vir dizer isso e você reagi desse jeito. Eu não queria vir, deve ser porque eu á esperava isso. – Então depois de dizer isso eu me permitir chorar.

Eu chorei tão doído que era difícil respirar. E olha que eu fiz tudo isso sem sair da casa da divindade loira. Eu chorei tanto que nem sei em momento eu fui parar no chão chorando. Eu perdi a noção de tempo. Tudo que pude vir depois de um tempo foi uma mão branca segurando um copo de água. Provavelmente teria açúcar.

- Esta melhor agora? – Shaka me olhou inexpressivo.

- Não, a vida ainda continua. – Eu peguei o copo e não bebi. Minha natureza desconfiada não me permitiu essa liberdade.

- Sinto muito ter agido tão friamente, mas eu ainda não acredito. – Eu estava pronta para retruca-lo, mas ele não permitiu. – Não acredito que eu dormi com uma mulher, não acredito que vou ser pai, você tem seus problemas e eu tenho os meus. – Ele tinha aceitado a gravidez? – Eu nunca achei que fosse dizer isso, mas eu estou em crise. – Oh coitado! Ele acha que eu não estou, é. - Passei 29 anos da minha vida tendo plena consciência da minha opção sexual e controle total da minha vida. E bastou uma festinha e uns copinhos de álcool para poder criar esta situação toda.  – Ok, ele era a pessoa com mais sangue frio que eu tinha conhecido na vida. Como ele podia ser tão controlado. Mas que paciência divina ele tinha.

- Ótimo! Nós dois temos um problemas em comum agora. - Depois de dizer isso eu sorri como uma sádica e olhei com minha típica superioridade inexistente. Oh! As vezes parecia que eu não pensava , soltava umas frases malucas, uns pensamentos desconexos em voz alta, talvez fosse minha criação familiar incomum.

- Não importa agora. Bom, acho que o importante é nos acalmarmos e pensarmos. Veja que irônico pela primeira vez vamos pensar racionalmente. – Ele parou e me observou profundamente. Ele não sabia que raiva aquele gesto me fazia. – Desde a última vez que nos vimos não paro de pensar na adorável mocinha de cabelos loiros queimados pelo sol. – Ele parecia impassível naquela frase murmurada.