Incertezas Mutantes escrita por Sephyra Lune


Capítulo 8
Esconderijos


Notas iniciais do capítulo

Hoje tem ♥ para várias pessoas:
♥ GLEEk pela recomendação e pelos comentários!
Por favoritarem a história
♥ Pimmentas
♥ Dark Ranger
E também pelos comentários:
♥ Little Baker
♥ Carlos H Lehnserr
Muito obrigada, amores! *-*



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O sol já havia nascido a cerca de uma hora quando os primeiros raios atingiram a caverna e iluminaram o rosto de Jully. Ela abriu os olhos e observou tudo desconfiada. Ainda restava esperança que todo o dia anterior fosse apenas um sonho e que ela acordaria segura na mansão. Ao invés disso, estava em uma caverna, deitada sobre o peito de um homem que havia poucas horas era um completo estranho para ela e agora a abraçava. Jully moveu-se, a coluna doendo por ter dormido no chão duro e frio, fazendo Gambit acordar. Ele a fitou por um momento antes de desacomodá-la de seus braços e levantar, indo em direção à saída da caverna.

Jully sentou no chão e encarou o sobretudo que havia servido de cobertor para ela. Gambit a havia deixado sozinha e ela sentiu vontade de enfiar as mãos nos bolsos e descobrir o que aquele misterioso homem poderia carregar. O pensamento de como ele a havia defendido do homem do posto de gasolina e de como havia ficado ferido por causa dela a fez desistir da ideia. O barulho de seu estômago a fez voltar a si e ela dobrou o casaco e saiu da caverna em busca de seu companheiro de fuga. Jully reparou nas pegadas sobre a terra ainda úmida da noite e as seguiu, chegando até um pequeno curso de água, onde Gambit estava lavando o rosto. Ele virou-se rapidamente em direção à Jully quando ela passou e raspou em um arbusto para desviar de uma raiz de árvore bastante nodosa, fazendo barulho. Ela recuou um passo para trás com medo que ele a atacasse e ela tropeçou na raiz, perdeu o equilíbrio e atingiu o chão com uma pancada forte. Ele agilmente andou até ela e ofereceu uma mão. Jully estava corada e aceitou a ajuda para levantar-se.

Bonjour. Ça va?

– Er... Bom dia. – Ela estava constrangida por ter se assustado – Obrigada.

– Desculpe se te assustei. Pensei que pudesse ser alguma outra pessoa.

– Temos que ficar preparados... – Ela baixou os olhos e lembrou que ainda segurava o casaco dele – Ah, eu vim para devolver isso. Obrigada.

Gambit recebeu o sobretudo de volta e o vestiu. Ele arrumou a gola em seu devido lugar antes de colocar a mão nos bolsos do casaco. Ele parecia estar checando se seus itens estavam ali e Jully ficou orgulhosa de si de ter resistido à vontade de descobrir o que ele guardava ali.

Merci. Temos que seguir adiante.

Jully foi até o lago e lavou seu rosto também. A água era limpa, gelada e calma, possibilitando-a de enxergar seu reflexo. Ela secou as mãos nas calças e o rosto na roupa, visto que nas condições que eles estavam isso não faria diferença.

– Você não sente fome? Mesmo fugitivos precisam se alimentar de vez em quando!

– Se andarmos um pouco mais há um restaurante à beira da estrada onde podemos parar.

– Seria ótimo!

Jully ignorou mais uma vez os sons de seu estômago e os dois voltaram a andar seguindo o curso da estrada. Eles haviam andado por mais de meia hora em completo silêncio. Ela estava com fome, mas ao mesmo tempo não conseguia se desligar da preocupação que a levara a fugir na noite anterior:

– Gambit... Será que não deveríamos voltar e checar se os outros estão bem? Eles já deveriam ter nos alcançado a essa hora...

– Quais foram as ordens que você recebeu?

– Só me mandaram fugir. Apenas isso.

– Acho que você deveria segui-las. Mas, se quiser, voltarei com você à mansão. Só é mais simples para te rastrearem se seguir a rota combinada.

Ela consentiu com a cabeça. De fato seria mais fácil para Jean e Scott fazerem cálculos de sua localização baseados na ordem que eles haviam lhe dado.

Após mais quinze minutos de caminhada, eles finalmente avistaram uma lanchonete. Era apenas um chalé de madeira escura e envelhecida cujas bordas das janelas pareciam ter sido recentemente pintadas de branco. A única referência à comida que eles tinham, além do cheiro que parecia delicioso, era de um letreiro com diversas lâmpadas queimadas.

Gambit entrou no local seguido por Jully e foram sentar em uma das mesas mais afastadas, também em madeira. A garçonete, uma senhora de uns 60 anos, saiu de trás do contrastante balcão refrigerado metálico e andou até eles com o cardápio. Eles o receberam e analisaram até que Gambit pediu um café e um sanduíche e Jully optou por um suco de laranja e um misto quente. Quando a garçonete se afastou, Jully indagou Gambit:

– Você me falava ontem sobre sua história com Magneto, sobre sua casa. Quer contar mais?

– Hum... – Ele torceu a boca – Não é uma das minhas lembranças preferidas que goste de conversar durante um café da manhã. Você deve possuir algumas desse tipo. Todo mundo as têm.

– Queria eu ter... – Jully sorriu triste de volta – Qualquer lembrança do meu passado ou de quem eu sou me faria feliz...

– Você não se lembra de nada? O que aconteceu?

– O Professor Xavier está buscando respostas para mim. Segundo ele, eu tostei minha memória em uma viagem no tempo. Tudo o que lembro é desde o momento que cheguei aqui e fui acolhida por um homem que chamava de padrinho e que cuidou de mim. Após ele ter sido assassinado, o Professor convidou para que eu me mudasse para o Instituto.

– Sinto muito pelo seu padrinho. – Gambit segurou a mão de Jully que estava sobre a mesa. Ela apertou a mão dele de volta e sorriu para ele. Ele a soltou quando a garçonete se aproximou.

– Seus pedidos!

Ela colocou os pratos, copos e xícaras na frente eles e se afastou. Era notável a empolgação em sua voz por ter clientes, pois parecia que o estabelecimento não tinha muitos adeptos. Ambos agradeceram a ela e ela se afastou novamente. Gambit deu uma mordida em seu sanduíche no mesmo tempo em que Jully havia dado quase três famintas dentadas em sua torrada. Ele sentia necessidade de compartilhar um pouco de si com aquela garota e então o fez:

– Quando eu era pequeno, alguém certo dia invadiu nossa casa, matou minha mãe, me sequestrou e deixou meu pai lá, sozinho. Eu nunca quis saber mais da história até recentemente, quando algumas pistas me levaram ao invasor que você já conhece muito bem.

Jully terminou metade de sua torrada, limpou a boca com o guardanapo e tomou um gole de seu suco antes de completar o pensamento de Gambit:

– Magneto... E você nunca tentou encontrar seu pai?

– Não... Mesmo naquela época eu sabia que ele era culpado demais para continuar vivo. Ele tinha muitos inimigos.

– O que te levou a desconfiar de Magneto?

– Tive acesso a uma série de lembranças de infância que haviam sido apagadas pelo trauma. – Ele notou o interesse de Jully crescendo em sua direção – Mas acredite, há coisas que devem ser deixadas esquecidas.

– Como você as recuperou? As lembranças? – Ela ignorou completamente o conselho dele.

– Com o auxílio de uma máquina que fica no laboratório dele. Acabei sendo uma cobaia por acidente.

– Você sabe onde ela fica? Pode me levar até ela?

– Eu nunca faria isso! É muito perigoso passar por isso!

– Nem se eu lhe implorasse?

– Não, isso não aconteceria.

– E se eu prometesse a você que só vou olhar a máquina de longe, não vou fazer nada?

– Não, você não vai ter benefícios de apenas olhar.

– E se eu pudesse usar meus poderes de novo? Se viajei no tempo uma vez, talvez consiga de novo, talvez consiga trazer sua vida antiga de novo ou pelo menos evitar o que aconteceu!

Gambit deu mais uma mordida em seu sanduíche. Era inegável que a proposta era tentadora a ele. Voltar à sua vida de criança, rever sua mãe seria algo impagável, mas ele sabia que seria muito errado e que poderia trazer consequências terríveis ao presente.

– Não. – Negou mais uma vez – Devemos nos conformar com certas coisas, algumas não podem ser mudadas. Você mudou seu presente e seu passado foi o preço da viagem. Se mudar o meu passado, você poderá se perder no tempo, ou pior, acabar com a vida de muita gente. As consequências de um ato tolo e egoísta meu seriam imprevisíveis.

– Tudo bem. Você ganhou, desisto. – Disse acenando o guardanapo como se fosse uma bandeira branca com um tom triste na voz.

– Esqueça essa ideia maluca, por favor.

Jully revirou os olhos conformada. Eles terminaram seu café da manhã em silêncio que foi quebrado por ela após largar o copo vazio de suco na mesa.

– Seguiremos no mesmo rumo?

– Podemos seguir ou eu posso te deixar em um lugar seguro e retornar à mansão para ver como estão seus amigos.

– Sem chance, se você for para lá, eu irei com você.

– Magneto pode estar lá e é um risco que não vou deixar você correr.

– Serão mais dois contra ele.

– Será mais um apenas. Você está sem poderes e não pode lutar.

– Qual é? - Jully franziu a testa irritada – Por que você tenta me proteger tanto? Não sou uma garotinha inconsequente.

– Não? Então como você pretende pagar pelo que comeu?

Jully colocou as mãos nos bolsos. Tinha saído às pressas da mansão e não havia pegado dinheiro ou qualquer pertence seu. Gambit procurou um bolso interno do casaco e colocou notas suficientes na mesa para pagar o que haviam comido. Seu gesto deixou Jully mais irritada e ela revirou os olhos e saiu na sua frente do bar. Ele a seguiu, mas ela andava decidida, sem olhar para trás, o mais rápido que conseguia. Gambit a chamou pelo nome inteiro duas vezes e ela não parou. Ele se irritou e parou atrás dela para tentar uma última vez.

– Juliette. Se você não quiser mais minha ajuda, tudo bem, eu irei embora. – Ela não parou nem respondeu, então ele provocou – Mesmo que você continue a agir dessa forma inconsequente.

Ela parou bruscamente e se virou andando na direção dele. Os dois ficaram face a face por um momento. Jully tinha os olhos cheios de lágrimas e Gambit podia sentir a raiva que ecoava em sua voz.

– Escuta aqui! Eu não sou inconsequente!

Jully apontou para ele e foi surpreendida quando ele virou seus dois pulsos para baixo e a imobilizou, sem causar dor. Ela tentou se livrar dele, mas Gambit era muito mais forte e preparado do que ela.

– Por que você se ofende tanto com isso? Com comentários idiotas?

– Por que você não me dá respostas? – Lágrimas de raiva e humilhação desceram pelo rosto dela. Ela queria ir embora, mas sabia que não estava preparada para se virar sozinha caso encontrasse algum perseguidor.

– Na hora certa você vai saber. Vou te contar um dia por que estou te protegendo hoje. Mas não vou falar nada agora. Agora você pode ter a minha ajuda ou me mandar embora. A escolha é sua,

Jully fitou-o por um momento, pensativa e sentiu sua respiração antes ofegante, acalmar-se. Gambit parecia conhecer o lugar e ser sua melhor chance de sobrevivência. Ela parou de resistir à imobilização dele e ele a soltou.

– Me desculpe. Eu estou nervosa com essa situação.

– Estamos juntos nessa?

– Sim, estamos.

Gambit esboçou um sorriso. Ele não conseguia entender por que aquela garota lhe causava um efeito de fascinação como ele nunca havia sentido e ativava seu instinto protetor. Ele sabia que era esse o efeito que causava nas pessoas e que, provavelmente, ela só tivesse aceitado sua ajuda na fuga por seu dom de sedução, mas nunca tinha sido vítima de seu próprio mecanismo. Ele estava feliz por fugir com ela e tê-la ao seu lado, mas não podia negar que fazê-la correr qualquer riscos estava deixando-o desconcertado. O tempo que passaram juntos havia sido pouco, mas ele não queria perdê-la, pois sabia que ter mais sangue em suas mãos apenas o guiaria de volta ao desespero. Prometeu a si mesmo, então, que a pouparia de riscos desnecessários. Gambit balançou a cabeça afastando esses pensamentos e voltou a fitar a garota.

– Vamos mudar nossa rota. Vou te levar para a mansão.

– Por quê?

– Vai ser o lugar mais seguro onde posso te levar. Você estava certa em querer voltar lá. Vamos.

Assim, a discussão terminou empatada. Gambit recomeçou a andar pelo caminho de onde vieram e Jully o seguiu. Ela queria saber muito mais ainda sobre seu novo protetor, mas o clima no momento não estava aberto a perguntas e suas preocupações retornavam à mente com força maior. Ela só queria voltar para sua nova casa com seus novos amigos e descobrir se todos estavam bem.



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Notas finais do capítulo

♥~



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