Querida Ally,

Fiz algo hoje que eu não fazia há muito tempo. Toquei violão.

Eu tinha dado o meu para o Thiago, mas peguei hoje só para relembrar dos bons tempos. Dos tempos em que eu cantava aquelas músicas calmas e românticas para você e você pirava com elas.

Dedilhei as cordas e logo me vi tocando “A Minha Menina”.

Lembra? Como você sempre pedia para que eu a tocasse? Como eu comecei a te chamar de Minha Menina? Como depois eu comecei a te chamar de Ritinha e você me chamava de Arnaldo?

É...

Memórias assim serão difíceis de serem esquecidas. Não que eu queira que isso aconteça... Ah, você me entende, né?

Ursinha, lembra de uma música que eu gravei para você? Uma bem lenta e comprida?

Ela se chama Detalhes. Eu comecei a tocá-la hoje e, mesmo que eu não queira, comecei a chorar.

Tem partes nelas que é impossível não lembrar imediatamente de você.

Eu lembro que cantava bastante pra você. Mas ainda me lembro da primeira vez que cantei essa música pra você.

“E não adianta nem tentar me esquecer, durante muito tempo em sua vida eu vou viver. Detalhes tão pequenos de nós dois, são coisas muito grandes pra esquecer. Toda hora vou estar presente, você vai ver.”

Você levou a mão à boca e sorriu largamente. “Que linda, amor!” Você disse, me fazendo sorrir.

“Se outro cabeludo aparecer na sua rua. E isto lhe trouxer saudades minhas, a culpa sua. O ronco barulhento do seu carro, ‘um velho sutiã avermelhado ou coisa assim’ (essa é a parte que eu mudo a letra da música e você começa a rir, envergonhada, como sempre fez) imediatamente você vai lembrar de mim”

Essa música diz tanto do que eu gostaria de lhe dizer agora.

Eu gostaria de fazer com que o tempo voltasse e eu pudesse impedir aquela nossa briga boba, que eu nem lembro porque começou. Te impedir de sair naquela noite. Te impedir de pegar o carro. Te impedir de entrar na escuridão da noite. Te impedir de passar direto naquele farol vermelho. Te impedir de bater naquele poste. Te impedir de ficar por seis meses em coma...