–Você nos deu um baita susto, sabia?-Kate exclamou quando foi a minha casa mais tarde naquele mesmo dia. Eu tentei sorrir para ela, mas estava furiosa demais para isso. Então acho que tudo que pude fazer foi uma careta.

–Desculpe.- eu disse, me ajeitando melhor na cama.

Holly jogou-se na cama ao meu lado e fitou meu quarto com olhos minuciosos, como se quisesse decorar cada detalhe. Eu havia trazido poucas lembranças de Los Angeles e todas as fotos ainda estavam guardadas nas malas, eu não correria o risco de que alguém as visse. A única que estava fora era uma foto minha com Sarabella e Seth, Kate pareceu vê-la e foi correndo pegar.

–Ai, meu Deus, você conhece Seth Clearwater!- exclamou, correndo para mostrar a prova para Holly.- Vocês parecem tão íntimos nessa foto.

Holly concordou com a cabeça assim que a viu.

–É, parecem namorados.

Eu soltei um muxoxo e elas se entreolharam.

–Ou ex-namorados.- Kate tentou, cuidadosa, depois pareceu se empolgar.- Minha nossa, você namorou Seth Clearwater! Eu vou te idolatrar pelo resto da minha vida.

Eu não me aguentei e tive que rir, no entanto foi uma risada sem humor e elas pareceram um pouco preocupadas, mas logo passou.

–Então- Holly começou, meia hora mais tarde-, alguma chance de vocês voltarem algum dia?

Eu sorri para ela com os olhos marejados.

–Até haveria se o bebê de minha prima não fosse dele.

(...)

Depois de dizer isso eu acabei caindo no choro e contando toda a verdade para as duas, mas as fiz jurar segredo. Kate e Holly eram as únicas amigas que eu já tive e não queria estragar tudo isso por conta da fama de meu pai. Elas ficaram um pouco irritadas no início, mas acabaram entendendo. De uma forma ou de outra, isso intensificou nossa amizade e eu me sentia grata por isso. Kate e Holly sempre me pediam para falar sobre as pessoas que conheci e sobre os lugares que fui, elas não acreditavam que eu conhecesse tanta gente famosa e rica.

Mas é engraçado perceber que, apesar de estarmos todos no mesmo planeta, estamos em mundos diferentes. Raramente alguma pessoa sem dinheiro e fama pode entrar nesse mundo ou na vida de alguém daquele meio, mas é bom saber que isso não me afeta...tanto.

–Acho que a Srta. Cullen não vem hoje.- Kate disse, sentando-se na mesa ao meu lado. Observei-a com meu- agora costumeiro- olhar indiferente, mas ela sabia que eu não estava cortando-a. Ela entendia como eu me sentia.- Parece que o avô dela teve um infarto, bem, é uma pena. Eu gostava do Charlie.

Eu a observei sem entender.

–Ele era o xerife da cidade há uns cinquenta anos.- comentou indiferentemente.- Ele e seu avô eram melhores amigos, estou impressionada por você não saber de nada.

Eu comprimi os lábios e olhei para frente, mais pessoas começavam a entrar na sala e se amontoar nas mesas ao nosso redor.

–As coisas têm estado bem complicadas lá em casa ultimamente, não acho que Billy saiba o que aconteceu com o xerife. – retruquei. Ela pôs a mão no meu braço e apertou, com força suficiente para que eu soubesse que ela estava lá para mim. Sorri fraco em agradecimento.- O pior é que vou ter que me pronunciar sobre o assunto, o que eu realmente não quero fazer.

Kate virou-se completamente para mim agora e eu a encarei novamente.

–E o que você vai dizer?- Exclamou, erguendo um pouco a voz.- Que está tudo bem e que vai apoiar sua irmã em tudo porque ela é a pessoa mais importante de sua vida? Não vou deixar você fazer isso, Sarah.

Eu estava pronta para respondê-la quando Ethan entrou na sala, ele estava rindo com Carlie, Emma e Jon. Eu suspirei, tenho estado meio afastada da enrolação entre mim e Carlie ultimamente. Não que eu ache que vou voltar para o páreo, afinal faz apenas duas semanas que descobri tudo sobre Seth e minha irmã. Estou emocionalmente incapaz de entrar em uma competição, ainda mais se ela for por um garoto. Sabe aquela história de que quando você para de procurar por alguém, é essa pessoa que começa a te procurar? Pois bem, aconteceu mais ou menos assim.

Ethan mandou seu grupinho se sentar e se aproximou de nós, olhando profundamente para mim. Em qualquer outro dia eu teria me sentindo apta a falar com ele normalmente, mas eu estava mais seca do que o normal hoje.

–Ei, eu nem perguntei como você estava depois do que aconteceu.- comentou, parecendo constrangido por estar.

Eu concordei com a cabeça.

–Geralmente as pessoas só perguntam quando se importam, o que não é o seu caso.- Retruquei. Sabia que Kate estava me olhando em desaprovação, mas era o olhar de Ethan o que eu estava analisando, e ele parecia confuso e ofendido.

–Bom- ele gaguejou com alguma dificuldade-, você deveria me agradecer.

Eu ri em desdém e peguei minhas coisas.

–Eu teria ficado muito mais agradecida se você tivesse me deixado morrer.- E então saí da sala e corri para longe, mas já no corredor comecei a chorar.

Como minha vida tinha ficado tão triste e dramática? Eu me obriguei a me recompor e acabei decidindo fugir da escola por hoje. Tudo estava perfeitamente tranquilo no caminho que fiz até minha casa que eu realmente pensei que talvez o dia pudesse terminar sem mais imprevistos, mas eu, obviamente, estava errada, pois tão logo entrei pela porta, meu telefone começou a tocar.

Atendi sem ver quem era, como já era de costume. Realmente não achava que pudesse ser importante, talvez Holly ou Kate querendo saber onde eu estava. Mas novamente eu estava enganada.

–Lucy?- A voz soou do outro lado da linha, era a voz de Seth.- Lucy, é você?

Eu controlei as batidas do meu coração, porque agora realmente não fazia diferença se eu o amava ou não, e fiz o máximo que pude para manter minha voz livre de ruídos indesejados.

–O que você quer, Seth?-perguntei, a voz parecia tão tranquila que eu nem acreditei que aquela fosse realmente eu.

–Você, eu quero você.- ele respondeu e eu tive que fechar os olhos com força.- Olha, eu sei o que eu fiz e lembro de todas as coisas que já te disse, mas eu estava errado, Lucy. Agora eu sei o que eu quero, agora eu sei que é você, que sempre foi você. Volta pra casa que nós vamos resolver tudo.

As palavras que ele disse, todas elas, foram as quais eu fiquei oito meses esperando para ouvir. O engraçado é que ele as disse de forma sincronizada, exatamente como eu havia imaginado. Era como se ele tivesse entrado em minha mente, ou lido meu diário... Mas elas não me fizeram correr para os seus braços, ela fizeram com que eu sentisse nojo o suficiente para nunca mais querer olhar para sua cara novamente.

–Você está atrasado, Seth.- eu disse, sem mais conseguir controlar as lágrimas que caiam.- Você engravidou minha irmã, minha irmã! Eu não quero mais saber de você ou sequer ouvir seu nome. Prove que você tem pelo menos um pingo de vergonha na cara e não me ligue, porque eu não vou atender. Boa sorte, papai.- E desliguei o telefone em sua cara.

Sentada no chão da sala, tendo como único companheiro um violão velho que pertencia a meu pai, compus minhas primeiras duas canções.