Em Forks, mais precisamente em La Push, eles tem a costume estranho de fazer um luau em toda a lua cheia do mês. É uma coisa estúpida, mas meu avô me garantiu que era divertido. Eu não acreditei até ver que havia gente da minha sala lá, não era como se fosse uma festa, porque festas são bem diferentes de sentar ao redor de uma fogueira e ouvir as lendas que meu avô conta, mas de repente a ideia não era mais tão ruim.

                Meu avô me apresentou para várias pessoas que eu logo esqueci o nome. Era estranho ver o velho Billy Black tão confortável e confiante em um lugar, eu estava tão acostumada  a postura irritadiça e desconfortável que ele demonstrava em LA que nunca pensei que ele pudesse agir diferente. Nunca achei que ele pudesse ter um lugar para chamar de casa. É que eu tenho essa mania de sempre achar que o mundo gira em torno de mim, que se eu estou triste ninguém pode sorrir, de que se eu não tenho algo ninguém tem. Mas eu sempre me esqueço que existem mais de dois bilhões de pessoas no mundo e que mundos paralelos não existem.

-Seu avô é um cara bem legal.- Uma garota disse, sentando-se ao meu lado. Eu a observei bem. Cabelos negros, olhos igualmente escuros e uma boca carnuda, os garotos deviam ficar loucos com ela.

-É, ele é o.k..- eu disse, o que a fez rir.- O que foi?

                Ela começou a gesticular com as mãos e parecia muito constrangida.

-Desculpe, é o seu jeito de falar.- disse, comprimindo os lábios para não sorrir.- As pessoas falam assim no Havaí?-perguntou.

                Eu assenti, pensando se algum dia iria para o inferno por mentir tanto para todas essas pessoas. Se eu fosse, meu pai pagaria caro por isso.

-Acho que as pessoas falam assim em todo o país, menos aqui.- resmunguei, o que a fez abafar o sorriso. Eu sorri, me sentindo bem mais confortável.

-Hey, Carlie!- Algum garoto gritou. A garota ao meu lado se virou imediatamente e sorriu, acenando para um grupo de pessoas da minha escola.- Quer vir comigo, conhecer algumas pessoas?- Eu pensei por um momento.

                Não estava nem um pouco a fim de ficar conversando com meu avô até a fogueira estar grande o suficiente para nos aquecer, então eu assenti e a segui, limpando a parte traseira de minha calça com as mãos para tirar a areia. Era um grupo de pelo menos dez pessoas, todos eram parecidos e tinham um padrão de beleza comum. Todos menos três deles.

-Esses são Ethan, Emma e meu irmão, Jon.- Carlie disse, apontando para os três que tinham um padrão mais elevado de beleza.- Essa aqui é a neta do velho Billy.- Ethan e Emma fizeram uma careta. Eu semicerrei os olhos. Carlie me deu um sorriso amarelo.- O pai de Ethan e Emma nunca se deu muito bem com seu tio.-sussurrou.

                Eu sorri de um jeito presunçoso.

-Então parece que temos algo em comum.- Respondi, alto o suficiente para que os dois me ouvissem.

                                                               (...)

                Ethan e eu caminhávamos lado a lado pelos corredores da escola. Era sexta-feira e tudo o que eu queria era poder me enfiar embaixo das cobertas e matar aula, mas não podia. A verdade é que eu estava um pouco atrasada com a matéria e não podia mais faltar aula. Apesar de não tê-lo visto no dia que entrei na escola, Ethan e eu tínhamos muitos horários juntos.

-Doritos, são meus favoritos.- respondi quando ele me perguntou do que eu gostava de comer. Ele arqueou uma sobrancelha, ele parecia meu pai fazendo aquilo.- O quê?-perguntei.- Não estou brincando, devorei um pacote enorme essa manhã. Pode procurar na lixeira da casa do meu avô.

                Ethan riu, fazendo com que de repente eu tivesse vontade de rir também. Mas me contive, ainda esperava por uma resposta. E era bom que ele respondesse logo, porque eu não sou boa em prender o riso.

-É que você não está com mau hálito nem com os dedos coloridos.- esclareceu.- Pessoas que gostam de Doritos fedem a Doritos.

                Eu gargalhei com sua resposta e lhe dei um tapa no braço, de brincadeira. Foi enquanto eu fitava seus olhos brilhantes que percebi que ele era um dos caras mais bonitos que eu já tinha visto. Ele parecia tão confortável, confiante e novo...ria como uma criança. Sua risada era alta, alegre e contagiante.

-Bem, deve ser porque eu escovo os dentes e lavo as mãos.- Contrapus, quando paramos de rir. Ethan sorriu.

-Claro.- ele fez uma pausa e farejou o ar.- Espera, que cheiro é esse?

-Cheiro?

                Ele assentiu e foi aproximando seu nariz farejador da minha boca.

-Parece que é verdade, alguém andou mesmo comendo Doritos essa manhã.- disse, depois deu seu sorriso metidinho.

                Eu mordi o lábio e me aproximei mais um pouco dele, fazendo com que nossos narizes se tocassem. Erguendo as sobrancelhas, lhe lancei um sorriso maroto e o empurrei para longe. Emma, que assistia a cena de longe ao lado de Carlie, começou a rir. Mas esta não parecia muito satisfeita, percebi que havia feito merda tarde demais. Emma correu até nós e passou o braço por cima de meus ombros, zoando o irmão. Eu riria junto, mas estava preocupada com o olhar de tristeza que Carlie estava me mandando.

                Não consigo explicar, mas só a ideia de magoa-la me deixava doente. Me esquivei de Emma e caminhei até ela, deixando as risadas escandalosas dos dois irmãos para trás. Carlie mudou sua postura conforme eu fui me aproximando, ela parecia convencida e muito metida.

-Você gosta dele.- afirmei.- Eu...eu não sabia.

                Ela ergueu ainda mais o queixo e mexeu levemente as sobrancelhas.

-E por que eu te contaria? Nos conhecemos ontem.- retrucou, se aproximando mais de mim.- Você chegou há pouco tempo na cidade, então eu vou te dar um desconto, mas não espere que eu seja boazinha de novo.- e dito isso, saiu caminhando em direção aos dois, com um sorriso maior do que seu rosto.

                Tive que fechar os olhos para controlar a onda de vertigem que tomou meu corpo. Certo, eu não estava esperando que ela me tratasse como se fossemos melhores amigas, mas achei que depois daquele noite na praia ela não me trataria tão mal. Aparentemente, eu estava errada. É claro que estar quase beijando o cara que ela é a fim também não ajudou muito.

                Fiquei para trás e entrei sozinha na sala, sentando em uma das mesas mais afastadas que pude, não queria falar com ninguém, tudo estava confuso e eu só queria dormir. A chuva caia pesada do lado de fora da janela, e mesmo em baixo de dois casacos, eu estava com frio. A Srta. Cullen entrou na sala acompanhada de duas garotas e elas mantinham uma conversa animada, uma das garotas estava rindo por alguma coisa que minha professora disse. Por sorte ninguém parecia me notar ali, apoiei dois braços na mesa e deitei sobre eles, dormindo quase que instantaneamente.