Eu conhecia apenas três dos empregados que atualmente trabalhavam em nossa casa, e uma delas era minha antiga babá, Caroline. Ela foi a primeira pessoa que vi quando consegui encontrar a cozinha. Ela parecia ter acabado de chegar, mas me contou que agora vivia em uma casa modesta em nossa propriedade.

-Seu pai mandou construir cinco casas como a minha, para o empregados que moram longe. Minha filha ficou agradecida, ela acabou de casar e estava precisando de um cantinho para viver, mas nós não tínhamos dinheiro...Estou tão feliz que está de volta, menina Black- Disse, enquanto me envolvia em um abraço de urso.

-Ah, Caroline, senti muito sua falta- murmurei contra seu cabelo grisalho.- Você sempre acerta o ponto das torradas e meu avô é um verdadeiro desastre na cozinha, então nós vivíamos de massa.

                Ela gargalhou, provavelmente pensando o quão estranho isso deveria ser para alguém que era acostumada a ter de tudo.

-Que, pelo visto, é a única coisa que você sabe cozinhar- Comentou, o que me fez corar.

                Caroline pareceu estranhar o ato. Quer dizer, há apenas alguns meses eu era uma estrela de cinema, acostumada com todo o tipo de comentário sobre mim. Nunca fui envergonhada, sempre fui um pouco arrogante e até insuportável. Caroline parecia impressionada e alarmantemente feliz.

-Aquele lugar realmente te mudou, menina, nunca tinha te visto corar- Disse, passando um braço pelos meus ombros e me conduzindo para a sala de jantar onde uma mesa enorme de mogno ocupava o centro da sala. Havia lugar para umas quarenta pessoas naquela mesa, no mínimo.

                Caroline me posicionou no centro da mesa e me disse para esperar, todos logo desceriam para o café. Ela me serviu uma xícara e eu lhe pedi carinhosamente que esperasse comigo, desejo ao qual ela atendeu prontamente. Eu e Caroline sempre fomos muito próximas, então não me senti constrangida em lhe contar nada. Falei sobre Seth, minhas amigas, Ethan e meu avô. Comentei sobre Matt e o fato de ninguém saber que eu era, omitindo parte da verdade. Afinal, Kate e Holly sabiam, sim, quem eu era. O tempo passou mais rápido do que eu esperava e nós estávamos gargalhando quando alguém berrou:

-Lucy!- E correu em minha direção. Era Sarabella, ela estava usando um vestido verde e eu me levantei para abraçá-la.- Ah, eu senti tanto sua falta.

                Edlly sentou-se na cadeira á minha esquerda e me fez repetir quase tudo que eu tinha dito para Caroline. Leah e Jacob logo chegaram, eles pareceram felizes em me ver e eu estava mesmo morrendo de saudade, mas não fui tão gentil quanto deveria. Mas a situação piorou de vez quando Elizabeth e Seth entraram. Eu fingi não perceber, mas estava avaliando a expressão dos dois com o canto do olho. Eles estavam de mãos dadas, mas quando Seth me viu, largou a mão dela rapidamente.

-Lucy?- Elizabeth chamou, parecendo desesperada, irritada e esperançosa ao mesmo tempo. Eu me virei para ela, fingindo um sorriso alegre ao vê-la. A barriga de minha irmã já estava ficando saliente e ela parecia uma completa estranha para mim. Tentei encontrar algum resquício da irmã que conheci dentro de seus olhos, mas tudo o que eu vi foi uma parede que nos separava. Ela pegou novamente a mão de Seth, o tirando do transe.

-Oi- saudei-os, ainda sorrindo.- Vocês não vão tomar café da manhã?

                Eles se dirigiram à mesa, sentando à minha frente. Diferente do que esperava, não me senti enjoada ou com vontade de matá-los, só desconfortável. Seth fez algumas perguntas, mas eu fiz questão de responder para ninguém em especial. Elizabeth não se dirigiu diretamente à mim, coisa que eu agradeci imensamente.

-Então, Lucy, eu fiz um itinerário para você- Meu pai disse, atraindo minha atenção.- Nós teremos um encontro com algumas gravadoras amanhã pela manhã e eu marquei uma entrevista para você na quarta.

                Eu mordi o lábio e assenti, já imaginando que eu não teria muito tempo para descansar. Papai sempre me arrastou para o trabalho, e eu nunca me importei. Para mim sempre foi mais fácil me focar em fingir ser alguém que eu não era do que ficar em casa e agüentar tudo isso.

-Mas hoje nosso dia está livre- Leah exclamou.- Ah, eu quero te levar a tantos lugares. Planejei um dia inteiro com você, Sarabella e Elizabeth. Nós vamos às compras e ao cinema e...

-Demais- comentei, fingindo um sorriso. Eu gostava de Leah, não como as pessoas geralmente gostam de suas mães, mas ela daria uma boa amiga. Ela não era do tipo que se intrometia, mas podia ficar muito metida às vezes.

                Ela não pareceu perceber o sarcasmo na minha voz, mas meu pai  lançou um olhar me repreendendo. Ele sempre percebia quando eu estava sendo irônica e sarcástica, talvez porque ele fizesse o mesmo que eu. Mas por mais que eu detestasse a idéia de um dia inteiro com minha Leah e Elizabeth, eu queria passar um tempo com Sarabella, e não é como se eu tivesse escolha, também.

-Bem- meu pai disse, cortando o que Leah ainda falava sobre o passeio que queria fazer-, seu avô me ligou ontem. Ele disse que quer você por pelo menos mais três meses em sua casa, usou a desculpa da escola de verão. Disse que por mim não havia problema algum, mas que veria com você. Sabe que sempre podemos dar um jeito com a gravadora, você tem potencial e eles fariam qualquer coisa por um Black.

                Estava feliz por saber que meu avô se preocupava comigo o suficiente para me conseguir mais tempo longe de Elizabeth, e tive que usar todas as minhas forças para não sorrir.

-É, eu acho que seria bem legal- foi tudo o que disse, com medo que meu tom alegre me traísse. Leah fez beicinho, revirando sua comida.

-Ah, mas seria uma pena se você perdesse o nascimento do seu primeiro sobrinho, Lucy- Disse, fazendo com que Elizabeth e Seth sugassem o ar de forma desesperada.

                Minhas mãos, que estava sob a mesa, se fecharam em punhos e eu agradeci por ninguém poder vê-las. Sarabella, que aparentemente sabia da situação, colocou uma de suas mãos em meu braço, como que para me dar força, mas eu não olhei para ela. Tinha medo que meu pai percebesse que algo estava errado com a sua família perfeita. Ele e Leah se entreolhavam a cada cinco minutos, parecendo completamente tensos, mas eu não achava que tivessem descoberto algo.

-Bem, há males na vida que vem para o bem- respondi, sorrindo falsamente para minha irmã.- Estou me acostumando a Forks, é um pouco frio, mas as pessoas são muito agradáveis.

                Jacob me fitou com interesse.

-Ah, sim?- indagou.- Conte-nos um pouco sobre eles.

-Bem,- disse eu, depois de terminar de mastigar um morango.- eu fiz alguns amigos. Holly, Kate e...huh...Ethan- pode ter sido impressão, mas juro que vi a mandíbula de Seth se contrair.- Eles são legais. Tia Rachel foi muito legal e os filhos deles- Will e Matt- são adoráveis.

                Eu tinha me esquecido do quão formal eu agia em torno de meu pai, tentando mostrar à ele o quão crescida e madura eu era. A pressão familiar não existia em Forks, o que foi uma das razões para que eu gostasse tanto de lá. Quer dizer, eu amava meu pai, mas existem muitas coisas sobre ele que eu nunca me senti confortável sobre. Existem muitas merdas que ele fez que não dá para consertar ou perdoar, e eu me pergunto se ele sabe disso. Uma súbita onda de raiva me invadiu, e eu sorri o mais brilhantemente que pude. Atacaria meu pai com a minha mais recente arma, a verdade.

-Ah, e tem a minha professora de inglês- Limpei minha boca com um guardanapo.-, ela é tão legal.

                Leah pareceu interessada.

-Uma professora de inglês legal? Essa é nova. Qual o nome dela?

                Sorri docemente para meu pai, exibindo todos os meus dentes.

-Papai deve conhecê-la, seu nome é Renesmee Cullen.