Mia estava certa, eu não contara a história toda. Mas assim que ia contar a ela, a porta se abriu e Daniel apareceu:

- Ela ainda está aqui? – ele perguntou. Pelo visto ele não gostava de mim.

- Sim, Daniel, ela ainda está aqui. – respondeu Mia. – E vai ficar aqui por mais um tempo, então, por favor, seja um pouco mais educado.

Ele olhou-me torto e depois olhou para Mia. Admito que também não gostava muito dele, na verdade eu o mal conhecia, nem sabia o que ele tanto fazia para passar o dia inteiro longe de casa.

Quando ele sumiu pelo corredor, Mia pegou a minha mão e me levou para fora da casa de madeira. Sentamos em um banco que ficava em frente a casa, quase que à beira da colina.

- E agora, vai me contar? – ela estava impaciente.

- Vou, vou sim. – falei. Respirei fundo e comecei – Como eu já disse, eu fui internada em um hospital depois de receber um tiro. Quando acordei...

- Eu sei, você percebeu que estava sozinha e decidiu fugir. – ela me interrompeu.

- Na verdade, não foi isso que aconteceu. Quando eu acordei, percebi que havia uns fios ligados ao meu corpo. Saí da cama e olhei pela fechadura o médico conversando com os meus pais. Ele estava explicando... Ele explicou para eles que eu não sou uma 4 completamente... – dei uma pausa. Fechei os olhos e respirei fundo novamente para continuar – Eu também sou uma 7.

Mia me encarou ainda mais, com os olhos um pouco arregalados. Depois ela me olha como se eu estivesse brincando:

- Fala sério, Abby. Uma 7? – ela perguntou.

- Sim, eu sou uma 7. – falei. – Você não parece muito surpresa. Como você sabia que havia mais alguma coisa para eu contar?

- Sou uma 2. Significa que sou sensitiva. – ela disse.

- Mas Dylan não sentiu nada. Ele não se manifestou nem nada.

Ela desviou o olhar, eu pouco triste. Não quis perguntar o que houve, mas ela falou:

- Há mais ou menos dois anos ele não consegue sentir muita coisa. O dom dele enfraqueceu. E isso só acontece no final da nossa vida. Sinto que algo está diferente.

- Desculpa, mas quantos anos você tem? – perguntei. As habilidades dos 4 só começavam com os 15 anos.

- Tenho 9.

- Suas habilidades já apareceram?

- Sim, elas aparecem a partir dos 5.

- Ah ta, agora entendi.

- Só que o do Dylan começou mais cedo. E agora está acabando. – ela fala. Pensei ter visto uma lágrima cair, mas ela a limpou rápido.

Voltamos para a casa. Daniel estava na cozinha, mas na minha presença foi para dentro do quarto. Mia deu de ombros e pegou alguma coisa na geladeira. Fui em direção ao quarto de Dylan, onde eu estava dormindo, mas fui parada no corredor.

- Você tem que ir embora. – falou Daniel.

Eu reconheci a voz dele de algum lugar. Mas de onde?

- Por que eu tenho que ir?

- Porque você só trouxe problemas.

Percebi que ele segurava o meu braço. Estava começando a me machucar.

- Desculpe, mas aprece que já tinha problemas aqui, antes de eu chegar. – falei soltando-me e entrando no quarto. Deitei na cama e dormi.