A casa estava um pouco mais quente do que normalmente ficava. Sentamos nas cadeiras perto da mesa, conversando. Então decidi falar a ele:

- Daniel, nos últimos dias eu tenho pensado nessas coisas que tem acontecido comigo.

- Tipo? – ele perguntou bebendo um gole do refrigerante.

- Essas coisas de eu ser uma 2, 3, 4, etc. – falei – Eu acho que sou tudo isso. Acho que sou os 7.

- Só hoje você descobriu isso Abby? – ele perguntou sarcasticamente. Dei um riso abafado . – Se você conseguir se transformar em alguém e ler a minha mente ai sim você poderá ficar realmente preocupada.

Dei um sorriso torto e então a grande tela começou a piscar e um telefone tocou. Daniel olhou para a tela com um olhar que eu não soube dizer se era esperançoso ou assustado.

Ele empurrou a cadeira e aproximou-se da mesa. Fez sinal para eu sair por um momento e obedeci. Havia uns dois dias que aqueles aparelhos apitavam daquele jeito. Será que el está encontrando a pessoa que tanto procura?

Quando ele abriu de novo a porta, sentei-me na cadeira e disse:

- Daniel, eu sei que deve ser um pouco pessoal, mas eu te contei a minha história. Pode contar a sua também? – perguntei meio sem jeito, não sabia se isso o afetaria.

- Você já sabe tudo – ele disse pegando mais um refrigerante.

- Quem você tanto procura? – perguntei depressa, sem medir as palavras.

Ele parou e ficou me olhando. Então falou:

- Minha mãe. – ele falou quase que num sussurro.

- Mas ela não está morta? – perguntei surpresa.

- É isso que Dylan acha. – ele falou. – Mas o corpo dela nunca foi encontrado, só o do meu pai.

- Então se ela ainda estiver viva... Você vai atrás dela? – perguntei.

Ele assentiu que sim.

- Ela pode nunca ter se importado comigo ou com Dylan, mas não vou deixar ela ignorar a Mia! – ele falou batendo na mesa com força.

- Entendi. – falei ainda tentando raciocinar aquilo – E eles te deram alguma pista?

- Acham que ela pode estar na Europa. É típico dela. – ele falou secamente. Pelo visto eles não tinham uma boa relação.

Decidi calar-me, mesmo sendo meio difícil, pois o clima ficou pesado. Daniel abaixou a cabeça e então outro telefone tocou. E mais outro, mas nada. Nada de uma grande pista ou descoberta.

Deu um pouco de pena. Acho que agora entendi o porque de Daniel estar tão afastado dos irmãos, mas ao mesmo tempo não entendi o porque dele estar escondendo isso deles.

Quando deu 3 da tarde, pedi a Daniel para voltar. Não queria continuar naquele silencio e ele concordou.

- Por que não conta aos seus irmãos? – perguntei quando estávamos saindo da casa.

- Mia não sabe que nosso pai morreu, e Dylan não acreditaria, diria que isso não é conosco. – ele explicou.

- Mas eles sentem sua falta, precisam saber o que você tanto faz! Daniel eles se preocupam.

- Como você sabe?

- Me disseram. – respondi. Esperei para ver a relação dele, mas ele apenas estava me analisando. – O que? A sua “vozinha” acha que eu estou mentindo?

- Não, ela não diz nada. – ele fala – Abby não se meta, por favor. – ele já estava irritado.

- Como não me meter? Eles estão preocupados, eu moro com vocês, eles me falaram isso...

- Quando Dylan te disse isso? Quando ele te beijou ou foi depois? – ele perguntou.

Meus olhos se arregalaram com o choque. Ele sabia? Mas como? Dylan falara para ele?

- Como você...?

- Não importa como eu sei. – ele respondeu rapidamente.

- Importa sim. Como sabe!? – perguntei mais irritada.

- Pare, Abby, ou eu vou...

- Vai o que? – interrompi-o.

Mas antes que ele pudesse responder eu entendi. Seus olhos começaram a ficar vermelhos, vermelho sangue. Eu precisava correr, sair dali o mais rápido possível.

E foi isso que eu fiz.