O que Daniel deve estar pensando de mim? Por que eu fiz aquilo?

Depois que ele me disse que não queria ser SÓ o meu amigo, eu me levantei e saí correndo. Ele veio atrás de mim, mas eu o ignorei. Por que eu fiz aquilo? Eu quero ficar com ele...? Ou não? Eu não sei mais nada.

Sentei-me à beira de uma árvore, com o rosto nos joelhos. Eu realmente gosto dele, até um pouco mais que amigo, mas é tão estranho. Eu mal o conheço.

Percebi que alguém estava se aproximando. Pensei que fosse Daniel então falei:

- Vá embora, Daniel. Me deixe pensar.

Mas percebi que ele não disse nada. Quando levantei o rosto percebi que não era Daniel. Olhos vermelhos. Um 7.

O homem me encarava, parecia um louco. Na minha perspectiva, todos os 7 eram loucos, pelo menos fora assim que aprendi. “Se encontrar um 7, está morta” diziam todos. E agora esse medo me assombrava.

- Menina dos olhos diferentes. – ele disse. Meus olhos deviam estar arco-íris.

Cheguei para trás com medo. Engoli o seco quando percebi que o homem tinha uma faca.

O que eu faço agora? Correr. É isso que você deve fazer, Abby Ouvi alguém dizer. Devo estar ficando louca.

Mas segui o conselho. E corri o mais rápido que pude. Quando finamente me cansei, esperei que o homem tivesse ficado pra muito atrás. Mas eu estava errada.

O homem tinha uma faca grande. Na verdade, acho que o termo certo seria uma adaga. Mas isso não importa agora. Como os meus pais iriam saber da minha morte? Como meu corpo seria identificado? Não havia ninguém aqui.

Havia sim. Daniel.

- Daniel, socorro! – gritei. Peguei uma das pedras que havia no chão e atirei no homem, acertando-o na cabeça. Fugi, mas o homem logo me alcançou.  – Daniel! – gritei novamente.

O homem encarava os meus olhos. Maldita/bendita hora para eles ficarem arco-íris.

- Você tem os olhos. – disse o homem. Não entendi o que ele quis dizer.

Só sei que depois disso, o homem colocou a Mao na parte de trás da cabeça e caiu. Atrás dele, Daniel estava segurando uma faca.

- Devia andar com uma também, Abby – ele disse. – Ouvi você me chamando.

- Obrigada por vir. – falei. Ele sorriu e sorri também.

- Menina de olhos diferentes... – resmungou o homem ainda caído no chão. Coloquei-me atrás de Daniel, estava com medo e esperava que ele me protegesse.

- O que você disse? – Daniel perguntou.

- Não a mate. Ninguém deve mata-la. Não deixe que os outros a peguem – ele disse.

- O que? Quem são os outros? – Daniel perguntou. Eu mantinha-me calada.

O 7 devia estar mal por causa da pancada na cabeça, pois logo depois ele se levantou e correu pra longe.

- Do que ele estava falando? – perguntei.

- Não sei, realmente não sei. – Daniel disse afastando-se de mim.

Ficamos um tempo em silencio, eu encarando o chão. Não sabia o que falar a ele, então apenas agradeci:

- Obrigada por vir a tempo.

- Eu não queria que ele te machucasse.

Ele estava começando a ir embora. Eu não podia deixá-lo ir, não queria que ele fosse:

- Daniel espere.

Ele parou, esperando eu falar. Mesmo ele estando de costas para mim, eu disse:

- Daniel, eu... Eu acho que... Quero ser um pouco mais que sua amiga. – falei gaguejando um pouco.

- Isso é por que eu te salvei? – ele perguntou. Não senti que a voz dele estava firme.

- Não. Porque muita gente já me salvou em várias situações. Mas com você é diferente. Eu me sinto...

- Você mesma? – ele perguntou.

- Sim – falei. – Você também?

- Talvez. – ele respondeu. Então virou-se para mim e disse – Isso é sério?

Assenti que sim. Sorri timidamente para ele. Daniel sorriu também e aproximou-se de mim. Segurou meu rosto com as mãos e me beijou.

Não senti a mesma coisa que senti quando estava beijando Dylan, ou outros garotos. Me senti diferente. Como se estivéssemos conectados. E amei isso, retribuindo o beijo.

Depois de alguns minutos – eu acho que se passaram minutos – nós tivemos que nos separar. Então nos abraçamos e ficamos assim durante um bom tempo.