Sangue Quente - O Contágio escrita por Wesley Belmonte, Jaíne Belmonte


Capítulo 6
Capítulo Seis




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Preciso continuar atento a qualquer movimentação estranha, mas nada acontece. Parece não haver nada por aqui além de nós. Olho para Misty, que está sentada embaixo de uma árvore a poucos metros do carro. Ela parece imersa em pensamentos enquanto olha para uma pulseira em seu braço. Não havia reparado naquele objeto antes.

– Hey, pode me trazer um pouco de água?

– Claro, Misty. - Respondo, enquanto pego uma garrafa na caçamba da S10.

Levo a água e ao entregar pra ela, quase não acredito no que aquela garota faz. Ela abre a garrafa e joga todo o conteúdo dela em mim, encharcando toda a minha camisa.

– Por que você fez isso? - Enquanto falo, ela não para de rir. Qual o problema dela?

– Você está com a maior cara de sono, quem sabe assim desperta um pouco. E também, seu cheiro está dando pra ser sentido a quilômetros de distância.

– Você é louca? Não acredito no que você fez, desperdiçou nossa água!

– Ih, parece que alguém não gostou do banho. - A voz dela é pura ironia.

– Não acredito nisso!

Tomo a garrafa da mão dela e começo a voltar pro carro. Mas sinto a mão dela pegar no meu ombro, me viro com a intenção de discutir, mas ela é quem fala primeiro.

– Eu só estava brincando, precisava rir um pouco. Sabe como é, me distrair.

– Você podia se distrair de outras maneiras, não fazendo uma coisa idiota dessas.

Continuo andando e volto para perto do carro. Uns 15 minutos depois, Misty vem falar comigo.

– Ainda está com raiva?

Não respondo.

– Desculpa, era pra ser divertido...

– Mas não foi Misty! - Elevo minha voz ao dizer isso, e é o suficiente pro meu pai sair do carro.

– Algum problema por aqui?

– Não pai, está tudo sob controle.

– Ótimo, então entrem no carro, vamos partir.

***

Estamos a 20 minutos na estrada. As placas indicam que há uma cidade a alguns quilômetros. Se for seguro, faremos uma parada lá para procurar suprimentos. Enquanto estamos a caminho dessa cidade, minha mãe procura estabeler algum diálogo com Misty. Gosto dessa ideia, afinal, mamãe não vem falado muito desde nosso último encontro com os zumbis.

– Então, você parece nova. Quantos anos tem?

– 15.

– Hum, 15 anos. Não tinha idade pra morar sozinha, você morava com seus pais?

– Não, perdi meus pais quando era muito nova. Fui criada pela minha avó.

– Sinto muito. Mas e sua avó... Ela não estava com você naquela casa?

– Ela morreu. Não quero falar sobre isso.

Na hora percebo o motivo por Misty querer mudar de assunto. Aquela zumbi que estava tentando atacá-la quando eu entrei na casa, deveria ser a avó dela. Sim, como não pensei nisso antes? Era por isso que ela estava chorando. Coitada. Deve ter sido muito dificil ver a avó transformada numa morta-viva. Mas, como será que ela se transformou? Não havia indícios de mordidas pelo corpo dela e pelo que sei, os vivos só se transformam nessas coisas se forem mordidos não é mesmo? Ou será que eu estou errado?

– Eu também perdi minha avó. Ela faz muita falta. - Quem está falando agora é Jenna, e todos nós nos surpreendemos, ela não havia dito uma única palavra depois de ver os zumbis, tinha ficado totalmente paralisada. Talvez a palavra "Avó" tenha trazido lembranças e a tirado um pouco daquele estado. Afinal de contas, Jenna sempre gostou de contar pra todo mundo sobre a relação dela com nossa avó.

– Você está melhor mana? - Pergunto, aproveitando que ela resolveu falar.

– Não sei, minha cabeça dói muito. Queria voltar pra casa, queria que aquelas criaturas horríveis não existissem. - Enquanto ela fala, se encolhe no banco do carro, como se estivesse sentindo frio.

– Eu sei que é difícil querida. Está sendo difícil para todos nós. Mas vamos encontrar um lugar para ficar. Mas você tem que ser forte, promete pra mim que vai tentar ser forte? - A doçura na voz da nossa mãe conforta Jenna.

– Vou tentar mãe, só quero que aquelas coisas fiquem longe de mim.

– Não se preocupe, não vou deixar eles encostarem em um fio de cabelo seu. - Minha voz soa determinada e confiante.

– Você não tem que se fingir de herói sabia? Tem só 14 anos.

Me surpreendo com o que ela diz. É a segunda vez que ouço essa frase em menos de 24 horas. Talvez eu realmente não deva bancar o herói. É perigoso. Mal sei atirar com uma arma. Mas não, eu não posso ficar de braços cruzados e deixar tudo por conta do meu pai. Preciso ajudar. Assim que acharmos um lugar, vou pedir para que ele me ensine a atirar.

Avisto a cidade ao longe, mas há algo errado. Ao nos aproxirmarmos mais, vemos vários carros capotados, um caos total, não há como prosseguir de carro por aqui. Meu pai desce do carro, mas o deixa ligado se caso precisarmos fugir rapidamente. Sei o que ele está pensando e desço também.

– Vou com o senhor.

– Não, preciso que alguém fique aqui para cuidar das garotas.

– Podem ir, eu fico aqui e tomo conta de tudo. - Misty me surpreende ao se oferecer para ajudar.

– Acho melhor o Richard ficar, porque...

– Por que eu sou garota e o senhor acha que não dou conta do recado? Olha, aquela hora lá na casa, eu estava muito assustada, por isso que não consegui dar um jeito nos zumbis. Mas agora eu estou mais tranquila e pronta pra ação.

Talvez ela devesse dizer "Aquela hora não consegui matar os zumbis porque um deles era minha avó" , mas essa resposta que ela deu soou bem convincente.

– Não tem nada a ver com você ser garota, mas é perigoso. E também você sequer sabe atirar.

– O Richard também não sabe. E aí? - O jeito como ela desafia meu pai me deixa atônito. Qualquer um teria medo dele, mas é como se ela não estivesse nem aí pra quem ele é.

– Tudo bem, pega essa arma aqui. - Meu pai mexe na caçamba da S10, pega duas armas iguais - que não conheço de nome - e entrega uma pra Misty e outra para mim. Depois de uma aulinha básica sobre como recarregar a arma, mirar, engatilhar, ele volta a dizer à ela:

– Tome cuidado, e proteja minha família como se fosse a sua. Vamos Richard. Voltaremos logo.

Deixamos Misty, minha mãe e Jenna pra trás e seguimos até a cidade.

– Quero deixar bem claro que não confio naquela garota. Qualquer barulho de tiro que escutar, corra imediatamente de volta para o carro, certo?

– Certo, pai. Mas você vai ver, que pode confiar nela sim. É uma boa garota.

– Boas garotas não falam com homens mais velhos do jeito que ela falou comigo.

– Ela só estava tentando te mostrar que...

– Chega! Não quero você defendendo ela. Vamos só nos concentrar no que temos que fazer, achar comida e mais água. E não invente de querer levar mais ninguém conosco Richard!

Você não precisa ser tão duro, pai. Penso. Vamos entrando na cidade, não parece ter ninguém por aqui. Ou pelo menos, ninguém vivo. Entramos em um mercadinho no começo da rua. Que sorte, aqui está cheio de comida. Seja lá o que aconteceu, as pessoas não tiveram tempo de saquear esse lugar. Na parede do fundo do estabelecimento tem uma janela bem grande, quebrada em algumas partes. Me aproximo dela e quase caio para trás com a cena que vejo. Vários zumbis, ou melhor dezenas de zumbis, estão fazendo um banquete no que parece ser 10 pessoas mortas e dilaceradas no chão. Chamo meu pai baixinho. Ele está terminando de juntar alguns alimentos e colocando dentro de uma panela bem grande que ele parece ter encontrado em uma das prateleiras. Ao vir até mim e ver a cena, ele apenas diz:

– Vem, vamos embora Richard!

Mas quando chegamos na porta de saída da loja, vemos mais zumbis passando na rua. Um deles é uma garotinha que deve ter uns 5 anos de idade, aquilo me dá um aperto no peito. Por que essas coisas apareceram? E como se tornaram tantos tão rápido? Não congiso pensar na resposta de nenhuma dessas perguntas. O que vamos fazer agora? Estamos cercados. Mas meu coração acelera, quando percebo pra onde aqueles zumbis estão indo. Eu e meu pai falamos quase ao mesmo tempo:

– Oh Não! O carro! Eles estão indo pra lá!



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