Sangue Quente - O Contágio escrita por Wesley Belmonte, Jaíne Belmonte


Capítulo 5
Capítulo Cinco




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Seguimos em frente, agora deixamos as mulheres sentadas no banco de trás e eu estou ao lado de meu pai. Ele não falou nada comigo ainda, mas só pela expressão que vejo em seu rosto, tenho certeza que ele está muito bravo comigo. Quinze minutos se passam e vejo o cansaço batendo em todos nós, principalmente em meu pai que está ao volante.

– Vou encostar o carro aqui, não estou aguentando mais dirigir. - Ele para o carro no acostamento da pista, - Vamos ficar por aqui até podermos seguir viagem.

– Não tem perigo ficarmos aqui, Charles? - Pergunta mamãe, um pouco hesitante por pararmos em um lugar onde não podemos enxergar praticamente nada.

– Não temos outra opção. Ou alguém mais aqui sabe dirigir?

Ninguém se manifesta, penso em perguntar para a garota, mas vejo que ela está de cabeça abaixada, provavelmente está chorando.

– Pai, posso ficar de vigia enquanto vocês descansam? - Pergunto, sempre quis fazer isso, e outra, não estou nem um pouco cansado, estou elétrico desde meu último encontro com a nova praga do século XXI.

Ele balança a cabeça em sinal positivo. Tem algo de errado com ele, depois do que fiz a reação normal dele seria arrancar minha cabeça. Mas não posso questionar, vai que ele muda de idéia. Saio do carro, tiro a lona da carroceria, enquanto pego uma garrafa de água, vejo muitas armas, ao lado dos galões de combustível, além do Fuzil AK–47, vejo um AR-15, também tem algumas pistolas, duas Glock 17, e outras que não conheço; ao lado dos mantimentos, tem cinco caixas de munição. Sento e olho para a estrada, - enquanto uso a água pra lavar meu rosto e meus braços sujos de sangue, além de beber um pouco - uma imensidão sem fim, iluminada apenas pela luz do luar. Fico lembrando de alguns dias antes, enquanto estava na escola comentando com meus amigos sobre um provável apocalipse. Cada um tinha sua teoria, somente Wallace e eu gostaríamos que acontecesse um apocalipse com zumbis. Falávamos de quais eram as melhores armas pra situação, os melhores lugares de se esconder... O barulho da porta do carro interrompe meus devaneios. Não olho pra trás pra ver quem é, mas imagino que seja a gatinha vindo me agradecer novamente pelo meu ato heróico. Mas quando vejo quem é meu coração dá um pulo, não somente pela pessoa, mas também pelo expressão no rosto dela. Meu pai senta ao meu lado, olha para o horizonte e sem virar o rosto pro meu lado começa a dizer:

– Estou muito decepcionado com você. - Ele não diz mais nada por algum tempo, talvez esteja esperando alguma resposta minha, mas não posso falar nada, sei que errei, que poderia não ter voltado vivo de lá, mas minha curiosidade era muito maior. - Não foi pelo motivo que você saiu correndo e nem por ter desrespeitado minha ordem, mas sim, pelo seu ato fajuto de heroísmo. Muitas eram as probabilidades de você não sair vivo de lá. E se fossem mais zumbis? Ou alguém tentando nos enganar para nos roubar ou até mesmo nos matar? - Vejo, pela primeira vez em toda minha vida uma lágrima escorrer em seu rosto. Todas as broncas e castigos que recebi dele nunca foram tão dolorosos como essa conversa que estamos tendo agora. Ele continua: - O mundo não é mais o mesmo Richard, depois desse colapso, não existe mais lei. Não podemos confiar em alguém que nunca vimos, e nem conhecemos direito.

– Mas pai...

– Cale a boca, deixa eu terminar de falar. - Vejo, que mesmo com os olhos marejados ele mantém a postura militar. - Não venha defender essa menina que você está levando conosco, só de olhar pra ela vejo que ela não presta. Você parece muito comigo mesmo. Em minha adolescência, não podia ver um rostinho bonito que me apaixonava. Quantas vezes quebrei a cara por isso... - Ele agora está com um olhar distante, talvez esteja relembrando momentos ruins com alguma garota. - Ah, pra ela você nem hesitou em dar uma carona, mas aquele frentista, você não moveu uma palha, não é?!

– Desculpa pai, - Concordo com ele. - Mas não podemos abandoná-la nesse fim de mundo.

– A decisão agora é sua, você quem trouxe ela. Todas as responsabilidades estão em suas mãos. Só espero que tenha entendido. - Olhando em meus olhos, ele pega uma garrafa de água, se levanta e aponta pra mim seu dedo indicador. - Nunca mais banque o herói! Não coloque sua vida e nem nossa família em risco novamente. Se acontecer de novo algo do gênero, deixa que eu resolvo. - Ele volta pra dentro do carro. Se fosse em outras circunstâncias eu teria recebido uma bela bronca, mas pelo contrário, ele veio me aconselhar, e será que ele tem razão sobre essa garota? que aliás, nem o nome sabemos. Deito e olho para o céu, ele está limpo e com poucas nuvens. Começo a imaginar como será nossa vida daqui em diante, se vamos ficar sempre assim na estrada, ou se vamos chegar até o local onde meu pai acredita ser seguro. Penso também em todas pessoas que conheci em minha vida, será que elas ainda estão vivas, ou já foram infectadas. Também acho estranho não encontrar muitas pessoas nas estradas, aliás, não encontramos ninguém fugindo, mesmo com todo esse caos.

***


O dia está claro, pelo lugar onde está o sol, parece ser meio dia. Mas na fazenda de nossos avós paternos não nos preocupamos com horários. Estou no balanço com meu avô Carlos me empurrando, ao longe posso ver papai ensinando Jenna montar a cavalo. Todos parecem estar felizes. Quando os dois chegam mais perto posso ver que Jenna está de volta com seus onze anos de idade, - era a nossa melhor época, quase não brigávamos, e sempre via ela com um belo sorriso.


– Maninho - Jenna grita, ela está transbordando de alegria, - Deixa de ter medo, venha aprender a montar também!

– Não, muito obrigado. Prefiro ficar aqui mesmo. - Sempre tive medo de cavalos, assim como bois, vacas, porcos e quase todos os tipos de animais de fazenda. A fazenda onde estamos é muito grande, no centro dela temos a casa. na parte de trás temos muitas árvores, - muitas delas são frutíferas - ao lado da casa um grande cercado e um celeiro, onde ficam os animais, e mais à frente, tem alguns alqueires para as plantações. Sempre que pode, meu pai trás a gente pra passar algum tempo aqui com eles.

– Vamos crianças. - Chama nosso pai, tirando Jenna de cima do cavalo. - Sua vó e Clarice já devem estar terminando o almoço. - Seguimos em direção da casa, nosso pai e o vovô estão a nossa frente falando sobre assuntos que não entendo. Jenna vem ao meu lado dizendo algumas palavras de satisfação por estar montando tão bem em muito pouco tempo. Quero me vangloriar por saber nadar e ela não, mas não posso estragar a felicidade dela.

Depois de terminarmos o almoço, saio na porta e vejo algo que me deixa assustado. Uma horda de zumbis vindo na direção da casa, entro correndo e gritando. Não vejo mais nada do que acontece, apenas uma correria sem fim. Meu pai pega armas e começa a atirar nos monstros que começam a entrar, nosso avô ajuda, mas não tem como pará-los, são centenas deles. Um deles alcança nosso avô e morde o pescoço dele, que cai no mesmo instante, nossa avó Laura vê ele sendo comido e corre em direção a ele para tentar ajudar. Meu pai se vira e atira no zumbi que matou nosso avô. - Vovó chora incontrolavelmente pela perda -. Mas pelo erro de nosso pai que se distraiu para matar o invasor, mais deles entram na casa, um deles corre atrás de Jenna que subiu as escadas para se esconder no quarto. Ouço o barulho da porta do quarto fechando, em meio a mais tiros que só cessam no momento que ele recarrega a arma. Penso em subir as escadas mas estou paralisado, não consigo mexer um músculo. Só consigo ver toda cena acontecendo. Papai grita pra eu correr junto com a mamãe, mas ela também não reage as ordens. Um canibal alcança meu pai, derruba ele no chão, e abre sua barriga com as mãos, começa a comer suas tripas. Com lágrimas nos olhos ele olha em nossa direção. Ao ver a cena mamãe sai correndo atrás do zumbi que está comendo nosso pai e o acerta na cabeça com uma frigideira. O zumbi cai no chão, mas outros três zumbis que invadiram a casa atacam ela em conjunto. Um deles arranca o braço dela, enquanto o outro vai em direção das coxas, e o terceiro arranca o osso parietal dela e começa a mastigar o seu cérebro, - Enquanto ele mordisca a guloseima preferida dele, tenho a impressão de que ele está tendo alguma visão, os olhos dele não estão mais na cor branca como leite, e neles aparecem um brilho surreal -. Desperto de meu transe e vejo mais zumbis entrando. Vovó entra na frente deles pra não virem atrás de mim. Eles nem olham em minha direção, estão muito ocupados pelo banho de sangue que ocorre. Corro na direção em que Jenna foi, pego uma faca que estava na mesa e subo as escadas. Vejo o zumbi que veio atrás da minha irmã arranhado a porta. Corro até ele e enfio a faca em seu crânio, ele cai no mesmo momento. continuo enfiando a faca em sua cabeça incessantemente, muito sangue começa a voar em mim, não ligo, só quero minha vingança, por terem matado minha família. Após o evento começo bater na porta:

– Abra a porta, Por favor maninha. Sou eu, Richard. - Minha voz começa a tremer quando vejo os mortos subindo as escadas. Paro de gritar pra ela abrir, viro em direção a eles. - Venham, seu loucos. Podem vir. - Digo chamando eles e mostrando minha faca. Um deles parece entender o que digo e dispara em minha direção, imagino que ele seja o provável líder, - se é que existe líder nessas coisas - quando ele chega bem perto de mim pra agarrar meu pescoço, eu abaixo rapidamente e enfio a faca em seu estômago, mas ele não sente nada. Jogo ele no chão, e quando vou acertar a cabeça dele uma mão me puxa pra trás.

***

Acordo, e vejo a garota em cima de mim me olhando com um olhar preocupado.

– Você está bem? O que aconteceu?

– Sim, estou. - Respondo aliviado, por tudo não ter passando de outro sonho. - Tive um sonho, quer dizer, na verdade, era mais uma lembrança de minha infância, que acabou virando um pesadelo. - Ela suspira aliviada, mas continua com a respiração um pouco acelerada.

– Acordei faz algum tempo, Não consegui dormir direito. Vi pela janela que você estava dormindo e resolvi te fazer companhia. - Enquanto fala, ela coça e aspira o nariz, como se tivesse alguma coisa incomodando ela.

– Obrigado por fazer companhia pra mim, se meu pai me visse dormindo... - Digo, olhando pra frente pra ver se tem alguém acordado no carro. - Qual seu nome?

– Misty, muito prazer...

– Richard. - Respondo, mesmo sem ela ter feito a pergunta.

Olho nos olhos dela, me parecem tão atraentes, mesmo com a lua sumindo no horizonte, ainda consigo ver como são grandes e lindos.

– Por que você entrou na casa? Arriscou sua vida por alguém que nem conhece?

– Não se... sei - gaguejo, sorte a minha estar escuro e ela não perceber que fiquei vermelho. - Foi impulso, ouvi seu grito e todos meus sentido me mandaram ir até lá.

– Você merece uma recompensa melhor que aquela que te dei mais cedo. - Ela vem em minha direção, todos meus sentido se alteram, e um calafrio percorre todo meu corpo. Fecho os olhos e imagino que agora ela vai me beijar, mas sou decepcionado mais uma vez. A única coisa que ganho é um abraço.

Poxa, eu salvei a sua vida e só ganho um beijinho no rosto e um abraço? O que preciso fazer pra ganhar um beijo de verdade? - As palavras saem sem querer da minha boca, acho que pensei alto demais.

– Então você acha que só por que salvou minha vida, eu tenho que te beijar? Você é mesmo muito engraçado.

– Desculpe, eu não quis... - Mas minhas palavras são interrompidas. Ela me beija. Não consigo pensar em nada, esqueço completamente dos zumbis e de tudo de ruim que está acontecendo. É como se só existissemos nós dois. Sinto borboletas no meu estômago, desejo que esse momento nunca acabe.


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