Sangue Quente - O Contágio escrita por Wesley Belmonte, Jaíne Belmonte


Capítulo 35
Capítulo Trinta e Cinco


Notas iniciais do capítulo

Confesso que me emocionei ao postar esse capítulo, é triste saber o que aguarda nosso querido Richard ;/



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Seis anos se passaram desde que o contágio começou. Seis anos se passaram desde que perdi minha mãe. Esse tempo todo ficamos a salvo envoltos de uma barreira que nunca mais nos abandonou. Desativamos as cercas, as câmeras e tudo que precisasse de energia elétrica. Depois da morte da mamãe, Ben e meu avô não ousamos mais cruzar o muro. Há dois anos ouvimos uma grande explosão em algum lugar perto, mas nem isso foi capaz de nos fazer querer explorar o evento ocorrido. Querendo ou não, sinto falta de muitas coisas que provavelmente nunca verei mais. Pessoas atrasadas correndo atrás do ônibus para não chegar tarde ao trabalho, pessoas fazendo passeio matinal com seus cães, pessoas lotando shows de musicas... Mas como meu pai sempre vem dizendo: Precisamos ter esperança, quanto mais fé tivermos, mais chances de reconstruir o mundo.

Hoje é um dia especial, mesmo sem ter muito sentido, vamos fazer uma cerimônia de casamento para o casal. É um desejo que Jenna sempre teve. E depois de todos esses anos juntos, Adrian a pediu em casamento. Estou colocando um terno, gravata vermelha – que infelizmente era última que sobrou –, sapato e calça social. Conseguimos encontrar entre as roupas de pessoas que deixaram a fazenda ternos pra cada um de nós. Adrian que deveria ficar mais bonito acabou não achando nenhum terno que ficasse bem em seu corpo musculoso – mesmo tendo perdido grande parte de seu físico ele nunca deixou de fazer exercícios –, Então ele está somente de camisa branca e gravatas pretas, calça jeans e tênis.

– Pronto filho? – Meu pai entra no quarto. – Até parece que é você que vai se casar.

– Já terminei de me arrumar pai, eu estava pensando em algumas coisas. Será que tem mais sobreviventes no mundo? – Ele senta na beirada da cama, passando um braço por cima do meu ombro.

– Desculpa filho, mas não tenho nada que possa confirmar isso. Não tivemos nenhum sinal de vida nos últimos tempos. Pode ser que em algum outro país haja, mas aqui nesse país, por tudo que vi, não deve restar mais ninguém. – Ele levanta e olha nos meus olhos. – Devemos agradecer a Deus por estarmos vivos e com muita saúde. Agora vamos, temos uma cerimonia pra realizar.

– Pai, me promete uma coisa?

– Sim filho, o que é?

– Se tivermos um sinal de que tem pessoas vivas vamos encontra-las? – Ele vai até a janela e fita a fazenda.

– Por que você quer isso Richard? Da ultima vez que nos encontramos com pessoas, elas nos mostraram que elas são piores que aquelas merdas que vagam por aí.

– Mas nem todo mundo é assim, você sabe bem que das pessoas que encontramos no caminho uma delas salvou nossas vidas mais que uma vez. Lembra, Jesus nos disse: amai-vos uns aos outros como eu vos amei.

– Você tem razão filho.

Descemos as escadas e esperamos Jenna terminar de se arrumar. Alguns minutos depois a vemos descendo; cabelos presos num coque, corrente e tiara de prata, e seu vestido branco longo – Na verdade o vestido era branco há décadas atrás quando nossa avó usou para se casar -, Ela está radiante. Olho para Adrian e vejo seus olhos marejados brilharem e um sorriso estampado em seu rosto.

Terminamos a cerimonia de casamento, não foi nada como ela imaginou, mas como ela mesmo disse: o que importa é que vou casar com quem amo de verdade.

– Onde vai ser a lua de mel? Miami, Hawaii ou Califórnia? – Pergunto, tentando tirar uma onda.

– Não sei, se você bancar a viagem, aceitamos todas essas opções.

Rimos todos juntos, mas algo interrompe a brincadeira. Ouvimos um pequeno som, vindo de longe, saímos todos para fora pra checar e vemos três aviões do exército cruzando o céu.

– Não acredito no que estou vendo, é uma miragem? – Pergunto incrédulo. Ninguém responde, estão todos paralisados com o que vimos.

– Pensei que nunca mais veria um desses em toda minha vida. – Diz Adrian.

– O que vamos fazer? – Pergunta Jenna.

– Só podemos fazer uma coisa. – Responde meu pai olhando para mim, – Peguem todas nossas armas, eu vou ajeitar o carro.

Corro junto com Adrian para o celeiro. Buscamos todas as armas que temos, e voltamos para colocar na S10. Vejo que Jenna tirou a o vestido e está com um short branco e blusinha vermelha. Devia ter tirado essa roupa, mas não tive muito tempo pra pensar nisso.

Uma hora depois estamos chegando na cidade, olho em volta e começo ver o caos que tomou conta de tudo, casas destruídas, a bomba foi jogada no meio da cidade, se existia alguém vivo, foi morto com a explosão, prédios, casas e carros obliterados, não restou nada daquilo que um dia existiu.

– Olha lá pai. – Indico para meu pai, onde consigo distinguir um helicóptero dessa vez. – Pra onde ele está indo?

– Acho que ele está indo para a cidade vizinha. Lá tem um aeroporto, e também pode ser lá que eles conseguiram os aviões e helicópteros.

Partimos em direção a outra cidade. Temos certa dificuldade de seguirmos viagem rápida, árvores e carros atrapalham nosso caminho, mas mesmo assim prosseguimos. Duas horas depois avistamos a cidade que meu pai se referiu, ela não está destruída como a outra, mas temos centenas de mortos vagando por ela. Atropelamos muitos deles e conseguimos encontrar uma rua com menos zumbis. Chagando ao final dela, vemos um caminhão tombado, onde não conseguimos passar com o carro.

– Melhor voltarmos né pai? Já está escurecendo. – Sugiro.

– Já que estamos aqui, vamos descer e ir a pé até lá.

Seguimos as ordens dele. Pulamos o caminhão e começamos a explora cidade. Jenna e eu estamos muito habilidosos com armas, tanto de fogo como de corte, durante esses anos treinamos sempre com Adrian, não somos tão bons quanto ele, mas acredito que formamos uma bela equipe. Adrian usa sua foice, Jenna e eu usamos um facão. Meu pai prefere usar a Desert Eagle com silenciador, a idade bateu nele, o impedindo de ter tanta mobilidade como tinha. Podemos ouvir o barulho do helicóptero novamente, dessa vez ele está saindo da cidade. Ao ouvir o barulho os zumbis ficam alvoroçados e ficam mais ativos. Vemo-los se juntando e vindo em nossa direção. Corremos ao passar por um cruzamento, vejo dos dois lados mais zumbis se juntando à caçada. Já estou ficando cansado, mas mesmo assim consigo continuar. Vejo suor escorrendo no rosto do meu pai.

– Cadê a Jenna e o Adrian? – Pergunto, olhando para os lados procurando eles.

Olho para trás e Vejo Jenna caída e Adrian ajudando ela, mas os mortos os cercam. Começamos a atirar neles, mas são muitos. Meu pai olha em minha direção.

– Vai Richard, eu os ajudo. Encontre as pessoas e depois volte para nos resgatar.

– Não pai. Não vou abandonar vocês.

– Não se preocupe. – Ele mostra confiança. – Vamos nos esconder em algum lugar por aqui. Busque ajuda e depois volte para nos resgatar. Confio plenamente em você.

Com lágrimas nos olhos corro, ouço gritos, mas não ouso olhar pra trás. Estou apavorado, cansado e sem mais nenhuma bala no pente; tem cerca de dez cabeças-ocas atrás de mim, quanto mais corro e me canso, aparece mais algum.

Não estou mais conseguindo correr, meus batimentos estão muito acelerados, sinto a camisa - grudada em meu peito suado -, pulsando junto com meu coração. Não aguentando mais, avisto uma caminhonete com a porta aberta a cinco metros a minha frente: Uso tudo que resta de fôlego pra chegar até ela, entrar e fechar a porta.

A única coisa que posso fazer agora é rezar e pedir pra não ser mordido. Mas já é tarde, os canibais me alcançaram e com uma força descomunal arrebentam a porta do lado do motorista. Mas não, vejo a chave na ignição e ligo o motor partindo, deixo os mortos para trás. Consigo ver o aeroporto onde o helicóptero tinha saído. Olho para o banco ao lado e vejo uma carteira, abro e vejo os documentos. Reparo na foto na carteira de habilitação, eu conheço esse cara... Tento me recordar. Vejo o nome e me lembro. Maike! É ele mesmo, o frentista que encontrei no posto de gasolina no começo do apocalipse. Olho para a frente e me assusto com um cachorro no meio da rua, desvio e a última coisa que vejo é um muro em minha frente.


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Notas finais do capítulo

Pessoal , amanhã posto o Epílogo!