Sangue Quente - O Contágio escrita por Wesley Belmonte, Jaíne Belmonte


Capítulo 34
Capítulo Trinta e Quatro




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Posso ver o sol despontar por cima das árvores ao longe. Levamos a madrugada inteira para deixar o lugar "limpo" de novo. Adrian me ajudou a levar os corpos, ou que restou deles para fora da fazenda, e simplesmente os jogamos num buraco que encontramos. Não podíamos perder tempo dando um funeral pra essas pessoas, muito menos acender uma fogueira, isso podia atrair muita atenção ou até mesmo se alastrar e provocar um desastre.

Apenas para mamãe, vovô e Ben que cavamos uma sepultura num canto afastado da fazenda, para dar a eles um enterro decente. Era o mínimo que poderíamos fazer.

***

Jenna está deitada no sofá da sala, ela não tem mais lágrimas para chorar. A dor pungente que sinto no meu peito é inexplicável, é pior que qualquer desilusão que eu tenha sofrido por Misty. Eu perdi minha mãe, perdi meu avô, Ben também não está mais entre nós. Adrian está consolando ela, ele já passou por o que estamos passando agora, e mais do que nunca, entendo a dor que ele deve ter sentido quando aconteceu aquela tragédia na cabana.

Subo para o segundo andar da casa, meu pai está em um dos quartos, abraçado com uma fotografia, que ele deve ter achado em uma das gavetas do armário. Me sento ao lado dele, não sei o que dizer, o remórso que também sinto é horrível, existe uma voz no fundo da minha cabeça que insiste em repetir "Eles estão todos mortos e o culpado é você".

– Me perdoa pai... - Não consigo me conter e desabo em lágrimas. - Por favor, me perdoa, me perdoa...

Fico repetindo essas palavras e não obtenho nenhuma resposta dele.

– Se eu soubesse que isso iria acontecer, jamais teria pedido ao senhor para Misty vir com a gente... Por favor, me perdoa.

Ele larga a fotografia e me abraça. Agora os dois estão chorando juntos.

– Lembra quando eu pedi que você me prometesse que iria ser forte? - A voz dele sai em meio a soluços. - Não quero que você quebre essa promessa. Vamos ser fortes em honra de todos que perderam a vida depois que essa praga começou.

– Não sei se consigo mais pai... Não sei se quero continuar tentando ser forte...

– Não podemos desistir, por mais que esteja doendo, temos que seguir em frente. Um dia seremos salvos!

Percebo que ele próprio não acredita nas palavras que diz, ele está se auto enganando. Nunca seremos salvos. O mundo não tem mais cura.

– Eu quero ir embora desse lugar pai... Não vou conseguir conviver com as lembranças.

Ele se solta do abraço.

– Não, nossa melhor oportunidade de sobrevivência está aqui e é aqui que vamos ficar. Até o fim. Até tudo isso acabar.

Jenna entra no quarto e se senta entre nós dois. Fazemos o possível para confortar um ao outro, mas é como se tudo tivesse perdido o sentido.

– Vamos voltar para nossa antiga casa. - Jenna pede ao nosso pai. - Se eu vou morrer, quero pelo menos que isso aconteça no lugar onde eu fui criada.

– Você não vai morrer, minha querida. - Meu pai tenta passar calma a ela. - Vamos ficar aqui e superar tudo isso. Todos juntos.

Não a culpo, também gostaria de voltar para nossa casa. Talvez lá seja mais seguro do que aqui. Adormeço no colo dela, e sonho. É o primeiro sonho bom que eu tenho desde que tudo isso começou. Nele estamos na nossa casa, estão todos bem. Mamãe está nos servindo uma lasanha, ela ainda pode andar. Enquanto comemos, rimos de coisas do passado. Meu pai está feliz como nunca tinha visto antes. Somos uma família feliz, não existe praga, zumbis, cheiro de morte ao nosso redor. Mas como todos os sonhos bons, ele acaba rápido, sou acordado por Adrian entrando no quarto.

– Eu vou cuidar dos animais agora, acho que seria bom vocês virem, sabe, se distrair é a melhor coisa a se fazer nesses momentos.

Assentimos com a cabeça, Jenna e eu vamos na frente. Olho para trás e vejo meu pai dar um leve tapinha no ombro de Adrian e cochichar "Acho que vou deixar você namorar minha filha, mas eu quero vê-la feliz, se você deixar ela triste, eu corto você em pedacinhos". Sorrio, um sorriso um pouco forçado, mas sei que isso vai ajudar minha irmã a se recuperar.

Cuidamos dos animais, e ficamos todos deitados na grama, um ao lado do outro, fitando o céu. Tenho o leve pressentimento que ainda vamos ter que ficar aqui por muito tempo.


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