Sangue Quente - O Contágio escrita por Wesley Belmonte, Jaíne Belmonte


Capítulo 32
Capítulo Trinta e Dois




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O dia está amanhecendo, vejo o sol começando a brilhar por entre as árvores em minha frente. Olho para toda essa vastidão e percebo que podemos ficar aqui até essa praga ser controlada. Sei que com o tempo vamos ter que começar a procurar combustível para abastecer os geradores, mas tento não pensar nisso. O que mais quero no futuro é não usar nada de energia para não perder mais ninguém em nenhuma busca; da última vez perdi uma das pessoas que mais gostei em toda minha vida. Daria meu último respiro para poder vê-la novamente e dizer tudo o que sinto, sei que não devia ama-la, mas não consigo deixar de pensar em tudo que vivemos desde que a vi pela primeira vez. Se tivesse pelo menos um pouco de certeza que ela está viva iria busca-la e contar o que está escondido em meu amago. Sei que meu pai não acredita que ela gosta de mim, mas se não gostasse por que dormiria comigo aquela noite, aquela noite... Lembro-me de cada momento, cada minuto. Por mais que minha mente queira dizer pra esquecê-la, que ela está morta, meu coração diz que não.

– Pensando em quê? – Meu coração para, ao ver Adrian sentado ao meu lado.

– Nada! – Respondo, tentando controlar meu susto.

– Beleza. Pode ir, já acabou seu turno faz algum tempo. – Desço as escadas e pego a bicicleta e rumo para a casa.

Chegando lá vejo meu avô saindo com meu pai.

– Que bom que chegou! – Diz meu avô, ambos estão com um sorriso sádico no rosto. – Hoje temos algo pra te ensinar, Venha!

O que será que eles querem me ensinar? Pelo sorriso no rosto deles deve ser algo que não vou gostar nenhum pouco. Mas pra quem já destroçou tantos zumbis, e chegou a matar pessoas, não deve ser algo tão ruim. Mas depois de alguns minutos vejo que não é tão fácil como eu imaginei. Ele abate o boi rapidamente.

– O mais importante depois de abater o boi, é não deixa-lo tocar no chão para não contaminar a carne. – Ao explicar começo a sentir um mal estar. Ele começa a cortar e explica: – Você tem no máximo quarenta minutos para limpar ele, deixando somente o que vamos usar para consumo.

Não consigo ver mais nada, saio do abatedouro com o estomago embrulhado.

– Pensei que depois de matar tantos zumbis, não ficaria enjoado com aquilo. – Caçoa meu pai. – Mas você vai ter que aprender, mais cedo ou mais tarde.

– Prefiro que seja mais tarde. – Respondo, abaixando-me com as mãos no estomago. – Como vocês conseguem fazer isso?

– Precisamos comer! Ou você vai virar vegetariano depois disso?

– Estou pensando seriamente na questão.


* * *

Já escureceu, estamos jantando, Adrian, Jenna, meus pais e meu avô. Ben está de vigia no mirante.

– Richard, não vai comer carne não? – Minha mãe pergunta, sem saber o que passei mais cedo.

– Não mãe, obrigado. Prefiro ficar só com a salada e os ovos.

– Nunca pensei que meu filho fosse tão fresco. Estou começando a desconfiar de você! – Zomba meu pai. – Não quero que ele continue fazendo essas brincadeiras, mas sinto vontade de vomitar só de ver a carne que eles estão comendo. Matar zumbis é uma coisa, mas matar um animal indefeso e comer sua carne faz com que eu me sinta como um daqueles canibais. E o que menos quero é me tornar um devorador de cérebros. Termino o jantar, e vou para a sala sem responder nada pra ninguém.

Ouço o barulho do rádio transmissor.

– Alguém na escuta? – Segue-se um longo período de estática.

– Fala aí Ben. – É Adrian, pegando o rádio e respondendo ao chamado.

– Perdi o sinal das câmeras três e quatro. Você pode verificar?

– Claro, é pra já. – Ele responde e coloca o rádio na cintura.

– Precisa de ajuda? – Prontifico-me, levantando do sofá.

– Pode deixar comigo. – Ele vem até o canto da sala, pegando um AR15, uma Colt. 45 e uma Beretta.

De pouco em pouco, começo a ter companhia na sala, primeiro Jenna, depois meu avô e por ultimo, meus pais. Meu avô começa contando histórias de quando meu pai era jovem.

– Lembro muito bem daquela época, sempre fazíamos fogueira ao luar, cantávamos, dançávamos e sempre no final da madrugada contávamos histórias de terror que assustavam as crianças. – Meu pai está com os olhos marejados, relembrando de sua juventude. – Como seria bom voltar no tempo.

– Seria melhor ainda se pudesse acabar com essa praga. – Jenna é ríspida cortando as lembranças do nosso pai, interrompendo-o. Ela ainda parece estar brava com ele por não aceitar seu namoro, acho que vai ficar assim até ele permitir. Ao ouvir essas palavras ele levanta e segue para fora de casa.

– Jenna. Não fale assim com seu pai. Sei que você está brava com ele, mas não é assim que vai conseguir que ele permita seu namoro.

– Mas mãe...

– Sem mas. Você não mais uma garotinha. Você já é quase maior de idade. Não importa o que o seu pai te faça, você deve respeita-lo, entendeu?!

– Desculpa. – Ela abaixa a cabeça.

Ouço um barulho vindo da porta de entrada, logo em seguida vejo meu pai caindo. Dois homens entram; um aponta a arma pra cabeça do meu pai, e o outro aponta uma arma pra nós.

– Fique bem quietinho. – Ele coloca o cano da arma na cabeça do meu pai e ordena: – Agora vá até onde estão os outros.

Meu pai segue as ordens. O homem que aponta a arma para o meu pai é alto, cabelos louros curtos, pele bronzeada, o outro é menor que ele, mas é bem musculoso. O mais alto tira um rádio do bolso.

– Podem vir. Eles estão na mira. – Ele diz.

– O que vocês querem aqui?

– Cale a boca. Não quero ninguém falando nada. Deitem todos no chão. – Ele olha para o parceiro dele. – Amarre todos.

Estou deitado no chão, imagino que eles tenham rendido Ben e Adrian. Mas não matado, pois não ouvi nenhum tiro. Primeiro ele amarra meu pai, meu avô, Jenna, eu e amarra minha mãe na cadeira de rodas.

– Agora você pode responder as minhas perguntas? – Indaga meu pai, ele está controlando sua fúria. Mas não pode fazer absolutamente nada.

– Só viemos buscar três coisinhas. – Ele vem até perto de nós. – Primeiro, queremos suas armas.

– Temos poucas armas. – Meu pai responde. Lembro que deixamos os armamentos divididos na fazenda. Uma porção aqui, outra na casa do Ben, e os maiores escondidos no celeiro. Ouço ao longe um barulho de motor se aproximando.

– Eu sei de todo seu armamento, não tente nos enganar. – Vejo mais três pessoas entrando na casa. Uma mulher e dois homens. Não consigo decifra-los.

– Vasculhem a casa inteira. – Ordena.

Os três começam a procurar as armas na casa. Ele pega pelo pescoço o meu pai e levanta com uma só mão.

– Acho melhor você não me fazer perder tempo. Ou eu te mato na frente de todos.

– Você pode me matar, mas nunca vai saber onde estão as armas.

Ele joga meu pai contra a parede.

– Eu já sei como te fazer mudar de ideia. – Ele aponta a arma para a cabeça da minha mãe, ao perceber o que ele pretende fazer meu pai abre a boca, mas é interrompido por um tiro.

– NÃO! – Gritamos todos no mesmo momento. Todos começaram a chorar, sem exceção. Vejo o sangue escorrendo no corpo inerte da minha mãe.

– Eu disse que não estava de brincadeira. – Ele vai até o meu avô. – Você agora seu velho.

– Eu digo onde está! – Diz meu pai. - Está na casa menor.

– Acho melhor você não estar mentindo. - Ele acena para seu parceiro. – Shawn. Vai lá verificar a casa. Se eles estiverem mentido mato mais um!

Logo eles vão descobrir que as armas que temos lá são poucas, o que meu pai está querendo? Em seguida vejo os três voltando e entregando as poucas armas que temos dentro da casa.

– Só isso que tem aqui?

– São somente essas e mais algumas que estão na casa menor. Acho que vocês vieram para o lugar errado. – Meu pai mente.

– Herbert. Traga aquela surpresa que está no carro.

Um silêncio paira no ar. O que será essa tal surpresa? Começo a ouvir algumas vozes.

– Não, por favor. Não quero ir lá.

Em seguida vejo um corpo sendo jogado no chão. E não posso acreditar em quem é. Ela esta amarrada, seus cabelos estão embaraçados, sua roupa suja e rasgada, ela olha em minha direção. Seus olhos estão como da primeira vez que a vi; pupilas dilatadas, olhar de medo e está ofegante.


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