Sangue Quente - O Contágio escrita por Wesley Belmonte, Jaíne Belmonte


Capítulo 19
Capítulo Dezenove




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Seguimos pela estrada até chegar a pequena trilha que nos leva a S10 sem precisarmos cruzar a cidade. Teremos que abandonar o carro ali. Adrian vai na frente com sua moto, com Jenna na garupa, numa velocidade reduzida para não esbarrar em nenhuma árvore, enquanto o resto de nós segue a pé.

Chegamos a S10 e nos posicionamos dentro do carro. Jenna pede ao meu pai para ela ir na moto com o Adrian, mas ele não permite. Posso ver a silhueta de alguns zumbis na entrada da cidade, atraídos pelo som do meu pai ligando o carro, mas antes que eles possam se aproximar muito, partimos.

Vejo o sol no horizonte e a imensa estrada vazia a minha frente. Sinto certa nostalgia, certa ansiedade por não saber o que pode acontecer, o que nos aguarda pela frente, peço a Deus baixinho, que nos proteja e que todos nós fiquemos bem.

Depois de mais ou menos 6 horas dirigindo, meu pai coloca a mão para fora da janela e faz sinal para Adrian parar a moto. Encostamos o carro, papai está cansado e diz que só precisar fazer uma pequena parada para esticar as pernas e comer alguma coisa. Todos comemos milho enlatado e algumas nozes que Adrian acha caminhando pelas árvores ao lado da estrada.

A todo momento tenho a impressão de que alguém vai sair do meio daquelas árvores e nos atacar. Mas nada acontece. Adrian resolve me dar algumas aulas de direção enquanto estamos parados ali. Ele chama Jenna também, mas ela não parece interessada, já Misty, sim.

– Tudo bem então, vocês serão meus alunos e já vou avisando que não sou um professor paciente. - Brinca Adrian, com aquele seu velho jeito de sempre querer ser o engraçado do grupo.

– Eu nunca fui uma aluna exemplar na escola, mas vou dar meu melhor, até porque nunca tive um professor tão gato quanto você. - Adrian ri ao ouvir o comentário de Misty, mas Jenna não gostou nada pela cara que ela fez. E muito menos eu.

– Comecem logo ao invés de ficarem jogando conversa fora. - Adverte meu pai. - Não vamos ficar aqui muito tempo.

A aula começa com Misty sentada no banco do motorista, ele explica para ela sobre como passar de marcha e para que serve cada uma delas, e explica também sobre os pedais de aceleração, freio e embreagem. Escuto tudo atentamente, tentando registrar tudo em minha memória.

– Bom, a parte de placas acho que eu nem preciso explicar, afinal de contas, elas não fazem muita diferença agora. Vamos partir logo pra aula prática.

Adrian se senta no banco do passageiro e eu me dirigo para o banco de trás, ela liga o carro e vai seguindo as intruções dele. Ela avança uns 50 metros, mas deixa o carro "morrer" duas vezes nesse percurso.

– Não está ruim, é tudo questão de tempo e prática. - Conclui Adrian. - Sua vez de tentar um pouco Rich.

A instrução que ele me dá é de dar ré e voltar para onde meus pais e Jenna estão. Sigo tudo que ele me fala, mas acabo acelerando um pouco demais e viro o volante sem querer, quase acertando uma árvore.

– Vamos devagar aí, não precisa pisar no acelerador tão forte, é de leve.

Guio o carro para a frente, e faço a mesma coisa, e dessa vez me saio bem melhor. Paro ao lado do meu pai.

– Outra hora vocês continuam suas aulas. Já vamos partir. - Fala meu pai, já abrindo a porta do carro.

– Ah Charles, deixa eles treinaram mais um pouco. - Pede Adrian.

– Não quero perder muito tempo aqui, ainda temos um longo caminho pela frente, na nossa próxima parada vocês treinam mais.

– E daqui a poucos seremos verdadeiros pilotos de fórmula-1 - Brinco, mas ninguém dá risada, não tenho o dom de Adrian pra essas coisas.

Continuamos nosso caminho, depois de mais algumas horas, passamos por um posto de gasolina e me lembro daquele rapaz que deixamos lá. O lugar parece estar deserto, estacionamos ali, para colocar mais combustível no tanque do carro. Adrian está reclamando que sua moto está ficando ruim, e que não vai demorar muito pra ela parar de vez. Mas não há nenhum sinal de algum veículo abandonado por aqui que possamos usar. Meu pai da uma volta no local, parece estar seguro. Nenhum sinal daquele homem, como era mesmo o nome dele? Começava com M... Marcos, Mathew, não me lembro.

Minha barriga está roncando de fome, mamãe abre uma lata com pêssegos em calda e divide entre nós. Felizmente mamãe se lembrou de pegar alguns talheres antes de deixarmos a cabana, então não precisamos usar as mãos para comer.

– Chequei os banheiros, e ainda tem água nas torneiras de lá. - Fala meu pai. - Parece que a caixa d'água que abastece o local ainda não está seca. Vamos aproveitar para encher as garrafas.

Quem se encarrega desse serviço é minha mãe. Jenna se oferece para ajudar, mas ela diz que não precisa. Sinto que ela quer se mostrar útil para nós.

Estamos todos tomados pelo cansaço, já estamos a quase 12 horas na estrada e o céu já está de uma cor alaranjada, se preparando para a escuridão que virá a seguir. Papai decide ficar ali algum tempo, ele entra na S10 e se deita no banco traseiro, ele deixa a porta aberta e seus pés pendem para fora. Mesmo numa posição desconfortável ele pega no sono. Deve estar muito cansado. Mamãe fica no banco do motorista e deixa ele numa posição vertical, ou pelo menos o mais vertical possível sem que encoste no meu pai. Jenna faz o mesmo no banco do passageiro. Misty sobe na caçamba e se deita ali mesmo, enquanto Adrian e eu ficamos encostados em uma das pilastras do posto. Ficamos atento a qualquer movimento estranho, mas está tudo muito calmo. O único som que ouvimos é o do vento crepitando nas árvores ali perto. Vejo ao longe um ratinho, será que foi o mesmo que passou por cima do pé de Jenna certa vez? E com esse pensamento, cochilo.

Acordo com Adrian me cutucando, parece ter se passado várias horas, mas pelo céu, deve ser mais ou menos 2 ou 3 da madrugada. Me levanto repentinamente pensando que algum zumbi deve ter aparecido, mas não tem nada. Continua tudo muito calmo. Meu pai também já acordou e me diz que já vamos seguir nossa viagem.

Nos ajeitamos na S10 e Adrian vai para sua moto. Todos estão com cara de sono, com certeza queríamos descansar mais. Mas meu pai não quer correr mais riscos. Estamos de volta à estrada, agora escura como o breu, meu pai deixa as lanternas do carro bem fracas para não atrair alguma alma que vague por ali. Alma. Pra onde será que vão as almas dos zumbis? Será que elas ficam presas ao corpo ou já seguiram para outro lugar? Mais perguntas tomam minha mente. E nenhuma resposta se apresenta.

Daqui a algumas horas já fará um dia que estamos na estrada e nada aconteceu. Talvez a praga esteja sendo controlada. Talvez poderemos voltar a nossas vidas normais. Talvez. Mas algo me diz, lá no fundo, que a vida nunca mais poderá ser a mesma.


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