It Was Just A Dream. - Faberry escrita por aliittlelamb


Capítulo 15
Decisões part.1


Notas iniciais do capítulo

Eu gostaria muito de saber se vocês querem acompanhar o tratamento da Rachel, a Quimioterapia e o desenvolvimento da doença. Ou se querem que eu pule esse fase e vá direto ao final... Vocês é quem escolhem, gente ♥ desculpe pelos erros, escrevi com pressa, e muito obrigada mesmo pelos comentários, vocês são uns amores, de verdade.



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“Eu tenho uma teoria. Uma teoria sobre momentos. Momentos de impacto. Minha teoria é que esses momentos, esses flashes de realidade que nos reviram, acabam definindo quem nós somos. Cada um de nós acaba sendo a soma de todos os momentos que tivemos e de todas as pessoas que já conhecemos. São esses momentos que fazem a nossa história, como nossas músicas favoritas que nos trazem lembranças, e tocamos várias e várias vezes em nossa mente." - The Vow


Apesar de ainda estarem sob efeito do "sim", Rachel e Quinn não deixaram de se amar mais intensamente que o possível. Ao longo do tempo em que passavam juntas, não se tornavam somente amantes, mas melhores amigas. Juntas, divertiam-se como crianças, amavam-se como adultos e se respeitavam como humanas. Após o pedido de casamento não-planejado, as duas beijaram-se como se fosse a primeira vez, dormiram no quarto abraçadas e acordaram com largos sorrisos em seus lábios. Rachel preparou hamburger para sua garota e disse que estava sem fome, enquanto Quinn tentava sem sucesso, pescar. É claro que a pequena tirou sarro na loira e filmou as falhas tentativas que tanto a fazia rir.



O tempo estava úmido, mas o sol aparecia mais forte expulsando as nuvens carregadas. O vento soava como uma canção delicada e acariciava o rosto moreno de Rachel, que estava de olhos fechados apreciando o som calmo do rio. Quinn andava de um lado para o outro agora no quarto com a porta trancada e a musica estridente do celular que tocava freneticamente, esfregava as mãos uma na outra em sinal de impaciência e nervosismo, algo estava errado.


No visor do celular o nome dele piscava.

O homem que tantas vezes lhe causou mal e nojo, o homem que a fazia submissa a ele e sentia prazer por isso. O som da chamada lhe trazia lembranças desagradáveis daquele corpo grande e suado em cima de si, de gemidos que lhe causavam náuseas. O único problema é que ela não pensou nele no momento em que pediu Rachel em casamento. Não pensou em seus pais, não pensou sequer na faculdade. E agora tudo vinha á tona com uma simples chamada que ela insistia em ignorar.Não estava arrependida, muito pelo contrário, faria duas, três vezes; só que agora, através da falsa realidade de seus mundos divididos, via-se presa ao recente passado que deixara para trás. A luta seria maior, e a pressão assustadora. Mas não deixaria Rachel se era isso que a impedia de ser feliz, não abandonaria a única pessoa que a fez enxergar algo além da realidade, não deixaria a pequena escapar.

Não dessa vez.

O som irritante parou e Quinn respirou aliviada, guardou o celular no bolso da calça e desceu correndo as escadas atrás de Rachel, elas precisavam conversar, e isso não podia esperar.

– Rachel? - chamou vasculhando os cômodos. - Amor?

Silencio.

Constatou que não estava ali dentro, então abriu a porta do chalé e logo avistou a pequena parada em frente ao rio, com a cabeça erguida e os olhos fechados. Quinn sorriu um pouco e escorou-se ao batente da porta para observa-la, tão linda e apenas sua. Não entendia como era magnético esse sentimento por Rachel, pois a cada segundo separadas, a saudade se tornava insuportável.

Os olhos de Quinn se apertaram quando viu Rachel abaixar a cabeça com dificuldade e cambalear três passos, a loira deu um passo para frente preocupada e ao mesmo tempo Rachel levou as mãos a cabeça e tombou, caindo no rio em um baque. - Rachel! - sentiu o grito sair rasgado, suas pernas puseram-se a trabalhar rapidamente e Quinn correu como nunca pelo gramado largando o celular e a touca pelo caminho, seu coração se apertou e a respiração falhou.

Não soube como, mas no minuto seguinte estava mergulhando na água fria e procurando Rachel. Ignorou a ardência nos olhos e o choque térmico que levou, apenas procurava pelo pequeno corpo em meio a imensidão do fundo. Ela a viu. Flutuando com a boca e braços abertos, olhos fechados e expressão lívida. Nadou rapidamente até Rachel sentindo que seus pulmões precisavam de ar, ou a qualquer momento explodiriam. Na verdade isso não importava para Quinn, precisava apenas levar Rachel para a superfície. Agarrou o tronco da pequena e com muito esforço nadou para cima, o peso de seus corpos não estava ajudando e a loira começava a perder os sentidos devido a falta de ar; piscou algumas vezes na tentativa de manter-se acordada. Num movimento falso, abriu a boca e sentiu a água descer pela sua garganta, começou a engasgar, mas sem soltar Rachel que era sua prioridade.

Quando finalmente viu a luz do sol próxima, pode expirar e tossir com dificuldade, arrastou o corpo desacordado da pequena até o barro. Jogou-se por um instante recuperando os sentidos e então voltou-se para sua garota, com o rosto roxo e as pálpebras pesadas.

– Rachel, acorda Rachel, por favor, acorda! - pedia desesperada sentindo as lágrimas descerem juntamente a água de seu cabelo.

Algo em seu peito parecia ser amarrado com corda e o nó se apertar.

– Amor, abre os olhos, eu estou aqui, vamos lá... - sua voz ao mesmo tempo em que saia determinada, soava baixa.

Não tinha forças para gritar, não tinha forças para fazer mais nada além de chorar olhando para seu amor.

Olhou para os lados procurando alternativas, não sabia o que fazer, estava isolada e perdida, não tinha conhecimentos médicos e tinha medo de fazer algo errado no momento. Avistou então, seu celular jogado na grama, próximo a elas. Era isso, tinha que ser, precisava de Santana nesse momento. Deixou a pequena caída no barro e correu disparada até o aparelho, digitou os números com dificuldade, afinal, suas mãos tremiam.

Aquela chamada demorou um século, os 5 segundos mais demorados de toda a sua vida.

– O que você quer? - a voz do outro lado soou despreocupada.

– Santana! - o grito saiu mais desesperado do que desejou. - Deus! Você está na casa de seus pais?

– Fabray? - a latina agora parecia preocupada. - Estou, o que houve?

Quinn correu de volta para onde Rachel estava caida e se jogou ao lado de seu corpo.

– Chame seu pai, agora! - exclamou passando a mão pelo rosto da pequena. Houve silêncio, mais uma vez, os segundos mais demorados. Quinn chorava cada vez mais e isso a fazia tremer compulsivamente.

– Quinn? - a voz da latina foi substituída por uma voz grave.

– Roberto, por favor, me ajude, Rachel está desmaiada, ela se afogou...Não está respirando, por favor... - repetia perdendo-se nas palavras enquanto passava a mão no rosto de Rachel.

Ela estava ardendo em febre.

– Quinn, acalme-se. - pediu o doutor com a voz controlada. - Ela desmaiou primeiro e depois se afogou?

– É...Eu acho que sim. - não se lembrava mais do que ocorrera antes do desmaio, sua mente estava focada no presente momento.

– Preste atenção, eu quero que você faça boca a boca. Já fez isso? - Quinn negou com a cabeça se esquecendo de que estava no telefone. - Tape o nariz da garota e inspire. Você vai soltar todo o ar na boca dela, entendeu? Observe o tórax dela se encher de ar.

Quinn deixou o celular de lado e olhou para o rosto de Rachel, e se desse errado? E se ela a matasse? Meu Deus! Rachel morreria em mãos, a loira estava certa disso. Mas era tentar ou vê-la morta. Não havia muitas opções no momento, nenhuma, para dizer a verdade. Segurou o rosto de Rachel e fez o que o médico mandou, tapou seu nariz com cuidado e inspirou o máximo que o seu pulmão permitiu.

Alguns segundos depois a pequena tossiu e vomitou a água. Seu corpo se ergueu num susto e em seguida tombou mole, revirando os olhos. Quinn caiu sentada para trás e olhou assustada para a cena, incapaz de se movimentar. Rachel revirava os olhos agora e gemia de dor, estava delirando com a febre.

– Quinn... - disse entre os gemidos. Despertando para a realidade, a loira voltou para o lado de Rachel e a pegou no colo com um pouco de dificuldade.

– Eu estou aqui, meu amor, nós vamos para casa... - Quinn tentava tranquilizar sem mesmo acreditar que conseguiria fazer qualquer coisa naquele momento, pois ainda estava em choque.

Caminhou até o carro e a pequena agarrou seu pescoço para que ela abrisse a porta. Quinn deitou Rachel no banco de trás e deu-lhe um beijo na testa, depois voltou correndo para buscar seu celular, e reunir o máximo possível de pertences que conseguisse, não levaria tudo, não tinha tempo para isso, não tinha nem cabeça para localizar coisas menos importantes. Conseguiu ao todo, arrumar apenas uma mala, o suficiente.


I heard there was a secret chord


That David played and it pleased the Lord


But you don't really care for music do ya

Well it goes like this the fourth the fifth

The minor fall and the major lift

The baffled king composing hallelujah

Voltou as pressas para o carro e jogou a mala no banco do passageiro, trouxe consigo uma manta e a estendeu sob Rachel que gemia e revirava os olhos, ela agarrou a mão de Quinn.


Hallelujah, hallelujah, hallelujah, hallelujah



– Você vai ficar bem, Rachel, eu prometo. - sua voz tremeu e ela soltou-se da pequena.


Voltou para o banco do motorista e ligou o carro, logo estava dando um cavalo de pau na grama e saindo em disparada pela estrada de terra sem se importar com o carro. Ela tinha duas opções, levar Rachel até o hospital da California, ou viajar de volta para Lima. E considerando o estado da pequena, ela considerou por um momento a Califórnia, mas então se lembrou que não conhecia ninguém ali, e em Lima sua pequena estaria mais segura.


Well your faith was strong but you needed proof


You saw her bathing on the roof


Her beauty and the moonlight overthrew ya

She tied you to her kitchen chair

She broke your throne and she cut your hair

And from your lips she drew the hallelujah.

Olhou pelo retrovisor e apertou os lábios, Rachel tremia de frio, e seus gemidos não cessavam. Ela precisava fazer isso.

– Mantenha-se acordada, Rachel, não durma, por favor. - pedia enquanto dirigia em alta velocidade pela pista. - Escute minha voz, e somente a minha voz, não a deixe ir embora, ok? - viu a pequena olha-la de relance no retrovisor e mais uma vez não foi possível segurar as lágrimas. - Lembra-se depois das Regionais? Quando eu perguntei a você se tinha cantado aquela música apenas para Finn?


Baby I've been here before


I've seen this room and I've walked this floor


You know, I used to live alone before I knew ya

And I've seen your flag on the marble arch

And love is not a victory march

It's a cold and it's a broken hallelujah

Não esperou por uma resposta e continuou:

– Eu estava com ciumes. - riu entre lágrimas, então as limpou sabendo que precisava manter-se forte. Olhou pelo retrovisor mais uma vez e percebeu que Rachel a olhava vagamente, os gemidos haviam diminuído, mas ela estava pálida, muito pálida. - Eu estava bem atrás do palco, vendo você cantar, por um momento pensei ter visto seus olhos relancearem para mim, então pensei: Que mal há perguntar? Então você me deu a certeza... -


Hallelujah,hallelujah, hallelujah, hallelujah



Estava molhada, suja, e com o peito tão apertado que chegava a doer, agora, com os olhos de sua amada pregados nos seus, preferia morrer e presenciar aquilo.


– Quando sofri o acidente, na verdade eu estava tentando parar o casamento, isso é tão insano, - riu tristemente mais uma vez. - no hospital eu só me perguntava se você tinha dito sim, se estava casada...Se já era de outro...


Well there was a time when you let me know


What's really going on below


But now you never show that to me do you

But remember when I moved in you

And the holy dove was moving too

And every breath we drew was hallelujah

Sua voz morreu aos poucos. Não podia continuar com aquilo, estava dando facadas em si mesma revivendo aquele passado conturbado e louco. Ouviu seu celular tocar e viu que era Santana.

– Continue ouvindo minha voz, amor. - alertou para Rachel, depois atendeu: - Santana?


Hallelujah, hallelujah, hallelujah, hallelujah



– Quinn? Dios mío! Qué está haciendo, Fabray? - ralhou a latina proferindo xingamentos. - Sabe como me deixou preocupada...?


– Santana, avise os pais de Rachel, estamos indo direto para o hospital, por favor, e peça a seu pai para atendê-la! - praticamente implorou respirando pesadamente.


Well maybe there's a god above


But all I've ever learned from love


Was how to shoot somebody who outdrew ya

And it's not a cry that you hear at night

It's not somebody who's seen the light

It's a cold and it's a broken hallelujah

Rachel voltou a gemer no banco de trás e Quinn quase perdeu o controle do carro com o desespero retomando-a.

– Eu aviso, mas o que está acont... - a loira não deu tempo para que a latia pedisse explicações e jogou o celular no banco ao lado voltando sua concentração para Rachel.


Hallelujah, hallelujah, hallelujah, hallelujah



Ela não podia estar perdendo sua pequena, não era hora de partir. Não era hora de perder a garota de seus sonhos, a garota que lhe trouxera de volta a vida.


Não agora.

***

Já era tarde quando um Impala 67 atravessou a entrada de Lima cantando pneu e derrubando alguns cones que indicavam obras. As pessoas gritaram para Quinn e alguns carros buzinaram em reprovações, mas ninguém fazia ideia de que dentro daquele carro, no banco de trás, uma garota agonizava em febre. Quinn estacionou torto em uma vaga para deficientes, na verdade ela apenas parou, porque o carro continuou ligado.

O Dr. Lopez a aguardava na porta do hospital junto de alguns enfermeiros, eles ajudaram Quinn a tirar Rachel do banco e a colocá-la numa maca, a loira a acompanhou sem nunca desgrudar as mãos. Entraram no hospital e os Berry logo apareceram as pressas da sala de espera, Rachel remexia-se e assim que seus olhos entraram em contato com a luz forte do lugar, apertou com mais força a mão de Quinn, como se fosse arrancá-la.

– Q-quinn...Não...Não me deixe morrer...Eu não-não quero. - pedia a pequena ainda entre gemidos. - Eu-eu estou com medo...

Mas a loira foi barrada na porta do quarto por um enfermeiro assim que o doutor Lopez entrou no quarto com Rachel.

– Me deixe entrar! - exclamou empurrando o enfermeiro. - Eu quer entrar, não vou abandoná-la, saia da minha frente.

Tentou a todo custo tirar o enfermeiro de sua frente, mas ele era bem maior e mais forte. Sentiu braços femininos a puxarem para longe do quarto, tentou soltar-se, mas estava fraca pela viagem e desgastada emocionalmente. Os braços de Brittany a envolveram fraternalmente e Quinn caiu de joelhos no corredor do hospital, chorando como uma criança.

– Ela vai ficar bem. - garantiu Brittany afagando o rosto da loira. - Foi apenas um susto, calma Q...

Demorou um tempo até o choro cessar, o coração de Quinn ainda batia descompassado e ela e Brittany ainda estavam sentadas no chão. Levantou os olhos um pouco e viu os Berry consolando-se silenciosamente e Santana sentada em uma poltrona, parecendo não saber o que fazer. Parou um segundo para analisar a si mesma e constatou que estava suja de lama e suas roupas úmidas, a ex cherrio não pareceu se importar com as roupas de Quinn e a apertou mais forte em seu peito, aquilo a relaxou por um momento.

– Querida... - a loira ouviu a voz temorosa de Leroy, soltou-se um pouco da amiga e o encarou - Pode nos dizer o que houve?

Quinn olhou para Santana que ainda a encarava sem uma expressão significativa, então criou forças e apoiando-se em Brittany, levantou-se e tentou lembrar-se dos detalhes.

– Eu não sei bem o que houve... - hesitou. - Em um momento ela estava bem e no momento seguinte, caiu desacordada na água...

Leroy percebeu que a loira não continuaria, e não estava em condições de insistir. Ninguém ali estava, pois neste exato momento sua filha estava em um quarto de hospital sem eles saberem o que estava havendo. Quinn caminhou até Santana, deixando que Hiram abraçasse o marido, e esperou até que a latina se levantasse e a abraçasse fortemente.

– Como você está? - perguntou preocupada separando-se do abraço e enlançando a cintura de Brittany.

Quinn deu de ombros e olhou em direção ao quarto, as janelas estavam fechadas e apenas uma luz forte vinha do feixe da porta.

– Sem forças...Não sei se consigo continuar com isso.

Santana lançou um olhar reprovador a amiga e segurou sua mão:- Você consegue! E se está sem forças...Pode usar as minhas, estão novinhas...

Nesse momento o Dr. Lopez abriu a porta do quarto e a fechou atrás de si, mantinha uma expressão séria, e encarava os Berry quando se aproximou.

– E então doutor? - perguntou Leroy adiantando-se. Quinn postou-se ao lado dele e sentiu o nó se apertar mais ainda, estava com medo.

Roberto olhou de Leroy para Hiram, de Hiram para Quinn, e de Quinn para Santana e Brittany mais atrás. Depois seus olhos procuraram os de Leroy novamente para dizer:

– A Srta. Berry precisará passar a noite aqui, estamos tentando controlar a febre e alimentando-a por sonda, tentamos fazê-la comer normalmente antes disso, mas acabou vomitando a comida... - se voltou para Quinn. - Estou orgulhoso do que fez Quinn, ela está viva por sua causa.

Os Berry olharam intrigados para o rosto enrubecido de Quinn, Santana pigarreou e Roberto expirou e continuou para Leroy:

– Vou ser franco com os senhores: Sua filha está morrendo. - Quinn fechou os olhos e Leroy agarrou Hiram enterrando a cabeça em seu peito, o médico não viu outra opção a não ser continuar: - A Srta. Berry está começando a ter os sintomas, isso tende a piorar e o tratamento tem o objetivo de destruir as células leucêmicas, para que a medula óssea volte a produzir células normais. - houve uma pausa onde ele deixou que os presentes digerissem o que acabara de dizer, principalmente Quinn que estava apavorada e tremendo. - Isso pode tanto prolongar o tempo de vida da garota, quanto não fazer efeito nenhum...

Hiram olhou para o marido temeroso, Leroy concordou com a cabeça e então disse:

– Ela não quer fazer...

Quinn arregalou os olhos e interrompeu:

– Ela não pode querer, Rachel não sabe o que quer! - exclamou para os Berry que se surpreenderam com a atitude. - Eu preciso vê-la, me deixe conversar com Rachel antes de qualquer coisa.

Roberto esperou que os Berry concordassem com o pedido de Quinn e então concordou em deixá-la entrar quando Rachel estivesse acordada.

As horas começaram a passar e o sol se pôs, sendo substituído pela lua e um céu estrelado. Quinn permanecia no hospital e o mal cheiro de suas roupas começava a ser notável, as pessoas que passavam pelo corredor franziam o nariz sentindo o fedor. Ela não se importou, controlou o sono e o cansaço e se manteve sentada na sala de espera, com Santana e os Berry ao seu lado - Brittany precisou ir para casa, mas prometeu que voltaria assim que possível -, conforme o tempo passava, o Dr. Lopez fazia algumas visitas a sala de espera para dar noticias da recuperação de Rachel da febre; em uma dessas visitas ele pediu para que Quinn o acompanhasse até o quarto, pois a pequena já estava acordada.

– Eu não deveria deixá-la entrar, - explicou abrindo a porta. - seja breve, ela está sedada.

Fez sinal para que os enfermeiros saíssem e deixou as duas a sós. Novamente, Quinn se viu diante de uma Rachel irreconhecível, com agulhas em sua veia e sonda. Agora ela parecia mais calma, ainda mantinha uma expressão de dor, mas não existiam mais gemidos. Ela deu um meio sorriso ao ver Quinn:

– A primeira vez que você entrou por essa porta foi o começo do nosso romance, e a ultima é o nosso casamento. - comentou Rachel com a voz fraca, quase inaudível.

Quinn não sorriu, não achou graça e Rachel percebeu isso, por seu sorriso morreu, e o silencio incômodo tomou conta do quarto. A loira estava machucada por dentro, e a pequena parecia não perceber isso.

– Eu estou morrendo, não é? - perguntou agora com a voz séria.

A loira se aproximou da cama ignorando a pergunta.

– Lembra-se quando disse que eu era um de seus sonhos?

Rachel concordou e Quinn tomou fôlego para continuar:

– Então mantenha esse sonho vivo, e lute por ele... - Quinn se esforçou para não chorar outra vez. - Antes você não tinha uma razão para continuar viva, Rachel, não tinha ninguém que a amasse como mulher, mas eu estou aqui! - segurou a mão dela. - Estou aqui implorando que viva mais, faça esses tratamentos...

A pequena soltou as mãos e negou já chorando.

– Eu não posso...

– Sim, você pode! - agora Quinn estava irritada. Por que Rachel não entendia que a estava torturando com isso? - Se você tentar, não vai ser um pássaro que experimentou a liberdade antes de ter as asas cortadas...Vai ser o pássaro que ao menos sentiu-se solto por um momento, porque são esses momentos, Rachel, que contam no fim disso tudo.

Silêncio, um dos enfermeiros pediu licença e entrou para trocar o soro de Rachel. As duas trocavam olhares profundos, o de Quinn era severo e o de Rachel angustiado, sofrido, machucado. Assim que o enfermeiro saiu outra vez, a pequena retomou:

– Eu vou ficar careca, eu vou ficar horrível! - choramingou cruzando os braços.

Quinn ficou atordoada. Então era esse o problema? Ficar feia? Como ela podia pensar assim quando sua própria vida estava em risco, quando a vida de Quinn estava em suas mãos!

A loira balançou a cabeça incrédula e disse:

– Então me desculpe, mas eu não vou me casar com seu túmulo! - a frase saiu cortando seus sentimentos, mas também sincera.

Rachel abriu a boca chocada vendo Quinn dar-lhe as costas para sair e chamou:

– Quinn? - a loira se virou para encará-la. - Você...Vai me deixar se eu ficar feia?

– Você não vai ficar feia! - afirmou Quinn voltando para perto da pequena. - Você vai ser a garota mais linda desse lugar ou de qualquer outro. Eu não me apaixonei por seu cabelo Rach, eu me apaixonei pelo seu coração...Pelo que você é.

Roberto bateu na porta e a abriu dizendo a Quinn que Rachel precisava descansar. A loira lançou um olhar energético para a pequena e acompanhou o doutor para fora, não sem antes ouvir:

– Eu faço! - os dois olharam para Rachel. - Quero fazer a quimioterapia...

Quinn sorriu um pouco aliviada e correu para lhe dar um beijo em agradecimento, sentiu o gosto de remédio nos lábios da pequena. Assim que voltaram para a sala de espera, Roberto deu a noticia para os Berry que não contiveram o choro de felicidade e abraçaram Quinn fortemente agradecendo por convencer Rachel.

– Eu vou estudar o DNA de Rachel e posso dizer que começamos em dois ou três dias a quimioterapia. - explicou o doutor para os presentes. - Vou por um cateter em sua punção subclávia para facilitar o tratamento.

– E os efeitos colaterais? - perguntou Hiram preocupado.

– Bom, na primeira dose do remédio pode ser que ela tenha náuseas e venha a vomitar. Depois de três semanas no máximo, haverá queda de cabelo. Depende da imunidade da Srta. Berry, pode ser que ela não sofra nenhum efeito...Há também a perda de apetite, cansaço e irritabilidade. - Quinn abaixou a cabeça anotando mentalmente cada palavra, e preparando-se psicologicamente para um sofrimento ainda maior. - Eu não posso dizer ao certo o que vai acontecer, posso apenas dar-lhes essa base.

Quinn e os Berry concordaram com o Dr. Lopez agradecendo o esforço do médico. Santana abraçou mais uma vez a amiga e disse-lhe para que a acompanhasse até em casa para um banho quente. A loira negou de inicio, mas Hiram insistiu para que ela cuidasse de si mesma antes que os tratamentos de Rachel começassem, e garantiu que ele e seu marido não sairiam dali por momento algum. Então Quinn foi com Santana para casa dos pais - a latina dirigiu o Impala devido ao estado emocional da loira -, já em casa, Maribel conduziu Quinn até o banheiro e disse-lhe que ficasse a vontade, todos pareciam ter pena da loira. E ela odiava isso. Odiava ser o centro as atenções agora, inclusive de pena, ela não precisava disso, nem mesmo Rachel precisava da pena de ninguém.

Enquanto deixava a água quente escorrer em seu corpo, perguntou-se o quão forte havia se tornado em todos esses anos, e diante dessa questão, teve certeza de que sua força seria testada dali algumas semanas.

Depois do banho, Quinn vestiu uma das roupas que tinha enfiado na mala a força e descansou na cama de Santana, descansou no sentido literal, pois ela acordou apenas no outro dia de manhã sob os protestos da latina de que queria sua cama de volta.

– Sério Fabray, você tem uma cama, e não é essa! - brincou dando palmadinhas no ombro da amiga que escovava os dentes - Inclusive, sua mãe ligou. Soube que você está em Lima e seu pai exige que você vá vê-los...

Quinn engasgou com a água e foi obrigada a apoiar-se na latina. Visitar seus pais?

Suicidio.

– Ele disse que viria te buscar se você não fosse até lá. - continuou a latina entendendo a expressão da amiga. - Escolha.

Recebeu um olhar severo da amiga e saiu do quarto para o café da manhã. Roberto estava de plantão no hospital e Maribel fez Quinn comer bacon, sabendo que era seu prato preferido desde pequena, e aconselhou a garota a visitar seus pais. Ótimo, mais uma. Ninguém ali entendia que ela simplesmente não se dava bem com os pais, e que não seria apenas uma visita. Mas sabia que precisaria enfrentar parte da realidade mais cedo ou mais tarde, e quanto mais cedo, melhor, pois precisava estar com Rachel no momento me que as coisa se tornassem obscuras.

Despediu-se dos Lopez com um até logo e rumou direto para sua antiga mansão, com frio na barriga e falsas esperanças de ser bem recebida. O caminho todo ela lançava olhares para o retrovisor vendo agora o banco vazio, era como se os gemidos de Rachel ainda ecoassem ali dentro e o cheiro de barro estivesse impregnado no carro.

Estacionou em frente a casa que por tantos anos chamou de sua, desceu hesitante e atrasou o máximo que pode os passos até a porta. Tocou a campainha e engoliu em seco. Houve um barulho do lado de dentro e então a porta se abriu revelando uma mulher de meia idade, com as feições idênticas as de Quinn.

Os olhos da mulher aumentaram no mesmo instante ao ver a filha e correu para abraçá-la.

– Quinnie! - exclamou separando-se do abraço a passando a mão no rosto da filha. - Você está linda.

Quinn suspirou, sentia saudades da mãe. E apenas da mãe, era a mulher quem lhe dava colo quando machucava, ou quando chorava em silencio na expectativa de que ninguém ouvisse. O único problema, é que não conseguia estar feliz em voltar ali.

– Você está bem? Entre. - Judy conduziu a filha pela casa, nada havia mudado, constatou Quinn. - Soube que estava de férias na casa de Santana.

– Eu estou bem, mãe. - tranquilizou-a sentando no sofá. - Sim, eu estava na casa de Santana...

– Até Berry interferir. - uma voz grossa e séria completou a frase. Quinn revirou os olhos e suspirou.

Levantou-se no mesmo instante para encarar Russell Fabray que vinha da cozinha abotoando sua camisa, viu quando Judy recolheu-se.

– Ela não interferiu, - interpôs Quinn séria. - e olá para você também, papai.

Os dois trocaram olhares graves até Russell parar em frente a Quinn. A diferença de tamanho fez a loira recuar um pouco para encarar o pai nos olhos.

– Eu perguntaria se você está bem, mas só de olhar para suas olheiras já posso ter certeza. - continuou o homem com expressão amarga.

– Russell... - pediu Judy se adiantando, o homem fez sinal para que se calasse e ela obedeceu no mesmo instante abaixando a cabeça.

Quinn olhou a cena incrédula não acreditando que depois de tantos anos, sua mãe ainda temesse ao próprio marido.

– Se me chamou aqui para falar de Rachel, eu acho melhor eu ir embora. - adiantou a loira sem demonstrar medo para o pai.

Russell passou por Quinn sem tirar os olhos dela, estava examinando a filha como um cão examina sua caça.

– Eu só quero ter certeza de que minha filha não se tornou uma aberração como os Berry.

Ao ouvir isso, os batimentos de Quinn trabalharam mais rápido e o ódio a consumiu.

– Não fale assim deles! - explodiu. - Leroy e Hiram me trataram melhor em apenas um dia do que você em vinte e um anos.

Uma veia pulsou no pescoço do homem, e seu rosto pálido passou para uma coloração avermelhada. Judy agarrou o braço de Quinn, mas já era tarde, a loira estava descontrolada.

– Rachel está doente, e eu vou cuidar dela...

– Você não tem nada com a vida daquela vadiazinha, Lucy! - Russell berrou mais alto cuspindo. - Seu lugar é em Yale, e que carro é aquele lá fora? Você vai devolver aquela coisa ainda hoje e...

Num estrondo, a mesa de centro voou para longe com o chute de Quinn. Judy tentou agarrar ainda mais forte o braço da filha, mas foi empurrada, a loira também adquiria uma coloração avermelhada, e sua raiva era tanta que tinha vontade de bater em seu pai.

– Cale a boca, seu imundo! - gritou, o homem cerrou os punhos. - Você não sabe a definição de certo ou errado, peca todos os dias, trai a sua própria mulher, e quer me dar lição de moral? - a loira fechou a distancia entre eles deixando apenas espaço para que respirassem. - E se quer saber, eu vou me casar com Rachel! - nesse mesmo instante os lhos de Russell dilataram e Quinn se afastou, mas continuou: - Sua garotinha cresceu, papai! - riu com escarnio. - Cresceu e está perdidamente apaixonada por uma mulher!

– O que? - a voz de Russell saiu frustrada pela raiva.

Quinn não ousou se aproximar mais do pai, mas não podia deixar de soltar seu ódio em palavras:

– Quer saber mais? Estou deixando Yale! Estou vindo morar em Lima, e pretendo fazer faculdade de fotografia. - riu ainda mais da cara do homem, Judy chorava atrás da filha. - Eu vou me casar com Rachel, ela vai melhorar, nós vamos ter filhos e você nunca mais verá meu rosto na sua vida!

Russell partiu para cima de Quinn que recuou o máximo que pode, ela tropeçou e caiu. Assim que fechou os olhou, ouviu um grito e algo se quebrou, em seguida abriu os olhos a tempo de ver o corpo de seu pai desmontar sob os cacos de vidro do que seria um vaso e Judy parada com as mãos ainda erguidas e olhos arregalados.

– Eu sempre quis fazer isso. - comentou depois de um breve momento olhando para o marido desacordado no chão. Ergueu os olhos para a filha e seu timidamente. - Pena que tenha sido tão tarde.

Quinn se levantou rapidamente e correu abraçar a mãe quase em fôlego. Chorou intensamente no ombro daquela que se tornara sua heroína.

– Chega de chorar... - continuou Judy afagando o cabelo da filha. - Rachel precisa mais de você agora.

– Eu não posso deixá-la sozinha com esse monstro! - interrompeu Quinn apontando para Russell.

Judy balançou a cabeça negativamente e enxugou as lágrimas do rosto da loira.

– Eu vou pedir o divórcio, você me deu força para isso. - recebeu mais um abraço. - Eu estou tão orgulhosa de você, Quinnie!

As duas sorriram e Judy pediu a filha que fosse embora antes que o homem acordasse, prometendo que chamaria a policia. Quinn dirigiu de volta para a casa dos Lopez sentindo a adrenalina dentro de si. Repentinamente sentiu necessidade de ter Rachel lhe dizendo que tudo ficaria bem, quis chorar, gritar, fugir dali. Só não podia. Ela precisava resolver tudo, estar livre para sua garota e ser apenas dela.

Então fez o que era necessário no momento seguinte, pegou seu celular e discou um numero conhecido: "Charles Connel"


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Notas finais do capítulo

Musica: Hallelujah - Espen Lind, Askil Holm, Alejandro Fuentes, Kurt Nilsen



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