Fazia uma semana, ou mais, ou talvez menos, tinha a impressão que  não saberia disser mesmo se houvesse contado.

Estava examinando alguns mapas do reino, umas chuva forte vinda do norte batia em sua janela, quando Evelyn, uma das criadas entrou em seus aposentos, ela trabalhava levando e trazendo as cartas que chegavam ao reino.

- Com licença vossa graça – murmurou a moça – Uma carta de sir Gwaine para o senhor.

Arthur retirou os olhos dos mapas, um brilho de esperança brincava em seus olhos e podia ver a expressão da moça, parecia ansiosa.

- O que fala? – os olhos do rei seguiram a expressão tristonha da moça ao ver seus olhos irem de encontro ao chão.

- Espero que seja alguma boa notícia sobre Merlin, apesar de não poder lhe assegurar – Arthur chutou-se mentalmente por aquilo, estava tão acostumado com Merlin que esquecia que a maioria dos servos, ou melhor, todos, eram analfabetos.

- Sinto muito Evelyn – ele respondeu.

- Não há o que se desculpar My Lord – respondeu ela – Se me permite. – ela fez uma curta reverencia e se dirigiu até a porta, quando Arthur se deu conta que a garota também estava sofrendo pelo tempo que o servo estava afastado, mais de uma vez ouvira Gwen comentar que mais cedo ou mais tarde Merlin se casaria com ela, no começo não vira nada que pudesse atrair nenhum homem, mas também não a via com frequência.

Antes do desaparecimento do rapaz de servir, ela trabalhava nas cozinhas e tinha contato apenas com os servos que serviam a família real e o resto da corte, mas desde que ela assumira o lugar de Merlin na entrega das correspondências notara a beleza da mulher, ela tinha o rosto bem desenhado e olhos amendoados de um castanho profundo, o nariz era proporcional aos olhos e a boca era cheia e rosada, os cabelos caiam em longas cascatas de cachos negros que se soltavam da trança e pulavam para fora dos lenços de cabeça, era de longe uma bela mulher.

- Evelyn – chamou com a carta brincando em suas mãos – Fique, sei que está preocupada.

- Não poderia meu senhor, Gaius me disse que o assunto é extremamente “confidencial”, seja lá o que seja isso.  – ela respondeu firmemente apesar da curiosidade que brilhava em seus olhos e pareceria inexistente se você prestasse mais atenção em sua voz.

- Se me prometer que nada deste conteúdo sairá daqui – ele falou.

- Não me leve a mal senhor, mas não sou uma dessas empregadas que fica ouvindo e soltando boatos ao vento, na verdade prefiro mesmo manter-me distante.

- Então sinto muito se a ofendi de qualquer forma.

- Eu deveria me desculpar por me sentir ofendida – ele podia ver aquela insolência de Merlin por baixo de toda aquela cortesia, talvez Merlin realmente pudesse se apaixonar por ela um dia e talvez ela realmente fosse a melhor escolha para ele.

- Então fique e escute, em sinal de perdão – respondeu a moça que sorriu e retornou para perto da mesa.

Arthur esperou que ela se sentasse na cadeira em frente a ele, mas não ela apenas se manteve ali, em pé.

-“Ao Rei Arthur, vulgo Princesa, em Camelot” – o rei começou a ler, enquanto a moça prendia o riso – “ As buscas já passam de uma semana, na aldeia de Ealdor ninguém o viu e na estrada não rastros dele, o que por um lado é bom, se houvesse sido morto com certeza encontraríamos seus restos, mesmo assim não há como ter certeza, uma vez que a chuva que caiu por estas bandas semana passada pode ter arrastado seus restos, o que importa é que as buscas estão se tornando duras e tivemos uma baixa considerável da comitiva de dez guardas sobraram apenas a mim e mais dois, quatro morreram no caminho e três ficaram na aldeia por conta de ferimentos, torça para que encontre algo dentro de uma quinzena, mais que isso já podemos toma-lo como morto, pois mesmo os mais habilidosos cavaleiros não sobreviveriam a tanto tempo longe de casa, sem comida ou abrigo, então imagine Merlin.

Tentando manter o otimismo, Gwaine.”

A menina abaixou os olhos novamente e Arthur pode ver as lágrimas nos cantos de seus olhos.

- Pode ir, a manterei informada.

- Brigada My Lord – ela respondeu, mas ao chegar à porta se deteve – Ele pode sobreviver, não? Quer dizer, ele pode ter achado algum local para ficar e se alimentar, afinal ele é o Merlin e tem amigos em todos os locais de Albion.

- Eu gostaria de ter tanta certeza quanto você – o rei falou se levantando – Mas a verdade é que eu não sei, eu conheço Merlin e conheço sua anormal capacidade de tirar amigos mesmo dos lugares mais bizarros e improváveis possíveis – isso só pareceu piorar a situação da menina, sim, era isso que ela era, uma menina esperando pelo seu príncipe encantado ou o mais perto disso que poderia ter – Mas não vamos ser pessimistas, como Gwaine disse, ainda irão procurar por uma quinzena e isso é isso já é meio mês, um bom tempo.

Ela acenou com a cabeça antes de sair pela porta, Arthur se deixou cair novamente em sua cadeira, olhando a chuva lá fora, Evelyn estava certa quanto ao fato de Merlin conseguir se entender com qualquer um em qualquer momento ou situação e mesmo que não fosse assim, ele tinha sempre um jeito de fazer as coisas correrem ao seu favor, mas pelas contas fazia pelo menos uma semana de busca, sem contar o tempo que passara desde que sairá, e se não estava em Ealdor onde estaria.

Sua mente se voltou para sua irmã, Morgana sempre fora mais ativa quando se tratava de seus amigos, muitos anos antes, ele quase desistira de ajudar Merlin quando bebeu um vinho envenenado que tinha um destino para o próprio Arthur e fora Morgana que o incentivara a enfrentar o pai, ela salvara tantas vezes, Merlin, Gwen e ele mesmo e até mesmo um menino druida, Mordred. Como ela pode mudar tanto? E por quê?

Lágrimas escorriam pelo seu rosto como as gotas de chuva pela janela, quando Gwen entrou por um momento quis apenas ficar sozinho, se fosse outra pessoa até poderia se zangar, mas com Gwen jamais.

- Não chore meu amor, Merlin ira voltar vivo. – ela falou apagando suas lágrimas.

- Não por isso, é todos esses anos, principalmente Morgana, às vezes me pergunto o que acontece para ela mudar tanto?- ele respondeu.

- Ás vezes me pergunto a mesma coisa – Gwen lhe respondeu – Mas...

- O que foi?

- Nada, apenas um pensamento idiota. – ela lhe beijou os lábios de leve para tentar afastar todos os pensamentos ruins tanto os dela como os dele.