Aurora

Dia 5. Sexta-feira, dia da festa de ‘Boas-Vindas’. Todo ano, o sênior mais popular tinha a tarefa de fazer essa festa. Era a festa que marcava o início do ano para todos os alunos. Era a festa que marcava os populares e os perdedores. E Aurora havia sobrevivido 3 festas dessas como uma popular, não iria falhar dessa vez.

Era o almoço de sexta e a escola inteira já estava vibrando em antecipação à festa. Os professores sabiam disso muito bem e a maioria nem tentava passar conteúdo nesse dia. Aurora acreditava que finalmente poderia ficar com Felipe, o novato fofo da sua sala de música e educação física. Ele nunca aparecia no almoço então Aurora sentava-se a sua mesa de amigas como sempre.

Aurora conversava animadamente com suas amigas quando notou Felipe na fila do almoço. ‘Estranho. Sempre achei que ele trouxesse comida de casa já que nunca o vi na fila’. Sem dizer nada para as amigas, levantou-se e foi até a fila. Ouviu as amigas perguntando aonde ia ao longe mas ignorou e colocou seu melhor sorriso.

“Oi. Estranho te ver por aqui” Ela disse cutucando o ombro do moreno. Ele se virou e sorriu a bandeja quase caindo de suas mãos. Aurora segurou-a e quando suas mãos se tocaram, vermelho preencheu sua face e retirou suas mãos de debaixo da bandeja o mais rápido possível “Ah, desculpa” Falou olhando para baixo. “Mal nos conhecemos afinal de contas. Sou Aurora” Ela sorriu, as bochechas agora num tom forte de rosa.

“Felipe, mas eu já sabia seu nome” Ele falou com um sorriso largo.

“E-eu também já sabia o seu. Mas como nunca nos falamos de verdade além daquelas conversas curtas eu achei melhor me apresentar direito” A loira enrolou um cacho ao redor do dedo e puxava e virava nervosamente. “Tá sabendo da festa de hoje a noite?”

“Ah, tô. Achei melhor não ir, ainda não conheço muita gente daqui.”

“Você pode ir comigo” Ela diz num tom de quem não quer nada, mesmo querendo imensamente. “É sempre bom ir, se você não vai irá pra sempre ser tachado de perdedor e anti-social”

“Ah, não sei cara...” Ele diz, meio hesitante. “Eu vejo isso. Te aviso o que eu decidir na aula de Educação Física” Ele sorri e vai embora. Aurora está meio desapontada, mas feliz que tem uma pequena esperança de vê-lo na festa mais tarde. Ela volta para a mesa e ignora os olhares acusatórios de suas amigas. Só pensa no que vai vestir para impressionar Felipe. E em como vai conseguir escapar suas três guardiãs que jamais a deixam sair de casa depois das 7 da noite.

O dia passou em um borrão para Aurora, ela mal prestava atenção ao que acontecia. Quando o último horário, Educação Física, chegou, ela mal podia conter sua histeria de animação. Felipe e a festa eram os únicos pensamentos enquanto trocava-se no vestiário e prendia seus cabelos longos em um rabo-de-cavalo alto.

Quando viu Felipe, sorriu e deu um tchauzinho. Ele sorriu de volta e Aurora foi juntar-se às suas amigas, tentando ignorar sua necessidade de ir até o menino e perguntar se ele vai ou não. Não devia botar pressão, ou ela poderia acabar parecendo uma chata. Hoje eles teriam que jogar vôlei e Aurora sorriu internamente, ela era ótima em vôlei. A aula passou rápida e cheia de euforia, Aurora conseguiu marcar vários pontos para sua equipe e quase se esqueceu da festa de mais tarde. Quando o apito do professor soou em seus ouvidos ela deu high five nos jogadores do seu time e foi até a arquibancada com um sorriso de quem se divertiu bastante.

“Oi, Rora?..” Uma voz que ela reconheceu e que ansiava ouvir há horas lhe chamou, hesitante. Virou-se para Felipe com um sorriso.

“E aí, Lipe? Resolveu se vai ou não?” Perguntou e o menino sorriu de volta.

“Eu resolvi que vou. Se você não desgrudar de mim.” Ele piscou e as bochechas da loira queimaram.

“Hã, c-claro” Deu um tapa mental em si mesma por gaguejar mas conseguiu manter o sorriso. “Você sabe o caminho?”

“Er, infelizmente não.”

“Ah, tudo bem. Se você me pegar na minha casa eu mostro o caminho pra você” Ela sentiu as bochechas queimarem ainda mais com a sugestão, mas ignorou.

“Parece bom. Onde você mora?” Ele perguntou e a loira pegou sua mão. Escreveu o endereço com uma caneta bic que tinha usado pra prender o cabelo num nó por causa do suor. Ela soltou a mão do garoto e tampou a caneta.

“Aparece umas oito horas, tá bem? A festa começa sete e meia, mas eu odeio chegar cedo” Ele riu e concordou com a cabeça, pegando a mão da loira.

“Até depois então, princesa” Beijou a mão e saiu, deixando uma Aurora tonta e hiperventilando. Quando a porta do ginásio fechou atrás de Felipe ela caiu na arquibancada com as pernas bambas, mas um sorriso gigante na face.

“EU TENHO UM ENCONTRO!!” Ela diz pra si mesma num gritinho agudo, que mais parecia um guincho. Pegou suas coisas e foi voando para o seu carro, mal podendo esperar por mais tarde. Chegando em casa comeu uma maçã e foi para o chuveiro. Passou uns bons 45 minutos embaixo do chuveiro e se desculpou com o meio-ambiente, mas hoje era um dia especial.

Passou quase uma hora procurando o que vestir, seu armário inteiro estava jogado na cama e ela não sabia o que usar. O desespero começou quando olhou para o rádio-relógio e viu que faltava menos de uma hora para que Felipe chegasse. Gritou da porta:

“TIA FAUNA! TIA FLORA! TIA PRIMAVERA! ME AJUDEM PELO AMOR DE DEUS!” Devia ter parecido bem desesperada pois as três mulheres de meia-idade vieram quase correndo (se pudessem correr, claro)

“Meu Deus, Rosa o que aconteceu?!” A irmã mais velha das três, Flora, disse entre respirações fundas de cansaço.

“Eu não tenho nada pra vestir!!” Disse a loira, profundamente frustrada e jogou uma blusinha rosa na cama junto com o resto das roupas.

“Ora essa, amor, eu só vejo roupa na sua cama” Fauna disse, gentilmente.

“De nada adianta! Eu preciso estar perfeita! Preciso impressionar o Felipe!” Ela se jogou na cadeira de sua penteadeira e soluçou, tentando não chorar de desespero.

“Ah querida, é simples. Use rosa!” Flora disse e jogou um vestido rosa para Aurora.

“Não, não, não. Azul!” Primavera disse e deu um macaquinho azul bebê para a menina, olhando feio para a irmã.

“Rosa!”

“Azul!”

“Rosa!”

“Azul!”

“P-porque não os dois?” Aurora disse, tentando conciliar os nervos que estavam explodindo na sala.

“Claro que não, ficaria horrível” As duas disseram em uníssono.

“Ah, eu acho que não. Se eu pegar... Esse blazer rosa” Disse arrancando um blazer de uma camada mais baixa de roupas da cama. “E... Esse corpete branca com esses shorts...” pegou um corpete e um short de cintura alta jeans de cima de um travesseiro. “Com uns sapatos azuis ficariam bons!” Ela sorriu e correu para o banheiro para se trocar. Vestiu-se, passou a maquiagem e fez ondas largas no cabelo. Correu até a penteadeira e pegou umas jóias bem na hora em que ouviu a campainha tocar. Respirou fundo, checou o espelho uma última vez e desceu as escadas.

Ali estava, seu príncipe encantado, conversando educadamente com Flora na porta. Quando a viu sorriu e acenou.

“Oi, Rora. Como vai?” Ele pergunta, educado. Estava vestindo uma camisa branca com alguma coisa escrita, um colete preto, calça jeans e all-star. Estava tão lindo que Aurora quase desmaia.

“Estou bem, e você? Pronto pra festa?” Ela sorri pra ele e ele ri.

“Acho que sim né?”

“Ok, vamos lá então” Aurora diz, dá um beijo nas bochechas das senhoras que tomaram conta dela a vida toda e entra no carro de Felipe. Educado como sempre, o jovem abriu a porta para ela, o que só reforçou a imagem de príncipe que a menina tinha do moreno. Ela deu as direções e em pouco menos de meia hora, eles chegaram na festa. A música alta dava pra ser ouvida a um quarteirão de distância e já haviam pessoas se pegando e bagunça no quintal. Felipe conseguiu estacionar na frente de um vizinho do dono da festa e os dois saíram do carro.

“Pronto para a maior festa do ano?” Aurora perguntou com um sorriso maroto.

“Mais pronto que nunca” Ele sorriu de volta e pegou o braço da loira, os dois indo até a porta juntos. E Aurora nunca parou para notar um emo perto de uma árvore que a seguia com os olhos arregalados e atentos.