Alexithymia escrita por Meggs B Haloway


Capítulo 24
Capítulo 23 — Perdão x Confiança.


Notas iniciais do capítulo

Seria legal se vocês lessem as notas finais ♥



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— Edward! — Aquilo era tudo que Bella gritava repetidas vezes, o rosto banhado de lágrimas e vermelhos. Foram precisos dois capatazes para controlar seus braços já que a minha garota tinha uma força sobrenatural quando estava amedrontada ou com medo. A pior parte foi não poder fazer nada e apenas ficar olhando o seu rosto se encher de compreensão. Aos poucos ela parou de gritar o meu nome e tudo que fez foi chorar com soluços baixos e se deixar ser levada.

Eu disse a John que eu precisava de um tempo e que em breve estaria lá. Ele apenas assentiu, visivelmente animado por eu não ter mostrado nenhuma aversão a puxar Bella bruscamente. Eu guardava essa aversão bem lá no fundo para quando eu fosse matá-lo, eu guardaria toda ira acumulada para esse momento de esplendor.

Ele era sádico o bastante para fingir que ia balear Riley na cabeça quando a arma estava sem munição, mas eu preferia que ele tivesse baleado. Eu sabia bem o quanto Riley seria torturado depois, eu sabia bem o quanto a namorada dele sofreria por está-lo acompanhando. John não era piedoso com ninguém, ele nem mesmo foi piedoso com sua irmã ao matá-la sem pensar duas vezes por um erro mínimo que ela cometeu.

E ao pensar na minha garota em suas mãos, sofrendo, um fogo que nascia nas pontas dos dedos de meus pés e vinha até a minha testa dentro de mim. O fogo da fúria e ódio. O mesmo que me fez pegar um dos vários vasos que tinha de enfeite na estante e jogar na parede com toda força que eu possuía. Queria que aquilo em minha mão fosse à cabeça psicótica de John, queria que ele estivesse morto. Queria que minha garota estivesse em minha cama, sorrindo e dizendo que eu dormia feito uma mula.

Eu o odiava tanto que chegava a doer. Não. Isso que estava doendo não era o ódio, era a minha consciência gritante que me dizia que eu quem mandou Bella para isso. Céus, eu a mandei para isso, eu a estava fazendo sofrer como o canalha que era. Eu coloquei sua vida em risco desde o momento em que entrei em sua sala naquela maldita empresa, eu estava me torturando desde a primeira vez que a beijei, a primeira vez que a amei.

— Edward? — A voz cautelosa de Alice invadiu a sala bagunçada em que eu tinha meu rosto entre as mãos. — Ah meu Deus, o que aconteceu por aqui? Você está… hum, chorando?

— Preciso que faça algo por mim. — Limpei os resquícios de algo em meu rosto e suspirei.

— Qualquer coisa. — Por que as pessoas confiavam em mim tão cegamente? Eu não merecia, era um monstro.

— Saia da Austrália. — Ela ia começar a negar com o rosto, no entanto andei até ela e agarrei seus ombros em minhas mãos, chacoalhando-a. — Isso não é um pedido, Alice. É uma ordem. Você tem de sair do país e ir para algum lugar onde seja impossível saberem onde você está. Por favor, Alice, por favor. Por mim, pelo papai — A essa altura ela já estava em lágrimas e pacientemente, passei os dedos por seu rosto — e pela mamãe.

— Por que você está me dizendo isso? — Alice choramingou.

Contei-lhe toda a história que eu vinha ocultando para seu bem, se eu não a dissesse ela com certeza ela não partiria imediatamente como eu estava pedindo, implorando. Alice precisou de algum tempo para parar de chorar e dizer que eu deveria ter dito a ela isso mais rápido, talvez nós pudéssemos fugir para algum lugar e nos vermos livre disso. Talvez aquela fosse a melhor opção mesmo, mas eu estava tão desesperado que não pensei duas vezes antes de aceitar a proposta de John. Fiz o que deu na telha e foi esse o problema.

— O que você fez para a Bella, Edward… isso não se faz.

— Eu a amo. — Falei como se isso justificasse algo.

— Não estou dizendo que não ama. — Murmurou ela, fechando sua mala. — Estou dizendo que o que fez para ela não tem perdão. Ela confiou em você cegamente e dava para ver, Edward, ela te amava tanto ou mais do que amou Riley.

— Eu sei, Alice, eu sei. — Passei uma mão por meu cabelo e bufei exasperado. — Eu só… eu só continuei nisso por causa de você. Eu tinha medo que ele fizesse algo a você…

— Obrigada por cuidar de mim mesmo sem que eu soubesse, — Ela sorriu e acariciou o meu ombro — mas agora você tem que cuidar da Bella, ok?

Depois de me beijar a testa e mandar que eu lhe ligasse todo dia, Alice se foi com a mala mais pesada que ela. Queria poder levá-la até o aeroporto e vê-la entrar com segurança no avião que ia para Alemanha, mas meu tempo era curto demais para isso. Alice disse que podia se cuidar daqui pra ali, esperei que ela estivesse certa porque se algo acontecesse a ela eu nunca me perdoaria.

Tomei um banho apressado e joguei umas roupas minhas dentro de uma bolsa já que pretendia só sair de lá com a Bella. Não confiava deixá-la a noite sozinha com o psicopata do John, eu sabia como ele se divertia com as garotas e tinha certeza que não me controlaria por muito mais tempo se ele decidisse fazer algo com a minha garota. Levei roupas para ela também e enquanto descia pelo elevador pensei em uma desculpa que daria para John sobre as roupas porque nenhumas das garotas recebiam esse luxo.

Esperei que Bella estivesse bem, esperei que ela não tivesse machucada ou qualquer outra coisa. Esperei poder me controlar quando visse John, estragaria tudo se eu socasse sua cara até a morte. Assim que cheguei ao local deserto e enorme que ele tinha achado perguntei-me como ele tinha conseguido tantos capatazes em tão pouco tempo.

— Edward! Pensei que não passaria a noite aqui. — John saudou.

— Talvez ajude… a minha presença aqui, sabe como é.

— Tem razão. — Ele bateu em meu antebraço. — Ela está no último quarto do corredor, desmaiada. Ela desmaiou assim que a colocamos no carro. E sobre isso quero te dizer que você não vai ter que voltar para limpar nada, nós não deixamos rastros algum, nem sequer nas câmeras de segurança que tinha no prédio.

— E o porteiro?

— Nos mais doces sonhos. — Ele sorriu.

— John, eu queria falar que seria melhor se fizéssemos isso sem violência… Isabella Swan é uma pessoa importante e se ela morrer, a polícia vai nos caçar sem parar porque a Wilder vai colocar pressão nisso, entendeu? Eu não sei você, mas eu não quero passar o resto da minha vida atrás das grades.

— A Wilder vai estar se recuperando de um golpe muito grande para pensar em uma simples funcionária.

— Quando ela te falar a senha, não a mate, então.

— É complicado, Edward… ela vai saber o meu rosto, vai saber o seu rosto e vai nos ferrar se decidir nos denunciar. — Ele suspirou pesadamente, aparentando cansaço. — Mas eu vou pensar em alguma coisa para não fazer uma bomba explodir em nossas cabeças. Esse foi o roubo mais trabalhoso de toda a minha vida.

Eu assenti em concordância e sem mais nenhuma palavra, saí em disparada para o quarto onde a minha garota estava desacordada. Esqueci-me de perguntar sobre Riley, Jane e os pais de Bella, mas não tinha problema. Eu sabia que minha mente só se saciaria com uma coisa e era saber se Isabella estava bem, intacta, a salvo em sua casa. Por que você, Bella? Por quê?

O quarto em que ela estava não tinha um pingo de higienização, o piso não tinha azulejo e tinha uma infiltração monstruosa na parede. Cheiro de mofo e vômito incensava o lugar de um modo que me fez ter vontade de colocar a mão no nariz para tentar filtrar o ar que eu estava respirando. Eu não o fiz porque a visão de Bella caída no chão com os cabelos na frente do rosto era demais para mim.

Fechei a porta atrás de mim e a tranquei, caminhando rapidamente para Bella. Era dela que vinha o cheiro de vômito, mas não tinha problema, tudo que eu queria saber era como ela estava e para isso, envolvi meus braços ao redor dela e sentei-me na cama deplorável que rangeu quando trouxe Bella para o meu colo.

Tinha sangue nela. Sangue em seu rosto. Ah merda, ela estava malditamente sangrando. Bella está em meus braços, lembrei-me disso somente para não fechar minhas mãos em punho e caçar John até o inferno. Suas mãos estão nela, não as feche em punho, Edward, se controle pelo menos agora que a merda está feita!

Respirei fundo e peguei dentro da minha bolsa panos limpos e álcool que eu trouxe para limpar precariamente qualquer machucado que a Bella estivesse. Limpei o machucado no alto de sua bochecha levemente e a deitei na cama para limpar seus braços e joelhos ralados. Eu queria saber, somente, quem tinha sido o desgraçado que tinha feito isso a ela.

Eu. Fui eu o desgraçado.

— Edward? — Ela me chamou, a voz rouca e trêmula. — Têm ratos aqui.

— Eu sei, meu amor, eu sei. Eu vou te tirar daqui.

— Está doendo. — Choramingou, retraindo o joelho esquerdo.

— É para não inflamar. — Expliquei, pacientemente.

Ela ficou sentada na cama e pude sentir seus olhos queimando meu rosto enquanto eu fazia o curativo no seu joelho direito. E quando eu virei meu rosto para lhe encarar ela tinha a expressão torturada enquanto apoiava as duas mãos na cama e se arrastava para trás, os olhos aterrorizados.

— Bella, eu posso explicar. — Disse, mas seus soluços altos sobrepuseram a minha voz de tal maneira que eu tive de me aproximar dela. — Bella, por favor, eu… eu…

— Sai daqui. — Ela sussurrou. — Tudo que você fez foi olhar enquanto eles me puxavam, Edward! Eu gritei por você! Não! Você não tem o direito de explicar nada para mim porque eu já sei tudo que aconteceu. É só juntar um mais um para saber que você faz parte disso tudo que eu nem sei o que é. — Ela fechou os olhos e as lágrimas gordas escorreram por suas bochechas pálidas. — Você esteve esse tempo todo… somente fingindo?

— Não.

— COMO NÃO? — Ela gritou. — Como não, Edward?

— Se você se acalmar eu posso explicar. — Tentei.

— Eu não quero me acalmar. — Sussurrou ela, fechando mais uma vez os olhos e negando com o rosto. — Eu quero que saia daqui e me deixe morrer em paz.

— Bella, eu não vou te deixar morrer — Tentei me aproximar novamente, mas ela se afastou, tremendo e com os olhos arregalados. Minha garota estava com medo de mim. Ótimo trabalho, Edward. Ótimo. — Eu vou te tirar daqui.

— Sabe o pior de tudo? — Perguntou sorrindo amargamente. — Eu acreditei em você tão intensamente, Edward, quanto nunca confiei em ninguém. Às vezes eu achava que poderia explodir de tanto amor por você… — Bella soluçou e encolheu as pernas, levando-as para o peito e se agarrando a elas. — e eu pensava, tinha certeza de que você se sentia do mesmo jeito.

— Eu me sinto desse jeito. — Garanti, esticando minha mão para tocar seu braço. Ela se encolheu e fez uma careta como se meu toque enviasse dor para sua pele gélida. — Eu me sinto desse jeito por você, Bella.

— Mentiroso. — Ela limpou as lágrimas impaciente e grosseiramente, sentindo raiva delas, aposto.

— Me perdoa. — Sussurrei, aproximando-me tanto dela que senti seus pés tocarem o pano de minha calça. — Me perdoa, Bella.

— Isso não é sobre perdão. — Murmurou, abrindo os olhos. — É sobre confiar e não confiar.

— Confie em mim. — Pousei uma mão em seu rosto.

— Nunca mais.

POV BELLA.

NEVER LET YOU GO — William Fitzsimmons.

Chorei baixinho encolhida naquela cama podre por quase toda a noite. Eu tentava não fazer barulho nenhum para não me baterem como aconteceu quando estávamos saindo do apartamento e eu não parava de gritar e espernear para que me soltasse. Surpreendi-me que nenhum dos vizinhos tivesse me escutado, mas os capatazes de John deram um jeito de me calar ao bater minha cabeça contra uma parede. Está tudo bem, bebê, está tudo bem — pensei acariciando meu ventre. Eu não queria que ele se sentisse amedrontado como eu estava, queria que ele se sentisse bem.

E eu não o perderia dessa vez.

Tudo bem, que bebê? O bebê que era fruto do falso amor que eu tive com Edward. Falso da parte dele porque da minha parte ainda estava pulsando e me cortando por dentro, fazendo questão de ser doloroso. Eu vomitei assim que cheguei aqui e depois mais duas vezes quando avistei um rato encolhido na outra parede. Eu sabia a sensação de se estar grávida. É como se estivesse completa, como se eu pudesse sentir a pulsação do bebê sobreposta com a minha. Não era da minha mente, não era. Queria eu que fosse.

Apertei meus olhos e me remexi, desconfortável na cama de solteiro que estava deitada, ainda com a camisa da noite anterior. Ainda com o cheiro forte de Edward em minhas narinas. E estava fazendo tanto frio nas minhas pernas descobertas que meus dentes chegavam a bater — e eu não sabia o que causava aquilo: o frio ou a dor. Talvez os dois em conjunto para me torturar. Talvez fosse a minha mente.

Fingi estar dormindo quando a silhueta de Edward abriu a porta do minúsculo quarto e pegou alguma coisa dentro da mochila que ele deixara algumas horas mais cedo comigo. O frio passou quando ele me cobriu com uma manta grossa e cheirosa — que era adversa ao cheiro doentio do quarto. Seus lábios pousaram em minha testa leves e receosos em me acordar. Meus olhos arderam, tentei reprimir um soluço dolorido.

— Eu amo você, Isabella Swan. — Sussurrou.

Mentira. Pude respirar aliviada quando, depois de deixar um carinho humilde em meu rosto, Edward saiu do quarto fungando como se estivesse chorando. Chorando — ponderei aquilo por alguns minutos. Eu nunca o vira chorando, só via-lhe sorrindo largamente e com os olhos alegres e brilhosos. Nunca o vira sequer triste, com ele eu até pensava existir um tipo de bolha que expelia a tristeza porque, por Edward, eu nunca seria triste.

Ah Deus, se fosse só ele… só ele e seu sorriso.

Fechei meus olhos e encolhi quando um tiro disparou no andar de baixo. Eu não podia evitar pensar que em breve seria eu, não podia evitar pensar que eu não envelheceria ou teria filhos porque o que estava dentro de mim agora mesmo morreria comigo. Porque eu escolhi o momento errado para gerá-lo, um momento malditamente errado e com a pessoa errada. Minha respiração saiu trêmula por entre meus lábios e apertei meus dedos no lençol da cama para reprimir um soluço.

Usada, enganada, magoada, ferida. Tantos outros adjetivos poderiam me definir agora, eu poderia enumerar todos em minha mente se eu não estivesse tão cansada. De chorar. De sobreviver após cada pancada. De acreditar e me entregar de uma forma tão sincera e involuntária quanto eu nunca teria feito com outra pessoa. E depois cair na dura e cruel realidade.

Assustei-me quando abriram a porta de supetão e jogaram alguém dentro de meu quarto — se é que aquilo podre e cheio de ratos poderia ser chamado assim — fechando a porta atrás de si com um movimento brusco demais. Sequer me mexi, eu tinha aprendido a lidar com surpresas melhor depois daqui. E não, eu não estava citando um ponto positivo.

— Mas que diabos! — Gritou o meu novo companheiro de quarto. Quase me matei ao perceber lentamente que aquele tom de voz era de Riley, no entanto permaneci quieta e… — Bella? Meu Deus, o que fizeram com você? — Ele me chacoalhou de um lado para o outro.

E Riley sabia bem que eu tinha o sono leve, só a voz desesperada dele me acordaria.

— Não me fizeram nada. — Sussurrei. — Eu só estava desfrutando da raridade que é dormir quando se está com a mente submetida a tal tortura.

Ele não falou nada, apenas se deixou desabar de novo no chão. Fechei meus olhos porque não queria que ele os visse reluzindo de lágrimas recentes e suspirei, puxando a manta para cima de meu ombro. O quarto estava gélido, apesar de ter pouco espaço para janela e eu estava respirando pela boca porque o cheiro de urina incensava o espaço. E pensar que me sentia incomodada quando o quarto estava com o cheiro enjoativo de algum perfume…

Quase entrei em pânico quando escutei choro levemente descontrolado de Riley ecoar pelo quarto silencioso. A única vez que eu o vira com seus os olhos marejados foi naquela noite que ele foi embora e era só. Ele me parecia tão forte que nunca sequer me passou pela cabeça que ele chorasse de soluçar… e talvez ele não fizesse isso em dias normais, deve ter acontecido alguma coisa séria.

Fechei meus olhos e tentei me impedir de perguntar o que tinha acontecido, mas era tão forte que eu me sentia quase impulsionar na sua direção para abraçá-lo. Porque era isso que ele sempre fazia comigo. Na maioria das vezes, pelo menos. Fechei minhas mãos em punhos com força, contendo o instinto que me fez levantar logo em seguida para o olhar de olhos arregalados, como se estivesse vendo uma aberração.

Mas, afinal, era sempre uma anomalia que ele estivesse chorando.

— Riley? — Sussurrei. Ele soltou um soluço dolorido e suspirando pesadamente, sentei-me no chão podre ao seu lado, tocando-lhe o braço com as pontas trêmulas dos dedos. Fazia tanto tempo que eu não fazia isso… e me surpreendi ao não achar sua pele mais suave do que todas as outras. Era só normal como a de todo mundo. — Riley? Não chora…

Sem cuidado algum, ele passou o braço por minha cintura e me abraçou com força, enterrando seu rosto molhado de lágrimas em meu pescoço. Eu fui cuidadosa ao passar meus braços por seus ombros e abraçá-lo, ficando ajoelhada no chão para que o ato não fosse tão desajeitado quanto estava sendo. Seu choro pareceu aumentar com o meu toque e eu queria me afastar para perguntar se não seria melhor se eu permanecesse em meu lugar, mas o seu aperto me dizia que não.

— De que adiantou te deixar — ele soluçou silenciosamente. — se eu não pude salvar ninguém no final das contas?

Eu não entendi o que ele quis dizer com aquilo e também não fiz força alguma para isso, eu estava tentando controlar minhas lágrimas. Não queria chorar agora, não perto de alguém… não queria que alguém presenciasse algum momento de fraqueza meu, nem mesmo esse alguém sendo Riley. E céus, eu senti falta dele, senti mesmo, tanto que eu sequer podia acreditar que um dia teríamos de soltar o abraço. Só que eu não sentia mais nada por ele. Nada. Nem sequer uma aceleração cardíaca ou borboletas no estômago. Nada.  

Todo amor que eu sentia foi direcionado a Edward e não ficou sequer um pingo para Riley, nem sequer um resquício de que aquele sentimento um dia foi presente ali. Só a amizade restava, o carinho, o cuidado, e várias outras coisas das quais o amor sem ser fraternal não existia.

— Me perdoa, Bella. Por ter te deixado, por não ter te incluído nos meus planos, por ter te abandonado logo quando você estava precisando mais de mim. Eu não sabia sobre o bebê — Outro soluço mudo sacudiu seu corpo e eu prensei meus lábios, fechando meus olhos para que as lágrimas acumuladas não caíssem. —, eu juro que eu não sabia sobre o nosso bebê, Bella. Se eu soubesse, eu…

— Eu sei. — Murmurei. — Eu te perdoo. — O afastei e segurei seu rosto molhado entre as mãos, limpando com os dedões as lágrimas. — Eu sempre o faço, não é? Está tudo bem, se acalme. — Sussurrei e suspirando, ele encostou o rosto em meu ombro.

Demorou algum tempo para Riley se acalmar de verdade e quando isso aconteceu, percebi que ele estava tremendo de frio. Esticando-me na cama, peguei a manta grossa e passei por nossos ombros, sentando-me no chão bem junto dele enquanto passava um braço por sua cintura e o abraçava. Nunca o tinha visto tão frágil, ele nunca se deixou ficar nesse estado deplorável na minha frente.

— Eles mataram a minha mãe. — Sussurrou depois de algum tempo. — E Jane também… eu não consegui salvar ninguém, Bella, ninguém. Queriam saber de uma senha e eu dei a que eu sabia da Wilder no tempo que estava lá, mas não funcionou. Então um cara teve um ataque de raiva e apontou a arma para a minha mãe, mas… mas… eu não sabia, então…

— Sinto muito. — Sussurrei, esfregando seu braço esquerdo com a palma de minha mão. — Eu sinto muito de verdade, Riley.

Eu podia me lembrar como se fosse hoje da conversa que o Sr. Wilder teve comigo no dia seguinte a tentativa de assalto ao cofre. Ele disse que para a minha própria proteção eu não teria acesso ao cofre e sequer saberia a nova senha. Ele e Claire concordaram que isso seria o melhor para mim. Eu ficaria a salvo de pessoas obcecadas em saber a maldita senha… mas “a salvo” não eram exatamente as palavras que eu usaria para definir meu estado agora.

Não suportaríamos se algo acontecesse com você, Bella. — Ele disse e sorriu.

Eu pensei que estivesse tudo bem, eu falaria que não sabia da senha e eles me matariam, no máximo. Não tinha ninguém que eles talvez pudessem usar contra mim na tentativa desesperada de saber o que eu realmente não fazia a mínima ideia. Pensei inocentemente que a minha ignorância só afetaria a mim mesma. Eu imploraria para morrer e morreria mil vezes para que ninguém pagasse por uma coisa que não tinham nada a ver.

Morreria mil vezes. Realmente.

Eu me acordei no dia seguinte com dor nas costas por causa da posição desconfortável em que eu dormi: encostada a Riley. Estava me sentindo imunda com os joelhos escuros por causa do chão sujo, por isso pedi alguns instantes para tomar banho a Riley e tranquei a porta do banheiro. Era realmente um milagre que tivesse uma chave — por mais precária que fosse — naquela nojeira que era o banheiro.

Tirei a blusa de Edward com os olhos marejados e tomei um banho rápido porque a água não estava tão forte quanto deveria. Saí sentindo-me mais leve e limpa, com cheiro do sabonete que Edward teve o cuidado de colocar dentro da mochila junto com uma toalha branca felpuda e mudas de roupas tão limpas que senti vontade de chorar por uma raridade daquelas dentro de um lugar como esse.

Um dos capatazes de John empurraram Riley para fora do quarto e eu sequer reclamei quando o brutamonte apertou meu braço e me puxou para fora assim como fez com Riley. Olhei para os lados como se estivesse procurando por alguém e meus olhos encontraram os confusos e sonolentos olhos de Edward que estava saindo apressadamente do quarto e andando com passos largos na minha direção.

— Ei! — Ele tirou a mão do capataz de meu braço e me puxou para trás dele. Apenas esperei, entorpecida. — O John disse que não era para ser maldoso com essa daqui.

— Como quiser. — O homem alto, musculoso e loiro disse em um tom sarcástico e desceu as escadas com passos duros e raivosos.

— Como você está? — Ele perguntou, colocando-se a minha frente e me encarando com os olhos ternos e ansiosos. — Te machucaram?

— Estou otimamente bem, como você está vendo. — Murmurei.

— Bella, por favor… quantas vezes eu tenho que pedir desculpas para que acredite em mim? — Tive vontade de estender minha mão e desfazer seu cenho franzido com os meus dedos ou talvez com os meus lábios…

— Eu… eu… — Meus olhos marejaram e eu encarei o chão, procurando alguma coisa para me distrair. — não consigo, Edward, não consigo… Eu amo você e provavelmente vou continuar por muito tempo, mas eu não consigo acreditar em você mais. — Fechei meus olhos por alguns segundos e os abri, olhando para Edward enquanto prensava meus lábios. — Me desculpe… eu sinto muito.

Desci as escadas para escapar de seus olhos torturados e respirei fundo antes de passar a mão em meu rosto com uma força exacerbada. Meus olhos estavam disparando para vários lugares, procurando algum tipo de ameaça que estivesse oculta. Achei outra coisa em vez de ameaças, achei uma cabeleira ruiva que batia nos ombros da mulher franzina.

Pensei em como aqueles se pareciam com os cabelos da minha mãe, mas logo parei, estatelada quando vi ao seu lado os cabelos masculinos castanhos e curtos que eram do mesmo tom do que meu pai tinha. Meu coração perdeu uma batida quando meus olhos desceram e viram suas mãos amarradas atrás da cadeira. Não, não, não! — Implorei enquanto em aproximava.

Eu não precisei ver seus rostos para ter certeza que aquelas pessoas amarradas brutalmente à cadeira eram de fato meus pais. Renée e Charlie Swan. 


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Notas finais do capítulo

1. Não respondi os reviews por falta de tempo, peço sinceras desculpas por isso.
2. Só estou voltando a postar por Briane que me encheu a noite de domingo inteira enquanto eu assistia o episódio novo de Game of Thrones e só pra que ela me deixasse assistir direito, disse que pensaria. Bibs, I love u so much, bby ♥. Também estou voltando a postar pelas leitoras que comentam e que são uns amores de pessoas, gente, obrigada, sério! ♥
3. Não está corrigido.
4. Como alguns devem saber, eu empaquei num dos últimos capítulos de Alex. Algumas devem estar se perguntando "Mas você já não havia terminado?" Sim, porém decidi mudar algumas coisas do final que não estava me agradando.
5. Vocês devem ter percebido que eu demorei duas semanas e alguns dias para postar... o que normalmente não acontece... eu desanimei, ok? E eu estou bastante desanimada para pensar constantemente em excluir.
6. Me desculpem vocês que comentam por estarem lendo isso. Desconsiderem, ok? Desde já saibam que eu sou muito grata a vocês!
7. Sim, hahahha, todas vocês pensaram que o Riley tinha morrido, mas foi alarme falso. Keep calm. A arma estava descarregada e se vocês perceberem, no final do capítulo anterior o Edward só fala "Ele puxou o gatilho" algo assim, não dando nenhuma certeza se tinha munição ou não.
Boa noites, gente, beijos! Desculpem-me pelo texto, algumas coisas tinham de ser esclarecidas.