O Outro Lado Da Lua escrita por Marie Caroline


Capítulo 81
3x10 - Quando algo te atropela em cheio


Notas iniciais do capítulo

Viu, postei mais cedo ruum! kkk
Espero que gostem deste. Comeeeeeeentem, bjos



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/295164/chapter/81

Nós corríamos pela estrada que levava a La Push em silêncio.

Um enorme e dolorido galo latejava agora em minha testa, graças a Seth, que me derrubou no chão no ímpeto de tentar me impedir de fazer uma besteira.

–Agatha, foi mal mesmo... – ele lamentou-se depois. – Num minuto vocês estavam conversando, e no outro você estava tentando estrangular a garota! Agi por impulso, me desculpa.

Eu levei um pouco mais de um minuto para recobrar os sentidos, mas quando o fiz, levantei do chão ainda querendo estrangular Ayane. Felizmente para ela, alguém tinha tido o bom senso de tirá-la da minha frente. Depois que Seth se desculpou comigo, ele foi o próximo a ir para cima de Ayane. Por mais que ele não estivesse tentando estrangulá-la, fiquei um pouco assombrada. Seth não precisou gritar para se fazer entender:

–Você não tem o direito de falar da minha irmã. Muito menos de Agatha. Eu não sei o que te deu na cabeça para dizer aquelas coisas, mas sugiro que não faça novamente.

Jacob foi mais literal:

–Se você chegar a um passo de Agatha de novo, vou esquecer do Tratado.

Mas por mais que estivesse satisfeita em ver que finalmente as pessoas estavam vendo quem Ayane era de verdade, não podia deixar de me sentir frustrada. Era aquela mesma sensação de inutilidade que me assombrava desde que fui envenenada. E ouvir isso da boca de Ayane sem poder me vingar foi a gota d’água! Até Jacob teve de admitir que a minha perda de controle fora totalmente justificável. Ele ficou tão furioso quanto eu quando a ouviu falar de Leah, porém, agora eu sabia que ele viria com mais uma preleção sobre como eu devo ter cuidado. Ele adiou isso para quando chegamos à minha casa. Sue não estava. Seth havia ficado com Renesmee.

–Você está bem? – ele me perguntou enquanto eu ia até a geladeira e pegava uma garrafa de água.

Eu dei um tapinha na testa.

–Vaso ruim não quebra.

Ele respirou pesadamente e encostou-se à bancada da pia.

–É a segunda vez que você perde o controle perto daquela garota. Talvez seja melhor dar um tempo de ir lá.

Soltei o copo que segurava na mesa.

–Ela me provocou. – falei entre dentes.

–Eu sei. Eu estava lá. Aquilo sobre Leah foi mesmo passar dos limites.

–Não foi só isso. – murmurei lembrando-me de como ela parecia à vontade demais vindo da floresta junto com Jacob. – Que diabos você e Seth estavam fazendo com ela, afinal de contas?

Ele me olhou levantando as sobrancelhas, surpreso. Aparentemente Jacob não achava que aquilo fosse motivo para eu ficar zangada.

–Ela estava caçando e nos encontrou.

–E ela estava sendo absolutamente adorável, posso imaginar. – disse com sarcasmo.

–E o que isso tem a ver com tudo?

Eu não consegui deixar de rir. Jacob não tinha percebido nem um pouco.

–Você não acha que Ayane é interessada demais em você? Tipo, quando vocês conversaram na fronteira, ou no jantar que Alice preparou? Não reparou no quanto ela é agradável com você, e desprezível comigo?

Agora Jacob mostrava uma genuína confusão. Como ele não tinha sacado ainda?

Eu cheguei perto dele e olhei em seus olhos.

–Jacob, Ayane está apaixonada por você.

Eu tive de reunir todas as minhas forças para não dizer isso sem socar uma parede ou tacar algum objeto longe. Por um momento, a raiva me sufocou. Quem Ayane pensava que era para sentir algo por ele? Quem ela pensava que era para se intrometer na minha história e estragar tudo?

Pensei no que ela havia dito: “Você já me pintou mesmo como a vilã da sua historinha, não foi?”. Eu não fizera isso. Ayane trilhou seu próprio caminho. Pintou sua própria imagem. Fora ela que escolhera me atormentar.

Jacob me encarou, incrédulo.

–Agatha, não é nada disso. A garota só quer chamar atenção. Não acredito que você está se dando o trabalho de ficar brava por causa disso. Achei que tinha tentado bater nela por causa do que ela dissera, mas isso... é besteira.

Levantei o queixo.

–Não, não é. – Afirmei. – Por que você nunca acredita em mim?

Ele revirou os olhos.

–Você está sendo uma boba. É claro que acredito em você.

Eu fingi não ouvi-lo.

–É sempre a mesma coisa! – ergui os braços para cima. – Agatha não entende nada. Agatha imagina demais. Agatha é paranoica. Isso é um saco, sabia?

Ele pareceu cansado.

–Tá legal. O que exatamente você quer que eu faça?

Cruzei os braços.

–Quero que fique bem longe de Ayane.

–Isso é ridículo. Eu quase não vejo essa garota.

–É, mas ela sempre dá um jeitinho de encontrar você na floresta, não é?

Jacob gemeu, frustrado, e se encaminhou para o sofá da sala. Segui-o.

–É verdade, Jacob! Ayane gosta de você. Ela mesmo falou isso no dia em que Emily me atacou na estrada... Ela disse com todas as letras que estava...

–Você quer dizer no mesmo dia em que ela salvou sua vida? – ele me interrompeu.

Cerrei os olhos. Jacob estava me testando, só podia. Ele reparou minha expressão, então tomou outra abordagem.

–Olha – sua voz estava mais branda. – Seja lá o que Ayane sinta, ou diga que sinta, não interfere em nada entre nós. A não ser que você deixe – ele acrescentou.

Eu não gostei disso. Jacob nunca me ouvia. Eu o fitei incredulamente por alguns segundos, depois virei-me para o meu quarto. Peguei uma roupa limpa e me encaminhei para o banheiro para tomar um banho. Jacob estava encostado no corredor, me observando.

–Ei – ele me chamou.

Encarei-o na entrada do banheiro com a expressão vazia.

–Quer companhia no banho? – Jacob sorriu maliciosamente, tentando me fazer esquecer da discussão. Fuzilei-o com o olhar, depois bati a porta. Consegui ouvi-lo rir baixinho do outro lado.

Eu ainda estava brava com Jacob no dia seguinte.

Ainda não conseguia acreditar que ele não me ouvira. E pra piorar: eu tinha um horrível pressentimento de que algo estava para acontecer. Não sabia o quê, mas, durante o dia tive, sem nenhum motivo aparente, sensações estranhas que eram difíceis de explicar. Era um medo irracional. Uma vontade de me esconder em um buraco e não ver mais ninguém. A coisa ficou definitivamente estranha quando fui visitar Emily e Sam naquela manhã.

Emily – ainda era difícil pra eu falar esse nome sem me referir à sanguessuga maldita. Coincidência macabra essa... – já estava ficando com a aparência de grávida. Uma bolinha discreta estava se formando no seu estomago. Se eu achava que a aura de felicidade deles era gritante quando os conheci; agora era como olhar diretamente para o sol. Todos os raios brilhantes apontando para um único motivo: a chegada de um bebê. Enquanto ouvia Emily falar sobre como estar grávida era uma experiência maluca, mas que valia totalmente à pena, fiquei estranhamente emotiva. Imaginei que a aura deles estivesse afetando meu estado de espírito, mas eu deveria me sentir feliz, e não... melancólica. Acho que a palavra era essa.

A sensação não me deixou em paz pelo resto do dia. Eu estava sozinha em casa – bem, não sozinha de fato. Jacob nunca deixava de mandar um ou outro da matilha para correr em volta da propriedade de Sue, quando ele próprio não podia estar aqui. De repente, senti uma enorme saudade dele. Senti-me culpada por não ter falado com Jacob o restante da noite passada. E por mais que soubesse que tinha razões para isso, agora estava difícil lembrar quais eram.

Fui até a cozinha, com intenção de fazer alguma coisa doce para comer. Sempre me sentia melhor depois de uma boa dose de açúcar. Abri a geladeira e a vasculhei. Por fim, encontrei uma lata de leite condensado. Como não encontrei nenhum outro ingrediente para misturar com ele, resolvi comer puro mesmo.

Sentei-me em frente à TV, com minha lata e uma colher enorme. Coloquei num canal qualquer que falava sobre a caçada de leões a inofensivos grupos de gazelas. Por alguns minutos, consegui me entreter e comer ao mesmo tempo; mas ao olhar os pobres animais sendo estraçalhados, eu comecei a ficar com nojo. Soltei a lata na mesa ao lado do sofá, meus olhos grudados na carne vermelha de uma gazela que levou a pior contra um leão esfomeado. Depois de dez segundos olhando para o sangue sendo derramado, não deu outra. Fui correndo para o banheiro.

Nojo. Nojo. Nojo mil vezes.

Sentei-me no chão, ao lado do vaso sanitário, arquejando. Alguma coisa estava errada no meu organismo. Eu sabia que tinha que me levantar, mas o cansaço me tomou de uma maneira meio desnorteante. Fechei os olhos, apenas por um momento, por que eles haviam começado a arder repentinamente. Adormeci sem querer.

Acordei, meio assustada, ouvindo a voz de trovão de Jacob acima da minha cabeça.

–Meu Deus! Agatha, o que houve? Acorda!

Minhas costas protestaram de dor quando ele me pegou em seu colo. Meu corpo estava horrivelmente rígido, minha perna esquerda completamente dormente por ter dormido por cima dela. Não abri os olhos, mas resmunguei:

–Eu estou bem. Só me deixa dormir.

–Você está pálida – ele observou ainda temeroso, enquanto me carregava provavelmente para o meu quarto. – Você desmaiou ou o quê?

Abri os olhos e fiquei grata por não ter tanta luz em meu quarto. A única fonte de iluminação vinha do abajur que ficava na escrivaninha ao lado da cama. Aconcheguei-me na manta que estava ali.

–Eu só dormi.

–No banheiro? – ele levantou as sobrancelhas.

–Eu passei mal. – ri repentinamente ao me lembrar da carnificina que o leão fez. – Mas não fiquei tão ruim quanto à gazela. Aquilo foi nojento...

–Você deve estar com febre. – ele disse, me fazendo erguer a cabeça zangada. – Não está falando coisa com coisa.

–Eu estou ótima. Agora pode dar o fora. Eu ainda estou brava com você.

Nem parecia que há algumas horas eu havia me sentido culpada por termos discutido. Agora estava chateada novamente. O que estava acontecendo com a minha cabeça?

Jacob hesitou. Estava claro o bastante para eu ver um pouco de mágoa em seu rosto. Sentei-me imediatamente. Ele se afastou, dizendo algo sobre ir pegar um remédio para enjoo. Fiquei alguns segundos quieta, ouvindo seus passos, depois me levantei e o segui até a cozinha.

–Agora você ficou chateado por que eu estou chateada. – bufei. – Isso não faz sentido.

Jacob me passou um comprimido e um copo de água, calado. Sua expressão era tensa, e pude perceber que ele não estava assim por causa do meu chilique. De repente fiquei preocupada que algo tivesse acontecido.

–O que houve? – perguntei mais séria.

Ele sustentou meu olhar. Por um momento, achei que ele iria ignorar minha pergunta, mas depois Jacob pigarreou e disse:

–Lembra aquilo que eu falei sobre dar um jeito no nosso problema?

Assenti. É claro que eu sabia. Aquilo não saía da minha cabeça. Jacob hesitou.

–Você está tendo problemas em fazer isso? – sondei.

Eu não estava gostando da expressão que via no rosto dele. Aproximei-me e toquei seu rosto com a palma da mão.

–Ei, o que foi? – sussurrei.

–Achei que se pudesse arranjar outro herdeiro... – ele conseguiu dizer. – Talvez eu não precisasse ser o único...

Eu não estava entendendo muito bem, mas fosse o que fosse, estava causando dor a Jacob. Ele olhou fixamente em meus olhos.

–Você sabe a suspeita que todos temos de Embry, não sabe?

Claro. Embry e a mãe não eram Quileutes. Eles vieram da reserva Makah. Quando Embry se juntou ao bando, ficou claro que havia apenas três pessoas que poderiam ser seu pai: O senhor Quil Ateara, Joshua Uley ou Billy.

–Você está querendo dizer que se Embry fosse seu... – pigarreei, achando a ideia estranha. – Talvez, então, ele também pudesse ser alfa?

Jacob assentiu. Consegui enxergar o esforço que ele estava fazendo para tocar nesse assunto. Mas ele fizera isso por mim...

–Mas para ter certeza você só poderia perguntar ao seu pai...

–Eu perguntei.

Arregalei os olhos.

–E então?

Jacob não precisou responder. Estava claro em seus olhos negros. Billy não era pai de Embry. Mas, de qualquer maneira, aquela parecia uma saída meio desesperada. Jacob estava se esgotando para achar um jeito de sair da matilha. De repente me senti imensamente culpada. Tudo aquilo que ele estava passando era por mim.

E eu aqui perdendo tempo com besteiras.

–Jake... – engasguei. Os cantos dos meus olhos começaram a arder. – Você não precisa, sabe, ficar preocupado com isso. Vai ficar tudo bem. Cada coisa no seu tempo.

Ele não se convenceu, e eu sabia por quê. Aquelas eram palavras vazias diante da dor de ver tudo o que éramos ir por água a baixo. Eu só queria poder acabar com o tormento dele...

–Eu te amo e nada muda isso. – prometi.

Jacob me abraçou e enterrou a cabeça em meus cabelos.

–Eu sei. – ele disse. – Eu também te amo. Muito.

Nós ficamos algum tempo apenas abraçados e em silêncio. Depois, Jacob pareceu se lembrar de que me encontrara dormindo no chão do banheiro.

–Você está bem mesmo? Não quer ir ao médico, nem nada assim?

Franzi a testa.

–Não. Eu estou bem.

Ele ainda parecia preocupado.

–Talvez devamos ir ver com Carlisle se tem alguma coisa errada. Lembra o que ele disse sobre alertá-lo para qualquer coisa anormal?

Eu assenti, mas não pretendia ir até Carlisle. Não tinha nada de anormal em passar mal vendo uma coisa nojenta... Eu lembro uma vez que meu pai contou que não vira meu irmão nascer, por que tinha vomitado e desmaiado quando mamãe entrara em trabalho de parto...

Eu estava acompanhando Jacob até meu quarto quando algo estalou em meu cérebro.

De fato, Carlisle dissera mesmo que eu deveria alertá-lo, por que meu corpo não estava, digamos assim, cumprindo suas funções no prazo correto... Meu ciclo menstrual era uma zona desde que voltara a ser humana. Mas isso era por que eu tinha congelado no tempo e depois voltado bruscamente. Agora ele estava regular... Até duas semanas atrás.

Eu parei de andar; de repente sem conseguir sentir meus pulmões funcionando.

–Eu já volto. – disse a Jacob.

Ele me olhou atentamente.

–O que foi? Está se sentindo mal de novo?

–Não... Eu só preciso... Já volto.

Eu caminhei rapidamente até o banheiro e tranquei a porta. Acendi a luz e olhei-me no espelho. Meus olhos castanhos faiscavam de medo.

Tudo bem. Eu estava comendo que nem uma louca. Isso era por que eu estava nervosa. Comer fazia bem. Nada demais nisso.

E eu enjoei quando me entupi de pizza. Nada a ver! Quem nunca comeu demais e passou mal depois?

E eu enjoei hoje por que comi doce até sair pelos ouvidos. Isso é completamente normal, não é? Não é?

Ai, meu Deus...

Sobressaltei-me com a batida na porta.

–Agatha, tá tudo bem? – ouvi Jacob perguntar.

Não encontrei minha voz para responder. Todo o meu corpo tremia. Algo se agitou lá no fundo da minha alma, fez caminho por meu estomago, chegou à garganta e escapou pela minha boca como um horrível e desafinado suspiro.

Havia outro sintoma estranho.

Minhas crises de ciúmes. Minha falta de controle com Ayane. O humor bipolar.

Jacob estava a ponto de derrubar a porta agora. Ainda assim não a abri. Continuei encarando meu reflexo apavorado no espelho. Isso não podia estar acontecendo...

A porta se abriu com violência; Jacob entrou no banheiro arfando. Ele me examinou por um momento.

–Que droga, Agatha! Achei que tivesse desmaiado aqui dentro!

Eu o encarei, as lágrimas escorrendo por meu rosto.

–O que foi? – ele perguntou assustado.

Eu não falei nada. Não podia contar a ele as minhas suspeitas. Se eu as colocasse em palavras, corria o sério risco de torná-las reais. E não poderia ser...

Eu não podia estar grávida.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!