Rose Weasley.

Eu estava a caminho do dormitório da Grifinória fazendo meu exercício mental de contar de um á dez para não dar meia volta e esganar o Malfoy, quando ninguém menos do que Lorcan Scamander aparece do nada, quase me fazendo ter um ataque cardíaco.

- Oi Rose, como vai? – Perguntou Scamander.

Quero dizer, o outro Scamander. O irmão de Lysander.

Estranho, muito estranho. A última vez que ele falou comigo foi no segundo ano, quando ele jogou uma salsicha na minha cabeça pra ver se ela e o meu cabelo eram da mesma cor.

Patético, eu sei.

Mas como eu sou uma pessoa madura e já superei isso faz tempo, respondi a coisa mais agradável que veio em minha mente.

- Suponho que com os pés. – Sorri sarcasticamente e voltei a andar.

- Simpática como sempre, não é?! – Ele disse enquanto caminhava ao meu lado.

- Vamos direto ao ponto Scamander, o que você quer?

- Por que você acha que eu quero alguma coisa?! Assim você me ofende. – Ele disse com sua melhor voz de indignação e com as duas mãos sobre o peito, como se aquilo realmente o tivesse ofendido. Não pude evitar dar uma risada, mesmo que curta.

- Então quer dizer que você está falando comigo por nada? Tá com alguma salsicha escondida no bolso? Toma cuidado Scamander, eu aprendi umas azarações e estou louca pra testa-las. – Falei enquanto apalpava os bolsos de suas vestes.

Nenhum sinal de salsicha escondida. Menos mal.

Eu nunca tinha percebido, mas a risada de Lorcan Scamander não era nada feia, na verdade era até bem gostosa de ouvir.

E era isso o que ele estava fazendo naquele momento, rindo. E muito.

Eu geralmente não gostava quando riam de mim, ou de algo que fiz ou falei. Mas estranhamente, não estava me importando, e também não parecia me importar com o fato de estarmos parados na separação das duas torres onde cada um deveria seguir caminho para seus respectivos dormitórios.

- Já acabou de rir da minha cara Scamander? – Eu falei enquanto bufava e batia o pé, fingindo estar irritada.

- Lorcan. – ele falou enquanto se recuperava aos poucos de sua crise de risos.

- O que?

- Me chama de Lorcan.

- Já que você está implorando, tudo bem Lorcan.

- Ah claro, implorando... Mas acho que você ainda não superou o incidente com a salsicha no segundo ano, estou certo?

- Incidente? Você joga uma salsicha na minha cabeça no meio do salão principal em pleno jantar e tem coragem de chamar de incidente?! – Falei enquanto virava para continuar andando na direção do salão comunal da Grifinória.

Ok eu admito, sou dramática. Aumento tudo e mais um pouco. Mas ele não pode tratar aquilo como se não tivesse sido nada, como se tivesse sido um mero “incidente”.

Qual é, eu fiquei duas semanas trancada no quarto para evitar as risadinhas dos alunos desocupados que vivem fofocando pelos corredores.

E o trauma pior foi ter sido arrancada do quarto á base de tortura por Albus e Malfoy, eles simplesmente entraram de vassoura no meu dormitório, pegaram todos os meus livros enquanto eu estava dormindo e ameaçaram esconde-los na Floresta Proibida, se eu não saísse do quarto para “curtir meu sábado”.

Eu estava começando a subir as escadas da torre da Grifinória quando Lorcan aparece do nada na minha frente.

Esse garoto sabe voar ou aparatar, por que não é possível.

- Olha Rose, desculpa. Eu era um idiota, de verdade. E sabe de uma coisa? Quero te recompensar. – Ele falou enquanto sorria ternamente pra mim.

- Me recompensar? – Arqueei uma sobrancelha.

- Sim, o que acha de irmos juntos ao próximo passeio de Hogsmeade? Tudo por minha conta.

- Como amigos?

- É claro, como amigos.

- Então tá bom Scamander, amanhã combinamos os detalhes. Boa noite. – Falei e comecei a correr escada acima.

- Boa noite. – Ele gritou, e pude perceber por seu tom de voz que estava feliz.

E não era só ele, eu também estava feliz.

Lorcan era o primeiro garoto que tinha me chamado para sair, mesmo que como amigos.

Scorpius Malfoy.

Na mesma medida que Weasley me irritava, ela me divertia.

Mentira, ela me irritava muito mais do que divertia.

Mas ver ela irritada me divertia na mesma medida que ela se divertida quando me via irritado.

Confuso, eu sei.

Mas fazer o que, ela era assim mesmo. Toda errada.

Só podia ser uma Weasley.

Andei até meu dormitório calmamente, e por um milagre não encontrei ninguém no caminho.

Não que eu reclamaria se esbarrasse com uma ou outra garota...

Mesmo que eu e Albus compartilhássemos o dormitório com mais dois garotos, estava tudo muito calmo e silencioso.

Eu nunca me dei o trabalho de perguntar os nomes deles por que eles eram tão nerds que provavelmente nem estavam na festa.

E era uma festa legalizada!

Mas tudo bem, eles não eram importantes o bastante para eu perder meu tempo pensando na nerdice em excesso deles.

Me joguei na cama pensando na falta que Albus fazia – e por favor, não ache que sou gay ou algo do tipo -, se fosse uma pós-festa normal, agora estaríamos  listando a qualidade das garotas que pegamos e se valeria a pena decorar os nomes delas.

Ou então estaríamos tão bêbados que nem teríamos chegado ao dormitório ainda. É uma possibilidade bem possível. (?)

Ok, acho que ainda não estou totalmente sóbrio.

Alguns minutos se passaram e tudo o que eu consegui foi ficar me remexendo na cama, eu estava sem sono algum.

Decidi tomar um banho e matar o tempo na sala comunal, quem sabe um casal morto de bêbado passasse brigando ou alguém caísse da escada, batesse a cabeça e morresse de traumatismo craniano.

Não seria nada chato assistir a remoção do corpo.

Eu fiquei muito, mais muito tempo assistindo o fogo queimar na lareira até que decidi ler alguma coisa.

E sim, antes que o espírito da Weasley baixe em vocês os fazendo perguntar se eu sei ler, sim eu sei ler. Por mais incrível que pareça, minha mãe achou que era importante eu aprender a ler.

Por motivos que desconheço até hoje, mas mãe é mãe e elas não precisam ter motivos para nos ensinar a ler.

Peguei um livro qualquer que estava jogado no sofá ao lado do que eu estava sentado e vi que era a biografia de Harry Potter.

Eu pensei seriamente em jogar o livro na lareira, por que com certeza eu já sabia tudo que era possível saber sobre Harry Potter.

Meu pai fazia questão de contar, recontar e contar mais um pouco.

E olha que eles se odiavam, mas vá entender a mente de Draco Malfoy.

Procurei pela sala qualquer outra coisa que contivesse letras e achei um livro de Poções.

Até que eu não odiava totalmente Poções como odiava as outras matérias, por mais que Slughorn estivesse mais pra múmia do que para uma pessoa, ele era bem legal e suas aulas geralmente não eram tão entediantes.

Folheei algumas páginas, mas a única poção que realmente me chamou a atenção por sua complexidade foi a Polissuco. Pelos céus, a pessoa tinha que ser uma santa pra conseguir fazer aquela poção, por que aja paciência.

Depois de ler todo o capítulo da poção inutilmente, o sono resolveu dar o ar de sua graça e voltei para o dormitório, me joguei na cama e dormi quase que instantaneamente.