Os dias que se seguiram ao meu “encontro” com Edward foram dolorosos, mas, de alguma forma, algo me dizia que ainda não era nossa despedida. O tal churrasco que seria realizado no sábado foi transferido para o domingo por causa do povo que tinha compromisso, e acabou que no domingo cancelaram também, o que, para mim, não foi nenhuma surpresa. Irina marcou uma praia no domingo, mas Edward não tinha confirmado, e como sei que ele detesta essa falta de comprometimento da galera, tenho quase certeza que não vai, se é que vai rolar alguma praia. Eu já tinha decidido que não iria, ao invés disso, sairia com Alice para um evento de anime no domingo.

Esperei ansiosamente a semana toda para Edward ou o amigo dele — que eu tinha no facebook —, falarem comigo, mas nenhum dos dois deu sinal de vida, e logo fiquei triste. Também, eu queria o quê? Não era só porque não iríamos mais estudar juntos que Edward mudaria de uma hora para outra. Eu era mesmo uma besta.

Não vou mentir, passei a semana toda tentada a comentar algo com ele no chat, meu coração sempre disparava quando eu via que ele estava online, e meus dedos coçavam para provocá-lo. Será que ele sentia o mesmo? Eu já estava cansada de dar tantos primeiros passos... Por que sempre eu?

Eu só sabia de uma coisa: estava sendo mais difícil esquecê-lo do que eu imaginava, principalmente à noite, quando eu deitava minha cabeça no travesseiro e aquele dia no rodízio voltava em minha mente, suas risadas, ele tocando meu braço na mesa, e acima de tudo, seu abraço tão acolhedor. Suspirei. E pensar que isso começou com uma brincadeira... Nunca foi minha intenção acabar gostando mesmo dele. Tudo que eu tinha agora eram fotos e mais fotos dos nossos momentos, principalmente no dia que subi em seu ombro. Eu tinha me apaixonado tanto por aquela foto que agora era o plano de fundo do meu monitor. Já parei de contar quantas vezes fiquei fitando aquela tela, era quase patético.

Sexta-feira chegou, e com ela, o medo de buscar o resultado final. Quil estava chamando todos para irem na mesma hora e nos encontrarmos lá, mas Edward nada disse e também não me animei. Não queria ficar adiando o inevitável, deveria já estar preparada para o adeus final, o do rodízio. Nessie me ligou no dia anterior confirmando se iríamos juntas, e eu disse que sim. Na sexta, depois de pronta, retornei a ligação perguntando que horas iríamos, e ela disse que apenas estava esperando Jessica dizer que estava a caminho. Indaguei também se ela tinha chamado Lauren, e ela negou. Então desliguei e telefonei para a louca, mas ninguém me atendia em sua casa. Tentei seu celular e sua mãe me atendeu, dizendo que estava buscando seu resultado na escola, mas que Lauren estava em casa. Depois dessa, desisti. Além de ainda estar dormindo — quase onze horas da manhã —, a mãe dela já tinha ido lá.

Nessie avisou que estava saindo de casa e também me preparei para ir. Chegando lá, ela logo contou que não deu para Jessica vir, pois se atrasou resolvendo as coisas do casamento. Sim, Jessica iria se casar com apenas 18 anos, e não, ela não estava grávida, era por amor mesmo. No pátio havia alguns seres do segundo ano, e quando descemos, muitos do terceiro estavam sentados no banco. Nada de Edward. Seguimos direto e fomos para a sala que estava entregando os resultados, que por sinal, cheia de funcionárias; foi inevitável lembrar de quando elas nos tangiam para dentro das salas ou reclamavam com a gente por estar no corredor em hora de aula. Eu iria sentir falta.

Elas nos cumprimentaram animadamente, nem pareciam as mesmas carrancudas que ficavam me empurrando para sair das escadas no intervalo. Logo uma delas nos passou a lista da sala, e enquanto Nessie assinava, meus olhos fixaram o nome de quem eu mais queria ver nesse momento, Edward Cullen. Apontei para ele, e ela entendeu o que eu queria dizer.

— Olha o que ela fica vendo — murmurou, pegando suas provas. Puxei a lista de sua mão para assinar também.

As duas tinham passado direto, e isso não era novidade. Demos um abraço em todas as tias e saímos de lá, parando na frente da sala enquanto conferíamos nossas notas. De canto de olho, vi alguém se aproximar de nós e parar perto de mim, quando me virei, deparei-me com Edward de costas e foi quase impossível segurar meu sorriso bobo. Nessie notou.

— Olha quem tá aí, Bella!

— Eu sei — sussurrei, repreendendo-a com o olhar.

Victoria veio falar conosco, lamentando-se que tinha ido para a recuperação. Ela deu um abraço em Nessie, e fiquei esperando para ver se ela não faria o mesmo comigo. Ao ver sua falta de ação, resmunguei:

— Não dá um abraço nos pobres, não, é?

Ela me olhou de cima a baixo e revirou os olhos, dramática, vindo me abraçar. Eu ri. Isso serviu para chamar a atenção de Edward, que veio até nós como quem não queria nada. Isso foi mais que pura sorte encontrá-lo por ali, até porque, Quil tinha marcado com a galera às nove, e eram quase onze.

— E aí, passou? — perguntou, olhando-me por cima do ombro e me cutucando com seu cotovelo.

— Claro, meu filho, e você?

— Também.

— Deixa eu ver — pedi, tocando seu boletim. Ele não fez menção de puxá-lo, então olhei rapidamente suas notas.

— Passou, Edward? — Nessie perguntou, dando-se conta que ele estava falando comigo. Ele foi até ela e fez um cumprimento idiota com as mãos, batendo duas palmas seguidas com ela. Mais idiota, impossível.

— Ele perdeu — eu disse, provocando-o. Como estava com saudades disso!

— Perdi... Só perdi ano passado.

— Ele vai todo ano pra recuperação! — acusei-o, ele me fuzilou com os olhos.

Edward saiu de lá e voltou um tempo depois, Nessie ainda conversava calorosamente com Victoria. Não podia ignorar que ele estava mais bonito hoje, novamente de bermuda, agora de outro tom — também escuro —, e uma camisa mais tingida que um lilás, delineando seus bíceps e os braços musculosos.

— Fiquei com 8.9 em inglês — começou, com o boletim na mão.

Olhei o meu.

— Fiquei com 8.2 — respondi, fitando as outras. Ele veio mais perto, parando um passo atrás de meu ombro, espiando minhas notas.

Ele fez uma cara se achando o superior.

— Olhe! — falei animada, apontando meu 10 em redação na sua cara, que tirei na primeira unidade. — Eu tenho um 10 e você não.

Edward me olhou sem saber o que dizer. Em meio a essas brincadeirinhas, hora ele tocava seu braço no meu, hora eu tocava o meu no seu. Edward nunca me abraçaria assim, e o fato de ter estendido a mão naquele dia da prova dizendo que tinha passado na Fasar, tinha sido algo mesmo histórico. Então, por esses motivos, seu jeito de “tocar” em mim eram assim. Meter o dedo na minha testa, esbarrar seu braço no meu, empurrar-me de algum lugar... Muito romântico.

— Eu tenho um 9.6 e você não!

— Eu tenho um 8.9, serve? — retorquiu, brincalhão.

— Não! — neguei, rindo.

— Ah! — ele balançou a mão sobre os ombros e saiu de perto de mim.

Edward, como senti falta de te encher o saco!

Nessie se despediu de Victoria e me chamou para ir ao banheiro. Só de pensar que nunca mais entraria ali, de tudo que passei... já dava uma perto no peito. Saímos e fomos no bebedouro.

— Jessica mandou eu ver a nota dela, vamos lá — disse, lembrando-se do que nossa amiga pediu.

Voltamos para a sala, mas as funcionárias informaram que precisavam da autorização do diretor, então fomos em sua sala, que ficava de frete a que estávamos. Como estava uma confusão para entrar, paramos, esperando, quando Edward apareceu em nossa frente.

— Nunca mais vamos nos ver, então tchau, só se nos esbarramos em um rodízio — despediu-se, com sua maneira peculiar de ser.

— Nunca mais, Edward? — repreendeu Nessie, não gostando de suas palavras.

— É, só se sairmos de novo para algum rodízio aí.

— Marque e nós vamos — Nessie respondeu prontamente.

— Tá bem — disse.

— Você vai pagar para mim? — provoquei-o, fazendo uma cara de pidona.

— Eu não sou rico, véi — defendeu-se sério, e quase, quase, acreditei.

Segurei-me para não começar a citar as posses que Jasper fez questão de jogar em nossa cara, deixando quieto.

— Não é rico... — murmurou Nessie.

Minha amiga não prestava, fato! Ele riu.

— Vê se dessa vez cheguem no horário! — avisou, já caminhando para a saída.

Na mesma hora a sala do diretor esvaziou e conseguimos entrar. Paramos perto do balcão e me virei para olhar Nessie. Alguns garotos do primeiro ano estavam lá. Minha amiga também me olhou e sorrimos ao mesmo tempo, pulando que nem loucas, juntas. Os meninos nos olharam, assustados, mas nem liguei. Estava feliz demais.

— Ele convidou a gente pra sair de novo! Aaaaaah! — comemorei, segurando suas mãos e batendo os pés no chão, animada. Ela fez o mesmo.

— Siiiiim!

— Nessie, você tem as melhores ideias, prevê tudo, veja meu futuro agora em minha mão! — brinquei, estendendo a palma da mão aberta pra ela.

— Aí você já quer demais, né? — Nós rimos. — Tá vendo? Você sempre jogando pedras nele e eu tentando ser sutil por você.

— Claro, não posso acostumar, ele faz o mesmo comigo.

Ela balançou negativamente a cabeça.

— Faz o mesmo e te chamou pra sair.

Sorrimos novamente, eu me deliciando na forma como soavam aquelas palavras em meus ouvidos.

O diretor não deixou que víssemos a nota de Jessica, apenas ela poderia fazê-lo. Lamentamos e saímos de lá, eu iria acompanhá-la até seu curso de inglês — o mesmo que eu fazia antes de me formar. Claro que o caminho todo fizemos piada de quando estudávamos juntas, das loucuras de Edward, seu pedido estranho para sairmos de novo... tudo. Quando passamos no ponto em que ele estava, o vi vindo para frente da rua e voltando, mas ele não nos viu.

— Edward tá no ponto ainda — informei-a.

— Não vi ninguém.

— Vai por mim, ele tá lá.

Quando passamos por ele é claro que a louca da Nessie parou para acenar. Eu apenas fingi que não o tinha visto, mas meus planos desceram por água abaixo quando ela pisou na minha sandália, me fazendo quase tropeçar no meio da rua. Olhei para trás, fuzilando-a, e ela estava virada de lado, olhando de Edward a mim. Revirei os olhos.

— Dê tchau para ele — ela disse, mas ele não podia nos escutar. Olhei-o rápido e ele nos fitava, confuso.

— Eu não, vamos.

— Eu dei tchau para ele e ele olhou para suas costas, esperando que você fizesse o mesmo.

Dei de ombros.

— Ele fazia isso comigo direto, quando eu passava por aí, ele virava as costas e ia para o canto da loja — resmunguei, enquanto voltávamos a andar.

— É, mas isso foi antes dele te chamar para sair!

Segundo Nessie, Edward era uma nova pessoa por causa desse convite. Poupe-me!

— Ok, ok, velhos costumes não morrem assim.

Ela balançou a cabeça negativamente e mudamos de assunto.

O resto da manhã foi agradável. Eu realmente estava sentindo falta de minha amiga, e estava um pouco triste por Jessica e Lauren não terem vindo. Combinamos uma praia para qualquer dia desses, e estávamos confiantes que nos encontraríamos de novo no casamento de Jessica, por volta do dia 20 de dezembro. Eu dei a ideia a Nessie de compramos nossos vestidos juntas, e ela concordou prontamente. Claro, ainda planejamos um rodízio para ir com Edward, se ele levantou sua bandeira branca, eu iria com a minha verde.

Ao voltar para casa, passei um sms para minha melhor amiga, Alice, contando as últimas novidades, principalmente à parte em que Edward me chamava para sair. Ela, nem um pouco atirada, disse que se Jasper fosse, ela já estaria lá, e eu tive que rir. Minha amiga era rápida no gatilho.

Naquele dia eu tinha apenas com uma certeza: ainda não era a hora do deus definitivo com Edward, e eu não sabia se eu seria mesmo obrigada a dá-lo um. O destino sempre nos surpreendia.