O Resplandecer Da Luz escrita por Ninguém


Capítulo 26
Cap. 23 Todos estamos fadados a algo.


Notas iniciais do capítulo

Aí está o capítulo prontinho. Como prometido, há revelações interessantes neste, por isso leiam com atenção e até o próximo!



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Todos estamos fadados a algo.

Aquiles ficou em êxtase, ele não acreditava como seu corpo poderia proporcionar tamanho prazer, tamanha felicidade. O rapaz não fazia ideia de como o corpo de Helena poderia ser magnífico, como poderia se movimentar em plena harmonia com seu desejo, com sua ansiedade por finalmente se conectar a ela do modo mais físico possível.

A última coisa que o rapaz se lembrava, antes de apagar pelo cansaço, foram os braços de Helena passando por cima de seu peito enquanto ela aninhava-se ao seu lado, também fechando os olhos, caindo em um sono profundo.

O lugar poderia ser descrito como uma clareira em um roseiral de rosas vermelhas, brancas e amarelas, mistura de cores que entrava perfeitamente em contraste com nuvens brancas tapando parcialmente a luz do sol.

A mulher de vestido branco encontrava-se de pé no meio da clareira, e Aquiles já sabia que era tudo falso, tudo modelado dentro do espaço de sua mente por alguém que não era ele... alguém mais que vivia dentro de sua cabeça.

- Você é o selo. – disse ele de modo sério, parando a um metro da mulher.

Ela sorriu sem graça, cruzando os braços a frente do busto.

- Nunca gostei desse apelido. Mas sim, sou um dos selos de energia primária... o selo que foi incorporado a você meses atrás.

Aquiles bufou e em seguida soltou uma risada sarcástica.

- Está usando a projeção de uma mulher agora? O que foi? Acha mesmo que vou sentir pena ou me ludibriar por causa da sua aparência?! É você mesmo, seu filho da p***! Por que se escondeu de mim todo esse tempo?! Melhor... por que está me ajudando agora? Não...não... comece me explicando por que diabos você sumiu, deixando-me a frente de seus combates ridículos?!

Ela suspirou.

- Quando se acalmar e respirar suavemente, terá suas respostas.

Aquiles cerrou as mãos em punho e chutou o chão de terra. Depois bufou e esfregou o rosto, procurando desesperadamente um meio de se acalmar.

- Melhor? – ela perguntou naquele sorriso tímido.

- Não abuse – Aquiles disse num tom grosso. – mas não vou mais gritar.

- Que bom. – disse a mulher. – Não há razão para inimizade entre nós, Eros.

-Ohhhh... – Aquiles fez uma careta. – eu tenho um bocadinho de razões para te detestar...

- Não, Eros. – a mulher se aproximou do rapaz. – Você tem razões para odiar Continus, não a mim.

Aquiles estreitou o olhar.

- O que? Quem é Continus?

A mulher inspirou e expirou pesadamente.

- Acho que é hora de esclarecermos algumas coisas.

***

- Intolerável! – gritou o general Souza para Greco. – Inadmissível, impetuoso! Como você pôde, seu desgraçado?!

O decoro e a educação haviam sido perdidos nos primeiros minutos em que Smith e Greco adentraram no escritório do militar. Ambos haviam retornado a base depois da destruição da cidade onde ocorreu o combate. Mais de 80% das pessoas de toda a cidade que não morreram queimadas, tiveram sérias queimaduras de segundo e terceiro grau. Muitas não iriam resistir, totalizando quase trinta mil mortos.

O general Souza deixou todos esses detalhes bem claros, mas Greco parecia não se importar, na verdade, ele sorria com desdém pelos insultos do velho, e aquilo só deixava o militar mais irritado.

- Você é uma desgraça a este exército! Sua missão é proteger seu país, seu monte de mer**! E o país não é feito por terras e sim pelas pessoas que nele vivem! E você matou milhares de uma só vez!

- General... – Smith tentou acalmar os ânimos. – isso não é algo que possa se control-

- Vá á mer**! Seu incompetente engomado! – o General apontou para o peito do delegado. – não ouse usar seu tom de voz aqui, seu moleque! Ou te jogo numa solitária, não me importando se é ou não um militar! Como você consegue dormir depois do que fez? Sim... por que, ao meu ver, você é tão responsável quanto esse pedaço de desgraça do seu lado!

Então Greco começou a rir, risadas guturais e relaxadas.

O general ficou em completo silêncio, atônito pela atitude do soldado.

- Será que você perdeu a razão? – o velho falou ainda abismado. – será que você tem minhocas na cabeça?

Greco pendeu a cabeça para o lado e o general e Smith observaram que o globo ocular direito estava negro com a íris vermelha.

- Greco? – perguntou Smith, cauteloso.

O soldado olhou em sua direção.

- Greco não está no momento, Smith. Está descansando devido ao excesso de energia usada. – Greco ergueu os braços e começou a movimentar os dedos das duas mãos, parecendo impressionado por aquilo. – Nossa! Então é assim que é ter liberdade de movimento? Este é o caos que vocês humanos são tão abençoados? Veja... estou me movendo baseado em minha própria vontade... é incrível, tenho de reconhecer.

- Mas o que é isso? – o general encarou Smith e depois Greco. – Disseram que a besta dentro dele não pode fazer nada fora do combate.

- Besta? – Greco voltou sua atenção para o velho de farda. – Besta? Palavra usada para designar um ser inferior intelectualmente, ou uma fera com perigo potencial as pessoas. – Greco se aproximou do general. – Está se referindo a mim como... uma besta? Você? Um ser humano patético, perto do fim da sua curta vida... com nada além de arrependimentos e tristeza na mente, afogando-a em uísque caro enquanto pensa nas possibilidades que poderia ter tomado para fazer algo aproveitável dessa sua vida desprezível.

O general deu um passo para trás, já levando a mão à arma no coldre preso na cinta.

- O garoto está enlouquecendo... ou é mesmo aquela coisa dentro dele?

- General – disse Smith recuando dois passos para trás, assustado – não faça nenhuma besteira.

- Sabem... – Greco continuava falando, à medida que se aproximava do general. – é... uma hipocrisia sem tamanho você me chamar de besta. Entende? Perto de mim general, você é um verme... pior que isso... você é... uma molécula orgânica de um verme. É algo tão desprezível que não vale a pena continuar existindo... não há contribuição sua para este mundo... talvez uma, servindo de adubo orgânico do processo de decomposição de seu corpo em estado de putrefação. Logo, acho que vou fazer sua matéria ridícula servir a este propósito.

Diante daquela ameaça, o general puxou a pistola e deu um tiro na cabeça de Greco. A munição amassou ao entrar em contado com a pele de Greco e caiu no chão toda achatada.

- Não, não, não. – disse Greco acuando o militar experiente contra a parede. – seu poder é pífio, tal como sua inteligência limitada.

Greco levou a mão à cabeça do general, no exato momento que dois guardas armados com metralhadores irrompiam na porta do escritório, ao ouvirem o som do primeiro disparo, já apontando para Greco.

- Todos! Se acalmem! – Smith gritou. – Não disparem! E Greco, solte o general imediatamente!

Greco sorriu.

- Smith... já disse que não sou Greco. – o selo apertou a cabeça do general com tamanha força que a amassou o crânio afundando o cérebro, que jorrou em sangue pelo nariz, ouvidos e olhos.

Smith só teve tempo de dizer “minha nossa” antes de se jogar no chão do escritório, enquanto os guardas abriam fogo contra Greco.

***

- Quem é Continus? – Aquiles perguntou novamente.

- Esse era seu nome, embora ele nunca lhe disse. Os selos na forma negativa só compreendem a destruição e a massa do propósito “travado”, assim eles desconsideram qualquer coisa insignificante que faça parte do processo, como aparência ou o próprio nome.

- Selos... na forma negativa?

- Sim, Eros. – ela começou a andar em volta do rapaz. – Como bem sabe, os selos de energia primária são puros, utilizam energia yin para gerar a massa densa de energia que explode gerando calor e expansão do universo. Mas... tudo no mesmo universo existe como dois. É necessário haver equilíbrio... um equilíbrio perfeito que o cosmos mantém desde sempre. Assim, é de se esperar que as células de luz se tornem sombras em algum momento... para que depois as sombras se tornem luz, e por aí vai. Pode-se dizer que cada selo de energia primária possui dois lados. O negativo e o positivo... exatamente como uma pilha.

- Sim, eu entendi. Eles se corrompem para depois se purificarem. E daí?

- Bom... – ela continuava andando à sua volta. – o que você já deve ter percebido é que estes selos possuem uma consciência. Enquanto estão na forma negativa, eles tendem a assumir a forma de qualquer coisa que possam absorver nas memórias do hospedeiro. Porém, na forma positiva, eles assumem uma única forma que é a sua verdadeira, no interior de seu núcleo de força. – ela abriu os braços, parando de frente a ele – esta sou eu.

A mulher abaixou os braços e encarou a face boba que Eros expressava.

- To boiando. – ele admitiu por fim.

- Eu sou o mesmo selo que invadiu seu corpo, meses atrás, porém estou na forma positiva, minha energia se converteu de yang para yin dentro do seu corpo... graças a você, eu me purifiquei. A propósito, meu nome é Alíris. Prazer em conhecê-lo, oficialmente, é claro.

Eros deixou o queixo tombar levemente enquanto processava a informação.

- Como? Quero dizer... – ele estava se recuperando. – isso é algum jogo, é? Alguma brincadeira sua? Espera que eu acredite que você simplesmente se purificou? O que houve? Meu Deus! Eu morri em um dos combates e minha mente ficou presa na Terra, criando toda uma realidade alternativa na qual me faz crer que estou vivo!

Alíris levou a mão ao queixo.

- Hum... não. Você está vivo e tudo o que aconteceu nos últimos dias... aconteceu mesmo. Anda assistindo filmes demais... sua memória está lotada deles... e o que é... Gaiola das Popozudas?

Nesse instante, Aquiles ficou mais vermelho que tomate maduro.

- Eh... hã... eu... hei! Isso é particular!

- Ah... não mais. – ela sorriu. – o fato é que eu sou quem eu digo que sou. Estou na minha verdadeira forma, minha configuração energética voltou ao pólo positivo.

- Se o que diz é verdade – Aquiles estreitou o olhar. – e é um grande “se”, como isso é possível? Ao que me consta, só quando a energia de outro selo na forma negativa se conecta com seu semelhante ocorre a purificação, e que eu saiba não sofri nenhum ataque desse tipo... além do mais... os selos na forma positiva retornam a seu local de origem.

- Tudo o que disse é verdade. Mas há outros caminhos que você e todos parecem desconhecer.

- Caminhos?

- Verdades, mais precisamente. – uma cadeira de fibra surgiu na clareira em meio as rosas e Alíris sentou-se. – O que vou te revelar é algo que nem você, a raça alien que nos enviou para cá e meus irmãos negativos, sabem.

Aquiles olhou em volta, não havia aparecido nenhuma cadeira para ele, então manteve-se de pé mesmo, ansioso e desconfiado pelo que a mulher iria dizer.

- Nas últimas horas, eu tenho liberado parte de meu conhecimento ao seu cérebro, graças a isso, você pode entender um pouco o funcionamento dos multiversos, baseado no princípio de ordem e caos.

- Aham... obrigado por aquilo, Helena deve me achar algum tipo de lunático.

- Hã... Eros... graças ao meu conhecimento, você foi capaz de driblar sua completa falta de sensatez e se declarar... logo, eu creio que foi uma ajuda e tanto.

O rapaz fechou a cara, cruzou os braços a frente do corpo. Ele sabia que era verdade. Assim, Aquiles fez um bico e sentou-se sobre os pés no chão de terra.

- Touché. Prossiga.

Alíris mostrou novamente o sorriso.

- Pois muito bem. Você compreendeu que os multiversos existem e coexistem graças a um equilíbrio perfeito das energias que transcendem pelos mesmos. Tudo que há, existe seu oposto... tudo mesmo. Até mesmo nós, os selos.

- Que seria sua forma negativa?

- Não. – respondeu ela, séria. – Minha negatividade tem origem também no princípio do equilíbrio... mas não na minha origem. Eu mudo minha configuração por causa do meu objetivo pré-determinado.

- Que seria? – Aquiles estava ficando interessado na história.

- Criação. –disse ela, recostando-se na cadeira. – Os selos de energia primária só tem essa função em sua existência... nós criamos... é o que fazemos... damos vidas a universos inteiros e meios para que estes universos possam criar mundos e nesses mundos, vida. Entendeu? Eu sou a criação... e para que haja equilíbrio... deve haver a destruição, é por isso que os selos se corrompem, se espalham e consomem a vida por onde passam. Da luz se origina as trevas e das trevas... se fez à luz. Um ciclo eterno. Mas não é isso o que eu quero te explicar, precisamos manter o foco. O meu oposto... o oposto de todos os outros selos na forma positiva... são as almas, consequentemente... os humanos.

Aquiles ficou perdido em si por alguns segundos, mais uma vez a moça havia lhe dado uma informação tão confusa e enrolada... que não havia lógica.

- Hein? – foi só o que saiu da boca do rapaz.

- É isso o que ouviu... uma alma e um selo na forma positiva tem exatamente a mesma configuração energética, por que somos duas faces de um mesmo espelho. Ambos somos iguais, ainda que tenhamos lados diferentes. Eu tenho poder de sobra, posso criar qualquer coisa do nada... por que o termo “criar” nasceu de mim... mas não tenho liberdade de usá-lo a minha vontade, mas não por que eu não posso, mas por que minha vontade ficou na outra face do espelho. A alma tem muito pouco poder, leva incontáveis anos para evoluir e sua capacidade de criar é consideravelmente mais lenta, contudo, ela possui a liberdade... possui a vontade de fazer o que bem entende e, como consequência, elas sempre tentam obter poder, por que sentem falta dele, sabem que este ficou na outra metade... as almas são o ponto chave de equilíbrio para os selos de força.

Aquiles levou um pouco de tempo para absorver o que Alíris disse.

- Não... não tem como ser possível. – o rapaz dizia, ainda absorto.

A mulher se levantou olhando para Eros.

- Meu poder é tão vasto e tão maciço que ele pode romper as regras universais. Você é a prova viva do que digo.

- O quê? – Aquiles se pôs de pé também.

Alíris fez um movimento com a mão direita e a armadura azul apareceu em Aquiles.

- Esta armadura foi forjada em sua mente, graças a imaginação do autor que escreveu o livro contando sobre ela. Com o molde, eu só precisei fazer o que faço de melhor... criá-la, e então lhe dar meios de salvar-se no combate contra Greco.

Aquiles ficou olhando para a armadura e lembrando-se da luta.

- Perto do fim, Greco havia dito que todos conheciam seu rosto, todos sabiam quem você era, e naquele instante, sua alma desejou tanto ser outra pessoa, desejou tanto sair dali e encontrar um lugar feliz, um lugar onde pudesse ter paz que logo meu poder foi ativado novamente.

- Meu rosto... – Eros finalmente compreendia.

- Rosto, corpo, sangue, ossos, músculos, nervos... tudo foi modificado, você literalmente é uma pessoa nova... até suas digitais são outras.

Aquiles olhou para as mãos. E nisso, um pensamento brotou de sua mente.

- Helena disse que eu caí em seu apartamento... que fica na cobertura... não tem como ter sido planejado... ou tem?

- Helena Gomez. – disse Alíris – Filha do arquiteto Henrique S. Gomez com Maria Livia Souto, nascida no dia 26 de maio de 1984, era uma das piores alunas da classe até o segundo ano, quando o pai a colocou sobre tutela de uma professora rígida, a senhora Estela Lopez, que a fez aprender a estudar devidamente e com isso cursar um excelente terceiro ano, conseguindo passar no vestibular de medicina. Na faculdade, foi a segunda da turma sempre, o que lhe garantiu um bom suporte para seu primeiro emprego... e daí sua carreira deslanchou, chegando ao cargo de diretora de um dos hospitais mais respeitados de São Paulo. Ela possui um caráter tímido, só teve dois relacionamentos que foram considerados um “fiasco”, é leal e competente, além de uma mulher desimpedida socialmente, com uma aparência dentro dos padrões compatíveis pela beleza atual do século 21. Está chegando na faixa dos trinta anos, onde seu relógio biológico será ativado e ela ficará mais vulnerável para arrumar um parceiro e constituir uma família. Além de tem-

-Chega! – Eros berrou. – O que é isso? Como você sabe de tudo isso sobre Helena?

- Eu sei de tudo sobre cada humano que nasceu, Eros. Por que de certo modo...nossas energias são as mesmas. Somos um. Dois lados oposto de uma mesma força que se completam.

Aquiles ainda tentava entender tudo o que Alíris estava dizendo. E seu raciocínio só lhe trazia mais perguntas.

- Você conhece tudo sobre todos os seres humanos? Então me atirou de propósito no apartamento dela?

- É claro. Não achou mesmo que tudo ocorreu de modo aleatório? Até o seu relacionamento amoroso teve minha ajuda. Como eu lhe disse, ela está numa idade perfeita onde o estresse do trabalho lhe torna propensa a aceitar um parceiro que a ajude a aliviar toda a tensão... um homem dentro dos padrões de beleza social, além de ser paciente e engraçado. – ela pôs a mão no queixo olhando para cima. – Na verdade, eu só tive mesmo que lhe dar um corpo melhor... o resto você já compensava... ah sim! – ela pareceu lembrar de algo. – Tive também que provocar algumas reações em seu cérebro, para que você perdesse o medo e a timidez que lhe impediam de tomar uma iniciativa a respeito de algum relacionamento com a médica.

- Tá! Eu já entendi. – Aquiles levou as duas mãos à cabeça. – tudo isso foi planejado então?

- Planejado? – Alíris deu risadas. – Não seja bobinho, é claro que não. Sua alma tem o poder das decisões, e como tal ela é livre para decidir fazer o que quiser. Tudo o que houve, foi por que você, e unicamente você, quis. Sua alma tomou uma decisão, meu poder maciço de criação se fez presente para torná-la real.

Aquiles começou a puxar os cabelos querendo arrancá-los. Era confuso demais para ele, algumas coisas não faziam sentido, e outras sim. Elas se misturavam em sua mente, sendo pressionadas por uma sensação incômoda de que ele estava se esquecendo de alguma coisa... tinha a plena noção que havia algo que não havia feito, algo que estava devendo.

- Por que? – ele perguntou encarando o chão, com as mãos presas na cabeça. – Por que está me dizendo tudo isso agora?

Alíris suspirou.

- Por que sua alma tem uma visão mais plena e bem mais adiante que seus olhos e o raciocínio de sua mente, Eros.

Aquiles largou os cabelos e ergueu a cabeça encarando a mulher.

- Você está apaixonado. – disse Alíris. – Você desenvolveu o sentimento mais nobre e mais poderoso que há... o amor. E com tal sentimento, vêm algumas obrigações-não-obrigatórias.

- O quê?

Alíris sorriu suavemente.

- Desculpe se pareceu confuso. Mas o amor não é lógico. Você ama Helena, automaticamente você quer cuidar dela, quer amá-la, protegê-la... isso parece que se tornou uma obrigação para você, quando na verdade nada o obriga a isso. Mas você quer vê-la feliz, você precisa mantê-la segura. – Alíris cruzou os braços novamente. – e você Eros, melhor do que ninguém, sabe que ela jamais ficará segura com o que está havendo no seu mundo... tudo irá queimar... muito em breve.

E naquela simplória e mórbida frase, Alíris desconcertou Eros, foi como se lhe desse um tapa na cara para que ele visse uma realidade trágica por trás do véu da felicidade que estava tendo nos últimos dias.

- Seu planeta, talvez até o sistema solar inteiro está condenado. – continuou o selo. –Essa é uma verdade que não pode ser mudada pelas circunstâncias... você sabe disso, sua alma sabe... e agora ela quer tomar uma providência.

- Que providência!? – Eros levantou o tom de voz, sendo torturado pela ideia de morte no caminho de Helena. – O que eu posso fazer?!

Alíris encarou Eros, ambos os olharem vidrados um no outro... palavras não eram necessárias para que o garoto entendesse a resposta para sua própria pergunta.

- Eu... eu... não posso. – ele respondeu.

- Você não quer por causa do medo. – disse Alíris. – Antes isso o paralisava e era o suficiente para se conformar com o trágico fim... você apenas estava esperando que tudo se resolvesse ou que se destruísse... sua mente já havia aceitado o destino. Mas como eu disse antes, agora você está apaixonado... o amor é um grande motivador, o maior de todos os multiversos... e é isso que o está atormentando.

Eros caiu de joelhos, levando as duas mãos à terra, respirando rápido.

- Eu não sei fazer isso... eu não sou assim... sempre fui um covarde... eu era bom em evitar brigas, melhor ainda em nunca começar uma... por que eu sabia que se entrasse numa, eu sairia machucado. – ele ergueu a cabeça observando Alíris. – Se eu decidir enfrentar os selos... eu vou morrer...

Alíris dobrou o joelho esquerdo, encostando o vestido branco na terra. Ela fitou o rapaz medroso com um olhar terno, e então falou uma verdade que Eros não queria admitir para si mesmo, desde que conheceu Helena.

- Você irá morrer. O fim da sua vida como Eros ou Aquiles chegará inevitavelmente.

A expressão de medo do rapaz, agora assumiu tristeza.

- Você já sabia disso, tinha aceitado que morreria cedo. Mas já devo lhe avisar agora... não há esperança para este objetivo em se manter vivo, em ter um futuro feliz ao lado da mulher que ama. Se você enfrentar os selos, poderá ser derrotado e irá morrer. E se, por algum acaso, você vença todos... eu serei forçada pelas leis universais a voltar ao meu local de origem junto com o último selo, e sem mim seu corpo não conseguirá se manter por causa dos sucessivos danos que sofreu ao longo dessa jornada.

- Então não sobrará nada. – disse ele se pondo de pé, sério – não vale a pena lutar.

- Não. – Alíris também se ergueu. – Sua mente e sua alma haviam decidido isso... ambas concordaram que deveriam ter quanta felicidade poderiam até que tudo terminasse. Mas isso foi antes... agora sua alma vê um propósito pelo qual vale a pena lutar, pelo qual vale a pena se arriscar.

Eros fechou as mãos em punho.

- Sei que irá parecer clichê o que vou dizer agora, – Alíris se aproximou. – mas sempre será correto lutar por alguém que ama.

- Eu já estou morto. – Aquiles admitiu. – Mas não permitirei que Helena ou a minha família tenham esse mesmo destino tão cedo. – o rapaz fitou o selo. – você tinha razão sobre tudo, mas há algo que ainda preciso entender.

- Estou aqui para responder todas as suas dúvidas.

- Como você se purificou em meu corpo?

Alíris suspirou pesadamente.

- Excelente pergunta... e a resposta dela virá junto com um temor que você, e os seres que nos enviaram para seu mundo, não poderiam imaginar. Tem a ver com Greco, e um dos meus irmãos que está nesse momento se tornando algo que não deveria existir em toda a criação.

***

Smith caminhava pela base arrasada, tomando cuidado para não pisar em algum corpo caído sobre o chão de sangue do pátio, todo aquele lugar havia se tornado um cemitério, tanto para os soldados que antes serviam ali, quanto para todas as armas, tanques e dois helicópteros que foram usados contra Greco.

Tudo destruído e em fogo ou apenas com uma fumaça preta densa que cobria o céu, antes claro.

O rosto do delegado da Polícia Federal estava sujo de fuligem e sangue, mas o sangue não era dele, e sim dos corpos que Greco mutilava com as mãos, sem fazer o menor esforço, em algumas vezes até sorria.

Em toda sua carreira, desde que fora agente... Adalbert já tinha matado pessoas, já havia visto outros morrerem, com um tiro, facada ou pela força dos braços... mas isso eram casos entre homens, entre seres humanos. O que seus olhos presenciaram horas atrás foi um massacre, um ato monstruoso e incabível por parte de algo que ele nem ao menos sabia o que era.

- Impressionado? – perguntou o selo/Greco, aparecendo na sua frente, do nada.

Smith o encarou, ainda com a face absorta, em meio ao cemitério que antes era uma base militar.

- Muitas palavras estão passando por minha cabeça agora, e impressionado não é uma delas.

- Vamos lá, Smith! – o selo/Greco deu um soco de leve no ombro do agente. – Não seja estraga prazeres! Olhe pra mim! – ele abriu os braços num sorriso da mais pura felicidade. – eu estou fazendo o que eu quero! Fazendo o que posso fazer! O que eu quiser! Isso não é incrível?

- Isto... – Adalbert mostrou a destruição à volta deles. – é o que você pode fazer? É o que você quer fazer?

- Ah... eles que começaram... qual é, vai... se um bando de formigas começa a subir por suas pernas você se agita para tirá-las, depois pisa nelas ou ataca fogo no formigueiro... o princípio é o mesmo. Não vou ficar acatando ordens de seres muito abaixo de mim... por que... na boa, vocês são vermes... coisas insignificantes baseadas em carbono, sem ofensa.

Smith o ignorou por um momento.

- Por que me deixou vivo?

- Por que não tenho nada contra você, é claro. Você é fiel... ou pelo menos, adestrado... mantenha-se assim e continuará com sua vidinha medíocre.

- E Greco? O real Greco... o que fez com ele?

- Ah... o Greco. – O selo fez uma pose de pensamento. – Depois do que houve naquela cidade, a sua mente entrou em colapso... sabe, quando isso ocorre, geralmente ela perde o controle sobre a razão dando inicio ao fenômeno que vocês chamam de loucura. Mas não se preocupe, eu não deixei ele ser entregue a insanidade... digamos que eu o desliguei, dei a sua mente um descanso merecido até que o colapso passe e a razão volte. Até lá, vou curtir! Nossa! – o selo começou dar voltas em si mesmo com os braços abertos. – A liberdade é maravilhosa! Veja, veja Smith... – ele parou e plantou bananeira, ficando suspenso por um só braço. – Eu nunca experimentei isso, sempre fui fadado a obedecer regras, a seguir o maldito protocolo da criação, das ordinárias leis universais. – ele falava ainda de cabeça para baixo. – E veja o que eu acho delas agora... – ainda plantando bananeira, o selo fez um sinal feio com o dedo apontando para o céu.

- E o que você pretende fazer agora? Matar tudo que o desrespeitar?

O selo então voltou a ficar de pé, dando um salto ágil.

- Sim. Pode até parecer monstruoso... mas o único modo de concertar esse mundo quebrado, essa civilização fatídica, é impor a eles as regras para viver... e para impor algo, você precisa ser mais poderoso que elas.

- Você quer dizer... reinar sobre todos.

- De certo modo, mas eu irei pôr um fim a violência, a ignorância, fome e doenças... é simples, sempre foi... basta que alguém coordene os fundos financeiros do mundo para aplicá-los a pesquisas e educação, além de unificar todas as religiões e as raças para que os seres humanos tolos parem de se ver melhores do que os outros... só eu sou melhor. – ele sorriu.

- Impressionante sua ideia, então vai se candidatar a presidente do mundo com essas promessas?

O selo deu várias gargalhadas.

- Não, Smith. – o selo se recompôs. – é o que eu vou fazer com este mundo. Haverá o suficiente para todos... sem mais violência, ou medo. Vou concertar sua civilização, e então o seu planeta que está em decadência por causa de vocês, humanos, hum... acho que para isso terei que reduzir a população humana... é verdade... vocês estão em pouco mais de sete bilhões e veja o caos que está... acho que vou matar metade... sim, três bilhões e meio serão mais fáceis de governar do que sete, além do mais, depois que verem o meu poder de devastação, essa metade irá me seguir sem questionar.

Smith ficou calado... não era possível o que o selo dizia, era?

- Mas, antes – selo continuou. – há algumas coisas para fazer. Primeiro, vou dar um jeito de diminuir a quantidade dos meus colegas neste mundo, aqueles bastardos sem noção podem transformar tudo em pó antes que eu tenha a chance de governar. Em seguida, vou fazer uma visitinha aquela raça inferior maldita que ousou me manipular, como se eu fosse uma mera bateria do universo, e mostrar a eles o que acontece com quem brinca com fogo... um fogo do tamanho de uma estrela de primeira grandeza.E, por último, e não menos importante... vou achar Eros e matá-lo... seja lá o que ele for.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, e lembre-se que um comentário nunca é demais. Sei que há pessoas que acham um incomodo ter que gastar tempo dando comentários a cada conto que lê, ( podem achar chato) por isso me conformo em apenas vcs favoritarem a fic para eu saber que há mais pessoas lendo minha história... por que no fim, o que os autores querem é mostrar seu trabalho a mais pessoas.
Contudo deixo explicito de ante mão que eu prefiro os comentários, assim deixo aos leitores que estão fiéis a leitura e deixam sempre um comentaram elogiando ou me dando dicas de como melhorar, os meus mais sinceros agradecimentos e meus pedidos de que continuem, por favor.
Também queria dizer que por causa da facul eu só devo postar nos fins de semana, vou tentar sempre que der postar um antes... mas não acho que vai ser fácil.
Obrigado e aguardem o próximo!



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