O automóvel conversível estacionou em frente a mansão Piattis, não demorando para Alec Lorrenzi sair do veiculo com uma expressão fria na face. Caminhou, seguro de si, ate a entrada onde fora recepcionado pelo mordomo, que o guiou ate a sala de estar. Sentou-se e esperou, calmamente por Alexander ou Elena, pois não importava com quem falasse já que o fim seria o mesmo. Assentiu quando uma empregada surgiu oferecendo café, enquanto tomava o liquido fumegante e doce começara a traçar todas as rotas possíveis do seu plano. Ele sabia que era impossível dar errado e essa segurança lhe dava forças para seguir em frente e enfrentar a todos, incluído Nicole.

-Alec, é bom vê-lo – Alexander disse ao surgir com a aparência cansada. Pela primeira vez ele se parecia com um homem de 50 anos desde que Alec o conhecera, pessoalmente – mas o que o traz?

-Vim vê-lo. Soube das noticias não muito agradáveis. É uma pena ter acontecido isto com a sua família.

-Então já soube – suspirou pesadamente ao sentar-se em frente ao seu visitante – Imaginei quanto tempo iria demorar para que todos soubessem.

-Certas coisas são difíceis de esconder – Tornou sombrio ao esconder um sorriso de satisfação.

-Realmente.

-Vim prestar minha ajuda. Basta falar se precisar de alguma coisa, tenho alguns conhecidos.

-És muito gentil.

-Não sou, apenas estou ajudando um sócio – sorriu levemente ao perceber a expressão agradecida do homem a sua frente. – Como a sua família esta lidando com isso?

-Bem, Elena esta no quarto. Anda depressiva. O choque foi muito grande.

-Entendo – sussurrou sem emoção ao olhar fixamente para Alexander. – É melhor eu ir, e se a sua mulher concordar, e você, é claro. Gostaria que ela me ajudasse na organização de uma das minhas festas. Fiquei deslumbrado com a organização da reunião que houve em sua casa.

-Ah, claro. Elena irá adorar. Falarei com ela ainda hoje.

-Ficarei grato.

-Como esta Nicole? Não veio com você?

-Nicole.. Esta trabalhando com um novo pintor. Não sei os detalhes muito bem.

-Ela é sempre muito reservada com o trabalho. Sempre foi assim.

-Imaginei que ela fosse nova nesse ramo.

-E ela é, mas trabalhou na empresa por um tempo.

-A muito tempo atrás? – indagou interessado.

-Uns 7 anos. Mas ela odiava cada instante. Fico feliz que esteja ajudando-a.

-Claro, afinal ela é a mulher que eu amo. Como poderia não ajudá-la? Afinal, nós homens, quando amamos somos capazes de fazer qualquer coisa em nome, do suposto, amor, não é mesmo?

-Realmente – tornou pensativo ao levantar-se – estou um pouco cansado.

-Já estou indo de qualquer forma – depositou a xícara em cima da mesa e ergueu- como disse, pode me procurar se precisar de algo.

-Eu farei. Obrigado – Alexander olhou para Alec  vendo-o como um, possível, amigo naqueles dias, entretanto o seu olhar pousou no colar que ele usava. Uma lua – Bonito colar, é diferente ver um homem usando este tipo de acessório.

-Foi me dado por uma pessoa muito especial. Devo tudo a ela – falou sério – vou indo. – Despediu-se saindo rapidamente. Ao entrar em seu veiculo, olhou para as janelas avistando uma mulher na varanda – Me parece que virá me procurar antes do que eu estava planejando, querida Elena.

***
Um tremor percorreu o corpo de Elena ao avistar o conversível afasta-se rapidamente. Ela não precisava ser um gênio para descobrir que o dono do veiculo era Alec. Ela sentia que deveria ficar longe dele, entretanto o seu corpo sentia falta de Anthony, o seu grande amor. Saiu da varanda confusa sobre o que deveria fazer quando deparou-se com o olhar questionador de Alexander.

-Alex, quem era o visitante ? – Perguntou tentando demonstrar desinteresse ao ir em direção a cama.

-Alec Lorrenzi. Veio oferecer ajuda, caso precisemos. Muito gentil da parte dele.

-Sim, tão gentil quanto uma cobra prestes a dar o bote – sussurrou consigo mesma ao imaginar os seus planos por trás daquela visita – e o que respondeu?

-Nada concreto. Estamos bem, apenas Jacob que esta pagando pelo erro que cometeu. Nunca pensei que ele estaria envolvido com drogas – murmurou tristemente ao se sentar ao lado de Elena – se não estivesse aqui agora – pousou a sua mão em sua coxa e apoiou a cabeça em seu ombro – não sei o que faria. És a única que me da forças para prosseguir.

-Eu sei. – respondeu automaticamente ao fechar os olhos rapidamente – Alex, Alec... disse mais alguma coisa?

-Disse – respondeu após pensar – pediu para que fosse ate ele, lhe ajudar com a organização de uma festa. Pode fazer isso, querida? – indagou sem perceber o sorriso de satisfação que surgira na face da mulher.

-Sim. Será terrível fazer isto neste momento, mas vou conseguir. Servirá para me distrair – Elena não conseguia conter o sorriso em sua face. – “Enfim desistiu e resolveu vir ate mim. Demorastes demais Anthony, mas não ao ponto de eu desistir de você.”pensou ao colocar a sua mão sobre a de Alex.

***
Nicole sabia que estava parecendo uma louca, mas não conseguira se comportar de outra forma. Não após descobrir que o homem que amava era um homem vingativo, um homem que desejava se vingar de sua família. Passou a mão pelos seus cabelos com o intuito de arruma-los, ajeitou o seu vestido preto de alças e caminhou em direção a empresa de Alec. Ela enfim tinha uma resposta para lhe dar. Todo o caminho que fizera ate parar em frente a sua secretaria, fora o mais torturante. Jamais havia passado pela mente dela fazer tal coisa, mas ela sabia que estava tomando a decisão correta naquele momento, só não esperava perceber o quão errada estivesse depois.

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-Pode entrar – a secretaria de Alec  falou com um sorriso na face ao ver a namorada de seu chefe. Ela achava o casal adorável fazendo votos para que continuassem juntos. Olhou Nicole entrar na sala ate a porta se fechar atrás dela – Espero que façam as pazes – sussurrou antes de voltar ao seu trabalho. O corpo de Nicole estava rígido ao ficar de frente para Alec, o homem que ela jurava conhecer. Suspirou ao olhar em seus olhos por alguns minutos sem nada dizer ate ver o sorriso de escárnio em sua face.

-Não me diga que veio me admirar? – Alec tornou sorrindo ironicamente ao afrouxar a sua gravata – veio me dar a resposta? Ficara contra mim ou ao meu lado? É esta a hora de escolher, Nicole.

-Tenho uma pergunta.

-Faça.

-Se eu não tivesse descoberto, o que teria acontecido?

-Acontecido com você?

-Não – negou – a nós.

-Nunca existiu nós, ainda não entendeu? Mesmo se não houvesse descoberto iria a descartar quando fosse a hora.

-Entendi, me pergunto o motivo de um homem ter se tornando tão cruel – murmurou ao caminhar ate a sua mesa, onde depositou a pasta azul – aqui está. Eu li tudo e cheguei a uma conclusão.

-Pois diga.

-Não ficarei ao lado de ninguém, e nem contra você.

-Do que esta falando? – questionou confuso – esta dizendo que...

-Que não quero ser envolvida nisso tudo – falou corajosa ao sustentar o olhar dele – Estou cansada de estar sempre no meio do campo de guerra. Não quero isso, se quiser destruir Elena, que o faça, mas não com a minha ajuda. Se quiser me destruir, pode fazê-lo também. Não irei compactuar com essa loucura que esta desenvolvendo em sua mente doentia. Já bastou o tempo em que perdi admirando um homem que não existia, amando um homem que mentira em tudo para mim. Não aceito a sua proposta e nem almejo ficar ao lado de Alex nesta história. Provavelmente nem tudo que está nessa pasta é verdade, mas não pretendo ficar ao lado de nenhum dos dois para descobrir. Não sei porque quis me envolver nisso ou ate onde estava disposto a ir, mas eu.. não quero. Não quero ser envolvida nessa vingança e nem me envolver com você, não mais – a cada palavra que saia de seus lábios sentia paz. Paz por estar tendo o controle de sua vida pela primeira vez. Ela não quis perceber o modo como a face de Alec havia se modificado e nem o jeito brusco com que se ergueu e foi ate ela. Ela queria acreditar que tudo acabaria bem.

-Acha mesmo que a deixarei livre? – Alec indagou em sua frente ao olhar para ela de forma desafiante – acha que eu deixarei uma PIATTI escapar da minha vingança? Não deve pensar muito com essa sua cabeça – disse ao cutucar a testa dela com o seu dedo indicador – irá fazer o que eu quero.

-Se não o que? Irá me matar?

-É uma opção ou posso  fazer algo pior – disse com um brilho no olhar.

-Me enviar para a cadeia como fez com Jacob? – ela quase sorriu ao ver a palidez em sua face – sim, eu fui conversar com ele. Descobri coisas interessantes, mas nada que fosse útil. Percebi o quanto fui tola ao entregar o meu coração a você, Anthony Obrien.

-Sou Alec Lorrenzi agora – a corrigiu.

-Seu nome pode ter mudado, mas continua o mesmo homem apaixonado, cego pelo ciúmes e pela inveja.

-És louca para continuar falando desta forma comigo e ainda se manter firme em minha frente.

-Louca? Sim, eu fui, todavia esta loucura acabou. Estou sã.

-Eu poderia lhe colocar em um manicômio. Tens certeza sobre o que esta falando? Ainda lhe resta uma chance.

-Uma chance de sofrer em suas mãos? Eu não quero. Alec – falou o seu nome baixo como se estivesse rogando. Depositou a sua mão, em seu ombro e sorriu levemente. Um sorriso repleto de tristeza – Eu desejo que acabe com isso e viva feliz. Aproveite o que tem agora e deixe o passado para trás. Não são todos que possuem uma segunda chance como você. Entendo o seu desejo de vingança, só que não posso ajudá-lo. Eu gostaria, mas não posso.

-Isso é ir contra mim. Quando sair por aquela porta será minha inimiga, estará pronta para isso? – tornou amargurado ao sentir a mão quente dela sobre o seu ombro.

-Sim, estarei pronta. Eu realmente gostei de você. Fiquei sem fôlego no nosso primeiro encontro, adorei sair contigo todas as vezes e sorri muito em sua presença. És mais divertido do que imagina. Quem sabe em uma próxima vida possamos ficar juntos, nesta é impossível independente da circunstância.- afastou-se dele, mas antes lhe deu um beijo. Um beijo em sua face – esta é a única lembrança que posso deixar contigo. Adeus, Anthony. – sem falar mais nada, saiu da sala dele deixando-o perplexo e atordoado para trás. Nicole passou pela secretaria tentando segurar as lagrimas que teimavam em cair pela sua face. Suas mãos tremiam ao apertar o botão do elevador. Ela não sabia o que Alec estava aguardando para usar contra ela, mas optou por não sofrer antecipadamente.

“Eu ia ficar ao seu lado. Mas o que eu seria se estivesse indo contra minha família por alguém que não conheço, por uma vingança que não entendo? Você sofreu, é verdade. Só que eu não sofri e não espero sofrer por amar um homem que ama outra. Me perdoe, Alec, mas não posso fazer isso” pensou assim que entrou no elevador e viu as pesadas portas se fecharem em sua frente.

 ***
Todos os empregados estavam assustados com o barulho que vinha de dentro da sala de Alec. Ninguém ousou interferir, pois aquela era a primeira vez em que ele demonstrava algum sinal de raiva.

Alec jogou contra a parede o vaso que estava em sua mesa, quebrou inúmeros pertences, pois para ele o que Nicole havia feito era impossível. A sua raiva conseguia ser superior ao que sentia quando via Elena feliz. Em um lapso de loucura, olhou para a sua mesa, derrubando tudo que estava nela.

Peter adentrou na sala ficando  perplexo com o que vinha a sua frente. Todo o escritório encontrava-se destruído.

-O que você fez? – indagou ao homem sentado no chão em meio a vidros e porcelanas quebrados.

-Ela esta contra mim – balbuciou.

-Ela?

-NICOLE – gritou enfurecido – aquela vadia escolheu ficar contra mim.

-Esta com tanta raiva por não tê-la como aliada?

-Estou frustrado por não tê-la ao meu lado – confessou para si mesmo ao olhar a sua volta. Se recompôs, levantou-se e encarou o seu amigo com orgulho – Mande arrumar tudo isso e se prepare para a aquisição das demais ações. Quero o Maximo que conseguir.

-Sim.. farei isso – murmurou ao olhar em sua volta – ela era tão especial para o senhor?

-Era a rainha do meu jogo de xadrez. Era a única que eu poderia mover em qualquer direção e olhe ate onde ela foi. Ela foi contra o seu próprio rei.

-Ela era apenas uma peça em seu jogo?

-Todos são meras peças – falou ao ir em direção a porta deixando Peter confuso para trás.

-Se todos são meras peças porque se afetou tanto por ela não o querer? Me parece que ela conseguiu tocá-lo.