Inimizade Amorosa escrita por Nat Rodrigues


Capítulo 3
Será uma trégua? Duvido.


Notas iniciais do capítulo

Oi, como vão? Esse capítulo ta meio grandinho... Mas ele tem um papel importante na fic... Bom, boa leitura! :)



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Ficamos em uma casa bem em frente ao mar. Ela era branca com detalhes azuis e o estilo era barroco, muito bonito. Ao ser vista por fora, dava a impressão de uma pequena casa, mas por dentro era imensa. Mona acabou ficando no quintal, já que tinha um bom espaço para ela. A casa tinha duas suítes e dois quartos. Logo imaginei que teria que dormir junto com Dona Aurora e aguentar os roncos. Então minha mãe me tira esse castigo... e me impõe outro pior!

– Filha, eu estava pensando e acho melhor Dona Aurora ficar com o quarto só para ela. Sei lá, acho que você atrapalharia. – disse minha mãe como se eu fosse a pessoa mais bagunceira do mundo. Espera... Mas eu sou. Ao ver dela e do meu pai, claro.

– Então onde eu durmo? – perguntei meio arrogante. Sabe quando você tem consciência que faz algo errado (tipo eu na bagunça), mas odeia quando alguém joga isso na sua cara? Então. E eu realmente não acho que seria assim tanta bagunça. Claro, um pouco todo mundo faz, mas eu não chegaria a atrapalhar uma velhinha, ops, senhora.

– O sofá está fora de cogitação por conta das suas costas, então sobra o quarto dos meninos... – disse minha mãe inocentemente. Minha reação foi a mais idiota possível. Caí na gargalhada. Minha mãe ficou me olhando com uma expressão que eu não soube explicar, talvez ela estivesse pensando: “Meu Deus, essa menina é louca!” ou “Onde foi que errei na criação dela?”

– Nunca que eu vou dormir no mesmo quarto que o Daniel! – exclamei lentamente enquanto parava de rir.

– E por que não? – minha mãe perguntou como se fosse a coisa mais absurda que eu já tinha dito na minha vida.

– Oras, simplesmente porque... Ele é menino! – pronto. Por isso e porque já será ruim o bastante ter que aguentá-lo nos passeios, mas ficar no mesmo quarto?... Tortura. E ainda por cima ele vai jogar constantemente na minha cara que não sou... Ai, deixa quieto, é melhor não pensar nisto.

– É, isso é verdade... Mas você convive com o Tomás desde que ele nasceu, isso não vai ser problema pra você. Agora vai arrumar suas roupas no armário. – disse minha mãe me empurrando para o quarto dos garotos. Para meu alívio eles não estavam lá. Então pude observar o quarto, arrumar minhas coisas e descansar um pouco, tudo isso na maior paz.

– E É GOOOOOOOOOOOOOOOOOOLLLLLLLLLL! – grita Daniel e Tomás juntos para me acordar do meu pequeno cochilo.

– AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHH! – gritei acordando, fazendo os dois bobões caírem na risada. – Argh! Depois eu sou a criança... – resmunguei levantando da cama e arrumando meu cabelo.

– Você tinha que ver sua cara Isa! – falou Tomás ainda rindo. Revirei os olhos.

– Tá, tá. Para que vocês me acordaram? – perguntei impaciente.

– Para você se arrumar, vamos sair pra comer algo... – falou Daniel se recuperando do ataque.

– Tá... – respondi e fui separar uma roupa pra usar. Peguei uma calça jeans escura, as roupas íntimas, uma bata verde e separei o all star preto simples.

Depois de tomar um banho um tanto rápido, para os meus costumeiros banhos de meia hora, me vesti e fui para a sala. Após mais ou menos dez minutos, fomos para rua. Em cada esquina você encontrava ou uma balada, ou um restaurante, sempre bem cheio. Acabamos ficando em uma petiscaria que tinha música ao vivo.

– Boa noite gente boa! – falou o cara que estava tocando violão e cantando – Nós tocamos desde sertanejo a rock nacional e MPB. É só pedir para os garçons entregarem o pedido que tocamos. – terminou de falar e começou a tocar um modão sertanejo que, segundo ele, já faz tempo que estava devendo.

– O que vocês vão querer? – perguntou meu pai.

– Coca-cola. – falou Tomás.

– Eu também. – acrescentei.

– Eu vou querer uma coca-zero. – falou Daniel.

– Pode ver para a gente um suco de uva, em jarra por favor. – pediu o pai de Daniel. Deduzi que a jarra seria tanto para ele, quanto para a mulher e a mãe.

– Querido, que tal comermos camarão? – sugeriu minha mãe.

– Ótima ideia. O que acha Hélio? – perguntou meu pai.

– Pode ser. Duas porções por favor. – confirmou o pai de Daniel.

– Então vão ser: duas cocas-colas, uma coca-zero, uma jarra de suco de uva e duas porções de camarão à milanesa? – conferiu o garçom.

– Isso mesmo. – falou meu pai.

Depois de mais ou menos vinte minutos, as bebidas e as porções chegaram. Enquanto isso, o cara que cantava ao vivo só tinha cantado sertanejo e isso já estava começando a me irritar. Eu não gosto do ritmo, das letras, nem do modo como são cantadas as músicas sertanejas, então fica meio difícil aturar essa cantoria.

– Garçom! – chamei antes que ele saísse da mesa – Pede para tocar Legião Urbana? – pedi.

– Claro moça! – disse o garçom, indo logo em seguida fazer meu pedido. Eu não tinha falado qual música queria, mas sendo Legião já valia.

– Olha que legal a latinha do Daniel! – Tomás exclamou e começou a rir. – É que para ele "quanto mais Isabela melhor!" – falou e depois caiu na gargalhada.

Estava tendo uma promoção da Coca-cola que todas as latinhas de Coca-Zero vinham com um nome, e Daniel pegara logo a que tinha "Isabela' escrito... Senti minhas bochechas esquentarem, mas ignorei fingindo que não havia ouvido o comentário até que...

– É que nem a Isa, "quanto mais Daniel” para ela, também é melhor!! –falou enquanto quase tinha um ataque de tanto rir. Até nossos pais tiveram a capacidade rir! Até a Dona Aurora riu! O mundo está perdido...

– Nada a ver Tomás, fica quietinho, vai. – falei impaciente olhando diretamente para o violão do cara que cantava, evitando olhar para Daniel. O mais estranho foi que ele não contestou nada... Ele ficou quietinho, mesmo meu irmão falando as asneiras que ele falou... Se bem que o do “quanto mais Isabela melhor” foi por causa da latinha que veio escrito, então ele não se importou com a má sorte de ter vindo com uma latinha mentirosa... E quanto ao “quanto mais Daniel melhor” foi porque ele se acha e gosta de ficar achando que eu sou apaixonada por ele... Se bem que eu sou... AAHH! Odeio o amor.

– Bom, a pedido da mesa aqui da frente vou tocar Legião Urbana. – falou o cara e logo depois começou a tocar “Mais Uma Vez”.

Mas é claro que o sol vai voltar amanhã... Mais uma vez, eu sei... – cantarolei baixinho no ritmo junto com o cara. Voltei minha atenção agora para o camarão e comecei a comer e, de vez em quando, cantarolava a música baixinho.

– Quem acredita sempre alcança... Quem acredita sempre alcança... – cantarolei. É, quem sabe, se alguma vez eu acreditar que haja uma pequena possibilidade de Daniel sentir alguma atração por mim, será que eu vou “alcançar” esse objetivo...?

Nunca deixe que lhe digam que não vale acreditar no sonho que se tem... – cantarolei novamente. O duro é que eu não acredito que isso seja possível...

– Opa, desculpa. – falou um garoto me tirando dos meus devaneios.

– Hã? – perguntei sem entender olhando para o tal garoto. Tá, pode até ser que eu goste de Daniel, mas isso não me impede de achar outros garotos bonitos... Vamos dizer que ele era o contrário do Daniel. Em vez dos olhos azuis, os dele eram verdes. Em vez do cabelo negro, os dele eram loiros. E enquanto o Daniel tinha cara de pegador, esse outro garoto tinha cara de ser fofo. Aliás, sim, ele é bem fofo.

– É que sem querer eu trombei na sua cadeira. – explicou o garoto. – Prazer, me chamo Carlos – se apresentou e depois finalizou com um sorriso.

– Ah, não foi nada, nem senti... – disse sorrindo – Me chamo Isabela. – disse apertando sua mão. Pude ver de canto de olho Tomás enchendo o saco de Daniel falando baixinho: “Vai deixar ele dar em cima da minha irmã?” e o Daniel respondeu rindo: “Deixa ela se divertir, Tomás.” É, isso comprova que ele não gosta de mim, no mínimo ele poderia ter ficado incomodado, ou sei lá... A quem estou querendo enganar? Ele não gosta de mim.

– Turista? – perguntou Carlos se sentando em sua mesa, que era ao lado. Percebi um leve sotaque dele puxando o R e o S. Que fofo.

– Sim... Você é daqui? – perguntei.

– Sim, sim. Moro aqui há três anos. Meu pai é soldado do exército, então sempre fica se mudando. Só que dessa vez ficamos por mais tempo aqui... Mas eu sei que logo, logo vou ter que me mudar novamente... Quem sabe, se eu tiver sorte, eu não mudo para a mesma cidade que você? – cantou-me sorrindo. Se eu disser que fiquei com medo, vocês acreditam? Sabe, ele me pareceu um pouco maníaco falando do tipo: “Eu vou te perseguir e descobrir onde você mora”.

– É, quem sabe... – respondi rindo só para ser educada. – Pai, vamos? – perguntei. – Já está tarde e amanhã cedo quero caminhar com Mona. – falei quase no desespero para ir embora.

– Tudo bem. Garçom, traz a conta fazendo favor? – pediu meu pai.

– Bom, até algum dia. – disse me despedindo com um aceno.

– Até breve, Isa. – ele disse pegando minha mão. – Foi um prazer te conhecer. – disse finalizando com um sorriso que antes eu acharia fofo, mas agora era maníaco.

– Que bom. – respondi retirando com pressa minha mão e indo para perto de minha mãe. Se eu sou medrosa? Não, imagina. Saímos da petiscaria e fomos andando calmamente na rua, já que a casa era um pouquinho longe e viemos a pé.

– Ah, esse shopping está aberto! – exclamou minha mãe.

– Grande coisa. – respondi. Ela me olhou brava, mas depois voltou a atenção para o shopping que, a propósito, era do lado da petiscaria.

– Eu esqueci de trazer meus biquínis, acho que vou fazer umas comprinhas, senão amanhã perco o sol. – ela falou. Imediatamente a mãe de Daniel e dona Aurora também falaram que fazer compras não mata ninguém, não é? Mas eu discordo. Me mata. Odeio fazer compras, a não ser quando é necessário, fora isso prefiro ir ler.

– Então vamos comprar algumas coisas... – murmurou meu pai sabendo que nem adiantava discutir com elas.

– Ah não... Me deixa ir embora então! Eu sei onde é a casa, é só seguir reto e virar à esquerda na vigésima quadra. – falei com voz de choro.

– Isabela... – meu pai começou a dar sermão.

– Tudo bem, Max, eu também não estou afim de ficar aqui... Eu volto com a Isa. – Daniel cortou meu pai. Achei que em vez de mim, quem receberia sermão seria Daniel por cortá-lo, mas meu pai apenas suspirou e entregou a chave.

– Tomem cuidado. – disse por fim. Ah, ótimo, agora eu vou ficar sozinha com Daniel! Maravilhoso! Seria bom também se meu estômago parasse, sei lá, de dançar toda vez que olho pra ele.

– O que houve para você dispensar aquele cara? – perguntou Daniel e, por incrível que pareça, ele estava sério, como se o assunto de o porquê não agi como uma rapariga e fiquei com o maníaco, fosse imensamente importante. Coisa que não é, e também não é nem da conta dele para começo de conversa.

– Digamos que isso não é da sua conta... Mas vou te responder do mesmo jeito, é que eu não sou nenhuma rapariga para ficar com qualquer um que eu conheço. – Disse. Espero que ele tenha entendido a indireta...

– Ui! Recatada! – me zoou. O que ele quer com esse assunto? Que eu despeje de bandeja que eu sou imensamente apaixonada por ele? E que não ficaria nem com o garoto mais bonito do mundo, porque eu am... am... amo ele. Sim, é, amo ele. Que droga!

– Foi mal, se eu não sou o tipo de pessoa com a qual você convive. – debochei. Ele me lançou um olhar mau humorado e ficou mais ou menos mais duas quadras sem pronunciar uma única palavra.

– Qual é o meu sabor preferido de sorvete? – perguntou ele de repente.

– Flocos. – respondi surpresa com a pergunta. – Por quê? – perguntei percebendo a burrada que tinha feito.

– Hoje no carro você falou que se lembrava porque eu tinha te falado isso quando tinha onze anos. É verdade? Ou você só falou aquilo para ter uma desculpa para me contrariar? – ele perguntou.

– Hã... É... Para que você quer saber disso? – perguntei com medo de falar alguma burrada.

– Por nada, só para ter assunto, já que eu não posso estar "a quilômetros e quilômetros de distância de você"... – disse ele ironizando por conta de quando ele me ouviu falar que o queria a distância de mim. Olha, ele tem boa memória.

– Ah, fala sério! Nunca nos damos bem, por que eu iria querer estar perto de você? –“porque te amo” completei na minha cabeça, mas como ele não respondeu continuei. – Você me odeia, nunca passou um dia só sem me zoar, várias vezes me fez passar vergonha na frente da escola inteira... Seria natural eu não te querer por perto... – disse e ele ficou olhando para mim, me observando.

– Será que... Você podia olhar para outro lugar? – disse envergonhada.

– Ah, sim... Eu só estava pensando... – ele falou desviando o olhar e dando um sorrisinho.

– No quê? – perguntei.

– Você é muito curiosa sabia? – falou ele sorrindo. E, que sorriso perfeito... Ops, tenho que me recompor.

– Só estou tentando puxar assunto. – respondi sorrindo sacana, fazendo o rir.

– Tudo bem... Estava me lembrando de quando tínhamos seis anos e eu colei seus sapatos no chão com cola de madeira... – disse ele soltando uma gargalhada. Espera... Ele também fica lembrando dessas coisas? Então eu não sou louca?

– Aquele dia foi até bom, minha mãe teve que me levar da sala até o carro no colo e logo depois ela me comprou um tênis preto e branco em vez do rosa da Barbie... – falei rindo também.

– Viu? Nem tudo que eu te fiz foi ruim! –ele exclamou. Sim, foi sim, porque aí eu fiquei apaixonada por você. Pensei.

– Então quer dizer que no momento em que você estava me olhando, enquanto pensava, era pra ver se tudo que você me fez foi ruim? – perguntei. Ele ficou meio desconcentrado e até trombou com um cara que estava na rua.

– Desculpe! –falou se recompondo. – Não, Isa, eu estava pensando no caso do sapato. – mentiu descaradamente para mim.

– Está bom, sei... – o zoei.

– Acredite no que quiser! – ele exclamou levantando a mão como se dissesse: Sou inocente!. Tive que rir...

– Chegamos. – anunciei ao reparar que já estávamos em frente a casa. Olhei para o mar e a lua jogava uma claridade impressionante na praia, as ondas pareciam se mover ritmadas e tudo o mais tornava o espaço, a minha frente, romântico. Olhei de relance para Daniel e ele também estava observando a paisagem. Me peguei pensando em como seria romântico tirarmos uma foto ali, juntos. Deleta. Deleta. Tenho que parar de pensar em coisas impossíveis.

Balancei a cabeça e abri o portão. Entramos e cada qual foi para um lugar, eu para o quarto e Daniel para o banheiro, sem trocar mais nenhuma palavra. Separei meu pijama, e foi aí que percebi que o comprimento do meu shorts não era muito adequado. Droga, devia ter ido comprar um pijama com minha mãe hoje.

Acabei de me trocar e fui logo me deitar. Dormi na mesma hora.


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Notas finais do capítulo

E então? Ficou muito ruim? Ficou bom? Ta muito grande? Quer caps menores? Bom, obrigada por ler! Beijos.