POV Percy

— E então, o que quer comigo? — Pergunto após 5min de um silêncio constrangedor.

— Você não se pergunta por que está aqui? — Coin pergunta fitando meus olhos.

— Bem, você me chamou.

— Não é isso que quero dizer. Quero dizer estar aqui, em Panem. Eu me pergunto, todos os dias. Por que exatamente agora? Quando os deuses estão mais ausentes que nunca. E, principalmente, te mandar para o Distrito 12, junto com Katniss. Você não acha que é algo mais que simplesmente travar uma luta contra mortais. Eles poderiam fazer isso muito bem sozinhos. Afinal, já são bem experientes em guerra. Então, porque trazer não só você, mas 12 semideuses para cá?

— Eu... — Eu paro de falar. Na verdade, não sei o que preciso dizer. Nem sei se preciso dizer alguma coisa. Olho para Coin, que espera uma resposta. — Eu realmente não faço ideia. Também não gosto disso.

— Não é simplesmente questão de gostar, Perseu Jackson! É lutar contra isso. Analisando sua vida, era de se esperar que você não deixasse ser um peão dos deuses novamente.

— Como assim analisando minha vida? O que vocês sabem sobre mim? — Ela ri.

—Tudo. Como você conhece Hercules? Pelas histórias. — Eu observo algo.

— Você disse o nome romano de Heracles. — Ela finalmente faz a decência de desviar o olhar.

— Tem muita coisa que você não sabe. Você veio para cá logo após enfrentar Cronos. Aquilo foi a parte mais fácil. Você enfrentará algo muito pior ainda.

—O quê?

— Receio que não possa dizer. Está acima de meus desejos. O que eu falar aqui, pode mudar para sempre o curso da humanidade.

— Não seria algo bom? — Ela volta a me encarar.

— As coisas nunca estão ruins o suficiente para que não possam piorar. Eu queria ter sido informada disso! Que alguém tivesse me avisado, me instruído. Se, na sua época já era raro ver os deuses, imagine agora, Percy Jackson. Eu nunca vi minha mãe, nunca a ouvi. Nunca ao menos senti sua presença. Sabe o quanto isso é angustiante? Saber que sua mãe tá viva em algum lugar, sabe da sua existência e poderia aparecer a qualquer hora, mas não aparece? E não foram doze anos como os seus, Percy. Foram 39! Aí, do nada, o cara que causou tudo isso aparece na sua vida sem ao menos um aviso.

— O cara que causou tudo isso! Como eu poderia ter feito isso sozinho?

— Ah, não foi sozinho. O Grace te ajudou.

—Grace? Thalia?

— Não. O Grace. Mas não posso falar mais nada. Não foram somente dois semideuses que acabaram com o mundo, Jackson. Foram sete! Sua arrogância, egoísmo, orgulho. Sua falta de... — Coin é interrompida por uma luz que vem do canto da sala. Eu fecho os olhos instantaneamente, já ciente de que é um deus ou deusa. Abro os olhos quando acho que é seguro e encontro diante de mim Afrodite. —Mãe? — Coin pergunta abismada.

— Pare de falar, Coin! Você não pode dizer o futuro para alguém, deixe-o que trace seu próprio caminho. Suas próprias escolhas.

— As escolhas dele transformaram o mundo nisso!E é muito horrível da sua parte aparecer só agora, e por causa dele! Tudo gira em torno de Percy Jackson, até quando não é a época dele. — Afrodite a observa com dor nos olhos.

— Você não sabe... Não sabe o quanto eu queria falar com você todo esse tempo. Você não poderia nascer, Coin. E cometi um erro grave.

— Então eu sou um erro?

— Todos somos. — Resmungo.

— Não, vocês não são. Vocês são as consequências boas de um erro. Mas alguém tem de ser punido, filha. E esse alguém tinha de ser eu. Você não tinha culpa. Por isso eu não pude falar com você esse tempo todo, não até que eu tivesse esperança de que algum dia tudo isso mudasse.

— Ele é a esperança? — Coin pergunta chocada.

— Todos eles. Eles estão aqui para aprender, para mudar as coisas. Seu dever é ajudá-los. Guardar rancor é ruim para todos. Estraga a beleza, ofusca o amor.

— Beleza? Amor?Isso não existe mais.

— Existe. Sempre vai existir. É necessário enxergar a beleza mesmo no cenário mais feio. E o amor... O amor nunca deixará de existir. Enquanto existem pessoas, existem sentimentos. E enquanto existem sentimentos, existe o amor, mesmo que não da forma que queremos. O amor está na esperança, na beleza, na amizade. O amor está na luta por um objetivo. O amor está dentro de você, você só tem que libertá-lo. Libertá-lo de toda mágoa, todo rancor, todo ódio. Lembre-se disso, filha. Eu amo você.

—Eu não acredito. — Coin cuspe as palavras antes de sair da sala. Eu apenas observo o olhar triste de Afrodite segui-la.

— Eu a perdi. — E então se vira para mim — Vamos Percy, eu sempre acreditei em você. Você pode mudar isso. Busque Annabeth, não fique longe dela. Liberte o amor, reviva a beleza. Isso aqui é muito mais que uma guerra entre ideais. É uma guerra em busca da liberdade. E, acima de tudo, em busca da verdade, pois só ela liberta. Vá atrás da verdade. Eu acredito em você, e ele também.

Ela some em uma névoa cinza. Cinza porque não há beleza aqui. Afrodite vive da beleza, e posso senti-la desaparecendo. Sua voz era fraca e dolorida. Ela precisa do amor para sobreviver. Assim como Pã precisava da natureza. Conforme ela foi morrendo, ele foi junto. Agora Afrodite também está morrendo, sendo sufocada pelo ódio e rancor que dominam esse tempo.

“E ele também” Ela disse.

Meu pai me observa, e acredita em mim.

“Busque Annabeth, não fique longe dela”.

Minha cabeça lateja, e eu tenho que sentar. Apoio o cotovelo na mesa, pressionando minha cabeça entre as mãos. Uma lembrança está tentando me alertar. Uma frase. Sou eu que a pronuncio, mas não me lembro quando, nem porque. Só sei que a disse, e para Annabeth.

“— Você não vai ficar longe de mim. Nunca mais.”

Minha cabeça para de doer e eu me levanto em um pulo correndo para fora, atrás de Thalia.

Liberte o amor.

Reviva a beleza.

Vá atrás da verdade.

E é exatamente isso que eu vou fazer.