P.D.V Percy

Respiro fundo e subo no palco. A multidão se aquieta, tornando o momento mais difícil ainda. Lembranças da primeira vez que subi no palco me vieram à mente. Eu entrando com um sorriso, o terno azul, querendo somente que as pessoas me aceitassem. E agora? Tudo que eu falasse seria cuidadosamente estudado, e usado contra mim. Vidas estão em jogo, vidas de pessoas que eu amo, pessoas inocentes. Tenho medo de estragar tudo. Caeser me olha com cuidado, para depois abrir um sorriso, que retribuo.

—Perceu Jackson! —Cumprimento-o e sento na poltrona. —É bom revê-lo.

—Igualmente

—E então Percy, gostou do meu cabelo este ano?

—Preferia o azul, mas não está nada mal. E o meu terno?

—Curioso, mas impressionante. Os estilistas do Distrito 12 são incríveis.

—Eu tenho que concordar, por mais que o crédito a esse terno deve ser dado a quem o escolher: o presidente. —Digo, arrancando exclamações surpresas da plateia. Isso não foi a coisa certa a se dizer, mas pelo menos tirou a atenção de Cinna e Portia. Minha prioridade é tirar os inocentes vivos. Depois eu me preocupo comigo.

—O presidente?

—Sim. Receio que Portia não teve muita chance de opinar, e por mais que eu tenha achado esse terno impressionante, não sou muito fã de bege.

—Mas ele não vai virar preto também?

—Infelizmente não. Já foi difícil fazer isso no de Katniss. —Disparo.

—Então foi você e não Cinna.

—É claro. Cinna é um estilista impressionante, mas não acho justo o crédito daquele vestido ficar para ele. Mas podemos falar sobre outra coisa? —Perguntei, mas logo me arrependi.

—É claro. A pergunta que todos querem saber: Você é ou não é Filho de Poseidon? —Eu sorrio, tentando continuar a estratégia de Annabeth.

—Por que as pessoas acreditariam nisso? Por que elas querem alguém diferente? E se eu dissesse que o que fiz na Arena foram apenas truques meticulosamente programados de acordo com a ciência?

—Eu diria que não acredito em você.

—Aí é que está! Mas e se eu dissesse que eu sou Filho de Poseidon, posso fazer terremotos, maremotos, furacões e destruir montanhas, você acreditaria? —Caeser não respondeu, o que me fez sorrir. —Eu acho mais divertido continuar assim, vocês acreditem no que quiserem. —Completo. Caeser assente, enquanto a plateia assimila o que eu disse.

—Se você prefere assim. E quanto a sair da Arena vivo? Como conseguiu essa proeza?

—Se eu te perguntasse como você faz para deixar seu cabelo incrível você me contaria seu segredo? Eu tenho meus truques.

—De semideus?

—Talvez.

—Você está sendo muito enigmático. —Caeser ri. —Mas Percy, o que é aquela nota? —Eu não pude deixar de rir.

—Sinceramente? Eu não sei. Ainda não entendi. Como se uma nota ruim fosse mudar o que eu sou e o que eu posso fazer. Vocês sabem do que eu sou capaz, não preciso de nenhuma nota que comprove isso. Se quer saber, eu até gostei da nota.

—Como assim?

—Acho que tirar uma nota alta não seria tão novo para mim do que esse três. É bom viver experiências novas.

—Claro que é. Por exemplo: hoje eu penteei o cabelo para o lado esquerdo, em vez do direito como sempre. —Caeser diz e eu rio, acompanhado pela plateia. —Percy, quando você falou de Annabeth ano passado, eu achei lindo. Esperava que você saísse da arena e se encontrasse com ela. Isso de fato aconteceu, por mais que não do jeito que eu imaginei. Mas e agora? O que você fará na arena? Somente um pode sair de lá vivo.

—Caeser, me disseram isso da última vez. Muita gente disse que eu venceria, mas não conseguiria tirar Katniss de lá. Essas pessoas erraram enormemente. E mesmo que eu não saia vivo, eu nunca, nunca deixarei nada acontecer a Annabeth. Que isso fique claro para qualquer pessoa que tenha a ousadia de ameaçar ela, ou até Katniss.

—Isso é incrível, Percy. Nas seções pude perceber que você estava meio nervoso quanto alguns dos outros tributos. Você acha que eles são uma ameaça? —Eu rio internamente, mas tentei não deixar transparecer.

—Caeser, os tributos desse ano são indiscutivelmente mais habilidosos e perigosos que o ano passado. E sei que Thalia não é alguém de que possa fazer pouco caso, assim como Nico e Clarisse. Na verdade, acho que essa edição será muito mais interessante, em todos os pontos de vistas.

—Você vai criar outras alianças, excetuando Katniss e Annabeth?

—Por enquanto, não. Ninguém pode dizer o futuro. —A campainha toca, finalmente. Tenho certeza de que minha entrevista demorou mais que as outras; pareceu-me uma eternidade. Eu cumprimento Caeser e saio do palco recebendo aplausos. Vou direto para onde os tributos estão. Os primeiros olhos que encontro são extremamente azuis e me fitam com ódio.

—Você é um idiota, Jackson. —Thalia diz e sai da sala. Engulo em seco e me aproximo de Annabeth que me olha preocupada, assim como Katniss.

—Não fique assim. Logo você poderá contar a ela. —Annabeth diz.

—É difícil Annabeth. Você ela vai perdoar fácil. Mas eu? Além de que não é só ela, todos os semideuses estão em odiando.

—Eles vão entender, Percy. —Katniss diz, e de repente fica com raiva. —E que história é essa de que não é pra ninguém ameaçar eu ou ela, Jackson?

—É. Que história é essa, Jackson? —Completou Annabeth —Você acha que não sabemos nos defender?

—Eu tenho certeza de que sabem, é só um reforcinho extra. E agora vamos Katniss, estou morrendo de fome.

—Quando você não esta? —Resmunga ela passando pro mim e indo em direção ao elevador.

—Até amanhã, Sabidinha. —Digo.

—É. Amanha é o primeiro dia. E aliás, você foi muito bem na entrevista.

—Você também. —Me aproximo mais dela e sussurro. —E está linda nesse vestido. —Ela se afasta e sorri. Nós nos aproximamos e nos beijamos. Nos separamos sorrindo.

—Você também está lindo nesse terno, por mais que eu prefira o azul. —Ela diz já se afastando. Demoro cinco segundos para me tocar.

—Ei! Como você sabe do terno azul? —Grito.

—Tire suas próprias conclusões. —Ela diz por cima do ombro.

—Ás vezes eu preferia que minha namorada fosse uma filha de Afrodite. —Resmungo indo para o elevador.

No andar doze, todos já me esperam.

—E olha aí o que estava com fome e me faz ir à frente igual idiota. —Katniss diz.

—Desculpe. Eu fiquei um pouco com Annabeth.

—Olha lá vocês dois. Não gosto de ficar de vela.

—Essa expressão ainda existe? Isso é do meu tempo.

—Você tem dezesseis anos, Percy. Como que poderia ser do seu tempo? —Haymitch caçoa. Sorrio para Katniss que me olha repreendedora.

—Tem razão. É que eu já vi tanto na vida que às vezes me esqueço de que tenho só dezesseis anos. —Digo sentando-me à mesa e atacando a comida. O jantar é animado, até o assunto entrevistas.

—Por que fez aquilo, Percy? —Pergunta Cinna.

—Aquilo o que?

—De que a ideia do vestido de Katniss foi sua!

—Mas foi. —Falo. Ele me encara —Ok. Ok. A ideia foi sua, mas ninguém precisa saber disso, certo? Você é louco, percebeu o que fez?

—Sim. E a decisão foi minha.

—Uma péssima decisão. Olhe Cinna. Eu já estou na lista do presidente, ele vai querer me matar de qualquer jeito, mas você! Se eu não tivesse falado nada, ele iria te matar!

—Você acha que ele acreditou na sua história? Percy, uma revolução não acontece com doze pessoas. Se ninguém der o primeiro passo e se posicionar, não vai adiantar nada. O presidente vai caçar vocês, e tudo vai voltar a ser como antes, ou até pior. —Reflito no que ele disso. Quem estava falando de revolução? Mas se não era isso o que estávamos fazendo ali? Eu não quero guerra, mas isso não pode continuar do jeito que está.

—Tudo bem. Eu entendo, mas eu não quero que vocês morram, nenhum de vocês. Prometam que não vão fazer mais coisas desse tipo, por favor.

—Eu nunca pensei nisso! —Effie disse.

—Tudo bem, Percy. Eu prometo. —Portia disse.

—Eu também. —Concorda Cinna.

—Você não manda em mim. —Haymitch diz.

—E eu não prometo nada. —Complementa Katniss. Não pude deixar de sorrir com a situação. Cada um sendo cada um.

—Agora vamos! Pra cama! Amanha vocês acordam cedo e tem de estar pronto às 9 horas! —Effie disse batendo palmas e se levantando da mesa. Eu e Katniss resmungamos um “boa noite” e fomos para o corredor. Paramos na frente do meu quarto.

—Você estava mais quieto hoje. —Observa Katniss.

—Eu estava com fome. —Digo.

—Você não me engana. Você estava meio sombrio, preocupado. —Suspiro.

—Eu estou preocupado. Amanhã é o primeiro dia. O que será da gente? Ano passado o presidente já não nos deu sossego, imagina esse ano? Eu não vou poder esconder a situação por muito mais tempo dos outros. O presidente vai querer nos atingir de todas as formas, não importa quem esteja envolvido. Só de pensar em quantas vidas estão em nossas mãos, em cada movimento, cada palavra, cada gesto. É uma responsabilidade que eu não sei se posso aguentar.

—Percy. Se eu fosse confiar minha vida a águem, você seria minha primeira opção. Tenho certeza de que a de Annabeth também. Isso na é muito diferente da sua guerra no passado, e você é um líder nato.

—Você pode estar até certa, mas eu não sou o líder.

—Que seja, Annabeth, tanto faz. —Sorrio

—Katniss. Não é Annabeth nem mesmo eu que devemos liderar. É você. Você é desse tempo. Você é que é o Distrito 12, o mais pobre, o que mais sofre. Você que se voluntariou no lugar de Prim. Você é o motivo de eu estar aqui. De todos os semideuses estarem. Você é a esperança de Panem. Você é o Tordo.