P.O.V Katniss

Confesso que me desesperei quando vi Clove com a faca apontada para Percy. Nem pensei nas consequências do meu ato, simplesmente me joguei em cima dela, e nós começamos a rolar. Ela conseguir me dominar.

–Veio defender o irmãozinho? Ele vai morrer, por que você é uma inútil, você vai deixá-lo morrer igual deixou a garotinha, como era o nome dela? Rue, do Distrito 11. –Essas palavras me machucavam, doíam mais do que se ela tivesse enfiado a faca em mim. A raiva que eu sentia por Clove, não chegava nem perto da que eu sentia por mim mesma. Eu deixei Rue sozinha e ela morreu, deixei Percy sozinho machucado e ele quase foi morto. Por mais que eu tenha chegado na hora, sabia que ele só estava naquela situação por minha culpa. Se Clove sabia o quanto suas palavras me machucavam, ela não se importou. –Que lindo! Os Distritos pobres se unindo e achando que tem alguma chance de vencer os jogos. Mas parece que não está dando certo não é? Seu maninho está sangrando de dor, totalmente fraco, você está com uma faca no pescoço, e a garota? Morta! Nós a matamos, igual vamos matar vocês. –As lágrimas insistiam em cair. Seria tudo mais fácil se ela me matasse agora, mas o garoto do 11 não deixou. Ele puxou ela de cima de mim, e matou Clove tão fácil quanto abrir uma garrafa, quando ele se virou para mim, fiquei ainda mais assustada. Sua expressão era assassina, e sinceramente, eu preferia que ele me matasse logo, eu não causaria problemas para mais ninguém. Mas ele não me matou, infelizmente.

–Ouça 12, eu só fiz isso por Rue, não por você, e não espere que eu faça de novo. –Ele diz e sai correndo para a floresta sem me matar antes. Mas logo me arrependi de ter desejado morrer. Quando em levantei, vi o estado em que Percy se encontrava: O corte estava aberto, e sangrava mais do que quando foi feito. Agradeci por estar viva só para ajuda-lo, não sei o que aconteceria a ele se eu não estivesse ali.

O coloquei na caverna e logo sai. Eu não aguentaria ver Percy daquele jeito por minha culpa, dei a desculpa de buscar água, mas assim que saí da caverna, as lagrimas venceram a luta e eu as deixei escorrer pelo rosto. Elas ardiam com o sentimento de culpa, parecia ácido na minha pele. Agora só há mais três tributos além de mim e Percy. Se Percy e eu ficarmos no final, não quero nem pensar no que pode acontecer. Ele vai ter que sobreviver, mas pelo pouco tempo que conheci Percy, sei que ele não vai deixar eu me matar e muito menos ele o fazer. Ele acabaria fazendo uma besteira. Seria tão mais fácil se Clove ou Tresh tivesse me matado! Percy teria mais chance. Então eu finalmente decido.

Tresh não me matou, Cato não está em condições, não faço a mínima ideia de onde a cara de raposa está e Percy nunca pensaria em fazer uma coisa dessas. A única pessoa que pode me matar... sou eu mesma. Puxo a faca da minha cintura, levanto para o alto e digo:

–Eu amo vocês. –As pessoas a quem me refiro vão saber. A faca está a centímetros de mim, quando ouço um tiro de canhão. Coloquei a faca no cinto novamente e corri. Não! Não! Não pode ser Percy, onde você estava com a cabeça de deixa-lo sozinho nessas condições Katniss? “Pode ser qualquer outro” Penso. Cato estava bem ruim, e vai saber onde a Garota do 5 está. Mas a sensação de que algo aconteceu a Percy continua no meu peito, me consumindo de culpa. Eu acho que nunca corri tanto em minha vida, mais do que quando estava prestes a ser engolida pela onda. Deve ser porque antes eu salvava a minha vida, e não estava me preocupando com Percy, e agora, com a culpa me corroendo, só de pensar que algo aconteceu a Percy quando deixei ele sozinho e esta prestes a me matar... Argh! Tire esse pensamento Katniss! Não pode ser Percy. Em pouco tempo chego a caverna e não vejo Percy. Me desespero, o que será que aconteceu? Saio da caverna e grito:

–Percy! PERCY! –as lágrimas ácidas caiam novamente quando eu caí no chão de joelhos. Não podia ser, eu fiz de novo. Rue morreu, Percy morreu, eu sou pior do que o Presidente Snow! A melhor coisa que posso fazer agora é acabar coma minha vida, antes que eu mate mais alguém. Já estou decidida. Puxo a faca de novo e quando estou prestes a afunda-la diretamente no coração alguém segura meu braço.

–Você está louca? –É a voz de Percy! Ele não morreu. A alegria e a raiva brigam por espaço no meu coração. Eu me levanto do chão e pulo em cima dele.

–Você está vivo! –Eu me separo dele e começo a bater em seu ombro. –Onde você estava? Você é louco de sair por aí sozinho nessas condições? Você poderia estar morto!

–Eu não estou morto, mas daqui a pouco vou estar, por que você está me batendo bastante, e caso não saiba, as minhas costas ainda doem! –Eu parei de bater nele e olhei seu estado. Era deplorável, não se via cor em seu rosto, somente uma expressão de dor intensa. Suas roupas estavam molhadas de sangue e ele segurava o ombro onde eu batia.

–Ai meus deuses Percy, me desculpe! Mas você quer me matar de susto? Onde você estava?

–Calma ai! Eu ouvi o tiro de canhão, foi aqui perto, então eu quis ver quem é que tinha morrido. Não precisa se preocupar!

–Não precisa se preocupar? Olha seu estado, e você sai procurar alguém que morreu, e se a pessoas que matou esse alguém ainda estivesse lá, você não está em condições de lutar. O que você faria se encontrasse Tresh lá? Você acha que ele ia te deixar vivo?

–Calma aí, eu não pensei nisso...

–É claro que você não pensou! Você tem o que na cabeça Cabeça de Alga?

–Tudo bem Katniss, se acalme, eu não estou morto...

–Mas poderia estar!

–Mas não estou! Quem morreu foi a Cara de raposa, porque ela comeu ameixas estragadas, então não tinha ninguém lá. Olha. –Ele me mostrou a mão cheia de ameixas pretas. Peguei-as de sua mão. –O que você vai fazer com isso?

–Guardar, talvez Cato goste de ameixas também. Agora vamos você precisa descansar. –Nós entramos na caverna e ele logo se sentou no chão. Sorte que eu havia enchido a garrafa antes de decidir me matar e sair correndo. Coloquei um pouco no ferimento e deixei a água agir no filho de Poseidon. Aos poucos o sangramento foi parando e derramei um pouco mais do líquido. Ele foi melhorando e decidi parar de jogar água, dei o resto para ele beber, mas Percy não tomou tudo.

–Você tem que beber também.

–Eu não preciso.

–Precisa sim. –Ele falou já pegando a garrafa da minha mão e derrubando na minha boca. A única opção que eu tinha é de tomar, e não nego que foi uma sensação maravilhosa, já não sei a quanto tempo não bebo água, e ao sentir o toque da água fria na minha boca seca, senti um alívio percorrer pelo meu corpo.

–Durma, você precisa. –Ele me olhou com uma cara de que ia discutir, mas assim que olhou para mim desistiu, e se arrumou sem protestar. Dentro de 2min já estava caído na inconsciência.

“Enquanto Percy ainda estiver vivo, eu não vou me matar, ele precisa de mim, mas assim que eu me tornar inútil, eu morro e ele sobrevive, volta para o passado e vence a guerra. É tudo mais simples”. Com esse pensamento concluo que eu não estou mais na arena para sobreviver, eu estou na arena para fazer com que Percy sobreviva.