P.O.V Katniss

      O canhão soou, e eu tive certeza: Rue morreu. Fui tomada de profundo ódio, eu não queria acreditar nisso. Havia conhecido Rue há pouco tempo, mas me afeiçoei a ela, sempre me lembrava de Prim, seu pequeno tamanho, a voz suave, a inocência. E agora, aquela pequena garotinha estava lá, morta em meus braços, fazendo com que lágrimas involuntárias escorressem pelo meu rosto, eu não podia acreditar, eu não queria acreditar. O sangue escorria pela ferida, deslizando sobre seu corpo e caindo no chão da floresta. Ao longe ouvi mais um canhão, mas não me importei, naquele momento só existia eu e Rue nos meus braços. Não sei bem o porquê, mas eu não culpava Marvel, culpava a Capital, precisamente o Presidente Snow. Até agora eu não me importava muito com a criação dos Jogos, mas agora que vejo o corpo frágil de Rue, percebo o quanto isso é cruel. Eu não vou fazer mais o que eles querem, vou fazer as coisas do meu jeito. Deitei o corpo de Rue na grama e comecei a cantar: (A música não é a mesma do livro ok? Eu fiz essa para representar a rebeldia da Katniss com a Capital).

Bem noite de luar

Você me ajuda a sonhar

Em um dia me rebelar

E nada mais aceitar

Eu quero ser livre, voar pelas montanhas...

E nunca mais me importar.

Eu quero ser eu e mais ninguém

Eu quero ir muito além

Daquilo que hoje sou.

Deite pequena garota

Onde ninguém mais poderá te achar

Onde ninguém conseguirá te machucar.

Feche os olhos e espere o amanha chegar...

      Agora as lagrimas escorriam em abundancia, eu não conseguia mais controla-las, também não sei por que cantei, sei que a Capital provavelmente não gostou. Meu pai me ensinou essa canção, ele havia me dito que ela foi criada na época da rebelião do Distrito 13, e proibida pelo Presidente pouco tempo depois de o Distrito ser destruído. Andei a minha volta e colhi flores, que coloquei cuidadosamente ao redor de Rue, seu corpo ficou coberto por diferentes flores. Distanciei-me do corpo, sei que não poderia ficar mais ali, logo seu corpo seria recolhido. Procurei a minha volta e achei uma câmera escondida entre os galhos de uma arvore. Me virei para ela e fiz o mesmo sinal que recebi quando me voluntariei.      

       Beijei três dedos da minha mãe e os levantei ao alto, queria me dirigir ao Distrito 11, em sinal de respeito a eles e a Rue. Sai de lá controlando minhas lágrimas. Eu decidi continuar. Não por mim, muito menos para fazer o que a Capital quer. Continuei por Rue, por Prim, por Percy. Eu precisava acha-lo, ele era a única coisa que me havia sobrado naquele momento e eu não queria perde-lo também. A arena é grande, e será difícil encontra-lo, mas eu não vou desistir. Eu prometi a Prim, prometi a Gale, prometi a Percy e faria por eles e por Rue. A Capital não vai ter o que quer, pelo menos não por mim.

      Andava sem rumo, sem planos. Não fazia ideia de onde Percy poderia estar, mas me forcei a pensar. Água! É claro! Onde mais ele poderia estar? Um filho do deus dos mares. Mas então me lembrei de algo que me desesperou. O canhão. Outro canhão havia soado enquanto eu lamentava a trágica morte de Rue, não podia ser de Percy! Ele não, eu não podia perder mais ninguém, já perdi meu pai, fui tirada da mina família e de Gale, já perdi Rue, eu não podia perder Percy. Acalme-se Katniss. Ainda tinham sete tributos, não poderia ser bem Percy certo? Não, não poderia. Arrumei meu arco em minha mão e comecei a andar pela floresta procurando o lago.

      Caminhei por horas, e não achava, passava por lugares desconhecido e tinha certeza de que não era o caminho, então mudava de rumo novamente, mas a trilha ficava cada vez mais difícil. A noite foi chegando e eu ainda não tinha sinal de vida perto de mim, não via nem animais por perto, somente pássaros nas arvores altas. Decido que é melhor não me aventurar mais, que procuraria Percy pela manhã. Acho uma boa árvore e me acomodo nela para passar a noite, e antes de adormecer como bolachas, e tomo o ultimo gole de água da garrafa.

       Minhas pálpebras estão pesadas, mas me obrigo a ficar acordada até o hino. Finalmente, quando estou quase dormindo, ouço o hino introduzir as fotos dos tributos que morreram hoje. Não me lembro da música ser tão longa, mas finalmente o rosto de Marvel aparece no céu. Só agora o notei, foi a primeira pessoa que eu matei, e eu matei sem nem ao menos hesitar, mas eu não estava nem um pouco arrependida. A próxima foto me traz um alívio. Sei que não deveria estar assim pela morte de alguém, mas não consigo controlar. É o garoto do Distrito 5, e isso quer dizer que Percy não está morto. A próxima foto é de Rue, ela está sorrindo e me lembro do fraco sorriso de Rue antes de morrer. Meus olhos ficam marejados novamente e eu me sinto invulnerável, se aparecesse alguém nessa hora poderia me matar com facilidade, eu estou frágil, e isso faz com que eu adormeça mais rapidamente.

      Acordo com um barulho alto, de água. Me desamarro rapidamente e olho para trás antes de começar a correr. O que vejo é uma onde enorme prestes a me engolir. Ela vem em alta velocidade e mesmo eu sendo rápida sei que é inútil fugir. Corro por um tempo, o máximo que posso, meu coração bate forte no peito, minha respiração está ofegante. Finalmente a onda me alcança, de onde ela veio eu não sei, só sei que é real, e a dor do impacto também. Sou atingida com uma força surpreendente e tento nadar por um tempo, mas a correnteza é forte, e a única coisa que me lembro antes de desmaiar é um par de braços me envolvendo.