Saímos do trem, um monte de pessoas esquisitas da capital estavam a nossa volta alguns tirando fotos outros apenas gritando e tentando se aproximar, entramos em um carro preto de vidros escuros que nos leva a um grande prédio onde cada um dos tributos são encaminhados a equipe de preparação dos seus estilistas. A equipe que me espera na sala que entro é composta por duas mulheres e um homem, o homem tem os cabelos tingidos de amarelo e as sobrancelhas em forma de fagulhas, uma das mulheres é alta, tem os cabelos pintados de um azul escuro e a pele tem um  tom azul, várias tatuagens se estendem por seu corpo. A outra é baixinha e gorducha, os cabelos são, aparentemente, pretos naturais com as pontas rosa vibrante, suas orelhas parecem modificadas cirurgicamente para serem mais pontudas. Eles me recebem com sorrisos e abraços, Enobária se retira da sala e eles começam a transformação, primeiro eles me lavam até cada centímetro quadrado do meu corpo ficar reluzentemente limpo, depois lavam o meu cabelo deixando ele incrivelmente macio, retiram todos os meus pelos, e arrumam as sobrancelhas deixando-as finas e arrumadas, minhas unhas são limpas lixadas e pintadas. Até que finalmente a mulher alta fala:

-- Ela está pronta, vamos chamar a Beatriz.

Eu fico sentada no que parece ser uma maca, olhando para o que eles fizeram em mim, imagino como será que Cato está nesse momento. Não demora muito para que Beatriz chegue. Ela é alta e magra, tem cabelos compridos e ondulados de cor rosa claro, usa maquiagens em diversos tons de rosa, e está com um vestido rosa antigo e dourado fosco.

-- Olá Clove, eu sou Beatriz. – ela exclama.

-- Oi, prazer – respondo com educação.

-- Quer saber de uma coisa querida? – ela pergunta, concordo com a cabeça – você tem a face de uma vitoriosa. E não pode usar uma roupa qualquer, vejo que dourado fica tão bem em você quanto em mim.

-- Bem, obrigada – falo.

-- Os desenhos da sua roupa já estão prontos, só preciso tirar algumas medidas, não se preocupe tudo vai estar pronto na hora exata, ainda temos muito tempo. – ela complementa.

Depois que sou severamente medida, Beatriz conversa um pouco comigo enquanto dava os retoques finais no desenho, então me leva até uma sala onde eu devo esperar até a fantasia ficar pronta, ela falou que estima que demore menos de duas horas. Fico sentada entediada nos primeiros 40 minutos, depois fico pensando em como será a fantasia e como eu queria que Cato estivesse aqui comigo agora. Cerca de uma hora depois disso aparece uma mulher que parece ser jovem vestindo umas roupas vermelhas, ela coloca um prato com algumas bolinhas de queijo na mesa ao lado do sofá que estou sentada e vai embora. Hum, eles parecem bons, muito bons, não resisto e como alguns, até que finalmente a mulher baixinha vem e me chama, ela me deixa na sala onde eu havia conversado com a estilista. Demora apenas alguns instantes para que Beatriz chegue com um enorme sorriso.

-- Está pronto querida – ela exclama, não sei por que ela faz questão de me chamar de querida, mas enfim...

Ela me veste com uma armadura dourada reluzente, linda, realmente ficou incrível em mim, na verdade, tive que concordar com a mulher, dourado fica bem em mim. Depois ela coloca uma coisa que parece um elmo com asas em minha cabeça e exclama:

-- Oh ficou tão bem em você, já estou imaginando com a coroa de vencedora!

Ah vencedora, por algum motivo gostei de Beatriz, não queria decepciona-la mas não vou vencer, Cato vai, e com isso eu vou conseguir continuar brilhando. Isso me inundou por dentro, cai na real, só um vai sair vivo, e logo ele tinha que estar aqui?! O que eu tinha na cabeça quando me ofereci? Ah é verdade, Silvia, família, honra, mas só tem um problema, eu não quero a honra eu quero o Cato. Depois ela faz minha maquiagem, e exclama:

-- Perfeita! As câmeras vão te amar querida. Vamos indo.

Concordo com a cabeça e vamos até um corredor cheio de carruagens uma para cada distrito, não presto atenção nos outros tributos, eles estão muito simples, nada que chame a atenção, menos os tributos do 1, a garota tem cabelos longos e ondulados e parece um pavão com a sua fantasia cheia de penas. Até que ele chega, incrível como a armadura ficou bem nele, destaca seus músculos, vai conseguir bons patrocinadores eu espero, sempre temos, carreiristas.

-- Nossa Clove, você está linda! – ele fala, fico vermelha quase instantaneamente.

-- Obrigada – sussurro, não preciso ficar mais vermelha do que já estou.

-- Ótimo, os dois estão lindos, subam na carruagem – fala Enobária ríspida.

Subimos e rapidamente é a nossa vez de passar pelo corredor, estão todos gritando e aplaudindo, eu começo a sorrir e acenar, percebo que a garota do distrito 1 faz alguns sinais para Cato e ele a ignora. Estou achando que já conquistamos a maioria, até que as câmeras passam a focar unicamente os tributos do 12, que estão literalmente em chamas. Ela começa a mandar beijos para o publico que grita ensandecido. Então eles dão as mãos e as levantam, olho com nojo e sussurro para Cato:

-- Eu mato a garota.

Ele ri e fala:

-- Pode deixar.

Rimos juntos e eu volto a sorrir e acenar, ele faz o mesmo, acho que as pessoas que tem algo de útil na cabeça, ah pera, aqui é a capital, ninguém tem nada útil. Digamos as pessoas que realmente sabem quem vai ganhar, vão patrocinar agente e não esses dois idiotas quero mata-los na arena, dou preferência a garota. Vai ser divertido mata-la. Acho que vou dar a segunda preferência a loira azeda do distrito 1, ela não para de ficar fazendo gestos e dando sorrisinhos na nossa direção, e sei que eles são para Cato. Agora estou sorrindo com um ar perverso, queria que a loira visse isso, mas infelizmente só estão mostrando os idiotas do 12. Ok, acho que só estou chamando eles de idiotas porque eles estão chamando mais atenção do que eu, mas como só um pode vencer nada melhor do que ter um raivinha deles para ajudar a dar uma morte mais espetacular. Mordo os lábios, quando olho eles estão de mãos dadas sorrindo para o público, nossa, meu ódio cresceu com tamanha força, além do fogo agora eles estão de mãos dadas! Como se eles estivessem nisso juntos! Cato sussurra:

-- Devíamos ter pensado nisso.

-- Não, deixe eles, temos uma arena inteira para fazer eles ficarem com cara de otários. – suspiro – bem, não vamos fazer aliança com o distrito 4 esse ano.

-- Por quê? – Cato indaga.

-- Olha o garoto, é uma criança, acho que ninguém teve coragem esse ano – digo ainda acenando.

-- Ah, é verdade, eu mato ele acidentalmente na cornucópia e agente deixa a garota viva enquanto ela for necessária. – ele fala e eu concordo com a cabeça.

Então nossas carruagens param, observo os outros tributos, aparentemente só teremos problemas com o garoto do 11, os outros carreiristas e talvez a tonta do 12. É, mas acho que num geral ganharemos fácil. O presidente Snow nos dá as boas vindas e as carruagens andam novamente nos levando ao local que eu acho que será nosso centro de treinamento nesses próximos dias antes da arena. Dou uma olhada em volta, tem uma bela diversidade de instrumentos. Charlote se aproxima:

-- Ah vocês estavam ótimos no desfile! – ela exclama.

-- Os tributos do 12 roubaram toda a atenção – digo.

-- Ah, bem, vocês chamaram um pouco de atenção também – diz Enobária sem convicção – não se preocupem, vamos conseguir patrocinadores para vocês.

Concordamos com a cabeça, então eu começo a fuzilar os tributos do 12 com os olhos, vejo uma mulher extravagante com muita maquiagem e peruca indo ao encontro deles, e também um homem, deve ser o mentor bêbado deles. Então eles nos olham e vão em direção ao elevador.

-- Vamos indo também!! – diz Charlote sorridente – cada distrito tem um andar inteiro! O andar de número do seu distrito, nós ficamos no 2°.

-- E os idiotas na cobertura – digo ríspida andando em direção ao elevador.

Não demora muito até o elevador voltar, entramos e Charlote clica no botão de número dois, e ele nos leva para o nosso andar, ele é incrível, decorado com tudo do mais luxuoso da capital, pelo menos os tributos tem alguns dias de reis e rainhas. É grande, maior que a minha casa, apesar de não ser pobre aqui é realmente melhor, claro, é na capital eles dirigem tudo de melhor para eles próprios. Brutos está sentado no sofá, quando nos vê vem em nossa direção e fala:

-- Estilistas, porque não nos deram o melhor, imagino o que o do 12 teria feito com vocês..

-- Não fomos tão ruins assim – Cato fala.

Estranho como nem tinha notado a sua presença. Estou cansada, fico imaginando o que meus pais e Silvia devem ter achado disso, eles devem falar a todo distrito que eu estava maravilhosa, mesmo sabendo que na verdade tudo caiu nas graças dos do 12.

-- Vou pro quarto, preciso tirar isso – começo – e tomar um banho.

-- Pode ir Clove – fala Charlote apontando para o meu quarto – só não esqueça, em uma hora vou te chamar para o jantar.

Concordo e vou para o quarto, ele é grande, e tem muitas coisas diferentes, uma parede do quarto muda de mexemos em um controle, ela mostra paisagens diferentes, desde a cidade a noite a um deserto. Vou ao guarda roupa, ele é incrível também com várias opções para satisfazer até os mais exigentes da capital. Escolho uma roupa simples, calça e blusa combinando, ambas parecem ser feitas de veludo azul, levo elas para o banheiro e vou tomar banho, lá também tem uma infinidade de botões, decido usar a banheira, vários botões para escolher a espuma, a esponja, a temperatura, quando finalmente consigo deixa-la de um jeito mais familiar com a de meu distrito, tomo um longo e relaxante banho. Quando termino me seco, e percebo um botão para secar o cabelo, pressiono ele e meu cabelo fica quase instantaneamente seco, macio e desemaranhado, acho que não a nada de luxo que a capital já não tenha feito. Então me visto e sento na cama, para atualizar meu diário.