Into Your Arms escrita por AnaSabel


Capítulo 17
Capítulo 16




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– E o que a senhorita tem a dizer em sua defesa?

Suspirei, irritada.

– Eu acabei de contar tudo o que aconteceu. Eu encontrei o corpo da sra. Bethany pendurado com ganchos e você ainda acha que sou suspeita? Pareço algum tipo de psicopata?

– Srta. Hathaway, por favor, se acalme.

– Não. Vou. Me. Acalmar.

– Está bem Srta. Hathaway, vamos terminar por aqui. Vá para casa, você precisa de descanso.

Sem dizer nada, levantei-me arrastando a cadeira no piso, provocando um rugido e me retirei da sala pequena e sufocante.

Encostei-me na parede no corredor, deixando minha cabeça pender para baixo. Um policial passou por mim, entrando na sala onde antes eu estava. Meus olhos se fecharam por um breve momento e senti minha respiração sair com dificuldade.

– Conseguiu algo?

Escutei por entre a porta entreaberta.

– Nada que já não tínhamos visto. – A voz soou decepcionada. - A garota estava abalada, mas parecia dizer a verdade.

– E o que vamos dizer à imprensa?

– Diga que estamos investigando. Ninguém irá acreditar em um novo “ataque de animal”, nenhum que eu conheça colocaria ganchos em uma pessoa.

– A não ser um – depois de uma longa pausa ouvi um suspiro. - Humano.

Saí da delegacia e a brisa gelada que bateu em meu rosto pareceu clarear meus pensamentos transtornados. Por entre a escuridão, vi Andrew encostado na lateral de seu carro. Apesar das circunstâncias, sorri.

Sem mesmo cumprimentá-lo, me joguei em seus braços. Era a única coisa de que precisava. Ele me envolveu em seu calor próprio, me apertando forte contra seu peito.

– Ei, Lissa?- Andrew se afastou e segurou meu rosto entre as mãos gentilmente. – Você está bem?

Confirmei com a cabeça, mas uma pequena lágrima saiu no momento errado, me entregando.

Andrew ergueu a mão e seu polegar quente deslizou pela pele fria de minha bochecha, secando-a.

– Obrigada. – sussurrei.

Andrew me observou por um segundo, e vários momentos se passaram enquanto ele escolhia as palavras.

– Liss. – ele disse, enfim. – Existem coisas horríveis no mundo...

– Não me diga. – murmurei, e não encontrei motivo para ser sarcástica com ele. Andrew só estava tentando me ajudar.

– Espere, Lissa, me deixe terminar. – ele respirou fundo e passou a mão pelo meu cabelo, segurando-os contra a nuca. – Eu estava dizendo que existem coisas absolutamente horríveis, coisas que você desconhece - Andrew expirou lentamente - e pessoas ainda piores. Pessoas que encontram prazer no desespero e alegria nas lágrimas alheias... E existem pessoas como você, que tornam o mundo um lugar incrível.

O comentário dele me distraiu, os pensamentos sumiram.

– Você me acha incrível?

Ele deu um pequeno sorriso.

– Mais do que isso.

Andrew beijou meus lábios sorridentes.

– Se você queria me distrair, conseguiu. – sussurrei.

– Não quero que você pense nessas pessoas.

– Como ele. Eu sei que foi ele quem a matou.

– Ele?

Fechei meus olhos.

– O mesmo homem... Ou pelo menos parecido com um homem... Que está me deixando paranoica.

Andrew acariciou meu rosto e abri os olhos, descobrindo que ele estava bem próximo de mim.

– Você não precisa ter medo dele, Lissa. Ele pode atingir pessoas ao seu redor, e pode até te assustar. Mas eu lhe garanto, ele nunca – senti um tom de amargura ao o ouvir pronunciar a palavra - irá encostar um dedo em você. Eu não vou deixar.

– Ele nem é humano, Andrew. Não sabemos do que ele é capaz.

Andrew me aconchegou contra seu peito, e descansou o rosto sobre o meu.

Eu sou capaz de fazer qualquer coisa por você.

Ele beijou meus lábios uma vez mais, repousando suas mãos em minha cintura.

– Onde está sua tia? – perguntou.

Naquele exato momento uma BMW X1 parou no meio fio, em frente à delegacia, com uma guinada.

– Serve aquela?

Tia Rose saiu do carro apressada, com o rosto tomado pela preocupação. Soltei-me de Andrew, assim que ela me abraçou.

– Desculpe aparecer só agora, querida. – ela se afastou e me avaliou por um momento. – Como você está?

– Bem, eu acho.

Tia Rose passou a mão por meu cabelo e um sorriso triste circundou seu rosto.

– Detesto ter que deixá-la, mas preciso falar com eles. – disse apontando para a delegacia.

– Tudo bem, vá. Andrew me levará pra casa.

Ela depositou um beijo no alto de minha cabeça e se afastou. Assim que ultrapassou a porta, Sarah saiu.

– Como foi? – perguntei.

– Fizeram várias perguntas inúteis e depois me dispensaram.

Sarah revirou os olhos e cruzou os braços, parecendo entediada. Eu não a contrariava.

– Quer dizer, com você deve ter sido bem pior e não sei como você conseguiu aguentá-los.

– Pode acreditar, eu fiquei bem irritada.

Ri, lembrando de todas as vezes que o delegado me ofereceu um copo de água com açúcar.

– Preciso ir pra casa. – sussurrei para Andrew.

– Está bem, vou levá-la. Você quer carona, Sarah?

– Não, minha mãe já deve estar vindo, obrigada. Podem ir.

Me despedi de Sarah, a abraçando por um momento e entrei no carro.



Joguei minha bolsa em cima da cama e tirei alguns livros de dentro dela, procurando pelo bilhete. Retirei o pequeno papel branco amassado e entreguei a Andrew, estremecendo.

– Eu encontrei isso. Junto com o corpo.

Ele pegou o bilhete por entre os dedos e leu as palavras que eu já havia gravado:

“Da próxima vez, os ferimentos serão piores”.

Andrew cerrou os dentes e amassou o bilhete, o acertando na lixeira do outro lado do quarto.

– Tenho que fazer alguma coisa. – murmurei.

–Você? – sua voz soou irritada. – Você não irá fazer nada!

– Andrew, ele está matando pessoas. Não mede consequências. Quer apenas saciar a própria... Sede.

– E se você se meter nisso, quem acabará com uma mordida no pescoço é você!

– Quer que eu sente e assista tudo o que está acontecendo, enquanto a culpa é minha?

– A culpa não é sua.

– É sim, Andrew. É a mim que ele quer. – sussurrei.

– Se você procurá-lo seria como se entregar em uma bandeja de prata.

– Pelo menos as outras pessoas estariam seguras. Um sacrifício válido.

Andrew se aproximou e segurou meu queixo, obrigando-me a encará-lo.

– Pode parecer egoísta, mas entre salvar toda a população de St. Louis e você, eu ficaria com a segunda opção. Sem pensar duas vezes.

– Não parece egoísta. É egoísta.

Ele me beijou sutilmente, acariciando meu braço.

– Desde quando você começou a ter certeza que ele é um vampiro?

– Desde que é obvio.

– Ou desde que Sarah lhe disse isso?

Andrew encarou sobre meus ombros e me virei olhando o livro sobre lendas de vampiros que eu havia pegado da biblioteca.

Suspirei, sentando na ponta da cama.

– Eu tive que contar pra ela. Sobre tudo.

– Por isso ela não questionou.

– Sim, Sarah sabe mais sobre vampiros do que você imagina.

– Como?

– A avó dela sempre contou histórias e... O que é isso na sua camiseta?

Aproximei-me de Andrew, observando a mancha escura. Contra sua vontade, puxei a barra de sua camiseta para cima. Abaixo das costelas, um corte jazia sobre sua pele morena. Não era muito fundo, mas pelo sangue que brotava, percebi que era recente.

– Andrew, como você fez isso? – perguntei abismada.

– Eu... Eu só me machuquei. Nada demais.

Levantei mais sua camiseta, avistando alguns arranhões.

– Não parece “nada demais”.

Ele agarrou meu pulso e deixei sua camiseta escorregar para baixo.

– Está tudo bem. Vai sarar.

– Você precisa fazer um curativo.

– Está tudo bem, eu juro.

Andrew estava calmo, mas pelo tom de sua voz, sabia que não deveria mais tocar no assunto.

– Preciso ir pra casa. – murmurou.

Soltei um suspiro pesado e fiquei de pé.

– Nos vemos amanhã? – perguntei.

Andrew acenou com a cabeça e seus braços envolveram minha cintura.

– Tome cuidado.

– Eu sempre tomo. – sussurrei.

Seus lábios roçaram os meus delicados e provocantes. Minhas mãos entrelaçaram ao redor de seu pescoço e o beijei.

Andrew se afastou e desceu as escadas rapidamente. Ouvi o ronco da partida de seu carro, até o som sumir na rua.



Depois de mais uma manhã maçante resumida em tarefas e professores irritados, decidi que iria ao hospital visitar Riley.

Seria uma distração para as imagens que rondavam minha mente. Desde meu encontro com Andrew hoje pela amanhã, eu não conseguia mais pensar em nada.

– Então, como está o corte? – perguntei.

– Muito melhor.

Andrew abriu um sorriso desajeitado e levantei a barra da sua camiseta.

– Lissa, não.

Observei a pele lisa à minha frente, perfeita. Sem nenhum corte ou arranhão. Subi o outro lado da sua camiseta, mas a pele também estava curada e sem defeitos.

Ele agarrou meu pulso com força, o juntando ao lado de meu corpo.

– Onde está seu corte?

– Não era fundo, eu disse que iria curar.

– Era fundo o suficiente pra precisar de no mínimo uma semana para curar, você sabe disso.

– Você tem aula. – Andrew murmurou.

– Não tente desviar o assunto. Você acabou de me mostrar um machucado que curou do dia pra noite, literalmente.

O fitei, esperando por uma resposta que não existia.

– Não quer me contar, está bem. Espero que goste de ser desapontado.

Balancei a cabeça, tentando afastar os pensamentos e segui para a direita, para o bairro mais calmo da cidade. Entrei no prédio, onde tudo era branco e cinza demais. Cada centímetro daquele lugar fazia-me lembrar dos poucos meses que eu havia passado ali.

Segui para a recepção, onde a mulher pediu meus dados e meu parentesco com Riley. Incansáveis minutos se passaram até a enfermeira autorizar minha entrada.

Fechei a porta atrás de mim quando entrei no quarto. O único barulho era o bipe frequente dos aparelhos médicos. O corpo de Riley estava deitado sob um lençol – branco, é claro –, os olhos fechados tranquilamente. Seu peito suspirava pausadamente, mas a enfermeira afirmou que estava acordada.

– Riley, você pode me ouvir? – sussurrei.

Aproximei-me de sua cama, observando a pele que parecia transparente e os cabelos que estavam sem brilho e opacos, muito diferentes do que eu havia visto pela primeira vez. Em seu pescoço ainda havia um grande curativo.

– Está me ouvindo? – tentei mais uma vez.

Peguei sua mão entre as minhas, a apertando delicadamente. Ela parecia muito nova, apesar da altura, e muito inofensiva. Como alguém poderia machuca-la de tal maneira?

– Riley, você está bem?

Seus olhos tremeluziram por um momento e depois se abriram arregalados, me encarando. De repente todo quarto foi inundado por uma onda de medo e horror. Ela levantou rápido demais e sua boca abriu, mas no lugar de palavras apenas um gemido atravessou sua garganta. Uma de suas mãos agarrou minha blusa e a outra meu pulso, me aproximando de seu rosto.

– Vampiro. – ela sussurrou. – Me ajude, não deixe fazer isso comigo. Não deixe ele me matar. Me ajude!

Seu corpo caiu contra a cama, suas mãos afrouxando o aperto. O bipe de seus batimentos cardíacos aumentou em um som ensurdecedor até se tornar incessante.

Olhei para o corpo brando de Riley, em choque.

Duas enfermeiras entraram no quarto apressadas e checaram os aparelhos médicos.

– Se afaste, por favor.

Dei dois passos automáticos para trás e observei-as tentando trazer Riley de volta, mas o bipe continuava, sem nenhuma pausa, me lembrando a todo segundo o que acabara de acontecer.

A enfermeira loira virou-se pra mim.

– Não há mais o que fazer.

– Tente mais uma vez, por favor! – murmurei.

– Fizemos tudo o que podíamos. Sinto muito.

Ela me acompanhou até a recepção e sentei na cadeira, exausta. Meu corpo agia sozinho, eu não parecia ter mais controle dele.

– Riley era sua amiga?

Assenti afirmando.

– Quer que eu ligue para seus pais?

– Não, obrigada.

Antes que eu pudesse pensar em pegar meu telefone, um médico sentou-se ao meu lado.

– Srta. Hathaway, certo?

– Sim.

Sr. Howard, eu o conhecia por ter cuidado de mim.

– Você poderia me dizer o que aconteceu?

– Eu apenas perguntei como ela estava, e Riley acordou assustada. Me disse... Disse coisas incoerentes e depois caiu na cama.

– Nada diferente do que eu esperava. Desde o acidente, tem dito coisas estranhas.

– Que tipo de coisas?

– Dizia que sonhava com seu ataque e sempre sussurra sobre vampiros. Claro que foi tudo ridículo. Seu cérebro estava abalado, seria difícil recuperar-se.

Os olhos castanhos e cansados do homem velho me fitaram.

– Sinto muito, srta. Hathaway, por tudo.

Abri um pequeno sorriso pra ele e suspirei.

– Obrigada.

Ele levantou, indo ao encontro das enfermeiras, provavelmente falando sobre Riley. Saí do prédio, cansada do branco enjoativo. Peguei meu celular, digitando o primeiro número que me veio à cabeça. No segundo toque, Andrew atendeu.

– Lissa.

– Me encontre na praça ao lado do lago.

Foram as únicas palavras que eu disse. Ele entenderia que algo de errado estava acontecendo e me encontraria sem pensar duas vezes.

Caminhei devagar, meus joelhos pareciam querer ceder a qualquer momento. Meus olhos formigavam e os apertei, impedindo que lágrimas caíssem dele. Sentei encolhendo minhas pernas no banco e encarei o lago azul cristalino.

– Riley morreu. – sussurrei sem olhar para Andrew.

– Morreu?

– Sim, ela está morta! Junto com todas as outras pessoas ao meu redor!

– Mas como?

– Não sei, ela apenas caiu na minha frente depois de dizer sobre... Ele. – hesitei. – Riley me disse pra ajudá-la, pra eu não deixar ela morrer... Mas foi o que eu fiz.

– Você não é culpada por nada disso.

– O pior é que sou. Se não fosse por mim, ele não faria tudo isso.

– Você não sabe se ele está fazendo isso por sua causa.

– Ele quer me afetar, ele quer a mim!

– Lissa, se acalme, vai ficar tudo bem.

– Que droga, Andrew, nada vai ficar bem! Há meses atrás, nesse mesmo banco, você me disse isso e nada, nada mudou. O tempo passou, mas a dor não foi embora. Você estava errado.

Andrew apenas me observou, sem saber o que dizer.

– Porém, em uma coisa você acertou. Você não é aquilo que eu penso.

Ele me fitou, sem entender o que eu realmente queria dizer com aquilo. Levantei-me e sai andando, os olhos cheios de lágrimas.

– Lissa, espere. – sua mão agarrou meu braço, me girando em sua direção. – Eu sei que você está confusa sobre o corte e...

– Não é apenas pelo corte. Eu estou confusa sobre tudo.

– Por favor, me deixe explicar.

– Pra que? Pra você mentir de novo pra mim?

No momento em que disse aquilo, desejei colocar as palavras de volta em minha boca.

– Andrew... – sussurrei e uma lágrima escorreu por meu rosto. Eu sabia que ele não iria secá-la.

Ele soltou meu braço devagar. Seu olhar era uma mistura de sentimentos, difíceis de serem identificados, mas ele deixou transparecer um. Angústia.

Virei às costas para ele e sai andando, sem rumo.

Eu realmente não queria ter dito aquilo. Tentei ignorar a verdade e mentir para mim mesma, mas não o faria novamente. Andrew havia afirmado que não era o que eu pensava, mas não liguei. Boba demais. Cega demais.

Andrew era como um muro. Difícil de quebrar, mas se eu não tentasse, nunca descobriria o que haveria do outro lado.

Joguei-me em minha cama, cansada demais para me importar se ainda era dia. Enrolei-me nos familiares cobertores. Eu apenas queria ficar quieta, com minha experiência em perder-me em pensamentos. Fechei meus olhos pesados e adormeci.

Os abri somente quando senti o celular vibrar em meu travesseiro. Meus olhos arderam quando a luz do telefone iluminou o quarto, e só então percebi que já era noite. Sobre a tela li o nome de Andrew e abri a mensagem.

“Existem coisas que você não sabe. Coisas que quero te contar, mas não posso. Preciso que confie em mim”.


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