Friendship escrita por Hikari


Capítulo 1
Nove Anos Atrás.


Notas iniciais do capítulo

Bom, eu realmente espero que gostem. =P
É a segunda história original que posto aqui :D



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Escutei a minha tutora me chamar, avisei-a de que estava indo e olhei para a lápide dos meus pais pela última vez antes de ir ao encontro dela, que estendia a mão para pegar a minha.

Tinha oito anos naquela época, quando meus pais morreram em um acidente de carro, uma lágrima escorreu pelo meu rosto e sequei-a rapidamente, para que minha tutora não visse e achasse que eu era fraca.

Tudo tinha sido tão rápido, estávamos indo reto com o carro, rindo de uma piada de que meu pai fizera, quando uma luz forte cegou-nos e uma batida nos fez pular do assento, minha mãe havia fechado os olhos e meu pai estava tombado para frente com um corte na testa, eu era a única consciente ali, e mais tarde descobriria que a única viva também, lá fora estava escuro e uma gritaria, podia ver ao longe algumas luzes piscando, mas não identificara sobre o que era, o vidro da janela ao meu lado estava quebrado e um caco do tamanho anormalmente grande havia entrado e cortado meu braço, que estava ensanguentado, aquilo doía, porém o que eu me interessava não era com isso, muito menos de saber o que acontecia lá fora, minha atenção estava voltada no banco da frente, onde meus pais ainda não havia aberto os olhos.

Inclinei-me com dificuldade para frente e o cinto de segurança em que eu ainda usava me prendeu e eu fui puxada para trás.

O impacto com o assento fez meu braço se mover e assim o pedaço de vidro rasgar mais ainda minha pele, gemi e tentei apertar o braço, por impulso, mas de nada adiantou, fechei meus olhos com força e tirei o cinto de segurança, chorava silenciosamente.

Finalmente livre de meu obstáculo, inclinei-me novamente e vi que minha mãe não estava ilesa como aparentava estar.

A visão era aterrorizantemente avassaladora para mim, uma imagem que ficaria gravada como fogo na minha mente, a panela de que ela segurava estava perpassando ela, bem de encontro ao estômago.

-Mãe... –chamei desesperada, com um fio de esperança de que eles acordariam e me diriam que estava tudo bem. –Pai?

Apesar de todos os esforços que eu fiz, eles não acordaram... Nunca acordariam.

Tudo o que aconteceu depois foi como em um sonho, e eu esperava que fosse mesmo um, de que acordaria na minha cama com minha mãe me embalando em seu colo, murmurando palavras reconfortantes.

Isso nunca mais aconteceu.

O que realmente tinha acontecido era que nos separaram, enfaixaram meu braço depois de uma cirurgia que durou duas horas, fiquei no hospital por uma semana, sem nenhuma notícia do que havia acontecido com meus pais, quando me liberaram uma mulher pequena e de um rosto afável, com cabelos curtos e negros me buscou, a princípio eu relutei em ir com ela, não sabia quem era, queria meus pais, queria vê-los de novo, mas não me deixaram e assim não tive escolha se não ir com ela.

Após uma longa viagem em completo silêncio a não ser com algumas vagas perguntas sobre mim paramos em frente de uma imensa casa.

Olhei para a moça, desconfiada, ela apenas sorrira para mim e abrira a porta do meu lado logo em seguida que saíra.

Ela havia pegado minha mão e me conduzira pela casa, pensei que estivesse me levando até os meus pais, de que de alguma forma eles se encontrariam ali, mas não sei como eles estariam em um lugar cheio de meninas, que nos encaravam enquanto passávamos por elas.

Ela me levara até um quarto com dois beliches e vazia, sentou-se na beirada da cama e me convidou a sentar-se ao seu lado. Sentei.

Assim que fiz isso ela olhou bem em meus olhos, agarrou minha mão que ficou escondida dentro da sua e a apertou, esperei pacientemente durante a hesitação dela, até que enfim abrira a boca e começara a relatar alguns fatos, não escutava nem entendia muita coisa, apenas uma frase eu ouvi com clareza, aquela frase que ficaria rodeando minha cabeça pelo resto da minha vida: “seus pais morreram.”.

Ainda segurava sua mão enquanto me lembrava de todo o ocorrido, meu braço não ficara enfaixado por muito tempo, apenas na primeira semana, o que foi um alívio para mim, entrei em seu carro, já livre do gesso que eu achara extremamente ruim e coloquei o cinto de que eu nunca mais deixara de colocar e fomos para o meu novo lar: o orfanato, com o bônus extra de ser um internato também.

Aquela casa enorme em que fui levada pela primeira vez viria a ser onde eu iria morar, e estudar, e aquelas meninas que me encaravam, minhas companheiras de casa, quem sabe alguma até fosse à de quarto, aquele dia era o meu primeiro dia ali oficialmente, sozinha, havia estado só na companhia de minha tutora que havia me deixado dormir com ela nos dias depois que eu saíra do hospital.

Não entendia o porquê de eu ter que começar a frequentar o orfanato, por que eu não podia ficar com ela? Ela não podia me adotar?

Chegando a frente ao orfanato, ela me acompanhou até a porta e se agachou, segurando nos meus ombros, ela prometeu:

-Vou encontrar uma família para você, está bem? Uma que irá cuidar muito bem de você e que irá fazê-la feliz.

Assenti, sem falar nada, sendo que tudo o que eu queria era implorar para que ela ficasse comigo.

A porta se abriu e uma mulher grande, esbelta, com cabelos presos a um rabo-de-cavalo atendeu-nos, ela sorria e parecia ser amigável. Pensei se poderia confiar nela tanto quanto ela mostrava ser confiável.

Minha tutora me apresentou a ela, Sra. Odds, que insistia em ser chamada apenas de Sarah, ela era a diretora do orfanato e do internato.

Empurrando-me carinhosamente, minha tutora me fez ir visitar e conhecer o lugar.

Olhei para trás e a vi fazendo um gesto para que eu continuasse, fechei a cara e andei em direção a uma sala, a que eu notei que estava menos cheia enquanto minha tutora encaminhava-se com Sarah para sua sala.

Entrei discretamente, pelo menos tentei, mesmo assim as pessoas olhavam diretamente para mim, como se segurasse uma tocha brilhante na cabeça em que voltavam à atenção de todos para mim, sentei-me no lugar mais afastado e fitei a televisão sem nada realmente ver sobre que passava.

Mesmo a programação não me ajudava a desviar as perguntas de minha cabeça. Será que eu era tão irritante assim a ponto dela não me querer? Ou só ela tendo o cargo de tutora não podia mais adotar quem cuidava?

Havia a conhecido bastante nesses últimos dias, ela se chamava Olivia e, por incrível que pareça, tem 29 anos, ela mora sozinha, mas apesar de se sentir sozinha ela não pretendia se casar.

Depois de um tempo as meninas ficaram entediadas de me encarar e voltaram-se para a TV, dei um suspiro de conforto, estava ficando um tanto desconfortante.

Conforme o tempo passava, as meninas foram se levantando e saindo dali, a maioria eram mais velhas que eu e deviam estar acostumadas em receber garotas mais novas, pois logo nem percebiam mais a minha presença.

Fiquei encolhida no canto até a última garota sair, parecia ter quatorze anos e ela gentilmente me entregou o controle remoto, sorrindo, eu acho que aquele era o primeiro que eu recebera ali.

Peguei o controle e o revirei em minhas mãos enquanto a garota saia, pelo canto do olho pude perceber um movimento quase imperceptível, coloquei o controle ao meu lado e engatinhei pelo sofá até o local onde eu visualizara o movimento, apoiei-me no encosto e olhei para baixo, uma garota, miúda, com longos cabelos castanhos claros caindo como cascatas sobre os ombros estava escondida, ela cobria a cabeça sustentando-a com os braços cruzados mantendo-a entre os joelhos, podia escutar o seu choro, apesar dela tentar escondê-lo.

Delicadamente deslizei pelo sofá e caí ao seu lado, parecia que ela não percebera.

Não conseguia aguentar escuta-la chorar, ela parecia tão vulnerável, tão... Triste.

-Ei. –chamei-a, colocando minha mão em seu braço, no qual estava frio como gelo, ela pulou, assustada e me viu, estudou-me com os olhos inchados atentamente então ficou de pé repentinamente e saiu correndo indo para longe de mim.

Ficara ali por um tempo, refletindo, vira em seus olhos a dor, a mesma de que eu lutava dentro de mim.

A TV começou a fazer um chiado e percebi que havia saído do ar, olhei para a janela, pensando em alguma interferência por alguma chuva, porém não chovia, ao menos pingava, naquela noite descobrira que havíamos um tempo programado para assistirmos a televisão.

Suspirei, desliguei a tela da TV, cessando o ruído estridente de que emanava dele e fui para fora da sala.

Estava em outra sala, dessa vez muito maior, em que interligava outras áreas como: cozinha, sala de almoço/jantar, escritório de estudos, lavanderia, alguns banheiros, etc... Passei por todos os cômodos com uma intensa curiosidade tomando conta de mim.

Subi as escadas, que ficavam no meio da sala, o segundo andar, eram todos de dormitórios e banheiros, o meu quarto era no fim do corredor, num dos últimos.

Passava pelas portas e escutava conversas abafadas, já era noite e Olivia não se encontrava mais ali.

Chegando ao meu quarto, como imaginara, minha malas já estava empilhadas em cima da minha cama, peguei-as e com esforço coloquei-as no chão.

Abri uma delas e vi as roupas dobradas ajeitadas sobre uma e outra peça, fiquei ressentida em desarruma-las por isso deixei daquele jeito, fechei a mala e arrastei-a até a porta do armário, abrindo-a fiquei atônita, lá já havia algumas peças de roupa, franzi a testa, todos os beliches estavam desertos e ninguém estava por ali, por isso pensara que teria um quarto só meu, mas parecia que teria uma companheira, onde será que ela estava?

 Depois de ter guardado minhas malas no chão dentro do armário, desabei na cama, cansada, confusa e desconcertada.

Não tinha mais meus pais para me dizer o que fazer, eles não estavam mais ali. Como isso poderia ser verdade? Como tudo isso acontecera comigo?

Aquilo era uma coisa de que eu não conseguia acreditar, não queria.

Enterrei meu rosto no travesseiro e, finalmente, me deixei escapar minha lamentação, todas as lágrimas contidas escorreram pelo meu rosto, já não me importava com isso.

Senti-me ser observada, levantei o olhar assustada e vi a menina de antes me olhando assombrada, com os olhos arregalados e ainda lacrimejantes.

Sentei-me apressada e abri a boca prestes a falar algo quando ela recuou e se virou, voltando para o corredor, antes de sair em disparada como sabia que ela faria, eu me levantei e corri na sua direção, agarrando sua mão e a impedindo de fugir.

Seu rosto abaixou-se e ela fungou, retesei-me com medo de tê-la machucado, afrouxei o aperto e para minha surpresa ela me abraçou.

Ela precisava de consolo, assim como eu, sabia como ela se sentia, era a mesma coisa que eu sentia: solidão.

Retribuí o abraço e recomecei a chorar.

Foi a partir daquele dia que nossa amizade começou a se formar.

Acordei de manhã bem cedo, não havia dormido bem, sonhara com meus pais novamente.

Esfreguei os olhos, sonolenta, e olhei para o teto do beliche, ontem a noite após nós nos acalmar-nos ela se apresentou. Chamava-se Amber e tinha minha idade, por coincidência, ela havia morado ali fazia um ano no orfanato e desde então tentava se isolar de todos.

Ela não havia falado nada do que tinha acontecido para poder ter chegado ali, nem por que chorava naquela tarde, não a pressionei, entretanto pensava no que poderia ter acontecido.

Apesar disso, havíamos conversado a noite inteira, contava para ela sobre meus pais e ela escutava atentamente, ela tinha me dito algumas coisas que costumava fazer na terra natal dela, ela era da Inglaterra, fomos dormir e já estava amanhecendo, ela falou que teríamos que acordar cedo para a inspeção, de que eu não entendi do que era realmente, mesmo assim ficara feliz por tê-la feito parar de chorar.

Escutei a cama de cima ranger, Amber devia estar acordando, porém depois a cama silenciou-se, devia ter voltado a dormir.

Nunca tinha dormido em um beliche antes, tinha medo de a cama de cima cair em cima de mim e me esmagar, tirei as cobertas de cima de mim e levantei-me, no corredor várias meninas andavam de um lado a outro, não sabia o porquê então resolvi acordar Amber de uma vez.

Subindo as escadinhas que tinham presa a cama, vi-a dormindo profundamente de costas a mim.

-Amber. –sacudi-a. - Amber.

Lentamente ela abriu os olhos e percebeu onde estava. Sua expressão de sonâmbula me encarou.

-Para onde todas as garotas estão indo? –perguntei.

-Hãm? Garotas? –ela murmurou e depois de um tempo refletindo ela pulou da cama e me apressou para poder descer.

-Calma, Amber, já estou indo. –disse, finalmente no chão.

Ela correu até o armário abriu-o e tacou uma roupa para mim, pegando uma para ela mesma.

-Você não está entendendo, é a inspeção! –ela explicou, trocando-se. –Anda! Não podemos nos atrasar.

Troquei-me e Amber disparou para fora me levando junto, o corredor estava vazio, assim como os quartos também, fiquei imaginando que tipo de inspeção seria aquela.

Chegando perto das escadas vi no pé delas várias fileiras das meninas arrumadas por tamanho, um cara careca com uma prancheta anotava alguma coisa enquanto observava as meninas. Então aquilo é uma inspeção.

Amber me conduziu, descendo as escadas e indo até a Sra. Odds que nos arrumou na primeira fileira, olhei para o cara da prancheta que sorria afetuosamente para nós.

Ainda segurava a mão de Amber quando nos dispensou, ela ainda estava tensa pela deliberada atenção causada pelo atraso.

Olhei de esguelha para Sarah que falava com o homem.

-Me fala. –sussurrei para Amber. –O que exatamente é uma inspeção?

As meninas já se dispersavam, umas iam assistir TV, outras iam para sala de estudos e algumas até voltavam para cima, provavelmente para dormir.

-Temos a inspeção uma vez por ano e ela é dividida em duas partes, primeira o inspetor olha toda a casa e anota na prancheta alguma coisa e a segunda ele olha e assegura se todas estão bem. Essa é a segunda inspeção que participo, muitas pessoas se importam muito com isso porque as meninas mais arrumadas ganham um prêmio que a Sra. Odds providencia, francamente eu não ligo muito, para falar a verdade, este ano eu ganhei o prêmio do quarto mais bagunçado, não gosto de me aparecer muito.

Ela deu um risinho e me levou para fora, soltando um enorme bocejo.

-Ah... –falei, compreendendo. –Podemos ir aí fora?

Ela virou a cabeça para mim, com um sorriso travesso.

-Por que não poderíamos?

Dei de ombros, nunca tinha ido lá fora antes, decidi que não teríamos problema, e então fomos para o sol de verão que se levantava preguiçosamente no céu.

Amber me mostrou o parquinho que tinha por ali e conversamos enquanto sentávamos no balanço.

-É difícil ter que morar aqui? –perguntei subitamente, curiosa.

Ela balançou a cabeça.

-É bem tranquilo, na verdade, eu acho bem cansativo. –ela falou e começou a contar sobre o que acontecia no dia-a-dia do orfanato. Escutava enquanto ela falava ininterruptamente.

Eu não pude evitar e dei um sorriso torto.

-O quê? –ela perguntou, interrompendo-se.

Sacudi a cabeça e parei o balanço.

-Não é nada, é que eu nunca havia falado com alguém britânico antes e o sotaque de vocês é tão engraçado.

Ela parou também e deu um soco em meu braço, rindo também.

-Vocês, americanos, também falam engraçado, se você quer saber. –ela rebateu, mostrando a língua.

-O que a fez sair da Inglaterra? –perguntei e seu riso imediatamente parou, ela olhou para o horizonte.

Pensei horrorizada se tinha perguntado algo “proibida” ou se a tinha ofendido, será que tinha algo a ver com seus pais?

-Desculpa... –comecei.

-Não, está tudo bem. –ela disse voltando o rosto para mim, pude ver em seus olhos marejados que ela segurava as lágrimas e fechou os olhos disfarçando e inclinando a cabeça para o lado, sorrindo. –Não me magoei pela sua pergunta, não se preocupe.

Ela estava mentindo, sabia disso, antes que eu pudesse me desculpar corretamente, duas meninas vieram em nossa direção, elas pareciam ser as mais velhas do orfanato, deviam ter dezesseis ou dezessete anos, talvez?

Eram altas e com um corpo robusto, ambas tinham cabelos curtos e pretos que realçavam o olhar irônico delas, seus olhos estavam delineados com uma excessiva camada escura de lápis e elas não pareciam nada querer se juntar a nossa diversão.

-Ora, ora, Amber. Quem é a sua amiga? –A maior disse, sorrindo falsamente.

-É a menina nova, não é? –a do seu lado perguntou. –Não vai nos apresentar?

Amber se levantou e se pôs na minha frente, sua expressão suave tornou-se dura e sua voz ríspida, nunca tinha visto um lado assim de Amber.

-Harriet. –falou acentuando o sotaque. –Você não devia estar no outro orfanato?

-Claro, mas me deixaram se despedir de minhas amigas, primeiro.

Notava as pernas de Amber bambas, então a vi cerrar os punhos e continuar.

-Não sei quem quer ser sua amiga. –enfrentou frívola e a tal de Harriet fulminou-a com o olhar.

A menina ao lado segurou-a quando ela tentou avançar.

-Eu cuido dela. –assegurou e andou até Amber que agora tremia tanto que parecia a ponto de cair.

Cuidar dela? O que isso significava?

A menina aproximava-se com uma feição maldosa no rosto. O que ela pretendia fazer?

Saí de trás dela e me prostrei na sua frente, tentando defende-la.

-O que vocês estão falando?

Amber segurou meu braço.

-Não, Abbie...

-Veja só! Ela saiu de sua ‘proteção’! –a que avançava exclamou e virou para a amiga. –Posso, Harriet?

-Certamente, Jodie. –a outra confirmou, ainda com um sorriso estampado no rosto, rindo com escárnio.

-Vamos te apresentar a verdadeira escola, querida, não tenha medo. –Jodie explicou andando rumo a mim.

-Não, vocês não vão! –Amber foi até ela e tentou segura-la, mas com o seu tamanho e a sua força, foi tudo inútil, Jodie apenas riu e facilmente derrubou-a no chão, prendendo-a com o seu peso.

-Nossa, Harriet, parece que você que vai ter que fazer a cerimônia, de novo. –reclamou a contragosto.

O que estava acontecendo? Quem eram aquelas meninas?

Amber debatia-se na mão da outra e pude ver que ela chorava. Odiava tê-la que ver chorar.

-Vamos. –uma mão apertou meu ombro com força. -Vou apresenta-la ao vaso sanitário. Você pode me contar como os seus pais morreram ou a abandonaram durante a viagem.

Uma raiva percorreu meu corpo, odiava quando falavam dos meus pais, principalmente alguém que machucava minha amiga, minha única amiga dali.

-Não. –protestei contorcendo-se, trinquei os dentes e chutei com o máximo da minha força os joelhos dela até ela cair, contraindo-se e gemendo, a outra me olhava espantada pela minha ousadia e Amber conseguiu soltar-se dela enquanto ela estava distraída.

Peguei sua mão e corremos até o fim do parque e nos esgueiramos dentro de uma moita.

Espiei para ver se elas nos seguiram e lá estavam: Harriet mancava enquanto a outra a ajudava a se equilibrar, elas olharam envolta nervosas, com suas narinas se dilatando de raiva e viraram-se como se alguém as estivesse chamando.

Esperei até que elas não estavam mais por perto, relaxei quando não as vi mais e só naquele momento ouvi os soluços entrecortados de Amber, virei-me e a vi encolhida no canto como da outra vez.

-Amber... –sentei-me ao seu lado, sem saber o que fazer e então ficando preocupada. –Machucaram você?

Peguei sua mão e revirei-a, parecia inteira e estável, intacta, ela riu e foi interrompido por mais um soluço, retraiu o braço para si.

-Não é isso. –ela secou os olhos e engoliu o choro inoportuno. –É minha culpa por elas terem importunado você...

-Claro que não! –manifestei-me. –Não foi sua culpa. Isso acontece com todo mundo, algum dia.

-Você não iria entender... –ela disse olhando longe.

-Tente. –provoquei, com a sobrancelha arqueada.

Seus olhos verdes lacrimejantes cravaram-se nos meus, então ela suspirou.

-Eu não choro tanto assim, sabe. –ela falou, desviando o olhar. –Está é a semana que meu pai morreu. Ele morreu devagar, no hospital e sem que eu possa ter feito nada a não ser vê-lo cada vez mais fraco, e elas não ajudavam em nada.

-Elas? Você quer dizer... Harriet e Judie? –perguntei para ver se tinha ouvido certo, ela assentiu.

-Minha mãe morrera quando eu ainda era bebê, meu pai casou-se de novo e elas viraram minhas meias-irmãs, minha madrasta desapareceu quando meu pai adoecera de repente, com todo o dinheiro dele, deixando as filhas conosco... Meu pai mesmo depois disso continuou positivo, ele me consolava e dizia para cuidar das meninas, que eram um anjo perto dele. –Ela parou para respirar, fungou e continuou:

-Quando ele partiu, fomos para um orfanato em Londres, não tínhamos mais ninguém de nossa família viva então fomos transferidas para aqui, nem eu sei exatamente o porquê.

Ela balançou seu corpo para frente e para trás.

-Elas caçoavam de mim e de todos que ficavam comigo, por isso havia decidido que não iria mais ter ninguém do meu lado para que não a maltratem também.

Ela parou com o balanço e olhou fixamente para o chão.

-Não queria que machucassem você, você foi a primeira a me entender e a me ajudar enquanto poderia ter fugido...

Peguei sua mão e apertei-a fortemente, agora sabia o porquê de ela estar daquele jeito.

-Por isso, quero que você se afaste de mim. –ele murmurou, melancólica. –Não quero ser um fardo para você...  

Meneei a cabeça, não acreditando no que ouvira, ri e ela me olhou como se eu tivesse enlouquecido.

-Amber. –finalmente disse, voltando ao normal e virando-se para ela. –Você acha que se eu fiz tudo aquilo eu poderia realizar esse seu pedido?

Ela piscou, inconformada.

-Eu pensava que...

-Não importa o que elas falarem, isso não vai me fazer parar de ser sua amiga. –falei determinada, queria deixar claro de que ela não estaria sozinha, não mais. –Você entendeu? Eu não vou sair daqui. Vou te proteger sempre, é uma promessa.

Ela anuiu, com novas lágrimas brotando de seus olhos.

-Então pare de chorar. –acrescentei.

Passei meus dedos em seus olhos e ela me abraçou, agradecida.

-Obrigada. –sussurrara. 


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Notas finais do capítulo

Então o que acharam da primeira parte? ^^



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