Olhando lá de baixo,
O luar quebrado no mar
Reflexos ainda parecem os mesmos para mim
Como antes de eu afundar

E é pacífico lá no fundo
Uma catedral onde não se pode respirar
Não é preciso rezar, não é preciso falar
Agora que estou no fundo
[...]
Não estou desistindo,
apenas me entregando
(Never let me go - Florence and the Machine)

A sensação era como se tivesse queimado por inteira, até não haver mais sensibilidade em nenhuma parte do corpo. Ela sentiu o fogo se alastrar para fora de seu corpo e explodir ao seu redor. Em sua mente, imagens de um lugar que nunca conheceu. Um lugar que pegava fogo junto com ela. Raiva, ódio, vingança, guerra, tristeza, uma verdadeira avalanche de sentimentos a possuíram tão intensamente que ela não conseguia dissociar o que era real e o que fazia parte de seu corpo e de sua mente. Seu cérebro parecia que ia fundir com tamanho volume de informação e o que parecia lembranças de uma outra vida, que não a dela. Porém, depois de alguns momentos que pareceram uma eternidade de dor, ela se sentiu afundar num oceano infinito e ouviu uma música bonita e lenta e que a chamava. Ousou abrir os olhos, que não lembrava de haver fechado e tentou se localizar. A música a chamava com carinho, então começou a se virar para onde o som se aproximava e o viu ao longe. Ele estava chorando? Por quê? Tentou chegar mais próximo, mas estava tão cansada. Simplesmente se manteve meio deitada na areia no mesmo lugar.

Seu corpo, sua mente, seu eu estava ferido e cansado. A dor dele a atingia piorando a sensação que a consumia. Uma luz saía suavemente de seus poros.

Resolveu chamá-lo, mas ele não a ouvia. Ela estava no mar, como respirava então? A canção então cresceu e começou a embalá-la em meio ao cansaço, como uma onda que tentava levá-la pacificamente com ela. Olhou para cima, onde deveria ver a superfície daquele mar, porém não havia nada além de uma cor laranja há muitos e muitos metros de distância do fundo onde se encontrava. Laranja ou vermelho? Ela não conseguia definir.

A música continuava e se tornava ainda mais forte, afastando-a ainda mais da imagem dele. Lutar contra ela era impossível, o som se transformava e a embalava como se a quisessem fazer dormir. Voltou os olhos para o Doctor e o viu gritando com alguém. Raiva flamejava em seus olhos a distância, e ela conseguia vê-la. Mais do que isso. Rose conseguia sentir a raiva dele expandindo-se pelo universo, tocando em sua pele dolorida. E havia algo mais, porém ela não conseguia compreender o que estava acontecendo, nem onde estava. Pensava estar morta, porém seus sentidos ainda estavam muito alertas para tal constatação. As pálpebras pesavam tanto, e seu corpo desistia de nadar.
Olhou novamente para o homem ao longe que... sussurrava seu nome?

"Doctor. Me ajuda!"

O pedido saiu como um sussurro, mas a música parece ter captado sua necessidade. Porém não conseguia mais... Se deixou fechar os olhos e se entregar a canção, sem saber se retornaria para ele de novo.