XL — Diabólico.

(...)

Charlie Swan, um homem experiente em lidar com vigaristas, homicidas e entre outros derivados da “espécie”, preparava-se mentalmente para a inquisição que estava preparando para o rapaz que estava sentado em postura ereta no sofá estampado de sua sala de estar.

Na cozinha — local em que ele se encontrava —, através de um balcão de mármore ele conseguia avistar o garoto que parecia estar em alguma sessão de hipnose de tão concentrado que ele fitava uma parede cor bege à sua frente. Por uma camada brilhante presente em sua testa, o chefe de polícia podia apostar 20 dólares com o companheiro de pesca, Billy, que o garoto estava suando em bicas e que suas calças estavam molhadas com urina — tão nervoso ele aparentava estar.

Em um ato reflexivo enquanto encarava o rapaz, ele tocou o coldre em sua cintura, procurando pela arma, não encontrando o metal brilhante. Entortou os lábios ao perceber que Renée provavelmente escondeu o revólver. Levou os dedos ao bigode, arrumando-o, enquanto com a outra mão buscava uma xícara com café fumegante. Levou aos lábios não se importando em ser queimado na língua.

— Isso não é necessário — Disse Renée, logo ao entrar na cozinha.

— Sim, é necessário — enfatizou com um entortar de lábios.

Pousou a caneca de porcelana em um baque audível, e pelo canto dos olhos viu o momento em que o adolescente praticamente pulou no estofado.

— Você é diabólico, Charlie — a esposa riu.

— Você ainda não viu a melhor parte do meu “espetáculo” — levantou-se. — Onde está a minha arma?

— Muito bem escondida — respondeu calma.

— Eu quero a minha arma — estendeu a palma.

— Sinto muito, mas isso não será possível, senhor Swan — os ombros dela tremiam por conta da risada abafada. Uma veia na testa do policial quase saltou para fora, tamanha a sua irritação.

— Tanto faz — resmungou enquanto seguia para a sala de estar.

“Preparado para a inquisição, moleque?”, perguntou em pensamentos.