Dois dias já passaram desde que cheguei a esse distrito e não fiz quase nada pra ajudar minha família. Me vesti e sentei na soleira da porta quase no quintal, pra pensar, foi quando um automóvel vermelho passou, somente pacificadores tem carros por aqui, e é claro o prefeito, mas quem estava dirigindo era uma mulher. Retornou o automóvel no final da rua e estacionou na frente da casa que eu estava. De dentro saiu uma mulher que parecia ter seus 40 anos, estatura baixa, um pouco gordinha, cabelo curto, liso e cor de cobre, a pele pálida e o sorriso seco. Usava um conjunto rosa e um sapato simplesmente horrível, era verde-musgo e roxo, que fazia um barulho irritante batendo na calçada, além da bolsa e luvas de couro, caramelo. Tinha a voz fina e um pouco "estridente".

- Bom dia, Srta. Flinch. Como vai?

- Bom dia. Quem é a senhora?

- Gera, Gera Snow. – Ela estendeu a mão e eu a apertei. – Será que poderia entrar?

- Não, o que quer comigo?

- Oh, eu só queria conversar contigo. – Ela se sentou ao meu lado, limpando um pouco o chão, antes de fazê-lo. – Eu soube que o presidente está com sua família. – Nesse momento a encarei. – Você está com... Raiva? Quer vingança? – Gera sorriu.

- Raiva, sim, mas não quero vingança, só os quero de volta.

- Minha querida, creio que isso seria quase... Impossível, mas podemos fazê-lo pagar.

- Podemos? O que você quer, Gera?

- Eu só quero lhe ajudar, Flinch. Sei como é estar sozinha. Se Katniss fosse mesmo te ajudar, já teria o feito.

- O que? Como você sabe disso? – Eu perguntei.
- Eu sei de muita coisa, querida. E então, quer ou não vingança? Eu posso te ajudar. – Ela sorriu, com os olhos brilhando.

- Não! – Me levantei. – Não quero nenhum isso, eu só quero o que é meu de volta, o justo.

- Acho que Ella acharia isso justo.

- O que? Como você... VAI EMBORA! – Gritei e apontei pro carro vermelho-sangue parado. – VÁ!

Katniss saiu correndo de sua casa e veio até nós, mandou a senhora embora de uma vez. Me levou pra dentro, me colocou no sofá e sentou ao meu lado.

- Flinch, olha, me perdoa, por favor, eu não quis fazer nada de mal pra você, foi só um susto que tomei, tá? Eu fui uma idiota, agi como uma criança, você não merecia, Gale também não.

- Que isso, Katniss, eu também te devo desculpas.

- Quero que sejamos amigas de verdade, eu vou te ajudar no que precisar, viu? E vamos fazer um plano pra salvar a tua família, vamos dar um jeito. E... Se quiser mesmo ficar com Gale, eu apoio. – Sorrimos e Katniss me abraçou.

- Kat, eu preciso te mostrar algo.

- O que, Flinn?

Me levantei e me aproximei da parede, bati em alguns tijolos e retirei dois deles, tirei dali um maço de cartas. As depositei em suas mãos.

- São as cartas que recebi de quem anda me ajudando desde o hospital. – Falei.

- Oh meu Deus! E você não tem nem pista de quem é esse cara?

- Ou mulher, né. Não, esse é o pior. Fico imaginando se não é nenhum maníaco.

- Deveríamos guardar isso novamente, Flinn. Tenho que ir agora, mais tarde eu volto e vamos planejar algo pela tua família. – Kat disse e nos abraçamos de novo.

- Obrigada.

- Que isso, até logo.

- Até.

A vi saindo da casa e após alguns segundos, abri uma porta ali, que nunca tinha aberto antes, dava no porão do local. E ao contrario de muitos, era claro, arejado e limpo. Não parecia nada com uma casa que pertencesse a Haymitch, lavei minhas roupas, dei um trato na louça, fiz umas compras na cidade e quando voltei, Katniss já estava em meu sofá, junto com Peeta e Gale. Os mostrei as cartas e começamos com o plano. Íamos atacar a própria casa de Snow, o renderíamos, enquanto um de nós entraria e descobriria se Will esta lá ou alguma pista sobre onde estaria. Estava marcado, atacaríamos em dois dias. Depois de planejarmos e organizarmos tudo, Katniss e Peeta voltaram pra casa da primeira, enquanto Gale continuou do mesmo jeito, no sofá.

- Você não vai mesmo falar comigo? – Perguntou.

- Eu não tenho nada pra dizer, Gale. – Me levantei e fui guardar as compras.

- Mas eu tenho, eu sinto muito ter ido atrás de Katniss, não foi certo, mas ela é minha amiga, tente entender. – Ele veio atrás de mim.

- Eu entendo, mas eu não vim pra cá pra ter um caso, vim pra salvar minha família e meu distrito. VOCÊ entende? – Guardei a comida que comprei no armário, e Gale segurou minha cintura. – Não, você... – Me virei de frente pra ele. – Você tem que se afastar. – Ele me fez carinho nas bochechas. – Por favor... PÁRA!

- Por que, Flinch?

- Vai embora, agora!

- Não é o que você quer. – Ele me acusou.

- EU QUERO QUE VÁ, AGORA! – Abri e apontei pra porta de entrada. – Por favor. – Sussurrei.

- Katniss se desculpou, não foi? Nós não temos nada, eu juro.

- Gale, você tem algo com ela, apesar de ela não ter.

- Desde que te conheci, não consigo ficar longe de você, por favor, Flinch, não me manda ir. – Gale disse com certa dor transparecendo em seus olhos.

-... – Só apontei a porta de novo, ele fechou os olhos e saiu. Bati a porta depois que saiu. – DROGA!

Me deitei e adormeci, mas assim que acordei, no dia seguinte, fui até a cozinha, onde já estava Katniss, com nosso café-da-manhã pronto. Ela vestia um vestido muito bonito, até o joelho, bege, com um cinto marrom, fino e trançado, no meio, o cabelo numa trança lateral e calçava sandálias azuis.

- Bom dia, Flinn.

- Bom dia, Kat. – Falei e encarei a minha imagem numa bandeja que estava ali. – Oh meu Deus. – Meus olhos estavam vermelhos e havia bolsas escuras embaixo deles, que mostrava o meu cansaço. – O que é isso?

- Se chama Gale.

- O QUE? Kat, se veio falar dele, eu não quero... – Ela me interrompeu.

- Não, calma, senta e come. Eu só quero dizer que... Qual o problema de dar à Gale uma chance?

- Eu não quero, eu vim pra resolver um problema, vim ajudar minha família, não pra arrumar um cara.

- Claro, seria um bônus, Flinn. – Ela disse e fiz uma careta.

- Não, eu não posso. Ele gosta de você.

- Oh, por favor, ele não gosta de mim, mas é claro que ainda tem resquícios do que já sentimos, um pelo outro, alem do que, nunca existiu nada entre nós. Vai atrás dele, por favor.

- Por que insiste tanto? – Perguntei, terminando de comer.

- Ele sente algo por você e eu me sinto culpada por ter estragado tudo.

- Você não estragou, e-eu não sei de mais nada, estou tão confusa.

- Então pense, por favor, te peço. Agora tenho que ir, Flinn, se quiser, venha almoçar lá em casa. – Katniss disse, sorrindo e me dando um abraço. – Até logo. – Ela abriu a porta e saiu.

- Sozinha... De novo! – Falei pra minha própria pessoa.