A Ovelha e o Porco-espinho escrita por Silver Lady


Capítulo 2
Capítulo 1 A Câmara do Terror ou Como Tudo Começou




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Há um ano e meio atrás...

Vegeta caiu de joelhos no chão da Câmara de Gravidade. Sentia-se tonto, o corpo doía em diversos lugares. Embora se recuperasse rápido, seus ferimentos não haviam se curado de todo, e alguns haviam se reaberto enquanto treinava. Não parara um segundo desde que aquela chata da filha do velho (Bulma...que nome ridículo!) havia apagado a tela de comunicação, depois que ele a pusera em seu devido lugar. Quem ela pensava que era? O que tinha a ver se ele estava ou não ferido? Achava que era um fracassado, como o patético namorado dela?

A imagem de Bulma dormindo ao lado de sua cama passou rápida por sua mente, e ele expulsou-a com uma careta. Concentrou-se mais e voltou a flutuar. Seu ouvido aguçado captou um zunido. Ele se desviou a tempo de evitar um disparo de laser ao mesmo tempo que disparava uma rajada no atacante, um dos dois robôs de combate que ainda restava inteiro na sala. O disparo ricocheteou na parede da câmara e acertou Vegeta de raspão, antes que ele pudesse detectá-lo. Foi apenas um arranhão, mas ele se desequilibrou e caiu outra vez.

Droga. Que havia de errado com ele? Havia passado por coisa muito pior em Namek, ou mesmo em sua batalha na Terra. Havia conseguido se arrastar até sua nave com mais da metade de seus ossos quebrados, depois que o filho de Kakaroto o esmagara na forma de oozaru. Umas feridinhas de nada não deveriam tolhê-lo assim. Quase pôde ouvir a algaravia de B... da garota, dizendo-lhe para descansar, e cerrou os dentes. A raiva lhe deu força suficiente para ganhar impulso e ficar de novo em pé. Ele ia lhe mostrar que não precisava dos seus conselhos!

Estava tão distraído que nem percebeu que havia se aproximado demais do último robô. O laser da máquina piscou quando Vegeta entrou em seu campo de tiro.

Na Corp. Cápsula, Bulma andava pra lá e pra cá como uma fera enjaulada. Sua mãe a chamara para almoçar uma hora atrás, mas ela nem ouvira. A sra. Briefs havia ido embora, abanando a cabeça compreensivamente. Bulma nem percebera a mãe se retirar: a única coisa que ouvia era sua rápida discussão com o Saiyajin que a deixava maluca:

"Você quer morrer daqui a três anos?"

"Não, ainda sou jovem e bonita demais pra morrer!"

"Então CALE A BOCA!!"

—Cale a boca... cale a boca...—Bulma repetia para si mesma. Como ele se atrevia a mandá-la calar a boca? ELA é que mandava os outros calarem a boca, não o contrário! Por que ele não entendia que era para o seu próprio bem?

—Pra mim, chega!—falou para as paredes da sala—Se ele quer se matar, que se mate, vai fazer um favor pra todo mundo! Eu lavo as minhas mãos! E vou dizer isso a ele pessoalmente!— gritou, já correndo para o laboratório.

Logo em seguida, a tela se acendia na câmara:

—Vegeta, eu vou lhe dizer umas três coisas: a primeira, ninguém me manda calar a boca! A segunda, você pode treinar até se matar, que eu estou pouco me importando. E a terceira...—parou, meio estranhada com a falta de resposta, e também por não ver o Saiyajin flutuando ali dentro—Vegeta?!

Ele estava estendido no chão, o rosto voltado para baixo. Imóvel. Perto dele, os restos semifundidos de um dos robôs de combate.

—VEGEETAAA!!!

Não houve resposta.

x

Levou as mãos à cabeça. Oh, Kami, sabia que isso ia acontecer. Aquele Saiyajin cabeçudo! Olhou-o com mais atenção. Ele continuava imóvel, e apesar da intensa luz vermelha da câmara, achou ter visto manchas de sangue. Deveria ser sério, pois já o vira caído assim antes, mas nunca ficara tanto tempo. Será que estava morto? O coração de Bulma se apertou.

Para seu alívio, a cabeça dele se mexeu levemente, depois voltou a ficar imóvel. Uf. Mas o que é que ela ia fazer agora? Entrar lá dentro, nem pensar. Segundo seu pai, 20 vezes a gravidade da Terra já seria o suficiente para moer os ossos de um ser humano normal; 200 então, que era o mínimo que Vegeta usava... abraçou-se com um arrepio de horror. E a gravidade não podia ser desligada do lado de fora da nave. Pensou em desligar a força, mas Vegeta ficaria preso lá dentro. Até que reunisse alguns empregados para abrir uma entrada com maçaricos, ele poderia estar morto. x

Então, se lembrou. Mas...ora, é claro! Frenética, alcançou um dos armários num pulo e de lá arrancou um pequeno aparelho, constituído por duas caixinhas de metal unidas por correias semelhantes às de uma mochila. Ajustou o cinturão, envolvendo seu tórax e cruzando-o de maneira que uma das caixinhas ficasse nas costas e a outra no meio do peito. (de passagem, reparou que o verde ácido das correias fazia um contraste muito feio com seu vestido laranja e decidiu que se funcionasse as substituiria por outras mais decorativas). Era uma invenção nova que ela e seu pai haviam projetado, depois que Vegeta se opusera à criação de um dispositivo de emergência que desligasse a gravidade do lado de fora , "para ele não ter seu treinamento interrompido a toda hora pela loura burra trazendo docinhos ". O aparelho criava um campo anti-gravitacional portátil em volta do usuário. Em tese, amorteceria a pesada gravidade dentro da câmara, ao menos o suficiente para que ela conseguisse chegar até a máquina e desligá-la. Haviam esperado para testar o aparelho numa hora em que Vegeta não estivesse usando a câmara(santa ingenuidade); mas, como o Saiyajin quase nunca saía de lá, a maquininha acabara esquecida no armário.

Bom, chegara o momento.

Correu para a nave e ligou o aparelho.Ouviu um leve zunido e quase em seguida sentiu-se mais leve. Não dava para voar, mas sorriu ao perceber que tinha dificuldade para manter os pés no chão, um pouco como os astronautas na Lua.

—Vegeta, aí vou eu.

De dentes cerrados, lentamente abriu a porta da câmara: lá estava ele, ainda estirado no chão, tão imóvel como o deixara ao desligar o monitor. Pôs um pé dentro e...

TAPUM! Um segundo depois estava pregada, ou melhor, espremida no chão. Droga...

Como uma inventora tão genial como ela pudera se enganar assim?

Ao menos não havia virado panqueca, mas... que sensação horrível! Era isso que Vegeta experimentava quando estava treinando? Parecia que tinha um transatlântico nas costas. Transatlântico, nada: parecia que estava sendo esmagada por uma prensa hidráulica. Seu nariz doía da queda. Quis tocá-lo, mas descobriu horrorizada que não conseguia mover um dedo sequer. O campo protetor amortecia a gravidade apenas o suficiente para mantê-la viva, mas não para permitir que se mexesse!

—Socorrooo....—gemeu debilmente. Era difícil até respirar, quanto mais gritar. O ar entrava com dificuldade e saía rapidamente pelos pulmões comprimidos.

Desligados como seus pais eram, ia levar horas até que sentissem sua falta. Os empregados, esses morriam de medo de Vegeta e só chegariam perto da nave com ordens expressas. Até que alguém pensasse em procurá-la já seria tarde demais. Não precisava nem esperar a chegada dos androides: ia morrer asfixiada, ainda solteira, jovem e bonita, sem ter encontrado o homem ideal... . Gemeu de novo.

Alguma coisa moveu-se no canto de seu olho. Uma coisa preta, borrada, parecendo uma moita... ou um paliteiro...

Vegeta pestanejou e ergueu-se sobre as mãos. Maldição. Como pudera perder os sentidos? Ah, sim. Aquele maldito robô. Menos mal que conseguira destruí-lo antes de apagar por completo. Olhou para o chão e cerrou os dentes ao ver uma mancha do seu próprio sangue. Odiava admitir, mas desta vez havia mesmo extrapolado. Ia ter que parar por hoje... que inferno. O pior seria ter de aquentar aquela mulherzinha insuportável se vangloriando quando o visse voltar. Aliás, tinha impressão de ter ouvido a voz dela. Ergueu os olhos para a tela de comunicação: estava desligada. Hum. Estaria delirando?

Ouviu outro gemido, vindo da direção da porta, e virou-se para olhar. Seu queixo caiu:

—_Você?! O que está fazendo aqui?

Mesmo naquela situação, os olhos de Bulma fuzilaram. "Estou morrendo por sua causa, idiota!" quis gritar, mas o que saiu foi apenas:

—Desligue... a máquina... por favor...—fechou os olhos e pareceu desmaiar.

Vegeta ainda ficou olhando, sem entender como ela poderia estar viva sob toda aquela gravidade. Hum, deixaria isso pra depois. Devia ser algum daqueles inventos malucos dela e, obviamente, não dera certo.

—Grrunf. Garota idiota. É incrível que ainda não esteja morta.

Com dificuldade, conseguiu ficar de pé. Vacilou e caiu, mas levantou-se e voltou a caminhar. Algumas gotas de sangue caíram no chão, enquanto cambaleava. Quase caiu de novo, mas conseguiu chegar até a máquina e desligou-a. "Gravidade normal restaurada" disse uma inexpressiva voz robótica feminina. Ele vacilou e caiu sentado.

Bulma sentiu todo o peso saindo de cima dela e abriu os olhos. Pelo que lhe pareceu muito tempo, ficou deitada onde estava, aspirando e expirando profundamente. Seu nariz doía da batida que dera no chão. Se estivesse quebrado, Vegeta iria lhe pagar. Vegeta? Aonde estava ele? Abriu os olhos e viu apiedada o rastro de sangue que ia em direção à máquina de gravidade. Ele estava sentado com as costas apoiadas no aparelho, fitando o chão, carrancudo. Não ergueu os olhos quando Bulma se aproximou (depois de desligar o aparelhinho de anti-gravidade).

—Agora... vá embora—rosnou, sem olhar para ela.

Bulma pôs as mãos na cintura, indignada:

—O quê? Arrisco a minha preciosa vida tentando salvá-lo e é assim que me agradece?

—Não pedi a sua ajuda. Posso me virar sozinho.

Para provar, Vegeta tentou ficar de pé, mas sua resistência já estava no fim e caiu para frente. Bulma adiantou-se para segurá-lo, porém se desequilibrou e caiu junto com ele. Sem saber como, o orgulhoso príncipe dos Saiyajin viu-se numa posição embaraçosa, com a cabeça bem no meio dos seios da mulher que propositadamente andava evitando!

—Seu tarado! Saia daí!—Bulma gritou nos ouvidos dele enquanto o empurrava. Antes mesmo que terminasse de falar, o escandalizado Saiyajin se ergueu como uma mola, o rosto da cor de um tomate:

—Era assim que queria me ajudar?!

—Ora, eu...—ela começou a responder, mas não terminou. A visão do rosto de Vegeta de olhos arregalados e corando como um adolescente tímido, sem a impassibilidade habitual, deu a Bulma uma súbita vontade de rir.

—Não ria!—ele ameaçou, ficando mais vermelho—Não ria, ou eu...

Mas a ameaça apenas fez a jovem rir mais. Ele grunhiu, humilhado, e virou o rosto, cruzando os braços sobre o peito sujo de sangue.

—Vamos, não seja bobo—Bulma disse, ainda rindo, e segurou o braço dele, jogando-o sobre seu próprio ombro. Surpreendentemente, o príncipe não fez mais objeções e apoiou-se nela.

Uma vez mais, Bulma sentia o peso de seus músculos e o agradável calor do corpo dele. Só que, na véspera, ela estava preocupada demais em salvar sua vida, e não prestara tanta atenção; agora, porém, era impossível ignorar. Ainda por cima, Vegeta estava bem acordado, o que tornava aquela proximidade um tanto constrangedora. Ela olhava para a frente e tagarelava tentando disfarçar, rezando para que ele não notasse a sua perturbação. Não precisava se preocupar, no entanto: o próprio Vegeta estava envergonhado demais para prestar atenção nela -e não somente por não poder caminhar sozinho.

Foi com alívio que os dois chegaram até a casa. O alívio, entretanto, durou pouco, pois a sra. Briefs quase desmaiou ao ver sua filha e o "lindo rapaz" entrando ensangüentados. Bulma teve de repetir várias vezes que o sangue em seu vestido não era dela, e parecia que ia se ver às voltas não com uma, mas duas pessoas para cuidar. Felizmente, o prático Dr. Briefs apareceu, atraído pelo barulho, e ajudou Bulma a acalmar a esposa e levar Vegeta para o quarto de hóspedes.


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