A Ovelha e o Porco-espinho escrita por Silver Lady


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Eu não sou dona de Dragonball Z, nem dos personagens, tirando a Satou, que aparece no capítulo 4. Esta é a minha versão do que aconteceu durante os famosíssimos três anos antes de Trunks nascer.



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A Ovelha e o Porco-Espinho


Prólogo

Bulma debruçou-se sobre o computador, digitando febrilmente. Era uma pesquisa sem importância, mas ela procurava manter sua mente o mais ocupada possível pra não pensar naquele assunto. Tinha quase certeza de que as suas indisposições esquisitas tinham algo a ver com a tensão causada por aquilo. Há dias não se sentia mais ela mesma: às vezes, chorava sem motivo; outras, bastava um comentário inocente para fazê-la explodir. Dormia mal e comia pior. A mãe lhe sugerira ir ao médico, mas Bulma só faria isso em último recurso. Tinha horror de ficar doente e ainda mais de médicos, hospitais e consultórios. Devia ser gripe, era isso mesmo. Ia passar.

Coçou a nuca tosada, roçando de leve as curtíssimas mechas cor de água. A fim de se distrair, tinha ido ao cabeleireiro naquela manhã pra cortar o resto do permanente fora; nem precisara alisar as pontas. O resultado era um corte simples e elegante, parecido com o que usava quando Radditz apareceu. Talvez não tão bonito quanto cabelo comprido, porém era prático, não ficava caindo no rosto quando lidava com as máquinas. Além do mais, pela primeira vez em sua vida não faria (muita) diferença se os outros a achariam bonita ou não. Suspirou amargamente.

Quase sem ruído, a porta se abriu, mas Bulma não se voltou. Mesmo não ouvindo outros sons, podia perfeitamente sentir o vulto musculoso se aproximando no seu passo de pantera, fitando com olhar duro a sua cabeça "tosquiada". Retesou-se defensivamente. No mínimo ia dizer que ela parecia um homem, ou que ficaria melhor careca. Ou ainda, fingir que não a reconhecia. O mais provável é que nem reparasse que tinha cortado o cabelo; Saiyajins ou humanos, todos os homens eram iguais. Uns grossos...

—Humm. Bem melhor—Vegeta grunhiu.

Bulma quase deu um pulo na cadeira. Estava ouvindo direito? Vegeta lhe fizera um elogio? Esquecendo seu propósito inicial de ignorá-lo, virou-se com um lindo sorriso:

—Você... gostou? Mesmo?—sua voz soava incrédula, porém ansiosa.

Vegeta sentiu aquela conhecida tremedeira na espinha que sempre acontecia quando ela o olhava daquele jeito, com os olhos azuis cheios de estrelas. Automaticamente, cruzou os braços, como para se proteger da atração:

—Não. Mas pelo menos deixou de parecer uma ovelha.

Bulma sentiu o sangue subir à cabeça. Devia ter imaginado! Como pudera ser tão ingênua de acreditar, por um momento sequer, que ele pudesse dizer alguma coisa gentil, mesmo pra ela? Viu o risinho malvado erguendo o canto da boca de Vegeta e se conteve para não explodir.

—Humpf!—fechou os olhos e empinou altivamente o narizinho— Melhor parecer uma ovelha do que um porco-espinho metido. Ao menos EU mudo meu cabelo de vez em quando—e voltou ao trabalho.

Vegeta sorriu com escárnio:

—De vez em quando? Desde que nos conhecemos já vi você com QUATRO cabelos diferentes, contando "isso" aí! O cabelo de um Saiyajin não cresce dessa maneira esquisita— concluiu com orgulho.

—O que significa que, se eu raspasse a sua cabeça, você ficaria careca pra sempre, não é? Que tentador!—Bulma zombou, sem se voltar—Mas não acredito que você tenha vindo aqui pra brigar por causa de cabelos, Vegeta. O que quer?

Ele se calou, irritado por ela perguntar. A verdade é que não sabia por que tinha vindo ali. Era como se alguma força invisível o atraísse para aquele lugar contra a sua vontade, como acontecera tantas vezes antes. Como se quisesse vê-la uma última vez antes de...Vegeta quase abanou a cabeça. Absurdo. Era o que dava se envolver com uma terrestre: o sentimentalismo daquela gente era contagioso. Já não se admirava tanto de que um puro Saiyajin como Kakaroto pudesse se tornar um babaca de coração mole, só de viver naquele planeta; mas isso não aconteceria com ele.

Ficaram um longo tempo ali: ela trabalhando, ele olhando, um sem saber o que dizer e a outra com medo de ouvir. O ar entre eles estava tão tenso que poderia ser cortado com uma tesoura, pensou a mulher. Vegeta andava evitando-a durante as últimas semanas e ela finalmente descobrira por quê. Um nó duro se formou em sua garganta. Em parte, era sua culpa, por mais que lhe custasse admitir, mas não adiantava ficar se recriminando agora. Espiou Vegeta com o canto do olho; ele continuava atrás dela, carrancudo e sem se mexer. Ela não agüentou mais:

—Quando vai partir?—tentou soar o mais indiferente possível, mas por dentro rezou para que ele não percebesse que seus dedos tremiam.

Vegeta quase engasgou de surpresa. Havia deliberadamente escondido dela seus planos para treinar no espaço. A mulher já andava insuportável; se soubesse que ele ia embora de novo, então, ficaria histérica. Não tinha medo dela, é claro, mas não estava a fim de ficar surdo. Além disso, aquela bruxa seria capaz de tudo para impedi-lo de partir, desde sabotar o motor da nave até de esconder um daqueles malditos "pi-pis" na sua comida.

E agora ela calmamente abordava o assunto, como se não fosse nada. Nunca iria entendê-la.

Continua...


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